TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo

Transcrição

1 Registro: ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos do Agravo de Instrumento nº , da Comarca de Presidente Prudente, em que é agravante GOOGLE BRASIL INTERNET LTDA, é agravado DANIEL AGUIAR GRANDOLFO. ACORDAM, em 2ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores JOSÉ JOAQUIM DOS SANTOS (Presidente) e JOSÉ CARLOS FERREIRA ALVES., 8 de agosto de 2017 ROSANGELA TELLES RELATORA Assinatura Eletrônica

2 VOTO Nº: 8357 AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº: AGRAVANTE: GOOGLE BRASIL INTERNET LTDA AGRAVADO: DANIEL AGUIAR GRANDOLFO COMARCA: PRESIDENTE PRUDENTE JUIZ: CIBELE CARRASCO RAINHO NOVO AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER. INTERNET. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA BRASILEIRA PARA PROFERIR A DECISÃO RECORRIDA. Inteligência do art. 11, 2º, do Marco Civil da Internet. Agravante que faz parte de grupo econômico e, além de prestar serviços no Brasil, tem sede na cidade de SP. Decisão mantida, efeito suspensivo revogado. RECURSO NÃO PROVIDO. Cuida-se de agravo de instrumento interposto contra a r. decisão de fls. 58/59 dos autos originais que deferiu parcialmente a tutela antecipada para determinar que a ré forneça os dados cadastrais referentes à página a data de sua criação, bem como o IP referente à página. Alega o agravante, em síntese, a impossibilidade de oferecer tais dados, pois os serviços e a conexão utilizada foram prestados pela Google Inc. na Alemanha, o que afastaria a competência da jurisdição brasileira para a produção de tal prova. Busca a reforma da r. decisão. Requer efeito suspensivo. Houve a concessão de efeito suspensivo a fls contraminuta a fls. 107/111. Recurso regularmente processado, com a apresentação de Agravo de Instrumento nº Presidente Prudente - VOTO Nº 2/5

3 É o relatório. Cuida-se de ação de obrigação de fazer ajuizada por DANIEL AGUIAR GRANDOLFO, aduzindo, em síntese, que tomou conhecimento da existência de uma página virtual ( que disponibilizava supostas conversas de Whatsapp, das quais faria parte, envolvendo crimes de corrupção, lavagem de dinheiro, propina etc. Constatada a hospedagem pela GOOGLE INC, o agravado propôs a demanda, com pedido de antecipação de tutela, para, dentre outros pedidos, disponibilizar os dados cadastrais do criador da página, a data de criação e o nº do IP da página. Recebida a petição inicial, a D. Magistrada a quo deferiu parcialmente a antecipação dos efeitos da tutela para o fim acima exposto. É contra esta decisão que se volta o presente recurso. O agravo não merece ser provido. Depreende-se dos autos que toda a fundamentação trazida para justificar o indeferimento da liminar consiste na ausência de competência da jurisdição brasileira para análise do pleito. Importante frisar que esta é a única alegação para justificar o pedido recursal. Pois bem. O tema é atualmente regulado pelo Marco Civil da Internet (Lei nº /14), que, em seu artigo 11, dispõe: Art. 11. Em qualquer operação de coleta, armazenamento, guarda e tratamento de registros, de dados pessoais ou de comunicações por provedores de conexão e de aplicações de internet em que pelo menos um desses atos ocorra em território nacional, deverão ser obrigatoriamente respeitados a legislação brasileira e os direitos à Agravo de Instrumento nº Presidente Prudente - VOTO Nº 3/5

4 privacidade, à proteção dos dados pessoais e ao sigilo das comunicações privadas e dos registros. 1 o O disposto no caput aplica-se aos dados coletados em território nacional e ao conteúdo das comunicações, desde que pelo menos um dos terminais esteja localizado no Brasil. 2 o O disposto no caput aplica-se mesmo que as atividades sejam realizadas por pessoa jurídica sediada no exterior, desde que oferte serviço ao público brasileiro ou pelo menos uma integrante do mesmo grupo econômico possua estabelecimento no Brasil. 3 o Os provedores de conexão e de aplicações de internet deverão prestar, na forma da regulamentação, informações que permitam a verificação quanto ao cumprimento da legislação brasileira referente à coleta, à guarda, ao armazenamento ou ao tratamento de dados, bem como quanto ao respeito à privacidade e ao sigilo de comunicações. 4 o Decreto regulamentará o procedimento para apuração de infrações ao disposto neste artigo. (g. n.) No caso, a empresa GOOGLE BRASIL INTERNET LTDA oferta serviços ao público brasileiro, faz parte do grupo econômico formado pela GOOGLE INTERNATIONAL LLC e GOOGLE INC e possui estabelecimento comercial no Brasil. Inclusive, a agravante apresenta contrato social no qual figura como sociedade brasileira devidamente constituída de acordo com as leis da República Federativa do Brasil, com sede na Avenida Brigadeiro Faria Lima, nº 3.477, SP (fls. 17). Assim sendo, a situação ora analisada se subsume à hipótese do artigo 11, 2º, do Marco Civil da Internet, de modo que a ação principal deve respeitar a legislação brasileira e, portanto, se submeter à ela. Neste sentido: Agravo de Instrumento - Ação de obrigação de fazer - Tutela provisória de urgência concedida para impor à ré a exclusão de conteúdo depreciativo ao autor em determinada página da internet, bem como para desvincular as buscas do nome do autor à referida página Inconformismo - Fornecimento de dados de usuário estrangeiro não configuram obrigação impossível - A agravante apesar de ser uma pessoa jurídica diversa do Google Inc., ambas pertencem ao mesmo grupo econômico - Desarrazoado impor ao consumidor todo o ônus de acionar uma empresa estrangeira, quando a mesma se faz representar por outra com sede no Agravo de Instrumento nº Presidente Prudente - VOTO Nº 4/5

5 Brasil e pertencente ao mesmo grupo econômico - Inconformidade pela ausência de indicação das URL's a serem excluídas Dispensabilidade - Precedentes STJ - art. 19, 1º do Marco Civil da Internet apenas determina que haja identificação clara e específica do conteúdo, o que ocorre no caso em tela pelo detalhamento da ordem judicial e dos prints juntados - No mais, a concessão da tutela provisória de urgência deve se restringir exclusivamente aos comentários difamatórios e ofensivos, incluídos na página mencionada na r. decisão recorrida, em proteção aos primados constitucionais da liberdade de expressão e livre manifestação do pensamento, tal como se procedeu in casu - decisão mantida - Recurso não provido 1. (g.n.) Desta forma, diante da competência da justiça brasileira para analisar a questão posta, bem como da ausência de qualquer outro argumento contrário à concessão parcial da tutela de urgência, a r. decisão recorrida merece ser mantida e, consequentemente, revogado o efeito suspensivo. Posto isso, pelo meu voto, NEGO PROVIMENTO ao recurso. ROSANGELA TELLES Relatora 1 TJSP, AI nº , Rel. Des. Moreira Viegas, 5ª Câmara de Direito Privado, j. em Agravo de Instrumento nº Presidente Prudente - VOTO Nº 5/5