QUINTA CÂMARA CÍVEL APELAÇÃO Nº 2679/ CLASSE CNJ COMARCA CAPITAL

Transcrição

1 APELANTE: SINDICATO DOS TRABALHADORES DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO - SINTUF/MT NILTON PEREIRA PINTO E OUTRO(s) ALZITE EGÍDIO DA SILVA E OUTRO(s) Número do Protocolo: 2679/2010 Data de Julgamento: EMENTA REPARAÇÃO DANO - ATO ILÍCITO - APROPRIAÇÃO INDÉBITA - RECONHECIMENTO DA PRESCRIÇÃO - ART. 206, 3º, V, CC/ PRESCRIÇÃO NÃO CONFIGURADA - ART. 200, CC/ SENTENÇA CASSADA - RECURSO PROVIDO. Tratando-se de ação de reparação de dano, advindo da ocorrência de ato ilícito penal, a prescrição deve obedecer ao prescrito no art. 200 do Código Civil, assim expresso: Quando a ação se originar de fato que deva ser apurado no juízo criminal, não correrá a prescrição antes da respectiva sentença definitiva, ainda que a competente ação criminal não tenha sido proposta. Fl. 1 de 7

2 APELANTE: SINDICATO DOS TRABALHADORES DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO - SINTUF/MT NILTON PEREIRA PINTO E OUTRO(s) ALZITE EGÍDIO DA SILVA E OUTRO(s) RELATÓRIO EXMO. SR. DES. CARLOS ALBERTO ALVES DA ROCHA Egrégia Câmara: Trata-se recurso de apelação cível interposto pelo Sindicato dos Trabalhadores da Universidade Federal de Mato Grosso - SINTUF/MT, visando reformar a decisão proferida pela MMa. Juíza de Direito da 14ª Vara Cível da Comarca de Cuiabá, que julgou extinta a presente ação de indenização por ato ilícito ajuizada contra os apelados. Aduz o apelante que não ocorreu a prescrição da ação em face ao disposto no art. 200 do Código Civil. Prequestiona o artigo citado e, caso mantida a sentença, seja reduzido os honorários de sucumbência para R$500,00 (quinhentos reais), por se tratar de entidade sem fins lucrativos. As contrarrazões recursais aportaram às fls.781/789, pugnando pelo desprovimento do apelo. É o relatório. Fl. 2 de 7

3 VOTO (MÉRITO) EXMO. SR. DES. CARLOS ALBERTO ALVES DA ROCHA (RELATOR) Egrégia Câmara: Extrai-se dos autos que o apelante ingressou com ação de indenização por ato ilícito contra os apelados, alegando que os membros da diretoria executiva na gestão do biênio 2000/2002 praticaram várias irregularidades financeiras na administração do sindicato, tudo apurado por perícia contábil. Imputa aos apelados a prática de crime de apropriação indébita, previsto no art. 168, 1º, do Código Penal. A magistrada singular julgou extinto o processo por acolher a preliminar de prescrição aduzida pelos apelados. Insurge-se o apelante afirmando que para o caso em tela deve ser observado o disposto no art. 200 do Código Civil, por se tratar de fato delituoso. Assim está redigido o dispositivo que sustenta a apelação, verbis: Art Quando a ação se originar de fato que deva ser apurado no juízo criminal, não correrá a prescrição antes da respectiva sentença definitiva. À respeito do tema, peço vênia para transcrever brilhante voto proferido pelo douto Des. Juracy Persiani: No caso, não há nos autos elementos que autorizem o reconhecimento da prescrição da ação civil, já que não há notícia sequer da ação penal instaurada para apurar o fato no juízo criminal. Ainda que tal ação não tenha sido proposta, não há falar em prescrição da ação civil de reparação dos danos, mesmo porque, ainda que sobrevenha decisão reconhecendo a prescrição na esfera penal, a prescrição civil não correrá antes da respectiva sentença definitiva que reconhecer a prescrição penal, pois remanesceria o ilícito civil. A lei é clara: somente a partir da sentença definitiva penal é que Fl. 3 de 7

4 começa a correr o prazo da prescrição civil. Assim na jurisprudência: AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. PRESCRIÇÃO AFASTADA. LIBERDADE DE IMPRENSA. NARRATIVA FIEL DOS FATOS OCORRIDOS. DIREITO À INFORMAÇÃO. DANOS MORAIS NÃO CONFIGURADOS. IMPROCEDÊNCIA DA AÇÃO. 1. Nos termos do art. 200 do Código Civil, quando a ação se originar de fato que deva ser apurado no juízo criminal, não correrá a prescrição antes da respectiva sentença definitiva. (...) RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. (Recurso Cível nº , 2ª T. Rec. Cív.; Turmas Recursais, Rel.: Clovis Moacyr Mattana Ramos; Julgado em , in RESPONSABILIDADE CIVIL. AÇÃO DE REPARAÇÃO DE DANOS. AGRESSÕES FÍSICAS. PRESCRIÇÃO INOCORRENTE. POSSIBILIDADE DE JULGAMENTO DO MÉRITO. DEVER DE REPARAÇÃO. 1. Afastada a prescrição reconhecida na sentença, porquanto, consoante prevê o art. 200 do Código Civil, enquanto não apurado o fato no juízo criminal, não corre a prescrição no juízo cível. (...) (Recurso Cível nº , 1ª T. Rec. Cív.; Turmas Recursais, Rel.: Ricardo Torres Hermann; Julg , in No STJ: PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO INDENIZATÓRIA. ATO ILÍCITO PRATICADO POR AGENTES DO ESTADO. AÇÃO PENAL. RECONHECIMENTO DA AUTORIA E DO FATO NO JUÍZO CRIMINAL. PRESCRIÇÃO. TERMO INICIAL. PRECEDENTES. 1. As jurisdições cível e criminal intercomunicam-se. A segunda repercute de modo absoluto na primeira quando reconhece o fato ou a autoria. Nesse caso, a sentença condenatória criminal ou decisão concessiva de habeas corpus constituem títulos executórios no cível. 2. Quando a ação se originar de fato que deva ser apurado no juízo criminal, não correrá a prescrição antes da respectiva sentença definitiva (art. 200 do CC/2002). 3. O art do CC/1916 (art. 935 do novel CC) impede que se debata no juízo cível, para efeito de responsabilidade civil, a ocorrência do fato Fl. 4 de 7

5 e a sua autoria quando tais questões tiverem sido decididas no juízo criminal. 4. O próprio CPC confere executoriedade à sentença penal condenatória transitada em julgado (art. 548, II). Assim, não se poderia, coerentemente, obrigar a vítima a aforar a ação civil dentro dos cinco anos do fato criminoso. Remanesce o ilícito civil. 5. A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça é uníssona no sentido de que o termo inicial para a propositura da ação indenizatória, em face de ilícito penal que está sendo objeto de processo criminal, é do trânsito em julgado da sentença condenatória, ou, no caso, se, reconhecidos a autoria e o fato no juízo criminal, da suspensão do processo (trânsito em julgado da decisão concessiva de habeas corpus).precedentes das 1ª, 2ª e 4ª Turmas desta Corte Superior. 7. Recurso provido. (REsp /MG; Rel. Min. José Delgado, 1ª T.; Julg , DJ p. 355, in DIREITO ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. POLICIAL MILITAR. LICENCIAMENTO EX OFFICIO. INQUÉRITO POLICIAL. ARQUIVAMENTO. PRAZO PRESCRICIONAL NA ESFERA CÍVEL. SUSPENSÃO. POSSIBILIDADE. ART. 200 DO CÓDIGO CIVIL. APLICABILIDADE. RECURSO ESPECIAL CONHECIDO E PROVIDO. 1. Quando a ação cível se originar de fato que deva ser apurado no juízo criminal, não correrá a prescrição antes da respectiva sentença definitiva, sendo irrelevante que a respectiva ação penal não tenha sido proposta, se houve a abertura de inquérito policial posteriormente arquivado. Inteligência do art. 200 do atual Código Civil. 2. Recurso especial conhecido e provido (REsp /RJ; Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima; 5ª T.; Julg ; DJe , in No voto condutor desse julgado, o Eminente Ministro Relator, ao analisar o disposto no art. 200, do novo Código Civil, esclareceu: Verifica-se que o referido dispositivo legal não impõe a existência de uma ação criminal em andamento, mas, apenas, que a ação cível se origine de fato que deva ser apurado no juízo criminal. (RAC n /2009, 6ª Câm. Civ., j ) Fl. 5 de 7

6 Posto isso, conheço do recurso e lhe DOU PROVIMENTO, retornando ao juízo de origem para o seu regular processamento. É como voto. Fl. 6 de 7

7 ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos os autos em epígrafe, a QUINTA CÂMARA CÍVEL do Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso, sob a Presidência do DES. CARLOS ALBERTO ALVES DA ROCHA, por meio da Câmara Julgadora, composta pelo DES. CARLOS ALBERTO ALVES DA ROCHA (Relator), DRA. VANDYMARA G. R. P. ZANOLO (Revisora convocada) e DR. JOSÉ M. BIANCHINI FERNANDES (Vogal convocado), proferiu a seguinte decisão: RECURSO PROVIDO. DECISÃO UNÂNIME. Cuiabá, 04 de agosto de DESEMBARGADOR CARLOS ALBERTO ALVES DA ROCHA - PRESIDENTE DA EM SUBSTITUIÇÃO LEGAL E RELATOR GEACOR Fl. 7 de 7