PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO 37ª Câmara de Direito Privado

Transcrição

1 ACÓRDÃO Registro: Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº , da Comarca de Campinas, em que é apelante CIA AEREA CANADA (AIR CANADA), é apelada JOSEMEIRE RANUCCI. ACORDAM, em do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Deram provimento em parte ao recurso, com retratação parcial do v. acórdão. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores ISRAEL GÓES DOS ANJOS (Presidente), PEDRO KODAMA E JOÃO PAZINE NETO. São Paulo, 8 de maio de Israel Góes dos Anjos RELATOR Assinatura Eletrônica

2 VOTO Nº APELAÇÃO Nº CAMPINAS. APELANTE: CIA AEREA CANADA (AIR CANADA). APELADA: JOSEMEIRE RANUCCI. RECURSO EXTRAORDINÁRIO RETORNO À TURMA JULGADORA AÇÃO INDENIZATÓRIA TRANSPORTE AÉREO INTERNACIONAL EXTRAVIO DE BAGAGEM Art , II do CPC/2015 (art. 543-B, 3º do CPC/1973) V. Acórdão da E. Câmara que deu provimento em parte ao recurso da companhia aérea. RETRATAÇÃO PARCIAL DO ACÓRDÃO: Em cumprimento ao disposto no art do CPC, verifica-se que é o caso de retratação do V. Acórdão e de se curvar ao novo entendimento do E. Supremo Tribunal Federal de que as normas e os tratados internacionais limitadores da responsabilidade das transportadoras aéreas de passageiros, especialmente as Convenções de Varsóvia e Montreal, têm prevalência em relação ao Código de Defesa do Consumidor. Limitação do valor da indenização prevista no artigo 22.2 da referida Convenção, equivalente a Direitos Especiais de Saque por passageiro. RETRATAÇÃO PARCIAL DO V. ACÓRDÃO. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. Vistos. Trata-se de recurso de apelação interposto contra a r. sentença de fls. 154/156, cujo relatório se adota, que julgou procedentes os pedidos formulados na ação de reparação de danos movida por Josimeire Ranucci contra a Companhia Aérea Canadá para condenar a ré a pagar à autora a quantia de R$5.716,70 referente aos valores de seus pertences, de R$927,00 referente ao Apelação nº Campinas 2

3 valor da mala extraviada e de R$10.000,00 a título de indenização por danos morais. Inconformada, a ré apela (fls. 159/175). Sustenta, em síntese, que foi proposto à autora o reembolso dos bens extraviados, mediante a apresentação de recibos e buscou tomar todas as providências para solucionar a questão. Alega que providenciou uma nova mala e a autora não demonstrou o fato constitutivo de seu direito, consistente na demonstração dos danos materiais e morais. Defende a aplicação das normas da Convenção de Montreal. Requer o provimento do recurso para julgar improcedente o pedido de indenização por danos materiais e morais. Subsidiariamente pretende a limitação da indenização a 1000 DES (Direitos Especiais de Saque) ou em montante razoável para evitar o enriquecimento sem causa. 179/182. A autora apresentou contrarrazões a fls. O v. Acórdão de fls. 188/195 deu provimento em parte ao recurso de apelação da ré somente para afastar a indenização no valor de R$927,00, relativa ao valor da mala de viagem da autora. Foi mantida a condenação da companhia aérea ao pagamento de indenização por danos materiais na quantia de R$5.716,70. Fizeram parte da Turma Julgadora, além deste relator, os eminentes Desembargadores João Pazine Neto e Pedro Kodama. Apelação nº Campinas 3

4 A ré Air Canada interpôs Recurso Especial (fls. 208/228) e Recurso Extraordinário (fls. 250/267). Diante da existência de Repercussão Geral da questão relativa à possibilidade de limitação, com fundamento na Convenção de Varsóvia, alterada pelo Protocolo Adicional 4, assinado em Montreal, das indenizações de danos materiais decorrentes de extravio de bagagem, foi determinada a suspensão do recurso extraordinário até julgamento final da controvérsia (fls. 274/275). Considerando o julgamento do mérito do Recurso Extraordinário nº /RJ, rel. Ministro Gilmar Mendes, DJe , e o posicionamento adotado pela douta Turma Julgadora, retornaram os autos, em atenção ao que dispõe o inciso II do art do CPC/2015 (correspondente ao art. 543-B, 3º do Código de Processo Civil de 1973), para reapreciação da questão (fls. 277/278). É o relatório. No caso, cumpre proceder à retratação parcial do v. acórdão apenas quanto à questão da indenização por danos materiais. Destaca-se que, embora o v. Acórdão de fls. 188/195 tenha afastada a indenização no valor de R$927,00, relativa à mala de viagem da autora, foi mantida a condenação da ré Apelação nº Campinas 4

5 ao pagamento de indenização por danos materiais na quantia de R$5.716,70. Revendo posição anterior em que este relator entendia que, após a vigência do Código de Defesa do Consumidor, não mais se aplicava a indenização tarifada prevista na Convenção de Montreal, conforme entendimento do C. STJ, é o caso de se curvar ao novo entendimento do E. Supremo Tribunal Federal a respeito do assunto. Geral, assim decidiu o E. STF: Sobre o Tema nº 210 da Repercussão Recurso extraordinário com repercussão geral. 2. Extravio de bagagem. Dano material. Limitação. Antinomia. Convenção de Varsóvia. Código de Defesa do Consumidor. 3. Julgamento de mérito. É aplicável o limite indenizatório estabelecido na Convenção de Varsóvia e demais acordos internacionais subscritos pelo Brasil, em relação às condenações por dano material decorrente de extravio de bagagem, em voos internacionais. 5. Repercussão geral. Tema 210. Fixação da tese: Nos termos do art. 178 da Constituição da República, as normas e os tratados internacionais limitadores da responsabilidade das transportadores aéreas de passageiros, especialmente as Convenções de Varsóvia e Montreal, têm prevalência em relação ao Código de Defesa do Consumidor. 6. Caso Concreto. Acórdão que aplicou o Código de Defesa do Consumidor. Indenização superior ao limite previsto no art. 22 da Convenção de Varsóvia, com as modificações efetuadas pelos acordos Apelação nº Campinas 5

6 internacionais posteriores. Decisão recorrida reformada, para reduzir o valor da condenação por danos materiais, limitando-o ao patamar estabelecido na legislação internacional. 7. Recurso a que se dá provimento. (RE RJ, rel. Min. GILMAR MENDES, DJe , publicação: ). Pela nova orientação trazida no Julgamento do RE /RJ ocorrido no c. STF, no que se refere ao extravio de bagagem em transporte aéreo internacional de passageiros, as demandas deverão observar as regras estabelecidas pelas convenções internacionais sobre a matéria, ratificadas pelo Brasil (Convenções de Varsóvia e Montreal). Portanto, é o caso de se aplicar o artigo 22.2 da Convenção de Montreal, que limita a responsabilidade da transportadora aérea a Direitos Especiais de Saque (DES), em caso de atraso, destruição, perda ou avaria de bagagens. No caso, a indenização por danos materiais referente a extravio de bagagens, fixada na r. sentença em R$5.716,70, cujo valor foi mantido pelo v. Acórdão (fls. 188/195), ultrapassou o limite previsto na Convenção de Montreal. O art da referida Convenção estabelece que: a conversão das somas nas moedas nacionais, no caso de ações judiciais, se fará conforme o valor de tais moedas em Direitos Especiais de Saque, na data da sentença.. Apelação nº Campinas 6

7 Na data da sentença ( ), a conversão de 1000 DES equivalia a R$4.346,70, conforme consulta feita ao sítio eletrônico do Banco Central do Brasil. Portanto, em razão do entendimento esposado pelo E. STF, cabe a retratação parcial do v. Acórdão para limitar o valor fixado a título de indenização por danos materiais a Direitos Especiais de Saque, vigentes à época do julgamento. Sobre esta questão já há precedente nesta E. 37ª Câmara de Direito de Privado: (Apelação nº , rel. Des. SERGIO GOMES, j. em ), cuja ementa é a seguinte: APELAÇÃO TRANSPORTE AÉREO INTERNACIONAL INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E MATERIAIS. 1. INTERPOSIÇÃO DE RECURSO EXTRAORDINÁRIO Devolução à Turma Julgadora para readequação ou manutenção da decisão (art. 1040, II do NCPC) V. acórdão desta e. Câmara que negou provimento ao apelo da companhia aérea, mantendo a sentença de procedência que a condenou em indenização por danos materiais, no valor de 7.457,70 (sete mil, quatrocentos e cinquenta e sete euros e setenta centavos), e por danos morais, fixados em R$ 4.000,00 (quatro mil reais) e R$ 2.000,00 (dois mil reais), respectivamente, à autora e ao autor. 2. CONVENÇÃO DE MONTREAL Aplicação conforme entendimento do E. Supremo Tribunal Federal no julgamento do RE nº /RJ. Apelação nº Campinas 7

8 Limitação do montante indenizatório prevista no artigo 22.2 da referida Convenção (equivalente a Direitos Especiais de saque por passageiro) que se restringe aos danos materiais sofridos pelo passageiro Reparação fixada que extrapola o teto previsto, ensejando adequação ao entendimento esposado pelo STF. READEQUAÇÃO DO JULGADO PROVIMENTO EM PARTE AO RECURSO DA EMPRESA AÉREA. O precedente jurisprudencial acima citado enfrenta questão semelhante a dos autos, razão pela qual ilustra este julgamento. A indenização por dano moral não segue o mesmo critério e não está abrangida pelas referidas convenções internacionais. Ante o exposto, mantido o provimento parcial do recurso da ré, RETRATA-SE O DECIDIDO na Apelação Cível nº , para limitar o valor fixado a título de indenização por danos materiais a Direitos Especiais de Saque, vigentes à época do julgamento, nos termos da fundamentação supra. Devolvam-se os autos ao E. Desembargador Presidente da Seção de Direito Privado deste C. Tribunal de Justiça para as providências cabíveis. ISRAEL GÓES DOS ANJOS RELATOR Apelação nº Campinas 8