TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo

Transcrição

1 Registro: ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos do Agravo de Instrumento nº , da Comarca de, em que é agravante SERGIO ROBERTO ORTIZ NASCIMENTO, é agravado BSC EQUIPAMENTOS DE SEGURANÇA S/A (MASSA FALIDA). ACORDAM, em 1ª Câmara Reservada de Direito Empresarial do Tribunal de Justiça de, proferir a seguinte decisão: "Deram provimento ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores PEREIRA CALÇAS (Presidente) e ENIO ZULIANI., 2 de outubro de 2012 FRANCISCO LOUREIRO RELATOR Assinatura Eletrônica

2 Agravo de Instrumento n o Comarca: CAPITAL Agvte: Agvdo: SÉRGIO ROBERTO ORTIZ NASCIMENTO BSC EQUIPAMENTOS DE SEGURANÇA (MASSA FALIDA) VOTO N o HABILITAÇÃO DE CRÉDITO. Desnecessidade, se o crédito fora declarado pela concordatária, sem sofrer qualquer impugnação por parte do comissário. Posterior convolação da concordata em falência, já sob o regime da L /05. Transporte de todos os créditos declarados pela concordatária para a falência, dispensável nova habilitação. Irrelevância da falta de impugnação do credor, se o crédito, por força de lei, deveria ter sido lançado pelo administrador na falência. Recurso provido. Cuida-se de agravo de instrumento, com pedido de liminar, tirado de decisão que nos autos da falência de BSC EQUIPAMENTOS DE SEGURANÇA S/A indeferiu pedido para que crédito já declarado em anterior concordata preventiva fosse incluído como quirografário na falência, sem necessidade de habilitação retardatária. Fê-lo o decisum recorrido, sob o argumento de que a administradora judicial da falência não reconheceu o crédito, de modo que somente pedido de habilitação retardatária pode leva-lo à inclusão no quadro geral de credores. Alega o recorrente, em resumo, que seu crédito já fora declarado pela própria devedora, ao impetrar pedido de concordata preventiva, no regime da lei anterior, razão pela qual desnecessária qualquer habilitação. A convolação da concordata em falência não faz nascer a necessidade de que todos os credores já reconhecidos e declarados venham a habilitar-se. Agravo de Instrumento nº VOTO Nº /5

3 Em razão do exposto e pelo que mais argumenta às fls. 02/23, pede o provimento de seu recurso. Não convertido o presente agravo de instrumento em agravo retido, foi deferido o pedido de liminar. Dispensadas as informações do Juízo a quo, porque clara a questão posta em debate, os agravados, devidamente intimados, ofereceram resposta e juntaram documentos às fls. 183/252. A Douta Procuradoria de Justiça, ofertou parecer no sentido do provimento do recurso (fls. 254/256). É o relatório. O recurso comporta inteiro provimento. Segundo consta dos autos (fls. 142, 157 e 161 deste instrumento), o crédito do requerente Sérgio Roberto foi declarado pela então concordatária (hoje falida), na lista dos credores sujeitos à moratória, ainda no regime do DL 7661/45. Posteriormente foi a concordata convolada em falência, agora sob o regime da L /05. O que se discute é a necessidade de credor que teve o seu crédito declarado na concordata preventiva, sem qualquer impugnação, pedir sua habilitação se a moratória se converte em falência. Não me parece relevante o argumento posto na decisão recorrida, no sentido de que se a administradora judicial não relacionou o crédito, deveria ter o credor oportunamente ofertado impugnação, ou, na pior das hipóteses, habilitado o seu crédito na modalidade de retardatário. Isso porque, instados a se manifestar, o Agravo de Instrumento nº VOTO Nº /5

4 administrador judicial e os demais credores não colocaram qualquer óbice de natureza objetiva quanto ao fato essencial, qual seja, o de que o crédito já fora declarado na concordata preventiva, sem qualquer impugnação por terceiros. Não faz sentido que simples erro, de natureza essencialmente material, qual seja, o de não transferir os créditos já declarados na concordata automaticamente para a falência, tenha o condão de impor ao credor o ônus de pedir habilitação retardatária, com o escopo de demonstrar algo que é incontroverso. Parece claro que existem suas situações radicalmente diversas: (i) a primeira, de credor que não vê o seu crédito publicado no edital do artigo 7º, devendo no prazo legal ofertar a sua impugnação; (ii) a segunda, de credor que já viu o seu crédito ser declarado na fase de recuperação judicial (ou concordata, no regime da lei anterior) sem qualquer impugnação e tem o direito de vê-lo transportado para a falência da devedora. Diga-se, aliás, que a própria L /05 contém regra expressa a respeito de tal hipótese, em seu art. 80: Considerar-se-ão habilitados os créditos remanescentes da recuperação judicial, quando efetivamente incluídos no quadro geral de credores, tendo prosseguimento as habilitações que estejam em curso Na lição de Fábio Ulhoa Coelho, isso significa que eles devem constar da relação de credores fornecida pelo falido e cuja publicação dá início à verificação de créditos. Caso a relação omita um ou mais desses créditos, o administrador judicial deve corrigi-la independentemente de habilitação ou divergência pelo credor. Claro que, omitindo-se também o administrador judicial, o credor poderá peticionar ao juiz, nos autos principais da falência, para que ele determine a emenda da Agravo de Instrumento nº VOTO Nº /5

5 relação (Comentários à Lei de Falências, 8ª. Edição, Saraiva, p. 286). Em suma, se engana a decisão recorrida ao exigir que o credor já constante do quadro geral na recuperação (ou concordata no regime da lei anterior) tenha de ofertar impugnação, ou habilitar o seu crédito de modo retardatário, em razão de omissão da relação constante da falência. O que interessa no caso concreto é apenas saber se o recorrente estava ou não relacionado como credor na concordata preventiva. Feita a prova material desse fato, o provimento do recurso é de rigor. Não tem maior relevância a alegação de preclusão levantada pelo combativo administrador judicial. Parece claro que se o transporte do crédito da concordata para a falência decorre de lei e deveria ter sido tomada de ofício pelo administrador judicial, sua omissão não pode vir em detrimento do credor. feita na origem. provimento ao recurso. A conversão do crédito em moeda corrente será Diante do exposto, pelo meu voto, dou FRANCISCO LOUREIRO Relator Agravo de Instrumento nº VOTO Nº /5