APELAÇÃO CÍVEL Nº UBERABA A C Ó R D Ã O

Transcrição

1 EMENTA: CONSÓRCIO FALTA DE INTERESSE DE AGIR INOCORRÊNCIA - RESTITUIÇÃO DE PARCELAS PAGAS APÓS O ENCERRAMENTO DO GRUPO. É perfeitamente possível a propositura de ação visando o ressarcimento de parcelas pagas ao consórcio pelo consorciado excluído, antes do encerramento do grupo, ficando afastada a alegada carência de ação por falta de interesse de agir. A fim de se evitar eventuais prejuízos aos demais integrantes do grupo em andamento, a devolução dos valores pagos pelo consorciado excluído deve se dar após o encerramento. -1- A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível Nº da Comarca de, sendo Apelante (s): CONSÓRCIO NACIONAL HONDA LTDA. e Apelado (a) (os) (as): EDUARDO HENRIQUE RABELO TARCIA, ACORDA, em Turma, a Sétima Câmara Cível do Tribunal de Alçada do Estado de Minas Gerais REJEITAR A PRELIMINAR E DAR PARCIAL PROVIMENTO. Presidiu o julgamento o Juiz MANUEL SARAMAGO (Relator) e dele participaram os Juízes JOSÉ AFFONSO DA COSTA CÔRTES (Revisor) e GUILHERME LUCIANO BAETA NUNES (Vogal).

2 O voto proferido pelo Juiz Relator foi acompanhado, na íntegra, pelos demais componentes da Turma Julgadora. -2- Belo Horizonte, 05 de junho de JUIZ MANUEL SARAMAGO Relator

3 O SR. JUIZ MANUEL SARAMAGO: V O T O Conheço do recurso, eis que presentes os requisitos de sua admissibilidade. -3- PRELIMINAR: CARÊNCIA DE AÇÃO. Argúi o apelante, em caráter preliminar, ser o apelado carecedor de ação por falta de interesse de agir, aos argumentos de que a ação somente poderia ser proposta decorridos 30 (trinta) dias do encerramento do grupo, o que, no caso vertente, se dará em 17 de janeiro de Razão não lhe assiste, sendo perfeitamente possível a propositura da ação antes mesmo de encerrado o grupo, já tendo inclusive este egrégio Tribunal decidido a respeito, verbis: O participante de consórcio que dele se retira ou é excluído não necessita aguardar o transcurso do encerramento de suas atividades derradeiras para aforar sua pretensão de reembolso das prestações que desembolsou. (TAMG 3ª Câmara Cível Apelação Cível nº Comarca de Uberlândia j. 13/10/1999.) preliminar. Dessa forma, hei por bem rejeitar a MÉRITO

4 -4- No que tange ao mérito, entendo que razão assiste, em parte, ao apelante. Com efeito, a atual jurisprudência, em consonância com o egrégio Superior Tribunal de Justiça entende que a restituição dos valores já pagos ao consorciado excluído ou desistente deve se dar após o encerramento do plano de consórcio, tendo em vista que a devolução desses valores de forma imediata pode causar prejuízo ao fundo constituído pelo restante do grupo. Deste modo, a devolução das parcelas somente se efetivará após o encerramento do plano, pois apenas assim será possível conciliar o interesse do retirante e dos demais integrantes do consórcio. Referentemente, eis o entendimento jurisprudencial acerca do assunto: (STJ, 4º Turma, REsp /MG, Rel. Min. Barros Monteiro, DJ 24/09/2001, p. 314) "CONSÓRCIO. DEVOLUÇÃO DAS IMPORTÂNCIAS PAGAS. MOMENTO. Segundo a jurisprudência desta Corte, a restituição dos valores pagos dar-se-á após o encerramento do plano. Recurso especial conhecido e provido" (STJ, 4ª Turma, Resp /PR, Rel. Min. Torreão Braz, DJ. 19/09/1.994, p ) "CONSORCIO DE VEÍCULOS - DESISTÊNCIA. DEVOLUÇÃO DAS COTAS PAGAS. CORREÇÃO MONETÁRIA. ÉPOCA DA DEVOLUÇÃO. O desistente de consórcio, ante a

5 impossibilidade de prosseguir pagando as cotas, não precisa aguardar o encerramento do grupo para buscar a prestação jurisdicional com vistas à devolução do que pagou. Essa devolução, porém, somente se efetivará quando do encerramento do plano, com a atualização monetária devida. Recurso conhecido e provido em parte" (grifo nosso) Justifica-se tal entendimento em vista da finalidade da formação do grupo de consórcio, que é reunir esforços e recursos para a aquisição dos bens. Nas palavras do douto Juiz Maurício Barros, da Terceira Câmara Cível deste Tribunal, quando do julgamento da Apelação Cível nº : Tal finalidade não pode ser desviada no sentido de se transformar em poupança os pagamentos feitos por aquele que, sem vontade ou sem recursos para contribuir até o final à consecução do propósito comum, retira-se "no meio do caminho", levando consigo valores pagos. De fato, a saída repentina do consorciado gera a frustração da expectativa que os reuniu e cria inegável dificuldade para a administração do grupo, que deverá se recompor, de forma agravada, caso haja desvio de recursos para o reembolso imediato do consorciado retirante. Certo é que o consorciado desistente ou excluído não deve ser penalizado com o recebimento -5-

6 das prestações pagas sem correção, mas é razoável exigir-se que aguarde o encerramento do plano, em igualdade de condições, com o último beneficiado. A correção monetária deverá incidir sobre o valor de cada parcela desde as datas dos respectivos desembolsos. Como a administradora do consórcio dispõe do prazo de trinta dias após o encerramento do grupo para a devolução das parcelas pagas pelo consorciado desistente ou excluído, é a partir de tal data que deverão incidir eventuais juros moratórios, mantido o decote determinado na sentença. Pelo exposto, DOU PARCIAL PROVIMENTO AO RECURSO para determinar que a administradora do consórcio devolva ao apelado as parcelas pagas, no prazo de trinta dias após o encerramento do grupo. Custas, pelo apelante. -6- sol/mps