ACÓRDÃO. O julgamento teve a participação dos Exmo. Desembargadores SÁ DUARTE (Presidente sem voto), SÁ MOREIRA DE OLIVEIRA E EROS PICELI.

Transcrição

1 TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo Registro: ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos do Agravo de Instrumento nº , da Comarca de Boituva, em que é agravante LANIFICIO BROOKLIN LTDA sendo agravados ACCOUNT SCIENCE RECURSOS HUMANOS LTDA e SILVANO DE BARROS BESERRA. ACORDAM, em 33ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmo. Desembargadores SÁ DUARTE (Presidente sem voto), SÁ MOREIRA DE OLIVEIRA E EROS PICELI. São Paulo, 25 de julho de CARLOS NUNES RELATOR Assinatura Eletrônica

2 TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE 33ª CÂMARA AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº: AGRAVANTE: LANIFICIO BROOKLIN LTDA AGRAVADO: ACCOUNT SCIENCE RECURSOS HUMANOS LTDA ORIGEM: 1ª VARA JUDICIAL DA COMARCA DE BOITUVA VOTO Nº: LOCAÇÃO DE IMÓVEL - Ação de despejo por falta de pagamento c/c cobrança de aluguéis e acessórios de locação, ora em fase de execução - Decisão de Primeiro Grau que nomeou perito para a realização de nova avaliação do imóvel penhorado nos autos, suspendendo a designação de qualquer praça Alegação de que já houve avaliação realizada pelo oficial de justiça e não impugnada pela ora agravado Perícia Admissibilidade Havendo discordância quanto ao valor arbitrado, nada impede que seja refeita a avaliação por intermédio de perito - Exegese dos artigos 143, V e 475-J, 2º do Código de Processo Civil Avaliação deve estar acompanhada de parecer provido de embasamento técnico, porquanto reclama inequívoco conhecimento técnico especializado Inexistência de elementos técnicos no auto de avaliação que permitam aferir o acerto da conclusão do oficial de justiça - Nomeação do perito mantida - Recurso 2

3 TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE improvido, com a manutenção da r. decisão guerreada. Vistos. Trata-se de recurso de Agravo de Instrumento, interposto por LANIFICIO BROOKLIN LTDA, em ação de despejo por falta de pagamento c/c cobrança de aluguéis e acessórios de locação, ora em fase de execução que move em face dos agravados ACCOUNT SCIENCE RECURSOS HUMANOS LTDA e outros, objetivando a reforma da r. decisão de Primeiro Grau que nomeou perito para a realização de nova avaliação do imóvel penhorado nos autos, suspendendo a designação de qualquer praça. Alega, a agravante, que a r. decisão proferida merece ser reformada, vez que, ao determinar a realização de nova avaliação, fora dos casos previstos pela legislação, a r. decisão violou o princípio da igualdade entre as partes, tendo o agravado perdido o prazo oportuno para impugnar matéria já superada nos autos. Informa que, após dois acordos descumpridos pelos agravados, o feito encontrava-se em fase de designação de data para praça do imóvel, quando, em atendimento a pedido dos agravados, o Juízo a quo 3

4 TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE suspendeu a designação de qualquer praça e nomeou perito para nova avaliação do imóvel, inobstante a avaliação já realizada pelo oficial de justiça e não impugnada pelo ora agravado. Aduz que a r. decisão agravada fere direito indisponível ao agravante, qual seja, o direito à segurança jurídica e igualdade de tratamento perante seu litigante. Sustenta, ainda, que a r. decisão agravada poderá trazer danos irreparáveis à agravante, vez que o imóvel poderá ir à praça pelo valor da nova avaliação. Afirma, por fim, ser a avaliação realizada pelo oficial de justiça plenamente válida, nos termos da legislação vigente, somente se justificando a nomeação de perito nos casos em que sejam necessários conhecimentos especializados. Traz em seu recurso diversos precedentes jurisprudenciais a amparar sua tese. Requer a concessão do efeito suspensivo ao presente recurso e, ao final o provimento do mesmo, com a reforma da r. decisão, determinando-se o regular prosseguimento do feito, com a designação de hasta pública do imóvel penhorado, pelo valor da avaliação já realizada nos autos. O recurso de Agravo de Instrumento foi regularmente preparado, e instruído com cópias das peças obrigatórias e facultativas (fls. 16/103). Por decisão deste Relator, o pedido de efeito suspensivo ao recurso foi indeferido (fls. 105). É o Relatório. 4

5 TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE recurso não merece provimento. Diante do que consta desses autos, tenho que o Pois bem. O recurso da agravante volta-se contra decisão proferida pelo Juízo de Primeiro Grau que nada mais fez do que acatar pedido dos agravados e nomeou perito para a realização de nova avaliação do imóvel penhorado nos autos, suspendendo a designação de qualquer praça do imóvel. Não se nega a possibilidade, agora admitida pela lei processual, do oficial de justiça avaliar os bens que penhore. Não, porém, quando se tratar de imóvel e não haja nenhuma informação da existência de conhecimento técnico a tanto atinente. Assim, por força do art. 659, do CPC, não há dúvida de que o oficial de justiça realiza prévia avaliação do bem, quando a penhora tanto bens quantos bastem para o pagamento do débito. Contudo, ela é informal, sendo indispensável a avaliação realizada por perito oficial, elaborada nos moldes preconizados no art. 681, do CPC. Anote-se, ainda, que a avaliação poderá ser realizada a qualquer momento antes da realização da praça, não havendo que se falar em preclusão. Ademais, conforme se observa na avaliação realizada pelo Oficial de Justiça designado de tal tarefa (fls. 63, destes 5

6 TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE autos), nota-se a ausência de elementos convincentes e embasamento técnico para a conclusão final do valor avaliado do imóvel. E, engana-se o agravante, pois, de fato, a avaliação de imóvel se trata de tarefa que requer conhecimentos especializados, ainda mais se levando em conta imóveis de elevado padrão, como no caso em apreço, o que somente se pode exigir de profissionais devidamente habilitados, como estabelecido pelo artigo 680, segunda parte, do CPC. Sobre o tema, vejam-se os comentários de Nelson Nery Júnior e Rosa Maria de Andrade Nery, em Código de Processo Civil Comentado e Legislação Extravagante, 10a edição revista, ampliada e atualizada até 01/10/2007 (pág. 1034): Embora a lei tenha conferido essa atribuição ao oficial de justiça (CPC 143, V, 475-J 2o e 680), esse auxiliar do juiz não tem obrigação de avaliar bens que exijam conhecimento técnico específico. Havendo impugnação, o juiz terá de nomear perito avaliador, que reúna conhecimentos técnicos adequados para a tarefa (CPC 680). Nesse sentido, a conferir, os seguintes julgados: (...) é remansosa a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça no sentido de que a avaliação de bens penhorados por oficial de justiça sem condições técnicas para tanto, realizada sem mínimos fundamentos, contraria a legislação processual, ainda mais quando desacompanhada do obrigatório Laudo de Avaliação. In casu, compete ao juiz da execução 6

7 TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE nomear perito habilitado técnica e legalmente para proceder à avaliação. (...) (STJ-P T., REsp , Min. José Delgado, j , DJU ). AGRAVO DE INSTRUMENTO - Interposição contra decisão indeferiu pedido de avaliação de imóvel por oficial de justiça. Avaliação deve estar acompanhada de parecer provido de embasamento técnico. Decisão mantida. (Agravo de Instrumento n a Câmara de Direito Privado Rel. MARIO A. SILVEIRA J. em ) Desse modo, conclui-se que a avaliação do imóvel deve ser realizada por perito do Juízo, de modo que se possam considerar itens importantes como localização, características, terreno, valor da construção, além de outros aspectos primordiais que interferem diretamente no valor do bem. Ressalta-se que a intenção não é desmerecer o trabalho dos oficiais de justiça, mas o fato é que os mesmos não são providos de conhecimentos especializados como são os experts. Desta forma, deve haver nova avaliação do imóvel por perito judicial, o que deve ser custeado pelos agravados, nos termos do artigo 33 do CPC. Por estes fundamentos, o presente recurso não comporta provimento. Ante o exposto, e pelo meu voto, NEGO 7

8 TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE PROVIMENTO ao recurso interposto, mantendo-se a r. decisão guerreada, por seus próprios e jurídicos fundamentos. CARLOS NUNES RELATOR 8