TERCEIRA CÂMARA CÍVEL APELAÇÃO / REEXAME NECESSÁRIO Nº 80365/ CLASSE CNJ COMARCA CAPITAL

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1 INTERESSADO/APELANTE: INTERESSADO/APELADO: FIEMT - FEDERACÃO DAS INDÚSTRIAS DO Número do Protocolo: 80365/2010 Data de Julgamento: EMENTA APELAÇÃO CIVEL C/C REEXAME NECESSÁRIO DE SENTENÇA - PRELIMINAR DE ILEGITIMIDADE ATIVA DA FIEMT - REJEITADA ANTE A PREVISÃO DE SEU ESTATUTO SOCIAL - TAXA DE SERVIÇOS ESTADUAIS (TSE) - LEI ESTADUAL N / VÍCIO MATERIAL - ILEGALIDADE NA COBRANÇA DE TAXA PARA EMISSÃO DE DOCUMENTO DE ARRECADAÇÃO DE TRIBUTO - DECISÃO RATIFICADA - RECURSO IMPROVIDO. Uma vez que o Estatuto Social da FIEMT - Federação das Indústrias do Estado de Mato Grosso - prevê a defesa das indústrias que congrega e representa, não há que se falar em ilegitimidade ativa. É ilegal a cobrança de taxa cuja contraprestação seja a emissão de documento de arrecadação de outro tributo, pois nesse caso não há qualquer interesse do contribuinte, mas sim do ente estatal, que deverá se responsabilizar com o custeio da confecção de tais documentos. Fl. 1 de 7

2 INTERESSADO/APELANTE: INTERESSADO/APELADO: FIEMT - FEDERACÃO DAS INDÚSTRIAS DO RELATÓRIO EXMO. SR. DR. ANTONIO HORÁCIO DA SILVA NETO Egrégia Câmara: Trata-se de apelação cível c/c reexame necessário de sentença, interposta pelo Estado de Mato Grosso contra sentença proferida pelo Juízo da 5ª Vara Especializada da Fazenda Pública da Comarca da Capital, que nos autos do mandado de segurança n. 3714/2005 concedeu a segurança pleiteada, a fim de declarar a ilegalidade da Taxa de Serviços Estaduais - TSE - nos moldes do inciso II, do 1º., do artigo 90, da Lei Estadual n /1982. Alega preliminarmente a ilegitimidade ativa da FIEMT. No mérito aduz que a cobrança da taxa é legítima, tendo em vista que suas alíquotas foram definidas pela Lei Estadual n /2004, tendo como coeficiente uma alíquota uniforme - UPFMT - e seu quantum cresce ou decresce, de acordo com o maior ou menor valor econômico sobre o qual é aplicada. Assevera que a criação da taxa tem a finalidade de custear a atividade estatal que a motiva, razão pela qual a isenção desse recolhimento fará com que as despesas havidas com a atividade estatal prestada não tenha a correspondente fonte de receita. Ao final pede pelo provimento do recurso (fls. 307/318). Em resposta, a FIEMT - Federação das Indústrias do Estado de Mato Grosso - afirma que o fornecimento de guia para arrecadação de tributo é uma obrigação do ente federado e decorre do direito do contribuinte em realizar o pagamento do tributo devido. Esclarece que não há respaldo por parte de nosso ordenamento para afirmar a legalidade da discutida exação, sendo certo que esta consiste em vício material da regra jurídica, pois constitui abuso do Estado, a realização de cobrança de Taxa de Serviços Fl. 2 de 7

3 Estaduais - TSE -, para que o contribuinte seja liberado a realizar o pagamento de tributo de outra espécie. Ao término pugna pela manutenção da sentença, e via de conseqüência, pelo improvimento do recurso (fls. 336/344). A Procuradoria-Geral de Justiça opina pelo desprovimento do recurso e, conseqüentemente, pela manutenção da sentença (fls.363/366). É o relatório para encaminhamento à douta revisão. P A R E C E R (ORAL) O SR. DR. LUIZ EDUARDO MARTINS JACOB Ratifico o parecer escrito. Fl. 3 de 7

4 VOTO (PRELIMINAR - ILEGITIMIDADE ATIVA) EXMO. SR. DR. ANTONIO HORÁCIO DA SILVA NETO (RELATOR) Egrégia Câmara: Da análise da preliminar suscitada, verifico que a mesma não comporta acolhida, uma vez que é pacífico o entendimento de que a FIEMT - Federação das Indústrias do Estado de Mato Grosso - está devidamente legitimada a movimentar o judiciário na defesa dos interesses de seus associados, como ocorre no caso em tela, vez que em seu Estatuto Social, mas precisamente em seus artigos 2º e 3º está expressamente previsto tal atribuição (fls.29/60). Senão vejamos: Art. 2º - A Federação, cuja base territorial abrange os limites geográficos do Estado de Mato Grosso, tem por objetivo: a - amparar e defender os interesses gerais das indústrias que congrega, e representá-las perante os poderes públicos federais, estaduais e municipais, colaborando com os mesmos no estudo de solução de todos os assuntos que, direta ou indiretamente, possam, de qualquer forma, interessar às atividades produtoras e à expansão da economia nacional; (...) Art. 3º - São prerrogativas da Federação: a - representar, perante as autoridades administrativas e judiciárias os interesses das categorias econômicas e dos respectivos sindicatos filiados; (...). Dessa forma, entendo que a FIEMT - Federação das Indústrias do Estado de Mato Grosso - possui legítimo interesse processual para figurar no pólo ativo da ação mandamental, a qual visa amparar direito líquido e certo lesado ou ameaçado de lesão por parte da autoridade pública, nos termos do que determina a Lei Federal n /51. Posto isso, rejeito a preliminar suscitada. É como voto. Fl. 4 de 7

5 VOTO(MÉRITO) EXMO. SR. DR. ANTONIO HORÁCIO DA SILVA NETO (RELATOR) Egrégia Câmara: Como anteriormente relatado, trata-se de apelação cível c/c reexame necessário de sentença interposta pelo Estado de Mato Grosso contra sentença proferida pelo Juízo da 5ª Vara Especializada da Fazenda Pública da Comarca da Capital, que nos autos do mandado de segurança n. 3714/2005 concedeu a segurança pleiteada, a fim de declarar a ilegalidade da Taxa de Serviços Estaduais - TSE - nos moldes do inciso II, do 1º, do artigo 90, da Lei Estadual n /1982. Verifica-se que o recorrente se insurge contra a decisão, postulando sua integral reforma, alegando que o mencionado dispositivo (inciso II, do 1º, do artigo 90, da Lei Estadual n /1982), não possui qualquer espécie de vício ou ilegalidade. De início, valioso consignar que a Taxa de Serviços Estaduais (TSE) possui como fato gerador a emissão de um documento que, em verdade, não configura uma contraprestação útil ao contribuinte, pois apenas serve de intermédio para o pagamento de outros tributos. Nessa toada, não consigo enxergar qual seria o interesse do contribuinte em custear um documento de arrecadação para recolher outro tributo, bem como qual o benefício que este teria em pagar pelo processamento dessa arrecadação, que é de interesse total do ente federativo. Assim sendo, com a devida vênia, entendo que como a referida arrecadação irá beneficiar, única e exclusivamente, o ente estatal, cabe a este arcar com tais despesas e não ao contribuinte responsável pelo recolhimento. Corroborando com o entendimento ora esposado, o ilustre parecerista opinou neste recurso corretamente que: (...) Evidentemente, trata-se de um tributo cujo fato gerador vincula-se a Fl. 5 de 7

6 uma atividade estatal específica relativa ao contribuinte. Além disso, o serviço prestado, por ser específico e divisível, deve logicamente agregar algum benefício particular, individual ao contribuinte, não sendo suficiente que tal benefício seja apenas público, coletivo. E, no caso, não se pode vislumbrar qual seria o benefício (e o interesse) individual do contribuinte em pagar por um documento de arrecadação (DAR) para recolher outro tributo, nem qual seria o seu interesse, ou qual benefício individual teria, em pagar pelo processamento dessa arrecadação. Tais atividades são, inegavelmente, de interesse do próprio Estado, da coletividade, e o interesse do contribuinte, nesse caso, resume-se ao interesse coletivo, ou seja, é o mesmo de qualquer outro membro dessa coletividade. Bem por isso, por serem atividades de predominante interesse estatal, devem ser custeadas - como bem o disse o ilustre Desembargador Mariano Alonso Ribeiro Travassos no julgamento acima - pelos impostos em geral. Afinal, constitui afronta ao princípio da razoabilidade a exigência, pelo Estado, de que o contribuinte pague taxa para pagar tributos. Portanto, não verifico motivos que dêem ensejo a modificação da sentença, uma vez que evidente o vício material existente na instituição do tributo, no que concerne às atividades previstas no inciso II, do 1º, do artigo 90, da Lei Estadual n /1982, devendo a sentença combatida permanecer como lançada em instância singela. Posto isso, nego provimento ao recurso aviado pelo Estado de Mato Grosso e, via de conseqüência, ratifico a sentença em reexame. É como voto. Fl. 6 de 7

7 ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos os autos em epígrafe, a TERCEIRA CÂMARA CÍVEL do Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso, sob a Presidência do DES. JOSÉ TADEU CURY, por meio da Câmara Julgadora, composta pelo DR. ANTONIO HORÁCIO DA SILVA NETO (Relator), DES. JOSÉ TADEU CURY (Revisor) e DES. RUBENS DE OLIVEIRA SANTOS FILHO (Vogal), proferiu a seguinte decisão: À UNANIMIDADE, REJEITARAM A PRELIMINAR E, NO MÉRITO, NEGARAM PROVIMENTO AO APELO E RATIFICARAM A SENTENÇA REEXAMINADA. Cuiabá, 08 de fevereiro de DESEMBARGADOR JOSÉ TADEU CURY - PRESIDENTE DA TERCEIRA CÂMARA CÍVEL DOUTOR ANTONIO HORÁCIO DA SILVA NETO - RELATOR PROCURADOR DE JUSTIÇA GEACOR Fl. 7 de 7