PRIMEIRA CÂMARA CÍVEL RECURSO DE AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº 76155/ CLASSE II COMARCA DE RONDONÓPOLIS

Transcrição

1 AGRAVANTE: AGRAVADO: ADILTON DOMINGOS SACHETTI MASSA FALIDA DO BANCO SANTOS S.A., REPRESENTADO POR SEU ADMINISTRADOR JUDICIAL VÂNIO CÉSAR PICKLER AGUIAR Número do Protocolo: 76155/2006 Data de Julgamento: EMENTA AGRAVO DE INSTRUMENTO - AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXIBILIDADE DE TÍTULO E CAUTELAR DE SUSTAÇÃO DE PROTESTO - MASSA FALIDA - AÇÕES PROPOSTAS DEPPOIS DA QUEBRA - PREVALÊNCIA DO JUÍZO UNIVERSAL DA FALÊNCIA - RECURSO NÃO PROVIDO. É competente o juízo da falência, em face da vis attactiva prevista no art. 76, da Lei /2005, para processar e julgar a cautelar de protesto e a declaratória de inexigibilidade do título, quando propostas depois da quebra. Fl. 1 de 8

2 AGRAVANTE: AGRAVADO: ADILTON DOMINGOS SACHETTI MASSA FALIDA DO BANCO SANTOS S.A., REPRESENTADO POR SEU ADMINISTRADOR JUDICIAL VÂNIO CÉSAR PICKLER AGUIAR RELATÓRIO EXMO. SR. DR. JONES GATTAS DIAS Egrégia Turma: Cuida-se de recurso de agravo de instrumento interposto contra a respeitável decisão prolatada nos autos da Medida Cautelar de Sustação de Protesto, em trâmite perante a 4ª Vara Cível da Comarca de Rondonópolis, proposta pelo agravante em face da agravada, consistente na declinação de competência para processar e julgar a ação cautelar, tendo em vista a universalidade do Juízo Falimentar, e na subseqüente remessa dos autos ao Juízo da 2ª Vara de Falências e Recuperações Judiciais do Foro Central da Comarca de São Paulo. O pedido de efeito suspensivo ao agravo foi indeferido por ausência de fundamentação relevante. Em contraminuta ao agravo, a agravada pleiteia seja negado provimento ao recurso, bem como mantida a decisão recorrida (fls ). A douta Procuradoria-Geral de Justiça opinou pelo não-provimento do recurso. É o relatório. Fl. 2 de 8

3 PARECER (ORAL) A SRA. DRA. DALVA MARIA DE JESUS ALMEIDA Senhor Presidente: Ratifico integralmente o parecer escrito VOTO EXMO. SR. DR. JONES GATTAS DIAS (RELATOR) Egrégia Turma: Em que pese o louvável esforço do agravante em suas razões recursais, visando à reforma da decisão monocrática, tenho que as suas argumentações não conferem provimento ao recurso. Afinal, agiu corretamente o MM. Juiz da causa ao reconhecer a incompetência do Juízo da 4ª Vara Cível de Rondonópolis para processar e julgar a ação da Medida Cautelar de Sustação de Protesto, diante do princípio do juízo universal da falência, devidamente previsto no art. 76 da atual lei que rege a matéria, Lei /2005, o qual estabelece, textualmente, que: O juízo da falência é indivisível e competente para conhecer todas as ações sobre bens, interesses e negócios do falido, ressalvadas as causas trabalhistas, fiscais e aquelas não reguladas nesta Lei em que o falido figurar como autor ou litisconsorte ativo. Ensina José da Silva Pacheco, a respeito da vis attractiva do juízo falimentar, o seguinte: Se a ação for regulada pela Lei de Falências ou se a massa for ré, a atração é irrecusável, com exceção da execução fiscal, da reclamação trabalhista e das ações antes propostas e que tenham por base títulos não sujeitos a rateio. Fl. 3 de 8

4 A atração começa com a decretação da falência e não antes dela. Amador Paes de Almeida, em sua obra intitulada Curso de Falência e Concordata, assim se posiciona sobre a comentada via atrativa do juízo falimentar: Por juízo universal se há de entender, pois, a atração exercida pelo juízo da falência, sob cuja jurisdição concorrem todos os credores do devedor comum - o falido. Vê-se, assim, que a ação de sustação de protesto versa sobre interesses e negócios do banco falido, estando este a ocupar o pólo passivo da ação, incidindo, pois, na regra da universalidade do juízo falimentar. Nem mesmo a visualizada exceção à regra socorre o recorrente, uma vez que a medida cautelar e a subseqüente ação principal foram claramente propostas depois de decretada a quebra do agravado, impedindo-se, assim, a aplicação do entendimento jurisprudencial do prosseguimento da ação fora, excepcionalmente, do Juízo da Falência. A jurisprudência nacional não oscila no entendimento de que a medida cautelar de sustação de protesto e a ação principal declaratória alusiva a esse título objeto de protesto, quando propostas depois de decretada a falência, devem ser remetidas ao Juízo Falimentar por força do princípio legal da universalidade desse juízo, conforme se vê adiante nos julgados dos Tribunais de Justiça de São Paulo e do Rio Grande do Sul e do Superior Tribunal de Justiça, mutatis mutandis: AGRAVO DE DECISÃO QUE DEFERIU LIMINAR EM CAUTELAR DE SUSTAÇÃO DE PROTESTO. INCOMPETÊNCIA DO JUÍZO COMUM, FACE ANTERIOR DECRETAÇÃO DA QUEBRA DA REQUERIDA. PROVIMENTO DO AGRAVO COM FULCRO NO PAR-2 DO ART-7 DA LEI 7661/45, RECONHECENDO-SE O JUÍZO FALIMENTAR COMO COMPETENTE PARA CONHECIMENTO, PROCESSAMENTO E JULGAMENTO DA CAUTELAR. (destaquei - Agravo de Instrumento Nº , Sexta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Osvaldo Stefanello, Julgado em 28/05/1996) Fl. 4 de 8

5 AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXIGIBILIDADE DE TÍTULO JUDICIAL E CAUTELAR DE SUSTAÇÃO DE PROTESTO, ANTERIORES À FALÊNCIA. AJUIZADA DEMANDA ANTERIORMENTE AO DECRETO DE QUEBRA, INOCORRÊNCIA DO JUÍZO UNIVERSAL DA FALÊNCIA. COMPETÊNCIA DO JUÍZO COMUM. APLICAÇÃO DO ARTIGO 24 DO DECRETO-LEI Nº 7661/45. EM FACE DA JURISPRUDÊNCIA DOMINANTE NO STJ. AGRAVO PROVIDO DE PLANO, FORTE NO ARTIGO 557, 1º-A, CPC. (destaquei - Agravo de Instrumento Nº , Vigésima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Rubem Duarte, Julgado em 28/03/2006) COMPETÊNCIA - Ação anulatória de duplicata em seqüência a medida cautelar de sustação de protesto - Ajuizamento antes de declarada a falência do réu - Inadmissibilidade de se operar a "vis attractiva" do juízo universal da falência (1º TACivSP) (destaquei - RT 736/260) CONFLITO DE COMPETÊNCIA. FALÊNCIA. SUSTAÇÃO DE PROTESTO. AÇÃO PROPOSTA ANTES DA QUEBRA. A ação que visa a sustação de protesto deve prosseguir perante o Juízo em que foi originariamente proposta, se distribuída antes da quebra, porque tem como objeto abstenção de fato - hipótese em que não prevalece o juízo da falência, por força da exceção prevista no artigo 24, 2º, II do Decreto-Lei nº 7.661, de Conflito conhecido para declarar competente o MM. Juízo da 7ª Vara Cível de Porto Alegre. (destaquei - STJ - CC PR - Min. Ari Pargendler j DJ , p.168, JBCC vol. 187 p. 112). CONFLITO DE COMPETÊNCIA. AÇÃO DE PRESTAÇÃO DE Fl. 5 de 8

6 CONTAS AJUIZADA ANTES DA DECRETAÇÃO DA QUEBRA. MASSA FALIDA. INDIVISIBILIDADE DO JUÍZO FALIMENTAR. Proposta ação de prestação de contas antes da decretação da quebra, não se aplica a vis attractiva prevista no artigo 7 do aludido diploma legal, uma vez que, na hipótese dos autos, a massa falida não é ré, mas autora da referida ação, por substituição processual. Conflito conhecido, declarando-se competente o juízo suscitado. (destaquei - STJ - CC MG - Min. Castro Filho, j p. DJ , p. 226). Competência. Conflito. Ação de cobrança. Ajuizamento posterior à decretação da falência. Interesse da Massa Falida. Inexistência de hipótese de exceção. Juízo Universal. - A competência universal do Juízo Falimentar (art. 7º, 2º - Lei de Falências decorre do imperativo de tratamento isonômico dos credores da massa falida. - Não se configurando hipótese de exceção, sendo notório o interesse da massa, e tendo sido interposta ação após a decretação da quebra não se vislumbra qualquer motivação a ensejar a ruptura da sistemática própria da Lei de Falências. Conflito conhecido para declarar o Juízo da 2ª Vara de Falências e Concordatas do Rio de Janeiro competente para processamento e julgamento da ação. (destaquei - STJ - CC RJ - Min. Nancy Andrighi, j , p. DJ , p LEXSTJ 182/40) Diante do exposto, nego provimento ao recurso. É como voto. Fl. 6 de 8

7 VOTO EXMO. SR. DR. RODRIGO ROBERTO CURVO (1º VOGAL) Egrégia Turma: Acompanho o voto do douto relator. VOTO EXMO. SR. DES. RUBENS DE OLIVEIRA SANTOS FILHO (2º VOGAL) Egrégia Turma: Senhor Presidente: O foro de eleição é o da Comarca de São Paulo. Entretanto, a agravada preferiu apontar o título para protesto no domicílio do devedor, ou seja, na Comarca de Rondonópolis. Se é certo que com a falência ocorre a vis attractiva e, sendo a massa ré, também, é razoável que a mesma seja demandada em foro diverso, quando a ação tem como objeto a abstenção de fato, como é o caso dos autos. Assim, pedindo vênia ao relator, provejo o recurso. Fl. 7 de 8

8 ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos os autos em epígrafe, a PRIMEIRA CÂMARA CÍVEL do Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso, sob a Presidência do DES. LICÍNIO CARPINELLI STEFANI, por meio da Turma Julgadora, composta pelo DR. JONES GATTAS DIAS (Relator convocado), DR. RODRIGO ROBERTO CURVO (1º Vogal convocado) e DES. RUBENS DE OLIVEIRA SANTOS FILHO (2º Vogal), proferiu a seguinte decisão: POR MAIORIA, IMPROVERAM O RECURSO. VENCIDO O 2º VOGAL. Cuiabá, 18 de dezembro de DESEMBARGADOR LICÍNIO CARPINELLI STEFANI - PRESIDENTE DA DOUTOR JONES GATTAS DIAS - RELATOR PROCURADOR DE JUSTIÇA GEACOR Fl. 8 de 8