PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO. Registro: ACÓRDÃO

Transcrição

1 ACÓRDÃO Registro: Vistos, relatados e discutidos estes autos do Agravo de Instrumento nº , da Comarca de Registro, em que é agravante MUNICIPIO DE SETE BARRAS, é agravado MINISTERIO PUBLICO DO ESTADO DE SAO PAULO. ACORDAM, em 10ª Câmara de Direito Público do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Deram provimento em parte ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores TORRES DE CARVALHO (Presidente sem voto), ANTONIO CARLOS VILLEN E ANTONIO CELSO AGUILAR CORTEZ. São Paulo, 11 de agosto de Paulo Galizia RELATOR Assinatura Eletrônica

2 VOTO Nº º CÂMARA DE DIREITO PÚBLICO AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº COMARCA: REGISTRO 3ª VARA JUDICIAL AGRAVANTE: MUNICÍPIO DE SETE BARRAS AGRAVADO: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO JUÍZA: BÁRBARA DONADIO ANTUNES CHINEN AGRAVO DE INSTRUMENTO. Ação Civil Pública de Execução de Obrigação de Fazer. Descumprimento de Termo de Ajuste de Conduta (TAC). Citação nos termos do art. 632 do CPC. Decisão que determina a intimação do Município para fiscalizar área invadida e para pagar multa diária (astreinte) pelo descumprimento do TAC. Nulidade parcial. Execução de multa diária é por quantia certa. Necessidade de citação da Fazenda Pública nos termos do art. 730 do CPC em procedimento próprio. Recurso provido em parte. Insurge-se a Municipalidade contra a r. decisão de fls. 122/129 (403/406vº dos autos originais) que, em ação civil pública de execução de obrigação de fazer, determinou que o Município de Sete Barras fiscalizasse a área invadida, de forma a impedir novas invasões, bem assim, que efetuasse o pagamento da multa correspondente ao descumprimento do termo de ajuste de conduta firmado com o Ministério Público. Em suas razões recursais, o Município afirma, preliminarmente, cerceamento de defesa, ante a nulidade da citação. É que, segundo entende, o ato citatório não obedeceu aos pressupostos legais, uma vez que a petição inicial veio desacompanhada da respectiva planilha de cálculos relativa à execução da multa. Afirma que o documento somente foi apresentado após a citação, o que impediu que se manifestasse sobre os cálculos trazidos pelo Ministério Público. Alega, ainda em preliminar, a inobservância do disposto nos arts. 730 e seguintes do CPC, uma vez que, por mero despacho, foi

3 intimada a efetuar o pagamento de dívida ilíquida. Ressalta ser inadmissível a determinação de sequestro das verbas, que poderá desfalcar todos os serviços municipais com prejuízo de monta para a população. No mérito, aduz não ter sido intimado a se manifestar sobre os cálculos de fls. 330 a 333, bem como quanto ao último pedido de fls. 329, que diz respeito à cobrança da multa por descumprimento do TAC. Aduz que o termo de ajustamento não poderia impor responsabilidades que o Município não tem como cumprir, uma vez que os demais entes federativos não repassaram recursos suficientes, no prazo exigido pelo Ministério Público para cumprimento do TAC. Ressalta ter cumprido todos os itens do TAC, com a criação do programa habitacional, com a aprovação da construção de casas, de encargo do Banco Luso e sua Construtora contratada e com a fiscalização efetiva do local, não tendo autorizado a entrada de nenhum novo morador. Pleiteia, pois, o provimento do recurso, para o fim de declarar nula a decisão de fls. 403/406. Recurso tempestivo. Houve concessão de efeito suspensivo (fls. 149). O Ministério Público ofertou contraminuta às fls. 154/165. É O RELATÓRIO. Trata-se de ação civil pública de execução de obrigação de fazer, ajuizada pelo Ministério Público, com objetivo de compelir o Município a cumprir as obrigações pactuadas no Termo de Ajustamento de Conduta firmado entre ambos. Naquela oportunidade, o Município comprometeu-se a regularizar integralmente a área invadida por famílias, destinando-as a programas de habitação. Diante do suposto inadimplemento da obrigação

4 pactuada, o Ministério Público pleiteou a citação do Município, na forma do art. 632 do CPC, para que, em sessenta dias, comprovasse o cumprimento de todos os itens vencidos no título executivo, asseverando que a multa diária de R$5.000,00 pelo descumprimento de quaisquer dos itens do ajuste está incidindo desde a data fixada para o cumprimento de cada um deles. Note-se, pois, que a presente ação civil pública tem por objetivo compelir o Município a satisfazer as obrigações de fazer descritas no título. Não se trata, em princípio, de ação de execução de multa cominatória, mas sim de efetiva execução de obrigação de fazer. Diante da natureza da obrigação, o art. 632 do CPC afigura-se a forma adequada à garantia do cumprimento do título, uma vez que as disposições do art. 730 do CPC referem-se apenas às hipóteses de execução por quantia certa. Não há, pois se falar em nulidade da citação. Contudo, a r. decisão recorrida comporta reforma no tocante à execução da multa cominatória imposta. A presente demanda não se mostra adequada para exigir o pagamento da multa cominatória devida no título executivo. É que, como já dito, o procedimento adequado para cobrança de quantia certa contra a Fazenda Pública é aquele disposto no art. 730 do CPC. As únicas multas cominatórias passíveis de cobrança na presente demanda, seriam aquelas fixadas nesta lide, decorrentes de descumprimento de obrigação aqui imposta. A cobrança de astreintes fixadas em título executivo demanda procedimento próprio (execução de quantia certa contra a Fazenda Pública), a ser regido pelo disposto no art. 730 do CPC, cuja inicial deverá vir acompanhada da respectiva planilha de cálculos, a fim de oportunizar ao executado o direito de defesa. Sendo assim e, diante do exposto, de rigor a declaração de nulidade parcial do procedimento citatório, a fim de excluir a obrigação de

5 pagamento da multa cominatória fixada no título executivo, prosseguindo a execução no tocante à obrigação de fazer. recurso. Ante o exposto, DOU PARCIAL PROVIMENTO ao PAULO GALIZIA RELATOR