TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo

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1 TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo ACÓRDÃO Registro: Vistos, relatados e discutidos estes autos do Agravo de Instrumento nº , da Comarca de São Paulo, em que é agravante LOJAS CEM S/A sendo agravado FUNDAÇÃO DE PROTEÇÃO E DEFESA DO CONSUMIDOR PROCON SP. ACORDAM, em 2ª Câmara de Direito Público do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmo. Desembargadores LINEU PEINADO (Presidente) e JOSÉ LUIZ GERMANO. São Paulo, 17 de abril de HENRIQUE NELSON CALANDRA RELATOR Assinatura Eletrônica

2 2 2ª CÂMARA DE DIREITO PÚBLICO Voto nº Agravo de Instrumento nº Agravante: Lojas Cem S/A Agravada: Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor PROCON SP Juíza: Maria Gabriella Pavlópoulos Spaolonzi Tutela antecipada. Obrigação de não fazer. Lei Estadual nº /09, e Decreto Estadual nº /09, que prevê obrigação de previsão de dia e turno na entrega de produto ou prestação de serviço. Pretensão à suspensão da aplicação. Inadmissibilidade. Conforme a determinação do artigo 39, inciso XII, do CDC. Ausência de violação dos princípios da livre iniciativa e da livre concorrência, pois os fornecedores de outros Estados também devem respeitar a determinação nas vendas feitas por telefone ou internet com destino no Estado de São Paulo. Decisão mantida. Agravo de Instrumento desprovido. Trata-se de agravo de instrumento, com pedido de efeito ativo, tirado contra a r. decisão copiada às fls. 34/35 que indeferiu a antecipação da tutela em ação de obrigação de não fazer ajuizada pela ora agravante contra o agravado. Sustenta a agravante, em síntese, que por força da Lei nº /09 e do Decreto nº /09, que contém vícios de inconstitucionalidade, vem sofrendo diversas autuações, motivo pelo qual se faz necessária a concessão da antecipação da tutela no feito principal a fim de que sejam suspensas todas as

3 3 penalidades até então aplicadas, bem como se abstenha o PROCON de aplicar novas autuações com base na referida legislação, até final decisão, sob pena de multa. Tempestivo e instruído com as peças obrigatórias, o recurso foi recebido apenas no efeito devolutivo (fls. 111/112), tendo sido apresentada contraminuta (fls. 125/145). É o relatório. 1. A Lei nº , norma de eficácia contida, entrou em vigor em 7 de outubro de 2009, portanto há quase dois anos, impondo, a todos os fornecedores do setor do comércio varejista e do setor de prestação de serviços destinados aos consumidores finais, o dever de, no ato da compra do bem ou da contratação do serviço, fixar a data e o turno para entrega do produto ou serviço, de sorte a ser assegurado ao consumidor o direito de escolha dentre as opções apresentadas pela empresa, que se vincula à promessa. Referida Lei, bem como o do Decreto nº /09, que fixam data e turno, apenas deram tratamento à norma já constante do Código de Defesa do Consumidor, que, dentre o capítulo das práticas abusivas, já vedava a falta de estipulação de prazo para o cumprimento de obrigação, conforme seu artigo 39, inciso XII:

4 4 Art É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras práticas abusivas: (...). XII - deixar de estipular prazo para o cumprimento de sua obrigação ou deixar a fixação de seu termo inicial a seu exclusivo critério. Nesse sentido, julgado deste egrégio Tribunal: AGRAVO DE INSTRUMENTO AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE NÃO FAZER Lei , de 07/10/09 que obriga os fornecedores de bens e serviços localizados no Estado de São Paulo a fixar data e turno para a entrega dos produtos ou realização de serviços aos consumidores Regulamentação dada pelo Decreto Estadual /09 Norma de eficácia contida. Ausência dos requisitos autorizadores da medida - Tutela antecipada que se afasta Recurso provido. Agravo de Instrumento nº ( ); Rel. Des. Peiretti de Godoy; 13ª Câmara de Direito Público; j. 08/06/2011. Também foi respeitada a competitividade saudável, pois não há violação aos princípios da livre iniciativa e da livre concorrência. Os fornecedores localizados fora do Estado de São Paulo também tem de observar os ditames da Lei nº /09, quando o comprador, por telefone ou internet, se localiza neste Estado, nos termos do artigo 3º, 4º, do Decreto nº /09: No caso de comércio à distância ou não presencial, o documento a que se refere o 3º deste artigo deverá ser enviado ao consumidor, previamente à efetiva entrega do produto ou

5 5 realização do serviço, por meio de mensagem eletrônica, facsímile, correio outro meio indicado. Conforme precedente deste egrégio Tribunal: OBRIGAÇÃO DE NÃO FAZER Pretensão de impedir a fiscalização e imposição de multa pelo PROCON com base na denominada Lei de Entrega (Lei Estadual nº13.747/09), que obriga o fornecedor a fixar, no momento da contratação, data e turno para a prestação dos serviços ou entrega dos produtos. Inconstitucionalidade da lei afastada Desnecessidade de prazo para adaptação. Código de Defesa do Consumidor que já proibia o cumprimento da obrigação ao talante do fornecedor (art.39, XII). Princípios da livre iniciativa e livre concorrência não violados. Fornecedores de outros Estados da Federação, nas transações com consumidores estabelecidos em São Paulo via telefone ou pela internet, estão sujeitos à lei estadual, por força da lei consumerista. Sentença reformada para julgar improcedente a ação Recurso provido. Apelação nº ( ); Rel. Des. Peiretti de Godoy; 13ª Câmara de Direito Público; j. 25/05/2011. Este último julgado traz exemplos de Leis Estaduais similares em outros Estados: Oportuno ressaltar a existência de leis de entrega nos Estados do Rio de Janeiro (Lei nº 3.669/2001, modificada pela Lei nº 3.735/2001), e Mato Grosso do Sul (Lei nº3.903/2010), bem como no Município de Belo Horizonte (Lei nº /2010), tendo sido protocolado na Câmara dos Deputados, em março de 2011, o Projeto de Lei nº 700/2011 que exige do fornecedor de

6 6 produto ou serviço a fixação de data e turno para a entrega de produtos e realização de serviços aos consumidores brasileiros. Motivo pelo qual não se reconhece a presença dos requisitos ensejadores da concessão da pretendida tutela antecipada. 2. Ante o exposto, nego provimento ao recurso. HENRIQUE NELSON CALANDRA Relator