PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO ACÓRDÃO

Transcrição

1 ACÓRDÃO Registro: Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº , da Comarca de Franca, em que é apelante TELMA APARECIDA DAGHER (JUSTIÇA GRATUITA), é apelado BANCO NOSSA CAIXA S/A. ACORDAM, em 17ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Não Conheceram do recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores SOUZA LOPES (Presidente) e NELSON JORGE JÚNIOR. São Paulo, 27 de junho de Paulo Pastore Filho RELATOR Assinatura Eletrônica

2 VOTO Nº: APEL.Nº: COMARCA: FRANCA APTE. : TELMA APARECIDA DAGHER ME e TELMA APARECIDA DAGHER (JUST GRAT) APDO. : BANCO NOSSA CAIXA S/A EMBARGOS À EXECUÇÃO Petição inicial que não cumpre requisito do artigo 736, parágrafo único, do Código de Processo Civil Inépcia configurada e reconhecida de ofício Embargos à execução julgados extintos nesta oportunidade Recurso não conhecido. As apelantes pretendem a reforma da r. sentença de fls. 44/52, cujo relatório se adota, que rejeitou os embargos opostos na execução ajuizada pelo apelado, fundada em contrato de concessão de crédito, condenandoas a arcarem com as custas processuais e honorários advocatícios, estes fixados em R$ 500,00, observada a gratuidade de justiça concedida a elas. Afirmam que a r. decisão não pode prevalecer, porque, em primeiro lugar, o Código de Defesa do Consumidor se aplica à hipótese, tendo em vista o proclamado pela Súmula 297 do STJ. Alegam que a exigência de juros sobre juros, correção monetária e comissão de permanência acarreta desvantagem exagerada em favor do banco. Sustentam, ainda, que os juros devem ser limitados a 12% ao ano, em razão de o contrato ora discutido ter sido firmado antes da promulgação da Emenda Constitucional nº 40/2003, além de ser abusiva a cláusula que estabelece taxa de cobrança, porque o pagamento do empréstimo era realizado por débito em conta. Apelação nº Franca 2

3 O recurso foi regularmente processado, dispensado o preparo por serem as apelantes beneficiárias da gratuidade de justiça. É o relatório. A pretensão recursal das apelantes não há como ser apreciada. Assim é porque os embargos à execução não foram instruídos com cópias das peças processuais relevantes para o julgamento da controvérsia, conforme estabelece o artigo 736, parágrafo único, do Código de Processo Civil. A propósito, anotam Theotonio Negrão e José Roberto F. Gouvêa (Código de processo civil e legislação processual em vigor. 41. ed. São Paulo: Saraiva, p , nota ao art. 736, parágrafo único, do CPC): i.e. com cópia das peças dos autos da execução que se fizerem necessárias à compreensão e ao julgamento da matéria objeto dos embargos. Invariavelmente, deve o executado instruir seus embargos com cópia da petição inicial da execução e do título executivo. Também deve trazer com os embargos cópia da procuração outorgada ao patrono do exequente, a fim de viabilizar sua citação, bem como a intimação prevista no artigo 740 (v. art. 740, nota 2)(grifo nosso). Igualmente se extrai da obra de Nelson Nery Junior e Rosa Maria de Andrade Nery (Código de processo civil comentado e legislação extravagante: 10. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008, p , nota ao art. 736, parágrafo único, do CPC): Os embargos deverão ser distribuídos por dependência ao juízo da execução, que tem competência funcional (absoluta) para processá-los e julgá-los. Serão autuados em autos apartados e instruídos com as cópias das peças processuais relevantes para a compreensão da lide. Ainda que sejam autuados em apartado e corram no Apelação nº Franca 3

4 juízo da execução, têm autonomia processual e procedimental, razão pela qual eventual apelação interposta da sentença que os julgue só poderá ser examinada e decidida pelo tribunal ad quem se estiverem, nos autos apartados, os documentos essenciais e relevantes para o entendimento do caso. São essenciais para a formação dos autos apartados da ação de embargos do devedor as cópias: a) do título executivo; b) da petição inicial da ação de execução; c) das procurações dos advogados do exequente, dos executados e do embargante; d) do ato de citação e de sua respectiva juntada aos autos; e) do auto de penhora ou depósito, se já houverem sido feito; f) do auto de avaliação dos bens penhorados, se for o caso (...) (grifo nosso). No caso em tela, constata-se que as apelantes apresentaram os presentes embargos sem observar o mencionado dispositivo legal, não tendo trazido peças processuais relevantes dos autos da ação de execução para que pudesse haver a compreensão necessária da matéria objeto de seu inconformismo. Elas juntaram tão-somente cópia do demonstrativo de débito apresentado pelo exequente, ora apelado, deixando de colecionar, porém, a cópia do título executivo que aparelha a execução e a respectiva petição inicial. Nesse diapasão, a ausência das citadas peças impede o julgamento das questões ventiladas pelo apelante no recurso, uma vez que, em primeiro lugar, impossibilita sequer identificar a modalidade de concessão de crédito estabelecida entre as partes; depois a ausência da cópia do contrato ora discutido não permite avaliar a eventual existência de cláusulas contratuais tidas pelas recorrentes como abusivas. Enfim, as mencionadas falhas não possibilitam Apelação nº Franca 4

5 que este E. Tribunal enfrente as questões postas em discussão no apelo. Releva notar, por oportuno, que competia exclusivamente às embargantes, ora apelantes, instruírem de forma adequada os embargos à execução, com as peças indispensáveis à solução da controvérsia, ainda mais porque a sentença proferida nesta ação pode ser objeto de recurso como no presente caso e o processo de execução não estará à disposição do tribunal ad quem. Por estas razões, a exordial se mostra inepta. Nestas circunstâncias, tendo em vista a atual fase processual, incabível a emenda da petição inicial e, portanto, ex officio, deve ela ser indeferida, nos termos do artigo 739, II, do Código de Processo Civil, ante o descumprimento do artigo 736, parágrafo único, do mesmo diploma legal. Ante o exposto, de ofício, julgam-se extintos os embargos à execução, sem resolução do mérito, ficando prejudicado o conhecimento do recurso, mantendo-se as verbas de sucumbência, na forma fixada pela sentença, observada a gratuidade de justiça concedida às recorrentes. PAULO PASTORE FILHO Relator Apelação nº Franca 5