SEXTA CÂMARA CÍVEL APELAÇÃO Nº 80537/ CLASSE CNJ COMARCA DE DIAMANTINO

Transcrição

1 APELANTE: AVENIRFERNANDO MARQUES DE ARAÚJO APELADO: LUVIK DO BRASIL LTDA. Número do Protocolo: 80537/2012 Data de Julgamento: E M E N T A APELAÇÃO - AÇÃO MONITÓRIA EXTINTA POR ILEGITIMIDADE ATIVA - CHEQUE PRESCRITO - AUSÊNCIA DE ASSINATURA NO VERSO DA CÁRTULA - PRELIMINAR DE CERCEAMENTO DE DEFESA - REJEITADA - PROVA TESTEMUNHAL - REJEIÇÃO - EXISTÊNCIA DO ENDOSSO QUE DEVE SER COMPROVADA DESDE A PROPOSITURA E NO PRÓPRIO TÍTULO - INEXISTÊNCIA DE ENDOSSO - LEGITIMIDADE AD CAUSUM - SENTENÇA MANTIDA - RECURSO DESPROVIDO. O endosso deve ser lançado pelo endossante no verso ou anverso do próprio título. Inteligência do art. 910, do CC. O portador do título, sem endosso do beneficiário, não tem legitimidade ad causam para figurar no polo ativo da ação monitória, porque o cheque só pode ser pago à pessoa indicada na própria cártula. Fl. 1 de 8

2 APELANTE: AVENIRFERNANDO MARQUES DE ARAÚJO APELADO: LUVIK DO BRASIL LTDA. R E L A T Ó R I O EXMO. SR. DES. GUIOMAR TEODORO BORGES Egrégia Câmara: Cuida-se de Recurso de Apelação interposto por Avenir Fernando Marques de Araújo contra sentença que acolheu os Embargos Monitórios movidos por Luvik do Brasil Ltda., para julgar extinto a Monitória, sem exame do mérito, em razão da ilegitimidade ativa do autor (artigo 267, VI do CPC). Em preliminar, sustenta cerceamento de defesa ao argumento de que o julgamento antecipado da lide impediu ao apelante de provar que os cheques, objeto da monitória, foram repassados em seu favor, como parte de pagamento da Rescisão de Contrato de Representação Comercial firmado entre as partes. Aduz que os cheques foram emitidos pela segunda apelada E.A. Medeiros ME em favor da primeira apelada Luvik do Brasil (Vitacharme) que, por sua vez, repassou os títulos, como forma de parte do pagamento pela rescisão do contrato de trabalho, tanto que os valores coincidem com a quantia prevista no item "a", do documento de fls. 14, o que comprova a transmissão dos títulos. Reclama que se não teve oportunidade de demonstrar que os cheques foram repassados em seu favor pela primeira apelada Luvik, a sentença não poderia acolher a preliminar de ilegitimidade ativa, sob o fundamento de que o recorrente autor não comprovou a transmissão da propriedade dos títulos. No mérito, aduz que afirmou na inicial que recebeu os cheques como parte do pagamento de comissões pendentes junto à Fl. 2 de 8

3 primeira apelada Luvik e, ainda, que a mesma se comprometeu a pagá-los caso a emitente, segunda apelada, não os pagasse. Diz que a Luvik, primeira apelada, não impugnou aludida afirmação, o que autoriza a presunção de veracidade do fato e a procedência da monitória. Requer seja acolhida a preliminar de cerceamento de defesa, ou, no mérito, a procedência da Ação Monitória. Nas contrarrazões, a apelada Luvik do Brasil Ltda acentua que o autor apelante deveria fazer prova do endosso com a inicial ou na resposta dos embargos monitórios, do que não se desincumbiu e afasta o alegado cerceamento de defesa. Diz que não há prova documental do termo de endosso dos cheques objeto da presente monitória Aduz que a inicial dos embargos monitórios e o relatório da sentença corroboram o fato de que a apelada impugnou a matéria relativa ao recebimento dos cheques para pagamento de termo rescisório do contrato, o que impõe o desprovimento do recurso. Pugna a manutenção da sentença recorrida. É o relatório. V O T O (PRELIMINAR - CERCEAMENTO DE DEFESA) EXMO. SR. DES. GUIOMAR TEODORO BORGES (RELATOR) Egrégia Câmara: A preliminar de cerceamento de defesa suscitada pelo autor apelante ao fundamento de que o julgamento antecipado da lide impediu-lhe de provar que os cheques, objeto da monitória, foram repassados em seu favor, como parte de pagamento da Rescisão de Contrato de Representação Comercial firmado entre as partes, não comporta acolhida. Sucede que a questão envolve matéria de direito sem a necessidade de produção de prova em audiência (art. 330, I, CPC). No caso, os fatos relevantes à solução do litígio já se Fl. 3 de 8

4 encontravam suficientemente delineados no feito, de modo a dispensar a produção de prova oral. Nesse sentido, incumbia ao autor, já na propositura da demanda, comprovar que a primeira apelada Luvik do Brasil Ltda., endossou em seu favor os cheques objeto da presente monitória, caso em que eventual prova testemunhal não alcançaria essa finalidade. A natureza do ato, por si só, reclama prova documental (inteligência do artigo 910 do Código Civil). de defesa. Posto isso, rejeita-se a preliminar de cerceamento É como voto. V O T O (MÉRITO) EXMO. SR. DES. GUIOMAR TEODORO BORGES (RELATOR) Egrégia Câmara: O apelante Avenir Fernando Marques de Araújo move a presente ação monitória contra Luvik do Brasil Ltda e E.A. Medeiros Comércio ME, lastreada nos cheques nºs , e , do Banco do Brasil S.A, emitidos pela segunda apelada E.A. Medeiros Comércio em favor da primeira Luvik do Brasil, no valor de R$5.000,00 (cinco mil reais) cada, fundamentada no art A, do CPC. A controvérsia está em saber se o autor, ora apelante, tem legitimidade ativa para propor a presente monitória. Por primeiro, destaca-se que o cheque nominal, como é o caso em exame, é pagável apenas ao beneficiário constante da cártula, porém, este pode transferir o seu direito creditício por meio de endosso em proveito de novo favorecido, o que caracteriza o ato como cheque nominativo. Fl. 4 de 8

5 O art. 910 do Código Civil assim dispõe: Art O endosso deve ser lançado pelo endossante no verso ou anverso do próprio título. 1º. Pode o endossante designar o endossatário, e para validade do endosso, dado no verso do título, é suficiente simples assinatura do endossante. tradição do título. ou parcialmente. 2º. A transferência por endosso completa-se com a 3º. Considera-se não escrito o endosso cancelado, total No caso, a ação monitória veio lastreada em dívida representada por três cheques nominais à primeira apelada Luvik do Brasil Ltda, sem endosso ao apelante, posto que não há assinatura da empresa no verso das referidas cártulas. Neste sentido, esclarece-se que o endosso em branco é aquele em que o endossante não identifica a pessoa do endossatário, apenas faz constar a assinatura do endossante, para que o título nominal passe a circular como se fosse título ao portador, o que não se visualiza na espécie. Diante disso, o portador, sem endosso do beneficiário, não tem legitimidade ad causam para figurar no polo ativo da ação, porquanto o cheque só pode ser pago à pessoa indicada na própria cártula. Neste sentido, a jurisprudência: RAC - AÇÃO DE COBRANÇA - CHEQUE PRESCRITO - PREJUDICIAL DE PRESCRIÇÃO - INOCORRÊNCIA - INCIDÊNCIA DO PRAZO QUINQUENAL (ART. 206, 5º, CC) - MÉRITO - AUSÊNCIA DE PROVA DO ENDOSSO - ILEGITIMIDADE ATIVA SENTENÇA REFORMADA - RECURSO PROVIDO. O prazo para exigir valor constante de cheque sem força a Fl. 5 de 8

6 executiva por meio da Ação de Cobrança é de cinco anos, nos termos do art. 206, 5º, do Código Civil. O portador de cheque sem endosso do beneficiário, não é parte legítima para propor Ação de Cobrança. (RAC nº /2010, 2ª Câm. Cív., Rel. Des. Clarice Claudino da Silva, J grifei) APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO MONITÓRIA - CHEQUE PRESCRITO - INEXISTÊNCIA DE ENDOSSO - LEGITIMIDADE AD CAUSAM RECURSO IMPROVIDO. Constatando-se que a assinatura lançada no verso do cheque não corresponde à verdadeira assinatura endossante, tem-se por inexistente o endosso. (RAC nº /2005, 5ª Câm. Cív., Rel. Des. Orlando de Almeida Perri, J grifei) Por derradeiro, não há como acolher o fundamento de que o apelante teria recebido os cheques da primeira apelada Luvik do Brasil, como parte de pagamento de Rescisão de Contrato de Representação, cuja empresa se responsabilizou pelo pagamento das cártulas caso a emitente não os pagasse, porquanto o documento juntado pelo autor (fl.14-15). Sucede que os cheques mencionados na referida Rescisão Contratual de Representação Comercial (fl. 14), itens "B" a "E", da Cláusula 2ª, não correspondem aos números das cártulas objeto da presente monitória, nem mesmo apresentam o mesmo valor e o item "A", igualmente não menciona que o respectivo pagamento seria realizado pelos cheques desta monitória. Dessa forma, a falta do de prova do endosso retira do apelante a qualidade de credor do cheque objeto da ação e, por consequência, afasta a qualidade de parte legítima para ajuizar o pleito. Fl. 6 de 8

7 Portanto, conclui-se que a sentença encontra-se em conformidade com o que estabelece a legislação pátria, doutrina e jurisprudência e, por tal razão merece ser mantida. Posto isso, nega-se provimento ao recurso para manter a sentença que julgou extinta a Ação Monitória, por ilegitimidade ativa do autor apelante (artigo 267, VI, do CPC). É como voto. Fl. 7 de 8

8 A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos os autos em epígrafe, a SEXTA CÂMARA CÍVEL do Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso, sob a Presidência do DES. GUIOMAR TEODORO BORGES, por meio da Câmara Julgadora, composta pelo DES. GUIOMAR TEODORO BORGES (Relator), DR. PAULO SÉRGIO CARREIRA DE SOUZA (Revisor) e DES. JURACY PERSIANI (Vogal), proferiu a seguinte decisão: PRELIMINAR - CERCEAMENTO DE DEFESA - REJEITADA. RECURSO DESPROVIDO À UNANIMIDADE. Cuiabá, 16 de janeiro de DESEMBARGADOR GUIOMAR TEODORO BORGES - PRESIDENTE DA SEXTA CÂMARA CÍVEL EM SUBSTITUIÇÃO LEGAL E RELATOR Fl. 8 de 8