PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO ACÓRDÃO .1, *'Õ329Í943*

Transcrição

1 .1, PODER JUDICIÁRIO ACÓRDÃO/DECISÃO MONOCRÁTICA REGISTRADO(A) SOB N ACÓRDÃO *'Õ329Í943* VistoS,f relatados é discutidos estes autos de Apelação n , da Comarca de Ubatuba, em quê é apelante MARCONDES E TEIXEIRA S C LTDA sendo apelado OFICIAL^ DO CARTÓRIO DE REGISTRO DE IMÓVEIS DA COMARCA DE UBATUBA. ACORDAM^ em 6 a Câmara de Direito Privado do Tribunal de.justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "NEGARAM PROVIMENTO AO RECURSO. V. U.", de conformidade i com o voto do Relator(a), que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Desembargador esí JOSÉ JOAQUIM DOS SANTOS (Presidente), PAULO ALCIDES Eí ; ROBERTO SOLIMENE. São Paulo, 18 de novembro de 2010 ^y JOSÉ JOAQUIM DOS SANTOS PRESIDENTE E RELATOR

2 Voto n 3996 Apelação Cível n PODER JUDICÁRIO Apelante: MARCONDES E TEIXEIRA S.C. LTDA. Apelado: OFICIAL DO CARTÓRIO DE REGISTRO DE IMÓVEIS DA COMARCA DE UBATUBA Comarca: 01 a Vara Cível da Comarca de Ubatuba Juiz: Dr. Carlos Gutemberg de Santis Cunha Mandado de Segurança contra ato de Oficial de Registro de imóveis que indeferiu pedido de averbação da construção de apartamento. Impossibilidade. Via eleita inadequada. Questão que poderia ser solucionada na via administrativa. Entendimento de que o Oficial do Cartório não é autoridade para efeito de Mandado de Segurança. Sentença mantida. Recurso improvido. Trata-se de mandado de segurança extinto sem resolução de mérito com fundamento no artigo 267, VI, do Código de Processo Civil, pela r. sentença de fls. 44/46, de relatório adotado. Inconformada, apela tempestivamente a autora, às fls. 56/60, postulando pela reforma do julgado. Aduz que o Oficial de Registro de Imóveis é autoridade sob a ótica da Lei 1.533/51, tendo o poder e competência para proceder a averbação requerida. Alega, ainda, que a Constituição Federal garante o direito de ir ao Judiciário em caso de lesão ou ameaça de lesão a direito, não podendo lhe ser imposta a discussão da avença em sede administrativa. Da mesma forma, a Lei de Registros não prevê

3 PODER JUDICÁRIO procedimento administrativo para o caso de indeferimento de averbaçao, prevendo o procedimento da dúvida apenas para o caso de registro. Recebido o apelo apenas em seu efeito devolutivo (fls. 61), veio parecer da douta Procuradoria de Justiça opinando pelo improvimento do recurso (fls. 67/70). É o relatório. Porque a jurídica manifestação da culta Promotora de Justiça Convocada Dra. Silvana Buogo anda com o que vai pelos autos e com o que está na lei, peço licença para transcrever o seguinte elucidativo passo, o qual acompanho na íntegra, adotando-o como razões de decidir 1 : "O recurso interposto não merece agasalho. Sustenta a interessada que o Oficial do Registro de Imóveis é autoridade, no sentido que lhe emprestou o legislador, podendo, portanto, figurar no pólo passivo de mandado de segurança. Assevera, ainda, ser ilegal o ato de recusa de averbaçao pretendida, vez que, sustenta, que a Lei de Registros Públicos não estabelece nenhuma outra formalidade, além da apresentação do habite-se e da certidão negativa de débito expedida pelo I.N.S.S.. 1 O C. STF tem decidido correntemente que é possível adotar os fundamentos de parecer do Ministério Público para decidir, f. ACO 804/RR, Relator Ministro Carlos Britto, DJ 16/06/2006; AO 24/RS, Relator Ministro Maurício Corrêa, DJ 23/03/2000; RE /SP, Relator Ministro Néri da Silveira, DJ 01/08/2000.

4 PODER JUDICÁRIO inadequada. A nosso ver, valeu-se a interessada da via Conquanto tenha absoluta razão, quando anota que não cabe a suscitação de dúvida para discussão de matéria que não diga respeito a ato de registro, tal não significa que a via escolhida fosse a única e, portanto, adequada para debater a questão posta em discussão. De se ressaltar que afora a possibilidade de provocação do posicionamento do Juiz Corregedor do Registro Imobiliário, através do incidente de dúvida, outras questões registrarias também podem ser objeto de sua decisão em procedimento de igual natureza administrativa. Com efeito, submete-se o Oficial do Cartório de Registro de Imóveis a fiscalização do Juiz, pois, conforme a lição de AFRÂNIO DE CARVALHO A subordinação funcional do encarregado ao juiz assegura a solução de dúvidas e o exercício da correção' (In Registro de Imóveis, Editora Forense, 3 a ed., p.473). E, da relação de subordinação acima destacada surge claro que não tem o Oficial do Cartório de Registro de Imóveis poder de decisão, vez que se submete a fiscalização e ao poder decisório do Juiz, que nos procedimentos administrativos registrários, exerce função que não se identifica com aquela jurisdicional. Se não tem o Oficial do Registro de Imóveis poder de decisão, não pode figurar como autoridade coatora em ação de mandado de segurança. Neste sentido, pede vênia para transcrever parte do acórdão citado pelo Oficial do Cartório de Registro de Imóveis em suas

5 4 PODER JUDICÁRIO de oferece lição precisa a respeito da questão aqui "Assim é que o mandado de segurança é impetrado contra ato de autoridade, entendendo-se como tal, na lição de HELY LOPES MEIRELLES, 'a pessoa física investida de poder de decisão dentro da esfera de competência que lhe é atribuída pela norma legal'. Explicitando o Mestre que o 'coator é sempre aquele que decide, embora muitas vezes também execute sua própria decisão, que rende ensejo à segurança' (Mandado de Segurança, Ação Popular, Ação Civil Pública, Mandado de Injução, Hábeas Data, pág. 31, 18 a ed. Atualizada por ARNOLDO WALD, Malheiros Editores, 1997). Desse sentir não parece discrepar v. precedente do Colendo Superior Tribunal de Justiça, colacionado por THEOTÔNIO NEGRÃO: 'Para figurar no pólo passivo da ação de segurança, autoridade coatora é aquela que ordena, que determina ou pratica o ato, ou ainda, a que defende a prevalência deste (ato coator), assumindo, embora a posteriori, a posição de coator' (STJ - 1 a Seção, MS n DF, Rei. Min. Demócrito Reinaldo, j , concederam parcialmente a segurança, três votos vencidos, DJU , pág )' (in Código de Processo Civil e legislação processual em vigor, Editora Saraiva, 1999, p , nota 49 ao art. 1 o, da Lei 1.533/51). Ora, o oficial do cartório do registro de imóveis não ostenta poder decisório, cabendo-lhe, isto sim, o deve de suscitar dúvida, em relação aos atos

6 PODER JUDICARIO apresentados a registro, porque ao juiz é que compete decidir da sua procedência ou não, como ensina MIGUEL MARIA SERPA LOPES (Tratado dos Registros Públicos, vol. II, págs. 345/346, n. 339, Freitas Bastos, 4 a ed., 1960)' O raciocínio acima destacado aplica-se ao caso, mesmo diante do fato de tratar-se de ato de averbação e, não de registro. Além disso, tal circunstância não impediria o conhecimento da questão, bem como sua decisão, pelo Juiz Corregedor do Cartório, posto que há possibilidade do interessado de se dirigir a citada autoridade por meio de reclamação, salvo, ainda, a consulta que poderia ser feita pelo oficial. Assim, patenteada a ilegitimidade passiva do Oficial do Cartório de Registro de Imóveis e, em conseqüência, a inadequação da via escolhida, há de ser mantida a respeitável decisão de primeiro grau, que extinguiu o processo sem julgamento do mérito." parecer, Desnecessário acrescentar palavras a esse lúcido Por todo o exposto, nega-se provimento ao recurso. JOSÉ JOAQUIM DOS SANTÍ Relator