PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO ACÓRDÃO

Transcrição

1 Registro: ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo de Instrumento nº , da Comarca de São Paulo, em que é agravante FAZENDA PÚBICA DO ESTADO DE SÃO PAULO, é agravado BIOSEV S/A. ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 8ª Câmara de Direito Público do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: Deram provimento em parte ao recurso. V. U., de conformidade com o voto do relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Desembargadores JARBAS GOMES (Presidente sem voto), ANTONIO CELSO FARIA E PAULO DIMAS MASCARETTI. São Paulo, 24 de junho de Cristina Cotrofe Relatora Assinatura Eletrônica

2 Agravo de Instrumento nº Agravante: Fazenda do Estado de São Paulo Agravada: Biosev S/A Comarca de São Paulo Voto nº AGRAVO DE INSTRUMENTO SUSPENSÃO DA EXIGIBILIDADE DE CRÉDITO TRIBUTÁRIO SEGURO GARANTIA Inadmissibilidade Seguro garantia judicial que não se equipara ao depósito em dinheiro para fins de suspensão da exigibilidade do crédito tributário Observância do artigo 151, inciso II, do Código Tributário Nacional e da Súmula nº 112 do STJ Cabimento, porém, do seguro como garantia ao débito, com a consequente emissão de Certidão Positiva com Efeitos de Negativa Precedentes Recurso parcialmente provido. Trata-se de agravo de instrumento interposto pela Fazenda do Estado de São Paulo contra a respeitável decisão trasladada a fls. 105, que, nos autos da ação ordinária ajuizada por Biosev S/A, deferiu a liminar para suspender a exigibilidade do AIIM nº e sua correspondente CDA nº A agravante sustenta, em síntese, que somente o depósito integral do valor discutido tem o condão de suspender a exigibilidade do crédito tributário, nos termos da Súmula nº 112 do Superior Tribunal de Justiça e do artigo 151, inciso II, do Código Tributário Nacional, não se lhe podendo equiparar a prestação de caução na modalidade de seguro garantia. Regularmente processado o recurso, com outorga parcial do efeito suspensivo, foram dispensadas informações do Juízo a quo (fls. 110/111). Intimada, a agravada apresentou contraminuta (fls. 116/119). Agravo de Instrumento nº Voto nº

3 É o relatório. O recurso comporta parcial provimento. A controvérsia cinge-se sobre a possibilidade ou não de oferecimento de seguro garantia para suspender a exigibilidade do crédito tributário em ação voltada à anulação de lançamento de ICMS. De acordo com o artigo 151 do Código Tributário Nacional, suspendem a exigibilidade do crédito tributário: I - moratória; II - o depósito do seu montante integral; III - as reclamações e os recursos, nos termos das leis reguladoras do processo tributário administrativo; IV - a concessão de medida liminar em mandado de segurança; V a concessão de medida liminar ou de tutela antecipada, em outras espécies de ação judicial; VI o parcelamento. A esse respeito, em que pese o entendimento do Juízo a quo, prevalece a orientação jurisprudencial no sentido de que o seguro garantia não é equiparável ao depósito integral do débito exequendo para fins de suspensão de exigibilidade do crédito tributário. Este é o posicionamento atual do Colendo Superior Tribunal de Justiça: PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. EXECUÇÃO FISCAL. SUBSTITUIÇÃO DA PENHORA EM DINHEIRO POR SEGURO GARANTIA JUDICIAL. INVIABILIDADE. SISTEMA BACEN JUD. LEI /2006. DECISÃO POSTERIOR. APLICABILIDADE. 1. O STJ possui entendimento no sentido de que o seguro garantia judicial, assim como a fiança bancária, não é equiparável ao depósito em dinheiro para fins de suspensão da exigibilidade do crédito tributário, nos termos do art. 151 do CTN. 2. A utilização do sistema Bacen Jud antes de entrar em vigor a Lei /2006 somente é admitida quando esgotados os meios necessários à localização de bens passíveis de penhora. 3. Se a decisão de 1º Agravo de Instrumento nº Voto nº

4 grau for posterior à vigência daquele regramento, mostra-se plenamente possível o bloqueio de ativos financeiros, sem estar condicionado à existência de outros bens passíveis de constrição judicial. 4. Orientação reafirmada pela Corte Especial do STJ no julgamento do REsp /MA, em , sob o rito do art. 543-C do CPC. 5. Embargos de Declaração acolhidos sem efeito modificativo 1 (g.n.). PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. RECURSO ESPECIAL. IMPOSSIBILIDADE DE SUBSTITUIÇÃO DO DEPÓSITO EM DINHEIRO POR SEGURO GARANTIA JUDICIAL, EM AÇÃO ANULATÓRIA DE DÉBITO FISCAL. 1. A Primeira Seção, ao julgar o REsp /AM, decidiu pela impossibilidade de movimentação dos depósitos judiciais de tributos antes do trânsito em julgado do processo a que se encontram vinculados (DJe de ). 2. O seguro garantia judicial, assim como a fiança bancária, não é equiparável ao depósito em dinheiro para fins de suspensão da exigibilidade do crédito tributário, ante a taxatividade do art. 151 do CTN e o teor da Súmula 112/STJ. Nesse sentido: REsp /DF, 1ª Seção, Rel. Min. Luiz Fux, DJe de , submetido ao regime do art. 543-C do CPC. 3. Como bem observou o juiz da primeira instância, revela-se inaplicável, in casu (para suspender a própria exigibilidade do crédito tributário), o disposto no 2º do art. 656 do CPC, invocado para arrimar a pretensão de substituição do depósito em dinheiro por seguro garantia judicial, porquanto não se trata de simples requerimento de substituição de penhora nos autos de lide executiva, mas sim de pedido formulado em ação anulatória de débito fiscal. Pelo mesmo motivo de não se tratar de processo de execução, é inaplicável ao caso o art. 620 do CPC. 4. Recurso 1 EDcl no AgRg no REsp nº /SP, Rel. Min. HERMAN BENJAMIN, Segunda Turma, j. em 05/06/2012. Agravo de Instrumento nº Voto nº

5 special não provido 2 (g.n.). que assim dispõe: Tal conclusão também se extrai da Súmula nº 112 do STJ, O DEPÓSITO SOMENTE SUSPENDE A EXIGIBILIDADE DO CREDITO TRIBUTÁRIO SE FOR INTEGRAL E EM DINHEIRO 3. Saliente-se que, conquanto não tenha força para suspender exigibilidade do crédito tributário, o seguro em questão presta-se ao menos a garantir o débito que constitui objeto do lançamento, em equiparação ou antecipação à penhora, com a específica finalidade de viabilizar a expedição de Certidão Positiva com Efeitos de Negativa, sendo esta uma das providências reclamadas pela agravada em sede de tutela antecipada (fls. 66). A propósito, esta Egrégia 8ª Câmara de Direito Público já assentou: AGRAVO DE INSTRUMENTO SUSPENSÃO DA EXIGIBILIDADE DE CRÉDITO TRIBUTÁRIO SEGURO GARANTIA Fazenda Estadual que se volta contra a suspensão da exigibilidade de crédito tributário, deferida em decorrência da apresentação de seguro garantia Irresignação que merece parcial provimento Seguro que não se equipara ao depósito integral do débito exequendo para fins de suspensão da exigibilidade do crédito tributário, ante a taxatividade do art. 151 do CTN e o teor da Súmula n.º 112 do STJ Precedentes do C. Superior Tribunal de Justiça Entretanto, uma vez que um dos pedidos da agravada é admissão do seguro como garantia ao débito, com a consequente emissão de Certidão Positiva com Efeitos de Negativa de Tributos 2 REsp nº /ES, Rel. Min. MAURO CAMPBELL MARQUES, Segunda Turma, j. em 01/12/ Súmula nº 112, Primeira Seção, j. em 25/10/1994. Agravo de Instrumento nº Voto nº

6 Estaduais, o que se afigura possível, o provimento do presente recurso se restringe apenas à impossibilidade de suspensão da exigibilidade do crédito tributário provido 4. Recurso parcialmente AGRAVO DE INSTRUMENTO Ação de rito ordinário voltada à anulação de lançamento tributário Pedido de tutela antecipada deferido para autorizar a suspensão da exigibilidade do crédito tributário, ante o oferecimento de seguro garantia Inadmissibilidade O seguro garantia judicial, assim como a fiança bancária, não se equiparam ao depósito em dinheiro para fins de suspensão da exigibilidade do crédito tributário, ante a taxatividade do art. 151 do CTN e o teor da Súmula/STJ n. 112 STJ, precedentes Sem embargo, conquanto não tenha força para suspender a exigibilidade do crédito tributário, nem tampouco para impedir o ajuizamento da respectiva execução fiscal, o seguro em questão presta-se ao menos a garantir o débito que constitui objeto do lançamento, em equiparação ou antecipação à penhora, com a específica finalidade de viabilizar a expedição de Certidão Positiva com Efeitos de Negativa, sendo esta uma das providências reclamadas pela agravada em sede de tutela antecipada Recurso provido em parte 5. Ante o exposto, pelo meu voto, dá-se parcial provimento ao agravo de instrumento, para restringir o alcance do provimento atacado apenas à concessão de Certidão Positiva de Débito com Efeito de Negativa. CRISTINA COTROFE Relatora 4 Agravo de Instrumento nº , Rel. Des. Rubens Rihl, j. em 29/04/ Agravo de Instrumento nº , Rel. Des. Paulo Dimas Mascaretti, j. em 25/03/2015. Agravo de Instrumento nº Voto nº