TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo

Transcrição

1 Registro: ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos do Agravo de Instrumento nº , da Comarca de São José dos Campos, em que é agravante MUNICÍPIO DE SÃO JOSÉ DOS CAMPOS, é agravado RENE PAULO DA SILVA JUNIOR. ACORDAM, em 1ª Câmara Reservada ao Meio Ambiente do Tribunal de Justiça de, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores RUY ALBERTO LEME CAVALHEIRO (Presidente) e MOREIRA VIEGAS., 24 de abril de JOÃO NEGRINI FILHO RELATOR Assinatura Eletrônica

2 AGRAVO DE INSTRUMENTO nº AGRAVANTE: MUNICÍPIO DE SÃO JOSÉ DOS CAMPOS AGRAVADO: RENE PAULO DA SILVA JUNIOR COMARCA: SÃO JOSÉ DOS CAMPOS VOTO Nº AGRAVO DE INSTRUMENTO - AÇÃO CIVIL PÚBLICA - PRODUÇÃO DE PROVA PERICIAL INICIAL DESACOMPANHADA DE INQUÉRITO CIVIL AUSÊNCIA DE PROVAS SÓLIDAS A COMPROVAR A VERACIDADE DAS CAUSAS DE PEDIR CUSTEIO DOS HONORÁRIOS DO PERITO PELO MUNICÍPIO- AUTOR APLICAÇÃO DA SÚMULA 232 DO STJ. Trata-se de agravo de instrumento, com pedido de concessão de tutela antecipada recursal, visando a reforma da r. decisão, tirada dos autos de Ação Civil Pública de demolição, que determinou o depósito dos honorários periciais pelo autor-agravante. Recorre o Município-autor alegando que não requereu a produção de prova pericial, razão pela qual não poderia arcar com o depósito dos honorários do louvado (art. 333 do CPC). Afirma que é interesse da parte contrária elaborar a prova técnica a fim de demonstrar que seu terreno não está situado na Área de Proteção Ambiental (APA) das bacias do Rio Paraíba do Sul. Acrescenta que o réu não contestou a alegação de que seu imóvel está localizada na referida APA, argumentando apenas que o terreno em questão não está situado em topo de morro. Acrescenta que, na improvável hipótese de a prova técnica evidenciar que o imóvel não está localizado em área de AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº SÃO JOSÉ DOS CAMPOS VOTO Nº 2/5

3 proteção ambiental, a demolição seria necessária por ter ocorrido descumprimento de normas de Direito Urbanístico (loteamento clandestino). Aduz, por fim, que o fato de o réu ser beneficiário da Justiça Gratuita não induz, automaticamente, a realização do pagamento da perícia pelo autor da demanda, devendo-se analisar a quem pertence o ônus de produzir a prova técnica. Diante disso, pede que seja determinado o depósito dos honorários periciais pelo réu-agravado. O recurso foi recebido no efeito devolutivo e processado na forma de instrumento. O agravado não apresentou contraminuta. Foi comprovado o cumprimento da norma do art. 526 do CPC. A douta Procuradoria de Justiça opinou pelo provimento do agravo, a fim de que fosse imputado ao réu o dever de depositar os honorários periciais provisórios. É o relatório. A decisão não merece reforma. O artigo 18 da Lei n /85 dispensa o autor da ação civil pública da obrigação de adiantar as custas, emolumentos, honorários periciais e quaisquer outras despesas. No caso, o Município de São José dos Campos é o autor da ação. Todavia, o réu é beneficiário da Justiça Gratuita, sendo certo que o art. 3º, inc. V, da Lei 1.060/05 o isenta do pagamento dos honorários AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº SÃO JOSÉ DOS CAMPOS VOTO Nº 3/5

4 periciais. Considerando tais fatos, e sabendo que não é possível exigir que o profissional nomeado realize os trabalhos periciais sem receber a devida remuneração pelo trabalho ou então que receba somente após o desfecho da ação pela parte vencida, deve ser aplicada, para solução da questão, a Súmula 232 do C. STJ, que assim estabelece: A Fazenda Pública, quando parte no processo, fica sujeita à exigência do depósito prévio dos honorários do perito. Sem prejuízo do acima exposto, observo ser ônus do Municípioautor comprovar os fatos constitutivos de seu direito. A única evidência técnica carreada aos autos pelo autor é o relatório de vistoria técnica (fls. 24/26), elaborado unilateralmente pela Secretaria do Meio Ambiente do próprio Município, documento que não se confunde com inquérito civil, o que torna imperiosa a confirmação dos fatos neles apontados no curso da instrução processual, sob o crivo do contraditório. Assim, ainda que a Municipalidade tenha requerido o julgamento antecipado da lide, a eventual realização de perícia técnica para comprovação de fatos constitutivos de seu direito deve ser realizada às suas expensas. Registro, outrossim, que a inicial possui duas causas de pedir: a inserção do terreno em APA e a construção do imóvel sem o necessário alvará municipal. Pois bem, embora cada uma dessas causas pudesse, segundo alega o autor, ensejar por si só o reconhecimento de ilegalidade da obra realizada pelo réu-agravado, ambas devem ser comprovadas. Se o autor-agravante não desejava confirmar em juízo os fatos apontados em relatório de sua Secretaria AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº SÃO JOSÉ DOS CAMPOS VOTO Nº 4/5

5 de Meio Ambiente, deveria ter alegado apenas a segunda causa de pedir para fundamentar o pedido de demolição do imóvel do réu. Enfim, o que se constata é que o ônus de comprovar a inserção do imóvel na APA é do Município-autor, que, portanto, deve arcar com os honorários periciais, mantendo-se integralmente a r. decisão agravada. Posto isto, NEGA-SE provimento ao recurso. JOÃO NEGRINI FILHO Relator AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº SÃO JOSÉ DOS CAMPOS VOTO Nº 5/5