PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO ACÓRDÃO

Transcrição

1 ACÓRDÃO Registro: Vistos, relatados e discutidos estes autos do Agravo de Instrumento nº , da Comarca de Águas de Lindóia, em que é agravante PAULO ROBERTO LINO, é agravado LINDOYANA DE AGUAS MINERAIS LTDA (EM RECUPERAÇÃO JUDICIAL). ACORDAM, em 2ª Câmara Reservada de Direito Empresarial do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Deram provimento em parte ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores JOSÉ REYNALDO (Presidente) e RICARDO NEGRÃO. São Paulo, 2 de setembro de Araldo Telles RELATOR Assinatura Eletrônica

2 COMARCA DE ÁGUAS DE LINDÓIA JUIZ DE DIREITO: FERNANDO COLHADO MENDES AGRAVANTE: PAULO ROBERTO LINO AGRAVADA: LINDOYANA DE ÁGUAS MINERAIS LTDA. (em recuperação judicial) VOTO N.º EMENTA: Recuperação judicial. Crédito trabalhista reconhecido em sentença transitada em julgado. Sentença ilíquida que arbitrou condenação apenas para efeitos fiscais de recolhimento de custas para interposição de recursos ( 2º do art. 899 da Consolidação das Leis do Trabalho). Habilitação que deve consistir no valor principal homologado pela Justiça do Trabalho. Correção determinada. Recuperação judicial. Cálculo que também deve observar os critérios do art. 9º, II, da Lei /05 e não implica em violação à coisa julgada. Recuperação judicial. Crédito trabalhista. Pagamento. Limite estabelecido no art. 83, I, da Lei /05 que deve ser interpretado, nos casos de recuperação judicial, sistematicamente com o art. 54 da mesma lei. Impossibilidade da limitação, pois o prazo para o pagamento dos créditos derivados da legislação do trabalho não pode ultrapassar um ano. Recurso parcialmente provido. Vitorioso em ação trabalhista movida contra a agravada, o agravante não se conforma com a r. decisão copiada às fls. 52, que, nos autos de sua habilitação de crédito, incluiu no Quadro Geral de Credores a quantia equivalente a R$50.000,00. Sustenta, em Agravo de Instrumento nº Voto

3 resumo, que tal valor foi arbitrado apenas para fins de recolhimento de custas recursais, cujos cálculos foram homologados posteriormente com a liquidação da sentença. Requer o pagamento integral de R$ ,15, dizendo que a limitação de cento e cinquenta salários mínimos não se aplica aos casos de sociedades em regime de recuperação judicial. Alternativamente, requer, ao menos, o pagamento nos limites do disposto no art. 83, I, da LRF. Processado o agravo, manifestou-se a Procuradoria Geral de Justiça pelo parcial provimento. É o relatório. Respeitado o convencimento do ilustre magistrado de primeiro grau, o valor habilitado merece correção. Justiça Alberto Camiña Moreira 1 : Em feliz síntese, diz o eminente Procurador de Vê-se, assim, que, como exposto na minuta recursal, e diferentemente do sistema recursal do processo cível, o recurso trabalhista, por parte do reclamado, envolve o prévio depósito recursal, para cuja quantia o juiz fixa um valor de referência (condenação). O atendimento ao pedido mediato formulado pelo reclamante, aqui, deu-se com o julgamento de parcial procedência do pedido, e a apuração, posteriormente, do crédito lamentado. Quanto ao crédito de titularidade do agravado, verifica-se que a condenação foi arbitrada, a priori, apenas para servir de base de cálculo para o depósito recursal previsto no art. 899, 2º, da CLT, em R$50.000,00 (certidão de fls. 38). Extrai-se, da mesma certidão, que a conta de liquidação foi homologada em E, 1 Fls. 72/73 Agravo de Instrumento nº Voto

4 para fins de inclusão no Quadro Geral de Credores, deve-se levar em conta os valores constantes de tal decisão homologatória (fls. 57), no caso, o principal de R$ ,13. Há que se considerar, no entanto, que está atualizado até , além da data do pedido de recuperação judicial ( ). É que, mesmo havendo homologação com base em outros parâmetros, não se levou em conta a recuperação em que se encontra a devedora e a necessidade de se estabelecer critério único para tratamento igualitário dos credores de uma mesma classe, conduta que não implica em violação à coisa julgada, como decidiu a C. Câmara Reservada no julgamento do Agravo de Instrumento nº /8, Rel. Des. Boris Kauffmann. No mesmo sentido o julgamento do Agravo de Instrumento nº , este de relatoria do Des. Ricardo Negrão, desta 2ª Câmara Reservada de Direito Empresarial. Por outro lado, também tem razão o recorrente ao argumentar que o art. 83, I, da LRF não se aplica aos casos de sociedades em regime de recuperação judicial. É que tal dispositivo deve ser interpretado em conjunto com o que dispõe o artigo 54 da mesma lei, pois, ao prever prazo de um ano para o pagamento dos créditos derivados da legislação do trabalho, afasta a aplicabilidade daquele. Explico: limitando-se o pagamento a cento e cinquenta salários mínimos, o saldo seria convertido em crédito quirografário (art. 83, VI, c) e não seria pago, é certo, no exíguo prazo de um ano. Assim, a hipótese é de parcial provimento para que, Agravo de Instrumento nº Voto

5 considerado o crédito do agravante em R$ ,13 (fls. 57), sejam feitos novos cálculos, obedecido, para a atualização, o critério estabelecido no art. 9º, II, da LRF, não se aplicando a limitação que prevê o mencionado art. 83, I. É como voto. JOSÉ ARALDO DA COSTA TELLES RELATOR Agravo de Instrumento nº Voto