ACÓRDÃO. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores GILBERTO DOS SANTOS (Presidente), WALTER FONSECA E GIL COELHO.

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1 fls. 1 Registro: ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos do Apelação nº , da Comarca de Cajamar, em que é apelante BANPAR FOMENTO COMERCIAL E SERVIÇOS LTDA, é apelado FRIGOCHARQUE PAULISTA LTDA. ACORDAM, em do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Deram provimento ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores GILBERTO DOS SANTOS (Presidente), WALTER FONSECA E GIL COELHO. São Paulo, 2 de fevereiro de GILBERTO DOS SANTOS RELATOR Assinatura Eletrônica

2 fls. 2 2 Voto nº Apelação n.º Comarca: Cajamar - 1ª Vara Judicial Apelante: Banpar Fomento Comercial e Serviços Ltda Apelado: Frigocharque Paulista Ltda Juiz(a) de 1ª Inst.: Fernanda Henriques Gonçalves PRESTAÇÃO DE CONTAS. Factoring. Inocorrência de administração de bens ou interesses alheios por parte do faturizador. Improcedência da ação do faturizado. Ação improcedente. Recurso provido. No contrato de factoring o comerciante cede a outro os créditos, na sua totalidade, ou em parte, de suas vendas a terceiros. Logo, em princípio, não há que se falar em prestação de contas, pois estas só são devidas por quem efetua e recebe pagamentos por conta de outrem, movimentando recursos próprios ou daquele em cujo interesse realizam os pagamentos e recebimentos, o que não é o caso do faturizador. A r. sentença de fls. 159/160, cujo relatório fica adotado, julgou procedente a ação e condenou a ré a prestar contas na forma mercantil, no prazo de 48 horas, sob pena de não lhe ser lícito impugnar aquelas que o autor apresentar. O réu foi condenado ainda ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios fixados em 10% sobre o valor atualizado. Embargos de declaração (fls. 165/166) foram rejeitados (fls. 167). Apela a ré (fls. 170/179), alegando preliminarmente falta de interesse de agir, porque não restou comprovada a recusa na prestação de contas. Ressalta que a empresa de factoring não está obrigada a prestar contas, pois não administra bens e patrimônio de terceiros e que a ação somente foi proposta para tumultuar outras demandas proposta pela empresa buscando o recebimento do seu

3 fls. 3 3 crédito. manutenção da r. sentença. Recurso preparado (fls. 180/183) e respondido (fls. 187/193), pela É o relatório. Respeitada a convicção da ilustre magistrada, o recurso comporta provimento. A despeito de admitido o processamento da ação, no mérito esta não podia mesmo vingar, pois é sabido que a ação de prestação de contas visa ao acertamento, em dado momento, da relação de débito/crédito entre duas pessoas, pressupondo-se, portanto, negócio que gere essa relação, tais como a administração ou gestão de bens ou valores, sociedades etc. Diz, a propósito VICENTE GRECO FILHO: Para o cabimento da ação de prestação de contas é necessária a existência de vínculo, que não precisa ser contratual ou expresso, bastando que o seja de fato, em que haja autorização para recebimento de dinheiro e realização de pagamentos, ou seja, que entre as partes se admita que uma delas faça o controle de entradas e saídas. Esta situação, indispensável à adequação da ação de prestação de contas, pode decorrer de contrato, como, por exemplo, o mandato, a representação mercantil (que podem ser verbais) ou decorrer da lei, como no caso da gestão de negócios (Direito Processual Civil Brasileiro. Vol ª ed. São Paulo: Saraiva, 1999, p. 217). Ou ainda nas palavras de OVÍDIO A. BATISTA DA SILVA: Todo aquele que, de qualquer modo, administra bens ou interesses alheios está obrigado a prestar contas dessa administração, do mesmo modo que aquele que tenha seus bens ou

4 fls. 4 4 interesses administrados por outrem tem direito a exigir as contas correspondentes a essa gestão. Isso é um princípio geral de direito, comum tanto ao direito privado quanto ao direito público (Comentários ao Código de Processo Civil, vol. 13, São Paulo, Ed. RT, 2000, p. 169). No caso dos autos, a própria inicial descreve que as partes firmaram contrato de fomento mercantil, cujo objeto era a compra de crédito à vista (fls. 03), inexistindo qualquer administração de bens alheios, o que acarreta a improcedência da ação. O simples fato de os autores terem realizado diversos pagamentos durante a relação contratual entabulada entre as parte e a ré ter realizado o transporte de saldo de uma operação para outra (fls. 03) é insuficiente para caracterizar a administração de bens alheios, indispensável para a propositura da ação de prestação de contas. taxativo ao destacar: A propósito, comentando sobre o tema, ARNALDO RIZZARDO é Não cabe, porém, a ação de prestação de contas do faturizado contra o faturizador, eis que o negócio é de compra e venda de títulos, como sintoniza a presente ementa: 'Comercial. Ação de prestação de contas. Factoring. Inocorrência de administração de bens ou interesses alheios. Incabível é o ajuizamento da ação de prestação de contas. O contrato de factoring repousa na sua substância, numa mobilização de créditos de uma empresa; necessitando de recursos, a empresa negocia os seus créditos, cedendo-os a outra, que se incumbe de cobrá-los, adiantandolhe o valor desses créditos (convencional factoring), obriga-se a pagá-los mesmo em caso de inadimplemento do devedor da empresa. No contrato de factoring o comerciante cede a outro os créditos, na sua totalidade, ou em parte, de suas vendas a terceiros. Há que se exigir contas somente daquele que efetua e recebe pagamentos por conta de outrem, movimentando recursos próprios ou daquele em cujo interesse realizam os pagamentos e recebimentos. Desprovimento do apelo.'

5 fls. 5 5 (Factoring. 3ª ed. São Paulo: Ed. Rev. dos Tribunais, 2004, p. 224). Ante o exposto e pelo mais que dos autos consta dou provimento ao recurso para reformar a r. sentença e julgar a ação improcedente, com inversão das verbas da sucumbência. GILBERTO DOS SANTOS Desembargador Relator