PODER JUDICIáRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª REGIÃO GABINETE DO DESEMBARGADOR FEDERAL FRANCISCO WILDO

Transcrição

1 ORIGEM : 6ª VARA FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE (COMPETENTE P/ EXECUçõES FISCAIS) - RN RELATÓRIO O Sr. Des. Fed. FRANCISCO WILDO (Relator): Trata-se de agravo de instrumento interposto contra decisão proferida pelo MM. Juiz Federal da 6ª Vara Federal /RN que, nos autos da Execução Fiscal nº , indeferiu o pedido de consulta ao Cadastro de Clientes do Sistema Financeiro Nacional (BACEN CCS) formulado pela FUNASA, ora agravante, e determinou a suspensão do curso da execução pelo prazo de 1 (um) ano. Defende a agravante, inicialmente, ser necessária a consulta ao sistema CCS, já que as demais medidas adotadas não obtiveram êxito na busca por bens do executado passíveis de constrição. Argumenta que a análise ao referido sistema, além de não importar quebra de sigilo bancário, será capaz de revelar vínculos bancários que demonstrem condutas que visam a ocultar bens do devedor. Destaca, outrossim, que, no caso em tela, está-se diante de ato grave praticado contra a Administração Pública e que ensejou a condenação do executado pelo Tribunal de Contas da União. Aduz, ainda, que não há justificativa para restringir a consulta ao cadastro citado apenas aos casos de investigação criminal e colaciona julgados que, sob sua ótica, corroboram as suas assertivas. Pugna, ao final, pelo provimento do recurso. Decisão indeferindo o pedido de efeito suspenso às fls. 38/39. Devidamente intimada, a parte agravada não apresentou contraminuta, conforme se observa às fls. 45. É o relatório.

2 ORIGEM : JUíZO FEDERAL DA 6ª VARA FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE (COMPETENTE P/ EXECUçõES FISCAIS) - RN VOTO O Sr. Des. Fed. FRANCISCO WILDO (Relator): Cumpre analisar se correta a decisão agravada que indeferiu o pedido do exequente para a realização de consulta ao Cadastro de Clientes do Sistema Financeiro Nacional. A possibilidade de consulta ao mencionado cadastro foi prevista no art. 10-A da Lei nº 9.613/98, que dispõe sobre os crimes de "lavagem" ou ocultação de bens, direitos e valores; a prevenção da utilização do sistema financeiro para os ilícitos previstos na lei e a criação do Conselho de Controle de Atividades Financeiras - COAF. O dispositivo específico que tratou do CCF - Cadastro de Clientes do Sistema Financeiro Nacional assim previu: "Art. 10-A. O Banco Central manterá registro centralizado formando o cadastro geral de correntistas e clientes de instituições financeiras, bem como de seus procuradores." (Incluído pela Lei nº , de 2003) Penso, contudo, como bem ressaltou o julgador monocrático, que, na execução fiscal, existem outras formas de busca de bens do devedor, que se mostram hábeis a localizá-los e reservá-los desde que estes existam, tais como a utilização do BACENJUD, do RENAJUD e do INFOJUD. Por sua vez, a própria Lei nº 6830/80 estabelece, em seu art. 40, que, em caso de não localização de bens, a medida a ser adotada é a suspensão do feito pelo prazo máximo de 1 (um) ano - consoante restou determinado na decisão agravada. Entendo, ainda, que a análise do cadastro solicitado pela exequente, por dar acesso a informações bancárias do executado - e, portanto, referentes à sua vida privada - é medida excepcional e, como tal, demandaria uma previsão específica para a sua adoção em hipótese diversa a da lei que o instituiu. abaixo transcrito: Nesse sentido, já se manifestou esta Corte Regional, conforme julgado

3 AGTR140878/RN V-02 PODER JUDICIáRIO "EXECUÇÃO FISCAL. PEDIDO DE CONSULTA AO CADASTRO DE CLIENTES DO SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL - BACEN CCS. INCABIMENTO. AGRAVO DE INSTRUMENTO IMPROVIDO. 1. Agravo de instrumento interposto pela FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA contra decisão do Juízo da 6ª Vara Federal da Seção Judiciária do Rio Grande do Norte que, em execução fiscal, indeferiu o pedido de consulta ao Cadastro de Clientes do Sistema Financeiro Nacional. 2. O sistema BACEN-CCS trata-se de um cadastro geral de correntistas e clientes de instituições financeiras e de seus procuradores, tendo como objetivo auxiliar nas investigações financeiras conduzidas por autoridades competentes, através de requisição do Poder Judiciário, sendo instituído por força do art. 3º da Lei /2003, ao acrescentar dispositivo à Lei 9.613/1998, que dispõe sobre os crimes de lavagem ou ocultação de bens, direitos e valores, servindo como instrumento para auxiliar as autoridades na investigação criminal. 3. Para efeito de localização de bens e ativos que possam responder pela execução fiscal, o Judiciário dispõe dos sistemas BACENJUD, INFOJUD e RENAJUD, "não sendo adequada a investigação de eventual ocultação de bens de outras empresas ou de determinadas pessoas físicas na pessoa do executado, com o fim de averiguar se este atuou como 'laranja'." (trecho da decisão agravada). 4. Seria ilegal a utilização em execução fiscal de sistema que, tratando-se de medida excepcional de quebra do sigilo bancário, com importância estratégia na persecução criminal, deve ser reservado às situações previstas nas leis que o criaram. 5. Agravo de instrumento improvido." (AG , Desembargador Federal Rogério Fialho Moreira, TRF5 - Quarta Turma.) instrumento. Com base em tais considerações, nego provimento ao agravo de É como voto.

4 ORIGEM : JUíZO FEDERAL DA 6ª VARA FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE (COMPETENTE P/ EXECUçõES FISCAIS) - RN EMENTA TRIBUTÁRIO. AGRAVO DE INSTRUMENTO. EXECUÇÃO FISCAL. BUSCA POR BENS DO DEVEDOR. PEDIDO DE CONSULTA AO CADASTRO DE CLIENTES DO SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL (CCS). IMPOSSIBILIDADE. PREVISÃO NA LEI Nº 9.613/98. APLICAÇÃO A INVESTIGAÇÃO SOBRE CRIMES DE LAVAGEM DE DINHEIRO E OCULTAÇÃO DE BENS. IMPROVIMENTO. 1. Agravo de instrumento contra decisão que, em sede de execução fiscal, indeferiu o pedido da exequente para consulta ao Cadastro de Clientes do Sistema Financeiro Nacional. 2. A possibilidade de consulta ao mencionado cadastro foi prevista no art. 10-A da Lei nº 9.613/98, que dispõe sobre os crimes de "lavagem" ou ocultação de bens, direitos e valores; a prevenção da utilização do sistema financeiro para os ilícitos previstos na lei e a criação do Conselho de Controle de Atividades Financeiras - COAF. 3. Na execução fiscal, são admitidas diversas formas de busca de bens do devedor que se mostram hábeis a localizá-los e reservá-los desde que estes existam - tais como a utilização do BACENJUD, do RENAJUD e do INFOJUD. 4. A Lei nº 6830/80 estabelece, em seu art. 40, que, em caso de não localização de bens, a medida a ser adotada é a suspensão do feito pelo prazo máximo de 1 (um) ano, consoante restou determinado na decisão agravada. 5. A análise do cadastro solicitado pela exequente, por dar acesso a informações bancárias do executado - e, portanto, referentes à sua vida privada - é medida excepcional e, como tal, necessita de previsão específica. 6. Precedente desta Corte Regional. 7. Agravo de instrumento improvido.

5 AGTR140878/RN Ac-02 PODER JUDICIáRIO Vistos, etc. ACÓRDÃO Decide a Primeira Turma do Tribunal Regional Federal da 5ª Região, por unanimidade, negar provimento ao agravo de instrumento nos termos do Relatório, Voto e notas taquigráficas constantes dos autos, que ficam fazendo parte integrante do presente julgado. Recife, 11 de junho de (Data de julgamento) Des. Fed. FRANCISCO WILDO Relator