ACÓRDÃO. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores MIGUEL BRANDI (Presidente) e LUIZ ANTONIO COSTA.

Transcrição

1 7ª CÂMARA DE DIREITO PRIVADO Registro: ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos do Apelação nº , da Comarca de Franca, em que são apelantes CARLOS CESAR GONÇALVES, CELSA NATALINA MALASPINA GONÇALVES e COMPANHIA HABITACIONAL REGIONAL DE RIBEIRAO PRETO COHAB RP, são apelados COMPANHIA HABITACIONAL REGIONAL DE RIBEIRAO PRETO COHAB RP e CARLOS CESAR GONÇALVES. ACORDAM, em do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Deram provimento ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores MIGUEL BRANDI (Presidente) e LUIZ ANTONIO COSTA. São Paulo, 12 de dezembro de 2012 RAMON MATEO JÚNIOR RELATOR Assinatura Eletrônica

2 Voto nº 1394 Apelação nº Apelantes e reciprocamente apelados.: Carlos César Gonçalves e Celsa Malaspina Gonçalves e Companhia Habitacional Regional de Ribeirão Preto Cohab RP. Franca RESCISÃO CONTRATUAL - Pleito ajuizado contra os promissários-compradores de imóvel popular, inadimplentes no pagamento das parcelas Apresentação de reconvenção postulando a revisão contratual - Sentença que julgou parcialmente procedente a ação principal e extinguiu a reconvenção sem exame do mérito, em razão da incompetência da Justiça Estadual Descabimento Necessidade de apreciação do pleito reconvencional juntamente com a ação principal Competência da Justiça Estadual Avença de caráter privado Ausência de interesse da União, entidades autárquicas ou empresa pública federal Falta de interesse da CEF em razão da ausência de oneração do fundo de compensação de variações salariais Anulação da sentença que se impõe, para que outra seja proferida, julgando ação e reconvenção, nos termos do artigo 318 do CPC - Recurso provido. Trata-se de recurso de apelação interposto contra a sentença de fls. 397/402, cujo relatório se adota, que julgou parcialmente procedente a ação de rescisão contratual ajuizada por Companhia Habitacional Regional de Ribeirão Preto COHAB/RP em face de Carlos César Gonçalves e Celsa Natalina Malaspina Gonçalves. Ainda, pela respeitável sentença, a reconvenção ofertada pelos réus foi julgada extinta sem análise do mérito, nos termos do artigo 267, inciso VI, do Código de Processo Civil. Inconformadas, apelaram as partes. Os réus postulam a anulação da sentença por cerceamento defensório em razão do julgamento antecipado Apelação nº Franca - Voto nº

3 da lide. Aduzem que pretendiam produzir prova pericial a fim de comprovar a ilicitude na aplicação dos reajustes das prestações em desconformidade com a categoria profissional dos mutuários. Quanto ao mérito, sustentam que não estão inadimplentes, eis que a culpa pelo não pagamento das parcelas é da própria autora, pois efetuou reajustes em arrepio ao contrato. Acenam, ainda, que a reconvenção por eles ofertada deve ser analisada e acolhida, com a improcedência da ação principal (fls. 406/440). De seu turno, apelou a autora, pleiteando a retenção integral das parcelas pagas, sob o fundamento de que a determinação de devolução de 75% desses valores aos réus é descabida, pois todo valor recebido dos mutuários é repassado à Caixa Econômica Federal, como retorno do empréstimo por ela concedido aos apelados (fls. 441/451). Isento de preparo o apelo dos réus, e efetuado o preparo do recurso da autora, os recursos foram processados, sendo contrariado apenas o apelo interposto pela autora (fls. 459/48). É o relatório. O recurso dos réus está em caso de ser provido para anular a sentença e determinar-se o julgamento conjunto da ação e da reconvenção, na conformidade da fundamentação a seguir exposta. Apelação nº Franca - Voto nº

4 Consigne-se, à partida, que a presente ação de rescisão contratual contou com apresentação de contestação e de reconvenção, visando esta última, à revisão do contrato sub judice, ao fundamento principal de que a autorareconvinda não teria aplicado corretamente os reajustes em conformidade com a categoria profissional dos réusreconvintes, redundando em cobrança excessiva. Todavia, apenas a ação principal teve seu mérito julgado, pois, no entendimento do digno Magistrado sentenciante, a competência para apreciação do pleito de revisão contratual seria da Justiça Federal. Sem razão jurídica, contudo. Nesse sentido, com a devida e melhor vênia, o digno Magistrado fundamenta, em síntese, que a integração da Caixa Econômica Federal no polo passivo da lide, na qualidade de litisconsorte necessário, é de rigor, mercê do seu interesse na preservação dos recursos financeiros relativos aos financiamentos habitacionais. Daí emerge a competência da Justiça Federal para processar e julgar o pedido de revisão de contrato. Com efeito, é inegável o dissenso de entendimento sobre a ocorrência, ou não, de interesse jurídico da Caixa Econômica Federal, como gestora do FGTS e do respectivo SFH, nas lides em que controvertem mutuários e agentes financeiros, tocantemente a financiamentos de imóveis residenciais. Tem prevalecido na jurisprudência do Colendo STJ a orientação no sentido de que o interesse daquele ente federal é limitado às ações e hipóteses em que a lide repercute no chamado fundo de compensação de variações salariais. Tal, efetivamente, é a orientação pretoriana Apelação nº Franca - Voto nº

5 firmada por aquele Colendo Sodalício, consoante aresto assim ementado: A Caixa Econômica Federal, na hipótese, somente é litisconsorte necessária nas causas que possam comprometer o Fundo de Compensação de Variações Salariais ( Código de Processo Civil e legislação processual em vigor, Theotonio Negrão, Saraiva, 32ª ed., 2001, pág. 160, nota 4 ao artigo 47). No caso em exame, tratando-se de ação ordinária de revisão de contrato, evidencia-se que a sentença, de nenhum modo, repercutirá no mencionado fundo de compensação de variações salariais. Pois, de um lado, o exame da legalidade da forma pela qual a autora-reconvinda procedeu ao reajuste das prestações é questão exclusiva e restrita ao desenvolvimento da relação contratual entre autora-reconvinda e réus-reconvintes, sem nenhuma vinculação à Caixa Econômica Federal; e, de outro, eventual ilegalidade na forma de reajuste das prestações, à luz das disposições do contrato respectivo, não repercutirá sobre aquele fundo de compensação de variações salariais. Nesse sentido, se eventualmente a presente ação tivesse a abrangência de excluir ou negar validade ao ajuste contratual relativamente àquele referido fundo, poder-se-ia até admitir o interesse da Caixa Econômica Federal. Mas, como mencionado, não é essa a hipótese em tela, certo que a discussão sobre acerto ou desacerto no cálculo dos reajustes das prestações é matéria do estrito e direto cumprimento do contrato; e, não, de sua repercussão no referido fundo. É o que, a propósito, extrai-se do seguinte aresto do Colendo STJ, do qual foi Relator o Ministro Barros Apelação nº Franca - Voto nº

6 Monteiro, assim ementado: Mútuo. Avença celebrada entre o mutuário e o agente financeiro. Ausência de interesse da Caixa Econômica Federal. Tratando-se de contrato de natureza estritamente privada, celebrado entre o mutuário e o agente financeiro, a que é de todo estranha a Caixa Econômica Federal, a competência para processar e julgar a lide é da Justiça Estadual. (STJ-2ª Seção, CC , Rel Min. Barros Monteiro, DJU 06/04/98, apud, Código de Processo Civil e legislação processual em vigor, Theotonio Negrão, Saraiva, 32ª ed., 2001, pág. 161, nota 4 ao artigo 47). Logo, considerando a competência da Justiça Comum Estadual para apreciação da revisão contratual postulada em sede reconvencional, é mister que seja processada e julgada conjuntamente com a ação principal, nos termos do artigo 318 do Código de Processo Civil, Nessa ordem de ideias, o caso é de anulação da r. sentença para que outra seja proferida julgando-a conjuntamente com a ação. Ante o exposto, ANULA-SE a sentença, prejudicado o exame do mérito dos apelos, com o retorno dos autos à origem. RAMON MATEO JUNIOR Relator Apelação nº Franca - Voto nº