Poder Judiciário TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª REGIÃO Gabinete do Desembargador Federal Geraldo Apoliano RELATÓRIO

Transcrição

1 RELATÓRIO O DESEMBARGADOR FEDERAL GERALDO APOLIANO (RELATOR): Apelação interposta em face da sentença que julgou procedente o pleito autoral, por considerar ilícita a majoração da taxa de ocupação dos terrenos de marinha pela União de acordo com o valor do domínio pleno dos imóveis da região, determinando a cobrança do valor da referida taxa com base no índice oficial de correção monetária do ano de A sentença considerou ser ilegal o reajuste da taxa de ocupação de acordo com o valor do domínio pleno, pois não foi dada oportunidade pela União para que os interessados impugnassem o valor obtido pela Secretaria de Patrimônio da União -SPU. No Recurso, a União sustentou que o Decreto-lei nº estabelece a atualização do valor da taxa de ocupação de acordo com o valor venal do imóvel, o qual, em regra, é estimado pela realidade do mercado. A majoração do valor dos terrenos da marinha seria, portanto, efetuada em consonância com as regras estabelecidas pelo controle interno e externo da União. Ademais, afirmou ser infundada a exigência de notificação pessoal pela Administração Pública da majoração do valor da taxa, pois tal medida tornaria inócuo e burocrático o sistema de cálculo da taxa de marinha, ofendendo diretamente o princípio da eficiência. Por fim, aduziu ser ultra petita a sentença proferida, ao passo que o pedido demandado só se refere aos anos de 2006 e 2007 e não a todos os anos seguintes após a atualização do valor. Sem contrarrazões. Sentença sujeita ao reexame necessário. Dispensada a revisão. É o relatório.

2 VOTO O DESEMBARGADOR FEDERAL GERALDO APOLIANO (RELATOR): Objetiva-se anular sentença que declarou ser ilícito o procedimento da União de majorar o valor da taxa de ocupação, mediante a atualização periódica do domínio pleno dos imóveis de acordo com a sua valorização econômica (exercícios de 2006 e seguintes), ante a precariedade do ato administrativo em tela. Este Tribunal já se pronunciou, em diversas ocasiões, no sentido de que a atualização anual do valor do domínio pleno do imóvel não compreende as valorizações obtidas pelo imóvel, mas apenas a correção monetária, destinada a repor a desvalorização da moeda, nos termos preconizados no art. 1º, do Decreto-Lei nº 2.398/87. Por outro lado, não se reveste de razoabilidade a majoração das referidas taxa de ocupação no patamar de 1000% em curto período, razão pela qual deve ser afastada a sua cobrança nesses moldes, para manter-se a taxa cobrada em 2005, que deverá sofrer, unicamente, a atualização monetária, pelos índices oficiais, para impedir a desvalorização da moeda. A propósito, transcrevo os seguintes precedentes da Terceira Turma deste Tribunal: "CIVIL. IMÓVEL LOCALIZADO EM TERRENO DE MARINHA. COBRANÇA DE TAXA DE OCUPAÇÃO E DE FORO. DECRETO- LEI 2.398/87. MAJORAÇÃO. VALORIZAÇÃO DO IMÓVEL. AUMENTO PERCENTUAL (ESTIPULADO EM QUASE 100%) QUE ATENTA CONTRA O PRINCÍPIO DA RAZOABILIDADE. 1. O Decreto-Lei nº 2.398/87 dispõe sobre foro e taxa de ocupação relativos a imóveis de propriedade da União, estabelecendo o percentual a ser aplicado na cobrança decorrente do uso do bem de propriedade da União; 2. No caso dos autos, a parte autora foi surpreendida com cobrança, referente ao ano 2005 (sobre vários imóveis que titulariza), com majoração próxima a 100% do valor usualmente cobrado (em exercícios anteriores); 3. O mencionado aumento foi realizado, por parte da União, unicamente sob a justificativa de valorização do imóvel, delembrando-se, o ente púbico, porém, que a recomposição dos tais

3 valores haveria de obedecer a parâmetros que levassem em conta o princípio da razoabilidade; 4. Este Eg. Tribunal já se manifestou, em diversas ocasiões, no sentido de que a atualização anual do valor do domínio pleno do imóvel - para a imposição da cobrança de foro e de taxa de ocupação -- não compreende a correção monetária e as valorizações sofridas pelo imóvel. Isso porque a atualização deve observar apenas a desvalorização da moeda. Nesse sentido, é de se entender que a majoração em patamar de 100%, em curto período, vai de encontro ao razoável, e daí não se sustentar à luz daquilo que a doutrina e a jurisprudência apontam como sendo a legalidade em seu melhor sentido; 4. Não se defere o pedido de não-reajuste (que o particular também quis); defere-se o pedido de atualização meramente monetária, pelos índices de inflação do período, e não, como quis a União, pelo valor do atualizado do imóvel; 5. Apelação parcialmente provida". (AC nº /PE, Relator Desembargador Federal Raimundo Alves de Campos Jr - Convocado, DJE , pg destaquei) "MANDADO DE SEGURANÇA. TAXA DE OCUPAÇÃO. REVISÃO EM FUNÇÃO DA VALORIZAÇÃO DO IMÓVEL. IMPOSSIBILIDADE. 1.Sentença que denegou pedido de segurança contra o aumento da taxa de ocupação de terreno de marinha; 2. Os foros e as taxas de ocupação não se sujeitam à revisão em função da valorização econômica do imóvel, mas apenas à atualização monetária anual, destinada a repor a desvalorização da moeda; precedentes do STF e deste Regional; 3. Apelação provida". (AMS nº /PE, Relator Desembargador Federal Paulo Roberto de Oliveira Lima, DJ , pg destaquei). No que diz respeito à alegação de que a sentença seria ultra petita, entendo-a como correta, visto que o Apelado, na inicial, apenas se manifestou pela redução das taxas referentes aos anos de 2006 e de 2007, não se referindo as taxas relativas aos anos seguintes, como foi proferido pelo Juízo a quo. Esforçado nessas razões, dou provimento, em parte, à Apelação e à Remessa Necessária, apenas para determinar a atualização da Taxa de Ocupação de acordo com a correção monetária pelos índices oficiais do período, no que se refere aos anos de 2006 e de 2007, como pedido na exordial. É como voto.

4 APELANTE : UNIÃO APELADO : IGREJA PRESBITERIANA DE BOA VIAGEM ADV/PROC : WASHINGTON BARROS e outros REMTE : JUÍZO DA 21ª VARA FEDERAL DE PERNAMBUCO (RECIFE) RELATOR : DES. FED. GERALDO APOLIANO EMENTA CIVIL. TERRENO DE MARINHA. TAXA DE OCUPAÇÃO. MAJORAÇÃO COM BASE NA VALORIZAÇÃO DE MERCADO DO IMÓVEL. IMPOSSIBILIDADE. AFRONTA AO PRINCÍPIO DA RAZOABILIDADE. CABÍVEL, APENAS, A ATUALIZAÇÃO MONETÁRIA, PARA REPOSIÇÃO DA DESVALORIZAÇÃO DA MOEDA. SENTENÇA ULTRA PETITA. CONFIGURAÇÃO. 1. Busca-se anular sentença que determinou a cobrança do valor da taxa de ocupação do imóvel, referentes ao exercício de 2006 e seguintes, com base no índice oficial de correção monetária do ano de Taxa de ocupação de imóvel que sofreu, entre os anos de 2005 e 2006, um aumento em torno de 1000% em decorrência da atualização com base no valor de mercado do bem. 3. Este Tribunal já se pronunciou no sentido de que a atualização anual do valor do domínio pleno do imóvel não compreende as valorizações obtidas pelo imóvel, mas apenas a correção monetária, destinada a repor a desvalorização da moeda, nos termos preconizados no Decreto-lei nº 2.398/87 (art. 1º). Precedentes da egrégia Terceira Turma deste Tribunal. 4. Não se reveste de razoabilidade a majoração da referida taxa em patamares exacerbados, em tão curto espaço de tempo (de um exercício para o outro). 6. Sentença ultra petita visto que o pedido inicial referiu-se, apenas, a redução da taxa relativa aos anos de 2006 e de 2007, nada aduzindo quanto aos anos seguintes. 7. Apelação e Remessa Necessária providas, em parte, apenas para determinar a atualização da Taxa de Ocupação de acordo com a correção monetária pelos índices oficiais do período, referente aos anos de 2006 e de 2007, como pedido na exordial. ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos os presentes autos, em que são partes as acima identificadas.

5 Decide a Terceira Turma do Tribunal Regional Federal da 5ª Região, por unanimidade, dar provimento, em parte, à Apelação e à Remessa Necessária, nos termos do relatório, voto do Desembargador Relator e notas taquigráficas constantes nos autos, que passam a integrar o presente julgado. Custas, como de lei. Recife (PE), 24 de fevereiro de 2011 (data do julgamento).