PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª REGIÃO GABINETE DO DESEMBARGADOR FEDERAL FRANCISCO WILDO

Transcrição

1 RELATÓRIO O Sr. Des. Fed. RUBENS DE MENDONÇA CANUTO (Convocado): Cuida-se de agravo de instrumento desafiado contra decisão da lavra da MM Juíza Federal da 22ª Vara de Pernambuco, que, nos autos da Execução Fiscal nº , determinou o bloqueio, mediante o sistema BACENJUD, de numerário depositado em contas bancárias ou aplicações financeiras da agravante. Alega que o fato de seu nome constar na CDA não pressupõe que tenha agido com excesso de poderes ou infração à lei, contrato social ou estatutos, sendo indevido o redirecionamento do executivo fiscal contra seus bens, eis que é responsável pela empresa executada. Sustenta também que a execução deve-se nortear pelo emprego de meios menos gravosos ao executado, de modo que a constrição via sistema BACENJUD somente pode ser efetivada quando não existirem outros meios de garantir a dívida, quando não localizados outros bens penhoráveis (fls. 2-72). O pedido de efeito suspensivo foi deferido pelo il. Des. Fed. FRANCISCO WILDO, a quem tenho a honra de substituir (fls ). Contrarrazões apresentadas pela agravada, sustentando, em preliminar, que a apreciação dos argumentos ventilados no recurso representaria supressão de instância, já que não foram deduzidos junto ao Juízo a quo. Argumenta, ainda, que seria necessária uma dilação probatória para a aferir-se a procedência do que afirma a recorrente. No mérito, defende a higidez da decisão agravada, por entender que não houve redirecionamento da execução, na medida em que a agravante já figurava, desde o início, na certidão de dívida ativa, com o que figura como parte legítima para responder, juntamente com a pessoa jurídica, pelo débito tributário objeto da execução (fls ). Em seguida, a agravante interpôs embargos de declaração, ao argumento de que, a despeito de concedido o efeito suspensivo, o douto relator não determinou a liberação dos valores bloqueados (fls ). É o relatório.

2 VOTO O Sr. Des. Fed. RUBENS DE MENDONÇA CANUTO (Convocado): Após um exame detido dos autos, convenço-me do acerto da decisão proferida pelo douto Des. Fed. FRANCISCO WILDO ao conceder o efeito suspensivo vindicado. Por tal razão, e por não verificar qualquer elemento que renda ensejo à modificação daquele entendimento, ratifico-o. Conforme assentou Sua Excelência, o redirecionamento da Execução Fiscal contra a pessoa do responsável pela empresa executada não foi objeto de apreciação pelo Juízo a quo na decisão objeto do recurso. Por isso, não cabe apreciar essa questão no presente agravo. De resto, observa-se que a decisão vergastada lastreia-se em pleito da recorrida, consoante se pode aferir do seguinte excerto, transcrito in verbis: (...) Esclareço, ainda, que o Ofício OAR/PGF/INSS/Recife nº 85/2006, da Procuradoria Geral Federal junto ao Instituto Nacional do Seguro Social; o Ofício nº 804/2006/GAB/PFN/PE, da Procuradoria da Fazenda Nacional no Estado de Pernambuco; o Ofício PFE-CVM/CJU-3 nº 005/2007, da Comissão de Valores Mobiliários; o Ofício nº 371/2006/JURIR/RE, da Caixa Econômica Federal e o Ofício IPEM-PE/PR nº 051/2007, do IPEM/INMETRO, solicitam a efetivação da penhora em dinheiro, mediante utilização do BACENJUD, com precedência sobre as outras formas de constrição, dispensando-se a apresentação de petição em cada processo. (...) (fl. 25). Com efeito, após a edição da Lei nº /2006, o STJ firmou dois entendimentos, consoante a data em que foi requerida a penhora: sendo a constrição postulada antes da vigência da aludida legislação, devem ser esgotadas todas as vias extrajudiciais de busca dos bens a serem penhorados; na hipótese da penhora ser requerida após a vigência da mencionada lei, o entendimento é de que a penhora não exige mais a comprovação de que foram esgotadas todas as vias extrajudiciais de busca dos bens a serem penhorados. A Lei nº /2006 foi republicada em 10/01/2007, vigorando, nos termos do 3º, do art. 1º, da LICC, quarenta e cinco dias após dita republicação. In casu, o pedido de efetivação da penhora on line foi realizado através do Ofício nº 804/2006/GAB/PFN/PE, da Procuradoria da Fazenda Nacional no Estado de Pernambuco, anteriormente à vigência da Lei nº /2006.

3 AGTR /PE (V-2) Num primeiro momento, poder-se-ia entender que a recorrente faz jus ao desbloqueio ora vindicado. Entretanto, penso não ser esta a solução mais adequada para o caso, haja vista que o Ofício nº 804/2006/GAB/PFN/PE constitui-se em requerimento de caráter genérico, utilizado para fins de economia processual em razão do grande número de executivos fiscais ajuizados pelo Fisco nacional, adquirindo eficácia o aludido pleito apenas no momento processual em que for pertinente a sua observância. Assim, a aferição da legalidade da constrição em tela deve atentar para a data em que o requerimento do exeqüente, formulado nos termos do caso sub examinen, está produzindo efeitos no processo. Melhor explicando, deve-se considerar não a data de assinatura do requerimento, mas sim aquela na qual foi determinado o bloqueio. Destaque-se também que a penhora de contas bancárias ou aplicações financeiras, como meio de consecução do fim almejado pelo exeqüente, pode, inclusive, ser determinada de ofício pelo Juiz, haja vista as disposições do art. 262, do CPC, que consagra o Princípio Dispositivo, segundo o qual a relação processual se estabelece por iniciativa da parte, mas se desenvolve através da atuação espontânea do magistrado, o chamado impulso oficial. Outrossim, outro argumento que demonstra o acerto da decisão fustigada é a natureza processual das normas que fundamentam o bloqueio on line, quais sejam os arts. 655, I, e art. 655-A, do CPC, o que enseja a sua aplicação imediata aos processos em tramitação. Nessa senda, tem-se que a decisão vergastada está de acordo com a jurisprudência do STJ, segundo o qual a penhora não exige mais a comprovação de que foram esgotadas todas as vias extrajudiciais de busca dos bens a serem penhorados. Nesse sentido, veja-se o seguinte precedente: TRIBUTÁRIO E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. ART. 185-A DO CTN. PENHORA PELO SISTEMA BACEN-JUD. POSSIBILIDADE. REQUERIMENTO FORMULADO APÓS A VIGÊNCIA DA LEI N /2006. NOVA JURISPRUDÊNCIA DO STJ. 1. O cerne da irresignação consiste no deferimento de penhora pelo sistema Bacen-JUD. Sobre o tema, esta Corte estabeleceu dois entendimentos, segundo a data em que foi requerida a penhora, se antes ou após a vigência da Lei n / A primeira, aplicável aos pedidos formulados antes da vigência da aludida lei, no sentido de que a penhora pelo sistema Bacen-JUD é medida excepcional, cabível apenas quando o exeqüente comprova que exauriu as vias extrajudiciais de busca dos bens do executado. Na maioria desses julgados, o STJ assevera que discutir a comprovação desse exaurimento esbarra no óbice da Sumula n. 7/STJ.

4 AGTR /PE (V-3) 3. Por sua vez, a segunda solução, aplicável aos requerimentos realizados após a entrada em vigor da mencionada lei é no sentido de que essa penhora não exige mais a comprovação de esgotamento de vias extrajudiciais de busca de bens a serem penhorados. O fundamento desse entendimento é justamente o fato de a Lei n /2006 equiparar os ativos financeiros a dinheiro em espécie. 4. O pedido foi realizado após a vigência da Lei n /2006, deve-se aplicar, na hipótese, o segundo entendimento, possibilitando, assim, a penhora. 5. Recurso especial provido. (STJ - 1ª Turma - RESP /RS - rel. Min. BENEDITO GONÇALVES - DJ ) Por tais fundamentos, NEGO PROVIMENTO ao agravo de instrumento, revogando a liminar deferida. Dou por prejudicados os embargos de declaração. É como voto.

5 EMENTA PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. AGRAVO DE INSTRUMENTO. EXECUÇÃO FISCAL. DECISÃO QUE DETERMINOU PENHORA ON LINE ATRAVÉS DO SISTEMA BACENJUD. CABIMENTO. IMPROVIMENTO DO RECURSO. - A respeito da penhora requerida pelo sistema BACEN-JUD, o eg. STJ, o STJ firmou o entendimento de que, sendo a constrição postulada antes da vigência da Lei n /2006, devem ser esgotadas todas as vias extrajudiciais de busca dos bens a serem penhorados. - Nada obstante, em se tratando de medida requerida por meio de ofício - que é requerimento de caráter genérico, utilizado para fins de economia processual em razão do grande número de executivos fiscais ajuizados pela Fazenda Nacional -, o pleito apenas adquire eficácia no momento processual em que for pertinente a sua observância. - Assim, a aferição da legalidade da constrição em tela deve atentar para a data em que o requerimento do exeqüente está produzindo efeitos no processo. Deve-se considerar não a data de assinatura do requerimento, mas sim aquela na qual foi determinado o bloqueio. - Ademais, a penhora de contas bancárias ou aplicações financeiras, como meio de consecução do fim almejado pelo exeqüente, pode, inclusive, ser determinada de ofício pelo Juiz, haja vista as disposições do art. 262, do CPC, que consagra o Princípio Dispositivo, segundo o qual a relação processual se estabelece por iniciativa da parte, mas se desenvolve através da atuação espontânea do magistrado, o chamado impulso oficial. - Agravo de instrumento improvido. Embargos de declaração prejudicados. Vistos, etc. ACÓRDÃO Decide a Segunda Turma do Tribunal Regional Federal da 5ª Região, por unanimidade, negar provimento ao agravo de instrumento, dando por prejudicados os embargos de declaração, nos termos do Relatório, Voto e notas taquigráficas constantes dos autos, que ficam fazendo parte integrante do presente julgado. Recife, 26 de janeiro de (Data de julgamento) Des. Fed. RUBENS DE MENDONÇA CANUTO Relator Convocado