PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO ACÓRDÃO

Transcrição

1 Registro: ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo de Instrumento nº , da Comarca de São Paulo, em que é agravante PATRICIA MONTEIRO DA SILVA ROLLO, é agravado VR VALES LTDA. ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 16ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: Negaram provimento ao recurso. V. U., de conformidade com o voto do relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Desembargadores JOVINO DE SYLOS (Presidente) e SIMÕES DE VERGUEIRO. São Paulo, 17 de dezembro de Coutinho de Arruda Relator Assinatura Eletrônica

2 Voto nº Agravo de instrumento nº Agravante: Patrícia Monteiro da Silva Rollo Agravado: VR Vales Ltda. Agravo de instrumento execução de título extrajudicial penhora no rosto dos autos supostos bens móveis que guarnecem imóveis considerados bens de família regra protetiva que visa a preservar a dignidade da pessoa humana impossibilidade de se conferir tal proteção aos três imóveis indicados ausência de prova da real situação dos bens bens móveis ressalva à impenhorabilidade, quando de elevado valor ou que ultrapassem as necessidades comuns correspondentes a um médio padrão de vida art. 649, II do Código de Processo Civil - art. 2º da Lei nº 8.009/90 alegação de impenhorabilidade afastada decisão mantida recurso improvido. Vistos, etc.. Trata-se de agravo de instrumento buscando a reforma de decisão que, em execução de título extrajudicial, deferiu o pedido de penhora no rosto dos autos das Apelações nºs e para que a restrição incida sobre todos os possíveis direitos da executada Patrícia em relação aos bens móveis objeto dos respectivos embargos de terceiro. É o RELATÓRIO. Inicialmente, destaque-se que, nas razões recursais, a agravante sustenta a impenhorabilidade dos bens móveis objeto das constrições, sob o fundamento de que guarnecem os imóveis, suposto bens de família, localizados na Avenida Morumbi, nº 3.575, no Agravo de Instrumento nº Voto nº

3 Município de Indaiatuba/SP, bem como em Avaré/SP. Consta da peça recursal a afirmação no sentido de que durante a constância do casamento com o co-executado (Sr. Ricardo Mansur), o casal residiu por aproximadamente 30 anos no imóvel situado na Avenida Morumbi, nº 3.575, bem como nos 2 imóveis localizados nos Municípios de Avaré/SP (Faz. São Gonçalo, Gleba II) e Indaiatuba/SP, tendo neste período adquirido os bens móveis que guarneciam as respectivas propriedades (fls. 02/03). Com efeito, a lei busca preservar o imóvel utilizado pela entidade familiar do executado, bem como os móveis que o guarnecem, à luz do princípio da dignidade da pessoa humana, constitucionalmente consagrado. Nesse trilho, não há como se estender tal proteção a três imóveis, sob a alegação de que todos são utilizados para moradia da família, posto que isso sobeja ao que seria necessário à manutenção do mínimo existencial. Ademais, não há provas nos autos de que tais imóveis tenham tal finalidade, cabendo observar que a agravante faz alusão à utilização pretérita como residência do casal, isto é, na constância do casamento, sem esclarecer a situação atual desses bens. Ainda, é de se observar que, nos termos do art. 649, II da Agravo de Instrumento nº Voto nº

4 lei de rito, são absolutamente impenhoráveis, os móveis, pertences e utilidades domésticas que guarnecem a residência do executado, salvo os de elevado valor ou que ultrapassem as necessidades comuns correspondentes a um médio padrão de vida. No mesmo sentido, a Lei nº 8.009/90, ao proteger o imóvel residencial do casal, ou da entidade familiar, dispõe no art. 2º que excluem-se da impenhorabilidade os veículos de transporte, obras de arte e adornos suntuosos. Mesmo que se pudesse considerar os imóveis indicados como sendo bem de família, os dispositivos legais mencionados fazem expressa ressalva à impenhorabilidade dos bens móveis quando de elevado valor ou que ultrapassem as necessidades comuns correspondentes a um médio padrão de vida. In casu, os autos de arrecadação copiados às fls. 51/55, 173/174 e 149/152 indicam a suntuosidade dos bens que guarnecem os imóveis, a exemplo das obras de arte e objetos de prata, o que, à evidência, não se coaduna com a finalidade da norma protetiva. Destarte, é de rigor o decreto de não acolhida das razões recursais, impondo-se a manutenção da r. decisão guerreada, que bem apreciou a matéria fática e jurídica que lhe foi posta à deliberação. Agravo de Instrumento nº Voto nº

5 Isto posto, NEGA-SE PROVIMENTO ao agravo. Coutinho de Arruda Relator Agravo de Instrumento nº Voto nº