PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO 1ª Câmara Reservada de Direito Empresarial ACÓRDÃO

Transcrição

1 ACÓRDÃO Registro: Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo de Instrumento nº , da Comarca de Junqueirópolis, em que é agravante MERCAVALE MERCANTIL VALE DO SOL COMERCIO DE PRODUTPS ALIMENTICIOS LTDA, são agravados ALTA PAULISTA INDUSTRIA E COMERCIO LTDA (EM RECUPERAÇÃO JUDICIAL), ALTA PAULISTA AGROCOMERCIAL LTDA (EM RECUPERAÇÃO JUDICIAL) e JUNQUEIROPOLIS AGROCOMERCIAL LTDA (EM RECUPERAÇÃO JUDICIAL). ACORDAM, em do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores MAIA DA CUNHA (Presidente) e ENIO ZULIANI. São Paulo, 12 de setembro de Fortes Barbosa RELATOR Assinatura Eletrônica

2 Agravo de Instrumento Agravante: Mercavale Mercantil Vale do Sol Comercio de Produtos Alimentícios Ltda. Agravado: Alta Paulista Industria e Comercio Ltda e outros Número de origem: Voto 4524 EMENTA Recuperação judicial Homologação de plano aprovado pela assembleia de credores - Contratos de compra-e-venda de coisa futura - Sacas de açúcar cristal Garantia pignoratícia Aplicação dos artigos 50, 1º e 59 da Lei /05 Pendência das garantias reais Limitação à novação dos créditos Desnecessidade de ressalva no plano aprovado Recurso desprovido. Cuida-se de agravo de instrumento tirado contra decisão emitida pelo r. Juízo de Direito da Comarca de Junqueirópolis, que, como fundamento no artigo 58 da Lei /05 e no âmbito da recuperação judicial de Alta Paulista Indústria e Comércio Ltda, Alta Paulista Agrocomercial Ltda e Junqueirólis Agrocomercial Ltda, concedeu o benefício requerido, homologando plano aprovado em assembleia de credores (fls.179/184). A agravante argumenta terem sido reproduzidos, no novo plano de recuperação aprovado, os mesmos vícios já identificados quando do julgamento do Agravo de Instrumento , não tendo sido contempladas, além disso, as obrigações de dar e fazer, bem como não sendo prevista a entrega do açúcar que lhe foi vendido com pagamento antecipado do preço. Afirma terem as agravadas atuado com má-fé e dolo, deixando de indicar qual o destino dos valores já recebidos a Agravo de Instrumento nº

3 título de preço do açúcar adquirido, e pede seja revogada a homologação do novo plano, determinando seja formulado um novo, que preveja a entre imediata do açúcar comprado e já pago (fls.02/22). Foi indeferido o efeito suspensivo postulado e o recurso foi processado apenas no efeito devolutivo (fls.201/202), sendo prestadas informações judiciais (fls.219/220). Foram apresentadas contraminutas (fls.207/217 e 265/279). É o relatório. A Mercavale Mercantil Vale do Sol Comércio de Produtos Alimentícios Ltda. (agravante) celebrou com a Alta Paulista Industria e Comercio Ltda (agravada), em 17 de janeiro de 2011, um contrato de compra-e-venda de coisa futura, que ostenta, como objeto, cinquenta mil sacas de açúcar cristal, cada uma de cinquenta quilogramas, estabelecido o preço de R$ ,00 (um milhão e quinhentos mi reais) e prevista a entrega da mercadoria até 31 de maio de 2011 (fls.35/40). Foi, em instrumento separado, concomitantemente, instituído penhor sobre outras sessenta e duas mil e quinhentas sacas de açúcar cristal, avaliadas em R$ ,00 (um milhão oitocentos e setenta e cinco mil reais), para garantir a obrigação assumida pela agravada (fls.41/45). Em 7 de fevereiro do mesmo ano, um segundo contrato foi celebrado, envolvendo as mesmas partes e ostentando características idênticas, tendo, por objeto, outras dez mil sacas de açúcar cristal, vendidas pelo preço de R$ (trezentos mil reais) e prevista a entrega até 1º de maio de 2011 (fls.47/52). Para garantir o cumprimento da obrigação assumida pela agravada, ela, também, instituiu penhor sobre outras (doze mil e quinhentas) sacas de açúcar cristal, avaliadas em R$ Agravo de Instrumento nº

4 ,00 (trezentos e setenta e cinco mil reais). O processamento da recuperação judicial da agravada iniciou-se, no entanto, em 8 de abril de 2011 (fls.59/63) e, agora, frente ao decidido por esta Câmara Reservada no âmbito do Agravo de Instrumento , foi refeito um primeiro plano de recuperação elaborado, obtendose a aprovação de um segundo plano em assembleia de credores realizada em 19 de dezembro de 2012 (fls.164/176). O plano de recuperação aprovado foi homologado pela decisão recorrida, propondo-se ser nulo o plano, na parcela em que absolve a agravada da entrega efetiva do açúcar vendido na qualidade de coisa futura. Ao serem tratados os créditos com garantia real, não foi feita diferenciação com relação àqueles de titularidade da agravante, prevendo-se deságio de setenta por cento e o pagamento do saldo de trinta por cento em cento e quarenta parcelas mensais, compreendendo o período de safra dos anos de 2013 a 2032 (fls.157). Na contraminuta, afirma-se a conversão da obrigação de dar coisa certa numa obrigação pecuniária, como um dos meios de reorganização da atividade econômica da devedora, invocado o artigo 50 da Lei (fls.209/214), propondo-se o descabimento do questionamento do destino dos montantes correspondentes ao preço pago pela coisa futura. A agravante se insurge, pontualmente, com relação a sua situação, propondo ter sido indevidamente prejudicada, sendo necessário o exame específico de sua posição como credora. No ensejo do julgamento do Agravo de Instrumento , esta mesma Agravo de Instrumento nº

5 Câmara Reservada reconheceu, a partir de contrato idêntico e celebrado junto à mesma recuperanda, a inclusão do crédito na recuperação judicial, ostentando a obrigação de dar liquidez, pois a mercadoria (sacas de açúcar) já havia sido avaliada previamente pelas próprias partes negociais. Naquele caso, não havia sido prevista, porém, a instituição de garantia real e, aqui, está presente, como o acima descrito, uma garantia pignoratícia, o que faz incidir o 1º do artigo 50 da Lei e provoca a específica exclusão dos bens dados em garantia, os quais não se submetem aos efeitos da recuperação judicial. A novação prevista no artigo 59 do diploma acima mencionado não atinge as garantias reais instituídas, como o ressalvado no próprio texto legal, dependendo qualquer supressão ou substituição da concordância do credor. Nesse sentido, ainda que efetivada novação, permanece pendente, a partir da primeira contratação, o penhor sobre sessenta e duas mil e quinhentas sacas de açúcar cristal, avaliadas em R$ ,00 (um milhão oitocentos e setenta e cinco mil reais), bem como, a partir da segunda contratação, o penhor sobre outras (doze mil e quinhentas) sacas de açúcar cristal, avaliadas em R$ ,00 (trezentos e setenta e cinco mil reais). Sergio Campinho (Falência e Recuperação de Empresa, 3ª ed, Renovar, Rio de Janeiro, 2008, p.150), com exatidão, explica que: Diferentemente do que se via em relação à concordata, para a qual o artigo 148 do Decreto-Lei nº 7.661/45 rezava não produzir novação, a recuperação judicial, segundo os claros e precisos termos do artigo 59, da Lei nº /2005, tem diversa disciplina. O plano de recuperação judicial, enuncia o Agravo de Instrumento nº

6 preceito, 'implica novação dos créditos anteriores ao pedido, e obriga o devedor e todos os credores a ele sujeitos'. Mas o preceito legal em análise manda preservar as garantias do crédito que, desse modo, não ficam alteradas pela novação operada. Por isso é que não desonera os coobrigados com o devedor, nem os fiadores desta e os responsáveis pela via de regresso ( 1º, do artigo 49). Da mesma forma, condiciona à expressa aprovação do credor a alienação de bem objeto de garantia real ou a substituição da garantia ( 1º, do artigo 50). A obrigação de dar coisa certa estatuída nos contratos analisados, enfim, não escapa à recuperação judicial, não havendo motivo para que seja feita uma específica ressalva quanto à situação da recorrente, preservadas as garantias pignoratícias. Apreciados os reclamos da recorrente, não cabe, no âmbito estrito deste agravo, reformar a decisão atacada. agravo. Nega-se, por isso, provimento ao presente Fortes Barbosa Relator Agravo de Instrumento nº