TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo

Transcrição

1 TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo Registro: ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos do Agravo de Instrumento nº , da Comarca de Guarulhos, em que é agravante MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO, são agravados INDÚSTRIA METALÚRGICA PASCHOAL THOMEU LTDA (EM RECUPERAÇÃO JUDICIAL), ARTES GRÁFICAS GUARU LTDA (EM RECUPERAÇÃO JUDICIAL) e EMPRESA JRALISTICA FOLHA METROPOLITANA LTDA (EM RECUPERAÇÃO JUDICIAL). ACORDAM, em 1ª Câmara Reservada de Direito Empresarial do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Deram provimento, em parte, ao recurso. V.U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores ENIO ZULIANI (Presidente), FRANCISCO LOUREIRO E FORTES BARBOSA. São Paulo, 14 de agosto de ENIO ZULIANI RELATOR Assinatura Eletrônica

2 VOTO Nº: AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº: COMARCA: GUARULHOS AGRAVANTE [S]: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO AGRAVADO [A/S]: INDÚSTRIA METALÚRGICA PASCHOAL THOMEU LTDA. [em recuperação judicial], ARTES GRÁFICAS GUARU LTDA. [em recuperação judicial] e EMPRESA JORNALÍSTICA FOLHA METROPOLITANA LTDA. [em recuperação judicial] Recuperação Judicial Venda de imóveis que não filiais ou unidades produtivas isoladas Necessidade de controle da livre disponibilidade de bens que compõem o ativo fixo das recuperandas e que garantem os direitos dos credores Alienação que deverá ser feita com cautela e por meio de propostas fechadas visando não só a segurança do negócio como sua lisura, com a análise de todas as propostas apresentadas para comparação Obrigatoriedade de se manter o produto da venda em depósito judicial para liberação aos credores - Provimento, em parte, para este fim. Vistos. O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO recorre da r. decisão exarada às fls. 3209/3213, na recuperação judicial da INDÚSTRIA METALÚRGICA PASCHOAL THOMEU LTDA., ARTES GRÁFICAS GUARU LTDA. e EMPRESA JORNALÍSTICA FOLHA METROPOLITANA LTDA. e que determinou a formalização da compra e venda envolvendo os imóveis correspondentes às matrículas e 16486, figurando como proponente a empresa T.S.R. CONSTRUTORA LTDA., deferindo a expedição de ofício ao cartório de Registro de Imóveis para que se registre a transferência do bem, cancelando-se as penhoras constantes das mencionadas matrículas, devendo haver registro da compra e venda independentemente da apresentação de certidão negativa de débitos fiscais bem como em face do Agravo de Instrumento nº Guarulhos - Voto nº A 2

3 INSS. Afirma que o próprio plano de recuperação estipulou que a venda de ativos fixos deveria ser realizada na forma do art. 60 da LFRE, circunstância que leva à necessidade da alienação dos referidos bens por meio de leilão, proposta fechada ou pregão, sendo irrelevante que os imóveis em contento sejam considerados não operacionais e que tanto o Comitê de Credores como o administrador judicial tenham emitido pareceres favoráveis à venda. Ademais, considera inviável o cancelamento das penhoras levadas a efeito em sede de execução fiscal anteriores à recuperação judicial. Por fim, pleiteia a análise dos documentos apresentados dando conta de fatos que caracterizam o estado de falência e a prática de crimes falimentares, até hoje ignorados pelo D. Juízo e informalmente devolvidos por funcionário do cartório judicial. Pede a concessão a efeito suspensivo, com a reforma ao final da decisão para que a alienação se faça na forma do art. 60 da LFRE, procedendose à perícia a fim de avaliar os bens imóveis. O efeito ativo foi concedido [fl. 259]. Contraminuta às fls. 268/294. A D. Procuradoria Geral de Justiça se manifestou às fls. 309/310. A ANNUNCIATO THOMEU JÚNIOR, na qualidade de assistente processual, se manifestou às fls. 313/332. É o relatório. O art. 60 da Lei /05 dispõe que se o plano de recuperação judicial aprovado envolver alienação judicial de filiais ou unidades produtivas isoladas do devedor, o juiz ordenará sua realização, observado o disposto no art. 142 desta Lei. De outro lado, o art. 142 do mesmo diploma legal determina que o juiz, ouvido o administrador judicial e atendendo à Agravo de Instrumento nº Guarulhos - Voto nº A 3

4 orientação do Comitê, se houver, ordenará que se proceda à alienação do ativo em uma das seguintes modalidades: I leilão, por lances orais; II propostas fechadas; III pregão. Neste sentido também deliberou o plano de recuperação judicial das agravadas devidamente homologado no item 11.12, nos seguintes termos: em qualquer caso, a venda de ativos fixos será realizada na forma do art. 60 da LFRE, e o objeto estará livre de qualquer ônus, não havendo sucessão do adquirente em quaisquer obrigações do Grupo Paschoal Thomeu, de qualquer natureza. Na hipótese, muito embora a D. Magistrado tenha afastado a aplicação da regra acima citada, afirmando que os imóveis constantes das matrículas números e do 2º Cartório de Registro de Imóveis de Guarulhos se tratam de galpões industriais, não utilizados pela proprietária, Artes Gráficas Guaru Ltda., empresa do grupo que se encontra em recuperação judicial e que, aliás, está inativa, tal interpretação não soa de acordo com a necessidade de controle da livre disponibilidade de bens que compõem o ativo fixo das recuperandas e que garantem os direitos dos credores. Ademais, os demonstrativos apresentados pelas recuperandas indicam que as empresas INDÚSTRIA METALÚRGICA PASCHOAL THOMEU LTDA. e ARTES GRÁFICAS GUARU LTDAL não estão em operação, apenas acumulando passivos e a empresa FOLHA METROPOLITANA LTDA., embora em funcionamento, vem apresentando débitos superiores aos créditos obtidos, o que a coloca em situação de incremento do passivo. Agravo de Instrumento nº Guarulhos - Voto nº A 4

5 Assim e diante do quadro fático apresentado, a Turma Julgadora entende pela necessidade de cautela na alienação destes bens, mesmo não caracterizados como filiais ou unidades produtivas isoladas, com vistas a garantir a maximização do valor das vendas a fim de preservar, tanto quanto possível, o ativo das empresas e, consequentemente, os direitos de terceiros. A alienação, deste modo, deverá ser feita por propostas fechadas, obedecida à regra imposta no art. 60 da Lei /05, visando a segurança do negócio e sua lisura, com a análise de todas as propostas apresentadas para comparação. O produto (numerário) obtido ficará depositado em conta judicial e será liberado para satisfação dos credores habilitados. Sobre a liberação da penhora, é prudente mantê-la, até que se pague a Fazenda Nacional, não existindo motivo para prévia liberação, valendo anotar que a Fazenda Nacional sequer se posicionou a respeito. Os interessados deverão ter ciência de que existe uma penhora e que há necessidade de ser priorizada a satisfação desse crédito, para evitar que a credora tenha transtornos com eventuais prioridades que esvaziem o produto das vendas. Por outro lado, não há como se determinar a análise pelo D. Juízo dos documentos que o agravante afirma ter juntado aos autos dando conta de fatos que caracterizam o estado de falência e a prática de crimes falimentares, tendo em vista que a questão não foi objeto da decisão agravada. Isto posto, dá-se provimento, em parte, ao recurso para determinar que a alienação dos imóveis constantes das matrículas números Agravo de Instrumento nº Guarulhos - Voto nº A 5

6 70558 e do 2º Cartório de Registro de Imóveis de Guarulhos se faça por meio de propostas fechadas com vistas a segurança do negócio, depositandose o valor obtido para pagamento dos credores. ÊNIO SANTARELLI ZULIANI Relator Agravo de Instrumento nº Guarulhos - Voto nº A 6