TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo

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1 Registro: ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº , da Comarca de, em que é apelante/apelada SAMIRA FAUZI LUTFI, é apelado/apelante QUALICORP ADMINISTRADORA DE BENEFÍCIOS S/A e Apelado SUL AMERICA SEGURO SAUDE S/A. ACORDAM, em 9ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento ao recurso das rés e deram provimento, em parte, ao recurso da autora.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores COSTA NETTO (Presidente), ANGELA LOPES E PIVA RODRIGUES., 21 de fevereiro de COSTA NETTO RELATOR Assinatura Eletrônica

2 Apelação nº Apelante/Apelado: Samira Fauzi Lutfi Apelado: Sul America Seguro Saude S/A Apelado/Apelante: Qualicorp Administradora de Benefícios S/A Comarca: Voto nº 3212 APELAÇÃO PLANO DE SAÚDE Reajuste em razão da mudança da faixa etária - Sentença que julgou procedente, em parte, a ação, para reconhecer a abusividade do reajuste em função da mudança da faixa etária, determinado que as requeridas reduzissem o reajuste por faixa etária ao percentual de 43%, adequando-se ao que estabelece a Resolução nº 63/03, da ANS. APELAÇÃO DA AUTORA Pedido de afastamento total do aumento por faixa etária Não acolhimento Aplicação da Resolução nº 63/03 em conformidade com a lei e a jurisprudência. Pedido de declaração de abusividade nos reajustes por sinistralidade Não acolhimento Ausência de indícios de que os tais reajustes tenham ocorrido de forma abusiva, se comparado aos percentuais permitidos pela ANS para os planos individuais e familiares. Pedido de reforma da sentença para que fosse determinada a restituição dos valores desde o efetivo pagamento Acolhimento, em parte Reconhecimento da prescrição trienal da pretensão de repetição dos valores pagos indevidamente ao plano de saúde Precedente STJ. RECURSO DA RÉ QUALICORP Alegação de regularidade do reajuste por faixa etária, por ter previsão contratual, com ciência inequívoca da consumidora Não acolhimento - STJ, em sede de julgamento de recurso repetitivo (REsp /RJ), entendeu pela legalidade do aumento da mensalidade de plano de saúde em razão de mudança de faixa etária, desde que respeitados os seguintes requisitos: (i) haja previsão contratual, (ii) sejam observadas as normas expedidas pelos órgãos governamentais reguladores e (iii) não sejam aplicados percentuais desarrazoados ou aleatórios que, concretamente e sem base atuarial idônea, onerem excessivamente o consumidor ou discriminem o idoso Reajuste em desconformidade com o art.3º, inciso II, da Resolução nº63/03 da ANS. Apelação nº Voto nº

3 Recurso da autora parcialmente provido e recurso da ré desprovido. Trata-se de recursos de apelação contra a sentença de fls. 475/479 que, nos autos da ação de obrigação de fazer cumulada com pedido de indenização por danos materiais, julgou parcialmente procedente o pedido, para condenar as requeridas a reduzirem o reajuste da faixa etária acima de 59 anos ao percentual de 43%, bem como para determinar a restituição dos valores pagos a maior pela autora a partir da propositura da ação, corrigidos e acrescidos de juros legais de um por cento ao mês a contar do desembolso, revogando parcialmente a tutela antecipada, naquilo que contrariou o julgado. Determinou, ainda, em razão da sucumbência recíproca, que deveria cada parte arcar com metade das custas e despesas processuais, bem como com a totalidade dos honorários de seus respectivos patronos. Inconformada, recorre a autora, sustentando, em síntese, que: (i) a aplicação da Resolução Normativa nº63/03 é contrária ao que estabelece o Código de Defesa do Consumidor, a Lei n 9.656/98 e o Estatuto do Idoso, que são normas hierarquicamente superiores; (ii) a abusividade no reajuste por sinistralidade, dado que aplicado em valor superior aos autorizados pela ANS para os contratos individuais e imposto sem qualquer comprovação de como o cálculo fora realizado; e (iii) por serem nulas as cláusulas que abusivamente aplicaram reajustes por sinistralidade, deve a sentença determinar a restituição dos valores desde o efetivo pagamento, sob pena de enriquecimento ilícito das demandadas. Requer, deste modo, que seja afastado o reajuste por faixa etária dos 59 anos, no importe de 89,07%, bem como para que Apelação nº Voto nº

4 seja declarada nula cláusula que autoriza o reajuste por sinistralidade, aplicando-se ao contrato entabulado entre as partes apenas os reajustes anuais autorizados pela ANS para os contratos individuais/familiares. Pede, ainda, para que as requeridas sejam condenadas à restituição de todos os valores pagos indevidamente, com juros e correção monetária (fls.484/501). Insurge-se, também, a ré QUALICORP, aduzindo que não há qualquer ilegalidade no reajuste por faixa etária aplicado à autora, dado que seu contrato, por seu coletivo, não se submete às regras estabelecidas para os contratos individuais, além do fato de que a consumidora, no momento da assinatura do referido contrato sabia o valor dos reajustes que seriam aplicados. Sustenta, também, que o contrato encontra-se em consonância com o estabelecido na RN 63/03 da ANS, pois, para fins de cálculo da variação cumulada, não se pode fazer mera somatória dos percentuais, visto que cada um deles é aplicado sobre parcela inicial já aumentada pelo anterior. Pleiteia pela reforma do julgado, para que não haja minoração do reajuste por faixa etária para 43%, nem o dever de restituição dos valores cobrados a maior, dado que não houve ilegalidade na cobrança (fls. 504/516). Regularmente intimados, todos os litigantes apresentaram contrarrazões (fls. 527/539, 540/552 e 559/569). É o relatório. Presentes os requisitos de admissibilidade, recebem-se os recursos. Trata-se, originariamente, de ação proposta pela autora em face das requeridas, objetivando o afastamento do Apelação nº Voto nº

5 reajuste por faixa etária dos 59 anos, no percentual de 89,07%, bem como dos reajustes por sinistralidade aplicados desde 2009, permitindo-se, apenas, a incidência do reajuste anual autorizado pela ANS para os planos individuais/familiares. Pede, ainda, pela condenação da parte demandada a devolução dos valores pagos a maior. e 334/360). Citadas, a rés apresentaram contestações (fls.227/253 Sobreveio, então, a sentença ora guerreada. Por proêmio, ressalte-se que a súmula nº 469 1, do Superior Tribunal de Justiça, e a súmula nº 100 2, deste E. Tribunal de Justiça, firmaram o entendimento de que devem os contratos de plano/seguro saúde submeter-se aos ditames do Código de Defesa do Consumidor. No que se refere ao reajuste por faixa etária, insurge-se a parte autora, alegando a inaplicabilidade da Resolução nº63/03, da ANS, dado que contrária a normas hierarquicamente superiores, e a parte requerida, aduzindo pela legalidade do reajuste tal como efetuado, dado que previsto em contrato, do qual a consumidora teve ciência no momento da contratação. O Superior Tribunal de Justiça, em sede de julgamento de recurso repetitivo, entendeu pela legalidade do aumento da mensalidade de plano de saúde em razão de mudança de faixa etária, desde que respeitados os seguintes requisitos: (i) haja previsão 1 Súmula 469 do STJ: aplica-se o Código de Defesa do Consumidor aos contratos de plano de saúde" 2 Súmula 100 do TJSP: O contrato de plano/seguro saúde submete-se aos ditames do Código de Defesa do Consumidor e da Lei n /98 ainda que a avença tenha sido celebrada antes da vigência desses diplomas legais. Apelação nº Voto nº

6 contratual, (ii) sejam observadas as normas expedidas pelos órgãos governamentais reguladores e (iii) não sejam aplicados percentuais desarrazoados ou aleatórios que, concretamente e sem base atuarial idônea, onerem excessivamente o consumidor ou discriminem o idoso. Como se vê: RECURSO ESPECIAL REPETITIVO. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. NÃO OCORRÊNCIA. CIVIL. PLANO DE SAÚDE. MODALIDADE INDIVIDUAL OU FAMILIAR. CLÁUSULA DE REAJUSTE DE MENSALIDADE POR MUDANÇA DE FAIXA ETÁRIA. LEGALIDADE. ÚLTIMO GRUPO DE RISCO. PERCENTUAL DE REAJUSTE. DEFINIÇÃO DE PARÂMETROS. ABUSIVIDADE. NÃO CARACTERIZAÇÃO. EQUILÍBRIO FINANCEIRO-ATUARIAL DO CONTRATO. (...) 2. A cláusula de aumento de mensalidade de plano de saúde conforme a mudança de faixa etária do beneficiário encontra fundamento no mutualismo (regime de repartição simples) e na solidariedade intergeracional, além de ser regra atuarial e asseguradora de riscos. (...) b) Em se tratando de contrato (novo) firmado ou adaptado entre 2/1/1999 e 31/12/2003, deverão ser cumpridas as regras constantes na Resolução CONSU nº 6/1998, a qual determina a observância de 7 (sete) faixas etárias e do limite de variação entre a primeira e a última (o reajuste dos maiores de 70 anos não poderá ser superior a 6 (seis) vezes o previsto para os usuários entre 0 e 17 anos), não podendo também a variação de valor na contraprestação atingir o usuário idoso vinculado ao plano ou seguro saúde há mais de 10 (dez) anos. c) Para os contratos (novos) firmados a partir de 1º/1/2004, incidem as regras da RN nº 63/2003 da ANS, que prescreve a observância (i) de 10 (dez) faixas etárias, a última aos 59 anos; (ii) do valor fixado para a última faixa etária não poder ser superior a 6 (seis) vezes o previsto para a primeira; e (iii) da variação acumulada entre a sétima e décima faixas não poder ser superior à variação cumulada entre a primeira e sétima faixas. (...) 10. TESE para os fins do art do CPC/2015: O reajuste de mensalidade de plano de saúde individual ou familiar fundado na mudança de faixa etária do Apelação nº Voto nº

7 beneficiário é válido desde que (i) haja previsão contratual, (ii) sejam observadas as normas expedidas pelos órgãos governamentais reguladores e (iii) não sejam aplicados percentuais desarrazoados ou aleatórios que, concretamente e sem base atuarial idônea, onerem excessivamente o consumidor ou discriminem o idoso. (STJ - REsp /RJ, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 14/12/2016, DJe 19/12/ Destacamos) Ora, para que seja reconhecida a legalidade da aplicação de tabela de reajuste por faixa etária é preciso que os percentuais de reajuste nela previstos estejam em conformidade com as disposições legais. O que não ocorre no caso dos autos. O art. 15, 3º 3, da Lei /03 (Estatuto do Idoso) veda a discriminação do idoso nos planos de saúde pela cobrança de valores diferenciados em razão da idade. No mesmo sentido, a Lei nº 9.656/98, em seu artigo 15, parágrafo único 4, veda a variação em razão da idade dos consumidores, para aqueles com mais de sessenta anos. 3 Lei /03 - Art. 15. É assegurada a atenção integral à saúde do idoso, por intermédio do Sistema Único de Saúde SUS, garantindo-lhe o acesso universal e igualitário, em conjunto articulado e contínuo das ações e serviços, para a prevenção, promoção, proteção e recuperação da saúde, incluindo a atenção especial às doenças que afetam preferencialmente os idosos. 3 o É vedada a discriminação do idoso nos planos de saúde pela cobrança de valores diferenciados em razão da idade. 4 Lei 9.656/98, Art. 15. A variação das contraprestações pecuniárias estabelecidas nos contratos de produtos de que tratam o inciso I e o 1º do art. 1º desta Lei, em razão da idade do consumidor, somente poderá ocorrer caso estejam previstas no contrato inicial as faixas etárias e os percentuais de reajustes incidentes em cada uma delas, conforme normas expedidas pela ANS, ressalvado o disposto no art. 35-E. Parágrafo único. É vedada a variação a que alude o caput para consumidores com mais de sessenta anos de idade, que participarem dos produtos de que tratam o inciso I e o 1º do art. 1º, ou sucessores, há mais de dez anos. Apelação nº Voto nº

8 A Resolução nº 06/98, do CONSU (CONSELHO DE SAÚDE SUPLEMENTAR), expedida em conformidade com essas normas, limitou o reajuste da prestação dos contratos de seguro saúde, em virtude da alteração da faixa etária para quando os segurados atinjam 59 anos de idade, nos seguintes termos: Res. 6/98, CONSU, Art. 1º. Para efeito do disposto no artigo 15 de Lei 9.656/98, as variações das contraprestações pecuniárias em razão da idade do usuário e de seus dependentes, obrigatoriamente, deverão ser estabelecidas nos contratos de planos ou seguros privados a assistência à saúde, observando-se o máximo de 07 (sete) faixas, conforme discriminação abaixo: I - 0 (zero) a 17 (dezessete) anos de idade; II - 18 (dezoito) a 29 (vinte e nove) anos de idade: III - 30 (trinta) a 39 (trinta e nove) anos de idade; IV - 40 (quarenta) a 49 (quarenta e nove) anos de idade; V - 50 (cinqüenta) a 59 (cinqüenta e nove) anos de idade; VI - 60 (sessenta) a 69 (sessenta e nove) anos de idade; VII - 70 (setenta) anos de idade ou mais Mais tarde, a ANS (AGÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE SUPLEMENTAR) editou a Resolução Normativa nº 63/2003, com o fito de regulamentar a questão, tendo em vista a superveniência do Estatuto do Idoso à Lei 9.656/98. Como se vê: RN. 63/03, Art. 1º A variação de preço por faixa etária estabelecida nos contratos de planos privados de assistência à saúde firmados a partir de 1º de janeiro de 2004, deverá observar o disposto nesta Resolução. Art. 2º Deverão ser adotadas dez faixas etárias, observandose a seguinte tabela: Apelação nº Voto nº

9 I - 0 (zero) a 18 (dezoito) anos; II - 19 (dezenove) a 23 (vinte e três) anos; III - 24 (vinte e quatro) a 28 (vinte e oito) anos; IV - 29 (vinte e nove) a 33 (trinta e três) anos; V - 34 (trinta e quatro) a 38 (trinta e oito) anos; VI - 39 (trinta e nove) a 43 (quarenta e três) anos; VII - 44 (quarenta e quatro) a 48 (quarenta e oito) anos; VIII - 49 (quarenta e nove) a 53 (cinqüenta e três) anos; IX - 54 (cinqüenta e quatro) a 58 (cinqüenta e oito) anos; X - 59 (cinqüenta e nove) anos ou mais. Art. 3º Os percentuais de variação em cada mudança de faixa etária deverão ser fixados pela operadora, observadas as seguintes condições: I - o valor fixado para a última faixa etária não poderá ser superior a seis vezes o valor da primeira faixa etária; II - a variação acumulada entre a sétima e a décima faixas não poderá ser superior à variação acumulada entre a primeira e a sétima faixas. III as variações por mudança de faixa etária não podem apresentar percentuais negativos Note-se que a mencionada resolução estabeleceu critérios para apuração do valor para cada faixa etária, sobretudo das últimas. Às fls. 324, a requerida SUL AMÉRICA junta aos autos tabela, com os percentuais de aumento por faixa etária, que pretende fazer incidir sobre o contrato em comento. Verifica-se que em tal tabela, para a categoria do plano da autora (Plano Especial), Apelação nº Voto nº

10 a variação cumulada entre a sétima e a décima faixas (156,97%) é muito superior à variação acumulada entre a primeira e a sétima faixas (110,9%), de tal sorte que não pode ser aplicada tal tabela, em função de estar em desacordo com o previsto no art. 3º, inciso II, da RN nª63/2003. Visto isto, é de rigor que se afaste a incidência de tal tabela, mantendo-se o percentual de reajuste nos termos da sentença, qual seja o percentual de 43%, por representar o percentual máximo que poderia a parte requerida aumentar o plano de saúde da requerente, sem contrariar a norma regulamentadora. esta C. Câmara: Referido entendimento também é acompanhado por AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER C.C. INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS REAJUSTE DE MENSALIDADE DE PLANO DE SAÚDE COLETIVO Contrato coletivo celebrado entre as partes que previa o reajuste financeiro, por sinistralidade e por mudança de faixa etária Legalidade do reajuste por mudança de faixa etária, inclusive aos 59 anos de idade, desde que previamente pactuado com o consumidor e observadas as disposições da Resolução Normativa 63/2003 da ANS Necessidade, no caso, de redução de mencionado índice, nos termos do art. 3º, II, da RN 63/2003 da ANS Quanto ao reajuste anual de 2014, o autor reclama a aplicação de índice aproximadamente duas vezes maior do que aquele autorizado pela ANS para os contratos individuais e familiares - Necessidade de afastamento de cláusulas que impliquem obtenção de vantagem injustificada, e que estabeleçam permissivos contratuais obscuros e ininteligíveis ao consumidor Abusividade reconhecida diante da não comprovação do alegado incremento de sinistralidade - Ausente índice que melhor se adeque à situação, deverá haver o recálculo do valor de mensalidade devido pelo segurado no período compreendido no pedido (ano de 2014), excepcionalmente considerados o percentual máximo autorizado pela ANS, o que se dará em liquidação de sentença Precedentes desta E. 9ª Câmara de Direito Apelação nº Voto nº

11 Privado Valores pagos a maior que devem sofrer repetição simples, tudo a ser apurado em liquidação de sentença RECURSO DA RÉ DESPROVIDO. RECURSO DOS AUTORES PARCIALMENTE PROVIDO (STJ - APL Relator(a): Angela Lopes; Comarca: ; Órgão julgador: 9ª Câmara de Direito Privado; Data do julgamento: 29/11/2016; Data de registro: 01/12/2016 Destacamos) Apelação. Plano de saúde. Reajuste por mudança de faixa etária. Necessidade de que tal se dê em conformidade com a Resolução nº 63/2003 da ANS, a qual estabelece os parâmetros pertinentes para tanto. Redução do percentual de reajuste determinado, assim como o reembolso das quantias pagas a maior. Sentença correta. Recurso improvido. (TJSP - APL Relator(a): Mauro Conti Machado; Comarca: Sorocaba; Órgão julgador: 9ª Câmara de Direito Privado; Data do julgamento: 17/11/2016; Data de registro: 17/11/2016 Destacamos) PLANO DE SAÚDE Ação cominatória Tutela provisória deferida em parte para limitar o reajuste por faixa etária imposto pela ré (59 anos) Pedido de suspensão dos aumentos ou de redução do percentual fixado - Acolhimento parcial Reajuste que, prima facie, extrapola os limites autorizados pela Resolução ANS 63/2003 Cabimento da redução do aumento até que se possa averiguar com mais profundidade o montante efetivamente devido Recurso provido em parte. (TJSP - AI Relator(a): Galdino Toledo Júnior; Comarca: ; Órgão julgador: 9ª Câmara de Direito Privado; Data do julgamento: 31/01/2017; Data de registro: 31/01/2017 Destacamos) Apelação. Plano de saúde coletivo. Ação cominatória reajuste por faixa etária autora que completa 59 anos e sofre majoração na mensalidade. Procedência. Inconformismo por parte da ré. Acolhimento apenas parcial. Reajustes aplicados antes dos 60 anos, como a do aniversário de 59 anos da beneficiária, podem ser aplicados, desde que em conformidade com as disposições da agência reguladora que normatiza essa disciplina. Redução do reajuste aplicado por deslocamento de faixa etária, de 58 para 59 anos, em conformidade com os termos da Resolução Normativa nº 63/2003 da ANS Apelação nº Voto nº

12 (limite máximo de reajuste em 14,78%). Devolução de valores indevidamente pagos de modo simples, inaplicabilidade da regra do artigo 42, único, do Código de Defesa do Consumidor. Recurso parcialmente provido. (TJSP - APL Relator(a): Piva Rodrigues; Comarca: ; Órgão julgador: 9ª Câmara de Direito Privado; Data do julgamento: 15/03/2016; Data de registro: 28/03/2016 Destacamos) Não merece ser acolhido o pleito da demandante de que não deve ser aplicada Resolução nº 63/2003, da ANS, dado que tal dispositivo legal não contraria qualquer norma hierarquicamente superior. Visto isto, mantém-se íntegra a sentença quanto ao capítulo que determinou a redução do reajuste por faixa etária para o percentual de 43%. Insurge-se a demandante, alegando abusividade no reajuste por sinistralidade, dado que aplicado em valor superior aos autorizados pela ANS para os contratos individuais e imposto sem qualquer comprovação de como o cálculo fora realizado. Embora limitada a intervenção estatal no controle de reajustes de planos coletivos, é evidente que o caso em comento trata-se de típica relação consumerista, devendo ser regulada, por óbvio, pelo Código de Defesa do Consumidor, segundo estabelece a Súmula nº 469 5, do Superior Tribunal de Justiça. Não há dúvidas de que a atividade oferecida ao mercado pelo plano de saúde enquadra-se perfeitamente no 5 Súmula 469, STJ: Aplica-se o Código de Defesa do Consumidor aos contratos de plano de saúde. Apelação nº Voto nº

13 conceito de serviço, firmado pelo art. 3º, 2º 6, do Código de Defesa do Consumidor, de forma que, portanto, o caso dos autos deve ser analisado à luz da proteção do consumidor a imposição de cláusulas abusivas no fornecimento de serviços (art. 6º, IV 7, do CDC). A documentação juntada aos autos (fls. 32/129) demonstra que os valores pagos pela autora, ora apelante, a título de plano de saúde apresentaram a seguinte progressão: R$ 529,16, em dezembro/09 (fls.123); R$ 576,10, em dezembro/2010 (fls.124); R$ 635,23, em dezembro/2011 (fls. 125); R$ 702,44, em dezembro/2012 (fls.126); R$801,69, em dezembro/2013 (fls.127); R$ 940,86, em dezembro/2014 (fls.128); e R$ 1.094,22, em dezembro/2015 (fls.129). Ora, observando-se a progressão acima exposta, notase que, se fossem aplicados os índices de reajuste autorizados pela ANS, para os planos de saúde individuais ou familiares, no mesmo período, (2009-6,76%; ,73%; ,69%; ,93%; CDC, Art. 3 Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços. 2 Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista. 7 CDC, Art. 6º São direitos básicos do consumidor: IV - a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos comerciais coercitivos ou desleais, bem como contra práticas e cláusulas abusivas ou impostas no fornecimento de produtos e serviços; Apelação nº Voto nº

14 9,04%; ,65%; e ,55%) 8, a mensalidade da autora teria evoluído da seguinte maneira R$ 529,16, em dezembro/09; R$ 564,77, em dezembro/2010; R$ 608,20, em dezembro/2011; R$ 656,43, em dezembro/2012; R$ 715,53, em dezembro/2013; R$ 784,58, em dezembro/2014; e R$ 890,93, em dezembro/2015. Considerando que, no período, houve reajuste também por faixa etária, não há indícios de que a majoração teve caráter abusivo. Desta maneira, também deve ser mantida a sentença no capítulo que julgou improcedente o pedido da autora de declaração da abusividade dos reajustes por sinistralidade. Por fim, sustenta a demandante que por serem nulas as cláusulas que aplicaram abusivamente os reajustes, deve a sentença determinar a restituição dos valores desde o efetivo pagamento, sob pena de enriquecimento ilícito das demandadas. De fato, em se tratando de cláusula nula, deve a requerida devolver os valores recolhidos a maior a partir de cada desembolso, com correção monetária pela Tabela Pratica do Tribunal de Justiça e juros de mora de 1% ao mês a contar da citação. Contudo, conforme entendimento do Superior Tribunal de Justiça, tal devolução limita-se aos três anos anteriores ao ajuizamento da ação, em função de estar prescrita a pretensão de repetição quanto às demais quantias indevidamente pagas pela autora. Como se vê: 8 Apelação nº Voto nº

15 1. RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. CIVIL. CONTRATO DE PLANO OU SEGURO DE ASSISTÊNCIA À SAÚDE. PRETENSÃO DE NULIDADE DE CLÁUSULA DE REAJUSTE. ALEGADO CARÁTER ABUSIVO. CUMULAÇÃO COM PRETENSÃO DE RESTITUIÇÃO DOS VALORES PAGOS INDEVIDAMENTE. EFEITO FINANCEIRO DO PROVIMENTO JUDICIAL. AÇÃO AJUIZADA AINDA NA VIGÊNCIA DO CONTRATO. NATUREZA CONTINUATIVA DA RELAÇÃO JURÍDICA. DECADÊNCIA. AFASTAMENTO. PRAZO PRESCRICIONAL TRIENAL. ART. 206, 3º, IV, DO CÓDIGO CIVIL DE PRETENSÃO FUNDADA NO ENRIQUECIMENTO SEM CAUSA. 2. CASO CONCRETO: ENTENDIMENTO DO TRIBUNAL A QUO CONVERGE COM A TESE FIRMADA NO REPETITIVO. PRESCRIÇÃO TRIENAL. ENRIQUECIMENTO SEM CAUSA. PEDIDO DE RECONHECIMENTO DA PRESCRIÇÃO ÂNUA PREVISTA NO ART. 206, 1º, II DO CC/2002. AFASTAMENTO. RECURSO ESPECIAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO. (...) 2. Nas relações jurídicas de trato sucessivo, quando não estiver sendo negado o próprio fundo de direito, pode o contratante, durante a vigência do contrato, a qualquer tempo, requerer a revisão de cláusula contratual que considere abusiva ou ilegal, seja com base em nulidade absoluta ou relativa. Porém, sua pretensão condenatória de repetição do indébito terá que se sujeitar à prescrição das parcelas vencidas no período anterior à data da propositura da ação, conforme o prazo prescricional aplicável. 3. Cuidando-se de pretensão de nulidade de cláusula de reajuste prevista em contrato de plano ou seguro de assistência à saúde ainda vigente, com a consequente repetição do indébito, a ação ajuizada está fundada no enriquecimento sem causa e, por isso, o prazo prescricional é o trienal de que trata o art. 206, 3º, IV, do Código Civil de (...) 9. A pretensão de repetição do indébito somente se refere às prestações pagas a maior no período de três anos compreendidos no interregno anterior à data do ajuizamento da ação (art. 206, 3º, IV, do CC/2002; art. 219, caput e 1º, CPC/1973; art. 240, 1º, do CPC/2015). 10. Para os efeitos do julgamento do recurso especial repetitivo, fixa-se a seguinte tese: Na vigência dos contratos de plano ou de seguro de assistência à saúde, a pretensão condenatória decorrente da declaração de nulidade de cláusula de reajuste nele prevista prescreve Apelação nº Voto nº

16 em 20 anos (art. 177 do CC/1916) ou em 3 anos (art. 206, 3º, IV, do CC/2002), observada a regra de transição do art do CC/2002. (...) (STJ - REsp /RS, Rel. Ministro MARCO BUZZI, Rel. p/ Acórdão Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 10/08/2016, DJe 19/09/2016 Destacamos) Pelo exposto, nega-se provimento ao recurso da ré e dá-se provimento, em parte, ao recurso da autora, unicamente para determinar que requerida devolva os valores recolhidos a maior a partir de cada desembolso, com correção monetária pela Tabela Pratica do Tribunal de Justiça e juros de mora de 1% ao mês a contar da citação, limitados aos últimos 03 anos anteriores ao ajuizamento da ação. JOSÉ CARLOS COSTA NETTO Relator Apelação nº Voto nº