PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO Câmara Reservada ao Meio Ambiente

Transcrição

1 Registro: ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo de Instrumento nº , da Comarca de Monte Alto, em que é agravante BERTOLO AGROINDUSTRIAL LTDA (EM RECUPERAÇÃO JUDICIAL) sendo agravado FAZENDA DO ESTADO DE SÃO PAULO. ACORDAM, em do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores TORRES DE CARVALHO (Presidente), RENATO NALINI E ZÉLIA MARIA ANTUNES ALVES. São Paulo, 1 de março de Torres de Carvalho PRESIDENTE E RELATOR Assinatura Eletrônica

2 Voto nº AI-2.765/12 Agravo nº Agte: Bertolo Agroindustrial S/A Em Recuperação Judicial Agdo: Fazenda Estadual Origem: Pirangi (Monte Alto) Proc. nº 664/10 Juiz: Gilson Miguel Gomes da Silva EXECUÇÃO FISCAL. Multa ambiental. Empresa em recuperação judicial. Suspensão e remessa ao juízo universal. LF nº / Recuperação judicial. Execução fiscal. O deferimento da recuperação judicial ou a decretação da falência suspendem as ações e execuções em curso, mas não as execuções fiscais de créditos tributários ou não tributários, conforme dispõe o 7º do art. 6º da LF nº / Competência. Compete ao juízo da execução processar a execução e julgar os embargos e demais incidentes; mas não poderá praticar atos de alienação, pois de competência do juízo universal. 3. Penhora. A penhora sobrevive se anterior ao deferimento da recuperação ou da quebra; mas não poderá ser efetivada depois, salvo autorização do juízo universal. Os embargos, no entanto, poderão prosseguir sem a garantia e sem efeito suspensivo. 4. Pagamento. Compete ao juízo universal o pagamento aos credores conforme o quadro geral e as preferências legais, o que implica na habilitação oportuna do crédito fiscal. Agravo desprovido, com observação. 1. Trata-se de agravo interposto contra a decisão de fls. 78/79, aqui fls. 95/96 que indeferiu o pedido de suspensão e remessa da execução fiscal ao juízo universal; a executada alega que o deferimento da recuperação judicial suspende as execuções individuais, ainda que anteriores; compete ao juízo universal decidir sobre o patrimônio da executada, o que inviabiliza a penhora ou a alienação pelo juízo da execução; a multa administrativa não se enquadra no permissivo do 7º do art. 6º da LF nº

3 11.101/05. Insiste na suspensão e na remessa dos autos ao juízo da recuperação judicial. É o relatório. 2. A agravante responde a execução de multa ambiental por queima não autorizada da palha da cana-de-açúcar, ainda sem penhora. Em foi determinado o processamento da recuperação judicial da devedora e demais cinco empresas coligadas (Proc. nº 1.020/10, Vara Distrital de Flórida Paulista) e a suspensão das ações e execuções em tramitação contra as empresas. O processamento da recuperação judicial suspende o curso da prescrição e de todas as ações e execuções contra o devedor, mas não as execuções de natureza fiscal (art. 6º 7º da LF n /05), de natureza tributária ou não (por exemplo: Fazenda Nacional vs Frigorífico Margen Ltda Em Recuperação Judicial, CC nº GO, STJ, 2ª Seção, , Rel. Luis Felipe Salomão, que dirimiu conflito de competência entre a 2ª Vara Cível de Rio Verde-GO e a 2ª Vara do Trabalho de Ariquemes-GO para o processamento de execução fiscal de multa administrativa iniciada na vara trabalhista). Incorreta a afirmação da agravante de que o 7º cuida apenas do crédito tributário e não dos demais. 3. Em que pesem as diversas decisões, a questão não foi dirimida em suas nuances pelo Superior Tribunal de Justiça. A posição mais antiga determinava o normal prosseguimento das execuções fiscais, pois créditos

4 não sujeitos à concordata, e em relação a esta prestigiava a Súmula 44/TFR: Ajuizada a execução fiscal anteriormente à falência, com penhora realizada antes desta, não ficam os bens penhorados sujeitos à arrecadação no juízo falimentar; proposta a execução fiscal contra a massa falida, a penhora far-se-á no rosto dos autos do processo de quebra, citando-se o síndico". Assim, a execução prosseguia com a penhora livremente feita antes da falência; depois dela, cabia ao juízo da execução penhorar direitos no rosto da falência, e não bens da devedora. A execução podia prosseguir até a alienação; mas o produto havia de ser entregue ao juízo universal, encarregado da elaboração do quadro geral de credores e da partilha do dinheiro arrecadado (AgRg no CC nº SP, STJ, 2ª Seção, , Rel. Humberto Gomes de Barros, referente a dinheiro depositado em execução trabalhista). O entendimento foi reforçado na vigência da LF nº /05, uma vez que todos os credores ficam sujeitos à recuperação judicial, inclusive a administração (art. 49). A execução fiscal não se suspende; é certo que o juízo da execução não poderá praticar atos de alienação, assim evitando que a redução do patrimônio comprometa a recuperação da empresa, nem pagar com o dinheiro eventualmente arrecadado; mas não fica claro se pode penhorar bens da devedora. A dúvida decorre da redação ambígua dos acórdãos, como se vê de decisão recente: CONFLITO DE COMPETÊNCIA. JUÍZO DA EXECUÇÃO FISCAL E JUÍZO DA VARA DE FALÊNCIAS E RECUPERAÇÕES JUDICIAIS. EMPRESA SUSCITANTE EM RECUPERAÇÃO JUDICIAL. COMPETÊNCIA DO JUÍZO FALIMENTAR PARA TODOS OS ATOS QUE IMPLIQUEM RESTRIÇÃO PATRIMONIAL. 1. As execuções fiscais ajuizadas em face da empresa em recuperação judicial não se suspenderão em virtude do deferimento do processamento da recuperação judicial, ou seja, a concessão da recuperação judicial para a empresa em crise econômico-financeira não tem qualquer influência na cobrança judicial dos tributos por ela devidos. 2. Embora a execução fiscal, em si, não se suspenda, são vedados atos judiciais que

5 reduzam o patrimônio da empresa em recuperação judicial, enquanto for mantida essa condição. Isso porque a interpretação literal do art. 6º, 7º, da Lei /05 inibiria o cumprimento do plano de recuperação judicial previamente aprovado e homologado, tendo em vista o prosseguimento dos atos de constrição do patrimônio da empresa em dificuldades financeiras. Precedentes. 3. Conflito conhecido para declarar a competência do JUÍZO DA JUÍZO DA VARA DE FALÊNCIAS E RECUPERAÇÕES JUDICIAIS DO DISTRITO FEDERAL para todos os atos que impliquem em restrição patrimonial da empresa suscitante. (Transportadora Wadel Ltda Em Recuperação Judicial vs Estado de Minas Gerais, CC nº 1w MG, 2ª Seção, , Rel. Nancy Andrighi, unânime). 4. A decisão dirimiu conflito entre a Vara de Falências e Recuperações Judiciais do Distrito Federal e a 5ª Vara Cível de Betim-MG, decorrente da deprecação de realização da hasta pública de um veículo penhorado em execução fiscal. Constou do acórdão: Dessa forma, embora a execução fiscal, em si, não se suspenda, são vedados atos judiciais que reduzam o patrimônio da empresa em recuperação judicial, enquanto for mantida essa condição. Nesse sentido, caso seja determinada a realização da hasta pública, o já precário funcionamento do estabelecimento da suscitante poderá ser prejudicado, de maneira a comprometer o sucesso de seu plano de recuperação, e conclui declarando a competência do juízo universal para o exame da viabilidade de quaisquer atos constritivos sobre o patrimônio da empresa em recuperação enquanto estiver em desenvolvimento o respectivo plano de recuperação judicial. O acórdão pouco esclarece. Cuida de uma precatória para hasta pública e veda atos judiciais que reduzam o patrimônio da empresa em recuperação judicial (atos de alienação), mas defere ao juízo universal o exame da viabilidade de 'quaisquer atos constritivos do patrimônio da empresa', que abrange a realização da penhora. Uma leitura rigorosa da LF nº 6.830/80

6 exige que a penhora anteceda à apresentação dos embargos; não se sabe se o juiz da execução pedirá ao juízo universal que penhore, ou pedirá autorização para que ele mesmo (juízo da execução) penhore, nem quem apreciará os incidentes relacionados à garantia efetivada; não se sabe se a execução fiscal deva prosseguir sem a constrição para futura habilitação do crédito fiscal na recuperação judicial, nem se a própria execução deva ser remetida ao juízo universal. É preciso decidir, ainda que nebuloso o panorama jurisprudencial. Estabelece-se o seguinte: (a) o 7º do art. 6º da LF nº /05 se refere à execução fiscal de crédito tributário ou não tributário; (b) a execução fiscal prossegue no juízo da execução, ainda que deferido o pedido de recuperação judicial ou decretada a falência; (c) a penhora anterior sobrevive ao deferimento da recuperação ou da decretação da falência, vedados atos de alienação pelo juízo da execução; (d) a execução fiscal poderá prosseguir sem a penhora, caso em que os embargos não terão efeitos suspensivo. A constrição, se deferida a recuperação, deverá ser determinada ou autorizada pelo juízo universal; se decretada a falência, será feita no rosto dos autos. Em qualquer hipótese, o pagamento será feito pelo juízo universal conforme a lista geral de credores, a exigir a oportuna habilitação do crédito fiscal. O juiz está correto: é competente para o processamento da execução fiscal, que não se suspende, com as restrições mencionadas no acórdão. O tribunal chegou a igual solução nos AI nº , Câmara Ambiental, 2011, por mim relatado (voto AI-2622) e no AI nº , 10ª Câmara de Direito Público, , Rel. Aguilar Cortez.

7 observações que constam do acórdão. O voto é pelo desprovimento do agravo, com as TORRES DE CARVALHO Relator