VIGÉSIMA CÂMARA CÍVEL - TRIBUNAL DE JUSTIÇA

Transcrição

1 VIGÉSIMA CÂMARA CÍVEL - TRIBUNAL DE JUSTIÇA APELAÇÃO CÍVEL n.º E Ação Ordinária APELANTE: EDEZIO JOSE DOS SANTOS APELADOS : FUNDAÇÃO REDE FERROVIARIA DE SEGURIDADE SOCIAL REFER e SUL AMERICA SEGUROS DE PESSOAS E PREVIDÊNCIA S/A RELATORA : DES. LETÍCIA SARDAS ACÓRDÃO DIREITO CIVIL. SEGURO DE VIDA EM GRUPO. DEMANDA POSTULANDO A MANUTENÇÃO DO CONTRATO DE SEGURO DE VIDA EM GRUPO, AO ARGUMENTO DE QUE ABUSIVA A RESILIÇÃO UNILATERAL PELA SEGURADORA. CLÁUSULA CONTRATUAL QUE DISPUNHA SOBRE A OPÇÃO DA SEGURADORA DE RENOVAR, OU NÃO, O CONTRATO DE SEGURO. POSSIBILIDADE. MANUTENÇÃO DA SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO. Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível n.º , em que sé APELANTE: EDEZIO JOSE DOS SANTOS e APELADOS: FUNDAÇÃO REDE FERROVIARIA DE SEGURIDADE SOCIAL REFER e SUL AMERICA SEGUROS DE PESSOAS E PREVIDÊNCIA S/A ACORDAM, os Desembargadores que integram a Vigésima Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro por unanimidade de votos em negar provimento ao apelo. Página 1 de 6

2 Trata-se de ação indenizatória pelo procedimento ordinário ajuizada por EDÉZIO JOSÉ DOS SANTOS contra FUNDAÇÃO REDE FERROVIÁRIA DE SEGURIDADE SOCIAL REFER e SUL AMÉRICA SEGUROS DE PESSOAS E PREVIDÊNCIAS S/A, para restabelecer o contrato de seguro, tornando-o em definitivo ao final, bem como ao pagamento de indenização pelos danos morais sofridos. Narra que mantém contrato de seguro de vida desde 1982, sendo que desde março de 2012 as rés se recusaram a renovar o contrato, razão pela qual ingressa com a presente ação. A sentença de fls. 488/492 julgou improcedente a ação proposta por Edézio José dos Santos em face de Fundação Rede Ferroviária de Seguridade Social Refer e Sul América Seguros de Pessoas e Previdência S/A, com resolução do mérito, nos termos do art. 269, I do CPC, revogando a tutela antecipada anteriormente deferida às fls. 420/421. Condenou o autor ao pagamento das custas do processo e honorários de 10% sobre o valor atribuído à causa, observada a gratuidade de justiça concedida. Irresignada, a parte autora interpôs a presente apelação de fls. 495/506, requerendo a reforma da sentença de improcedência dos pedidos. Sustenta que o seguro celebrado entre as partes vinha sendo renovado há tempos (desde 1997), sendo desprovido de razoabilidade o cancelamento unilateral ou a redução do capital segurado, de forma que o autor seja obrigado a migrar para um seguro que não atenda as suas expectativas, ou então, seja obrigado a aceitar a renovação do seguro atual, na desvantajosa condição oferecida pela ré. Contrarrazões apresentadas pelas rés às fls. 523/540 e às fls. 541/175, prestigiando o julgado. É O RELATÓRIO Página 2 de 6

3 O contrato de seguro é aquele pelo qual uma das partes (segurador), mediante prêmio pago pela outra parte (segurado), se obriga a indenizá-la dos riscos previstos no contrato, que possam sobrevir no futuro. O contrato de seguro se divide em dois ramos, ou seja, seguros elementares e seguros de vida. A principal característica desse contrato é ser aleatório, arcando ambas as partes com o risco, o segurado, com o pagamento, sem saber se receberá qualquer contrapartida, a seguradora, de ter de pagar a indenização, se ocorrer o evento. Neste diapasão, o contrato de seguro em grupo, regido pelas normas do Código de Defesa do Consumidor, se caracteriza pela perfeita distinção das figuras do estipulante, do segurador e segurado. O estipulante, que no caso é a primeira ré - associação de classe que realiza o contrato principal com o segurador - a segunda ré, constituindo a relação jurídica e, como segurado, o autor. Em tais contratos, o estipulante é considerado mandatário dos segurados. No caso, foi o estipulante, quem buscou contratar o seguro de vida, dando-se a vinculação do autor ao grupo pela simples adesão. O estipulante figura como simples mandatário, ex vi legis, dos segurados, embora também assuma determinadas obrigações perante a seguradora e perante o segurado, diante das peculiaridade do contrato. Sendo assim, razão assiste ao Juízo a quo quando pondera no sentido da possibilidade da rescisão unilateral do contrato de seguro de vida em grupo: Sendo assim, conforme se depreende dos documentos acostados aos autos às fls. 21, foi a estipulante, 1ª ré, quem realizou o contrato inicialmente entre o autor e a 2a ré, efetuando a cobrança das mensalidades. A 2a ré alega que o cancelamento ocorreu devido à solicitação da 1ª ré, uma vez que não atingiu o número mínimo de 75% de adesão exigida pela SUSEP. É certo que tais relações jurídicas estão sujeitas a constantes mutações, que em nada afetam a relação jurídica-mestre, desde que respeitado o número mínimo de integrantes do Página 3 de 6

4 grupo, bem como evitando o desequilíbrio atuarial decorrente da não realização de reajustes na mensalidade. Neste sentido, há julgados do STJ que pacificaram a jurisprudência, no sentido da inexistência de abusividade da cláusula que prevê a possibilidade de não renovação do contrato de seguro de vida em grupo. Senão vejamos: AgRg no REsp / SP -AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL 2010/ Relator(a) Ministro MARCO BUZZI (1149) -Órgão Julgador - T4 - QUARTA TURMA -Data do Julgamento 19/09/2013 -Data da Publicação/Fonte-DJe 27/09/ Ementa AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO ESPECIAL - DEMANDA POSTULANDO A MANUTENÇÃO DO CONTRATO DE SEGURO DE VIDA EM GRUPO, AO ARGUMENTO DE QUE ABUSIVA A RESILIÇÃO UNILATERAL PELA SEGURADORA DECISÃO MONOCRÁTICA DANDO PROVIMENTO AO RECLAMO, RESTABELECIDA A SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA. INSURGÊNCIA DO SEGURADO. 1. Rescisão unilateral do contrato de seguro de vida em grupo. O exercício, pela seguradora, da faculdade (igualmente conferida ao consumidor) de não renovação do seguro coletivo, consoante estipulado em cláusula contratual, não encerra conduta abusiva sob a égide do Diploma Consumerista ou inobservância da boa-fé objetiva, notadamente na hipótese em que previamente notificado o segurado de sua intenção de rescisão unilateral (fundada na ocorrência de desequilíbrio atuarial) e não aceita a proposta alternativa apresentada. Precedente da Segunda Seção: REsp /RN, Rel. Ministro Luis Felipe Salomão, Rel. p/ Acórdão Ministro Massami Uyeda, julgado em , DJe Inaplicabilidade da exegese firmada quando do julgamento do Recurso Especial /MG (Rel. Ministra Nancy Andrighi, Segunda Seção, julgado em , DJe ), atinente a contrato de seguro de vida individual cativo de longa duração. 2. Agravo regimental não provido. AgRg no REsp / SP -AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL -2012/ Relator(a)Ministro SIDNEI BENETI (1137) Órgão JulgadorT3 - TERCEIRA TURMA -Data do Julgamento -11/12/2012 -Data da Publicação/Fonte -DJe 04/02/ Ementa -AGRAVO REGIMENTAL. NÃO IMPUGNAÇÃO DO FUNDAMENTO DA DECISÃO AGRAVADA. APLICAÇÃO DA SÚMULA 182/STJ. CONTRATO DE SEGURO DE VIDA EM GRUPO. RESCISÃO UNILATERAL. LEGALIDADE. 1.- Nas razões do agravo regimental, devem ser expressamente impugnados os fundamentos lançados na decisão hostilizada. Incidência da Súmula 182 do Superior Tribunal de Justiça. 2.- A C. Segunda Seção, no julgamento do REsp /RN, Rel. Min. LUIS FELIPE Página 4 de 6

5 SALOMÃO, Rel. p/acórdão Min. MASSAMI UYEDA, em sessão realizada no dia 13/06/2012, publicado no DJE de 17/9/2012, por maioria, pacificou a jurisprudência desta Corte no sentido da inexistência de abusividade da cláusula que prevê a possibilidade de não renovação do contrato de seguro de vida em grupo. 3.- Agravo Regimental não conhecido. Com efeito, a Segunda Seção, quando do julgamento do Recurso Especial /RN, firmou o entendimento de que o exercício, pela seguradora, da faculdade de não renovação do seguro de vida em grupo, consoante estipulado em cláusula contratual, não encerra conduta abusiva sob a égide do Código de Defesa do Consumidor ou inobservância da boa-fé objetiva, notadamente na hipótese em que previamente notificado o segurado de sua intenção de rescisão unilateral (fundada na ocorrência de desequilíbrio atuarial) e não aceita a proposta alternativa apresentada. Logo, não configurada a conduta abusiva da seguradora a não renovação da apólice de seguro, descabe qualquer tipo de indenização por danos morais. Vale destacar os seguintes julgados deste Egrégio Tribunal de Justiça sobre o tema: APELACAO -1ª Ementa- DES. CELSO FERREIRA FILHO - Julgamento: 08/10/ DECIMA QUINTA CAMARA CIVEL -AÇÃO ORDINÁRIA DE COBRANÇA. SEGURO DE VIDA EM GRUPO. DANO MORAL. INOCORRÊNCIA. RESCISÃO UNILATERAL DE CONTRATO. INEXISTE QUALQUER ABUSIVIDADE NA CLÁUSULA QUE PREVÊ ESSA MODALIDADE DE EXTINÇÃO DA RELAÇÃO CONTRATUAL. EXCLUSÃO DA CLÁUSULA QUE PREVIA INDENIZAÇÃO POR INVALIDEZ PERMANENTE. DEVER DE INFORMAÇÃO QUE FOI OBSERVADO DE FORMA CLARA. NOTIFICAÇÃO DA QUAL O APELANTE TEVE CONHECIMENTO. SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA, QUE QUE SE MANTÉM. DESPROVIMENTO DO RECURSOCÂMARA CÍVEL DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO Apelação Cível nº Relator: Desembargador Camilo Ribeiro Rulière -Ação de Indenização por Danos Materiais Pretensão de reembolso integral dos prêmios pagos durante 30 anos, para seguro de vida em Página 5 de 6

6 grupo, porque não houve a renovação do seguro. Aplicação da prescrição quinquenal Artigo 27 do Código de Defesa do Consumidor. -Cláusula contratual que dispunha sobre a opção da seguradora de renovar, ou não, o contrato de seguro Hipótese que se distingue de rescisão unilateral. -Não cabimento do pleito autoral em obter o reembolso de todas as quantias recolhidas, porque o seguro não foi renovado - Desprovimento da Apelação. POR TAIS FUNDAMENTOS, voto no sentido de negar provimento ao recurso mantendo a sentença. Rio de Janeiro, 11 de dezembro de DES. LETÍCIA SARDAS RELATORA Página 6 de 6