QUARTA CÂMARA CÍVEL RECURSO DE APELAÇÃO CÍVEL Nº 23079/ CLASSE II COMARCA CAPITAL

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1 APELANTE: APELADAS: SUL AMÉRICA TERRESTRES MARÍTIMOS E ACIDENTES CIA. DE SEGUROS ALTINA PEREIRA DA SILVA E TRANSPORTES NOVA ERA LTDA. Número do Protocolo: 23079/2004 Data de Julgamento: EMENTA RECURSO DE APELAÇÃO CÍVEL - INDENIZAÇÃO - ACIDENTE DE TRÂNSITO - EMPRESA DE ÔNIBUS - SEGURADORA - DENUNCIAÇÃO À LIDE - CABIMENTO - ART. 70, III, DO CPC - RESPONSABILIDADE - LIMITES CONTRATUAIS - RECURSO IMPROVIDO. Admite-se denunciação à lide nos casos em que a ação se funda na existência ou não do direito de regresso do denunciante em relação ao denunciado. Fl. 1 de 6

2 RELATÓRIO EXMO. SR. DES. BENEDITO PEREIRA DO NASCIMENTO Egrégia Turma: Cuida-se de recurso de apelação cível interposto pela litisdenunciada Sul América Terrestres Marítimos e Acidentes Cia. de Seguros contra sentença que julgou, parcialmente, procedente a ação de indenização movida por Altina Pereira da Silva em face de Transportes Nova Era Ltda. Argúi a apelante, preliminarmente, sua exclusão do processo, tendo em vista que, em momento algum, aceitou, nos autos, a denunciação à lide, e que o magistrado singular deixou de julgar a lide subsidiária. No mérito, sustenta a inexistência de dano moral, bem como a de relação jurídica entre denunciante e denunciada. Pede, ao final, a reforma do decisum monocrático, ou, alternativamente, a sua exclusão da lide. Não houve contra-razões. É o relatório. À revisão. Fl. 2 de 6

3 V O T O (PRELIMINAR - NÃO JULGAMENTO DA DENUNCIAÇÃO À LIDE) EXMO. SR. DES. BENEDITO PEREIRA DO NASCIMENTO (RELATOR) Egrégia Turma: Trata-se de recurso de apelação cível interposto contra decisão que julgou, parcialmente, procedente a ação de indenização. Postula a recorrente, em preliminar, a análise da denunciação à lide formulada pela empresa-apelada, sustentando, em síntese, que, em momento algum, teria aceitado a denunciação apresentada, e que o Julgador singular deixou de julgar a lide subsidiária. O argumento não subsiste, senão vejamos. O cabimento ou não da intervenção de terceiro, previsto no art. 70, inciso III, do Código de Processo Civil, é claro, ao dispor: Art. 70. A denunciação da lide é obrigatória: (...) III - àquele que estiver obrigado, pela lei ou pelo contrato, a indenizar, em ação regressiva, o prejuízo do que perder a demanda. (sic) Compulsando os autos, verifica-se, inicialmente, que a requeridalitisdenunciante Transportes Nova Era Ltda. pactuou, com a requerente, contrato de seguro firmado na Apólice nº A análise da admissibilidade da denunciação à lide, no caso concreto, funda-se na existência ou não do direito de regresso da denunciante em relação à denunciada, o qual se aplica à matéria. Posteriormente à prolação da sentença, a apelante interpôs embargos de declaração, alegando omissão do julgamento, no que se refere à lide secundária. Ao analisar o caso, o Juiz a quo reconheceu a omissão, asseverando que:... os Embargos de Declaração têm pertinência dado que realmente a r. sentença é omissa quanto à denunciação à lide, que a tempo e forma foi contestada pela litisdenunciada. (sic fls. 189-) Fl. 3 de 6

4 Mais adiante, ao apreciar o mérito dos referidos embargos, consignou: Juridicamente é improcedente a questão suscitada pela litisdenunciada, visto que há uma relação jurídica implantada entre a litisdenunciante e litisdenunciada por meio de um contrato de seguro, comprovado pela emissão da respectiva apólice, agora, se contempla ou não os pedidos feitos pela autora é outra questão. (fls. 189-) Dessa forma, conclui-se que houve apreciação em primeiro grau da denunciação proposta pela requerida Transportes Nova Era Ltda. Por tais razões, rejeito a preliminar. É como voto. V O T O (MÉRITO) EXMO. SR. DES. BENEDITO PEREIRA DO NASCIMENTO (RELATOR) Egrégia Turma: Nas razões recursais, sustenta a apelante que o contrato de seguro firmado com a apelada-requerente Transportes Nova Era Ltda. não contempla cobertura dos danos ocorridos no interior do veículo. No presente caso, a recorrida Altina Pereira da Silva acidentou-se quando era transportada pela empresa-requerida Transportes Nova Era Ltda., vindo a sofrer, em decorrência disso, lesões, que a submeteram a tratamento médico especializado. Observa-se que consta, no contrato de seguro firmado, a previsão da cobertura nos casos de responsabilidade civil, conforme documento que instrui o processo, Proposta de Seguro - Sul América Auto (fls. 40). Da mesma forma, consta, no manual do segurado, o item garantia básica 05 - danos materiais ou pessoais causados a terceiros pelo veículo segurado (responsabilidade civil), cuja cláusula estabelece: Está coberta por esta garantia a indenização pela qual o Segurado vier a ser responsável civilmente em sentença judicial transitada em julgado ou em acordo autorizado de modo expresso pela Seguradora, por danos involuntários, pessoais e/ou Fl. 4 de 6

5 materiais, causados a terceiros pelo veículo do segurado, pela carga transportada ou por veículo rebocado. (sic fls. 73) Assim, não há como se impedir a denunciação da seguradora, em razão do contrato firmado. Ovídio A. Baptista da Silva, em sua obra Curso de Processo Civil, volume I, São Paulo, Editora Revista dos Tribunais, dilucida a matéria, ao enfocar a denunciação da lide como um ato, no qual, sempre que uma das partes possa agir, em demanda regressiva, contra seu garante, para reaver os prejuízos decorrentes de eventual sucumbência na causa, estará autorizada a chamar para a ação esse terceiro a que a mesma se liga. Por outro lado, sustenta, ainda, a recorrente que, em razão de o seguro obrigatório ter sido contratado com a Companhia de Seguros América do Sul Yasuda, seria esta a parte legítima à denunciação, razão pela qual pleiteia sua exclusão da relação processual. Neste ponto, também, não assiste razão à apelante. Claro está que a relação jurídica estabelecida, no que tange ao seguro, Apólice nº , foi firmada entre a empresa requerida Transportes Nova Era Ltda. e a empresa-litisdenunciada Sul América Terrestres Marítimos e Acidentes Cia. de Seguros. Ademais, os nossos tribunais têm entendimento consolidado a respeito, de que a verba, recebida a título de seguro obrigatório de veículos, tem a finalidade de reparar, ao menos parcialmente, os danos causados por acidentes de trânsito, devendo, por essa razão, ser deduzida do valor a ser pago à vítima a título de indenização por responsabilidade civil. Trata-se, dessa forma, de figura diversa da relação com a seguradora. Quanto à inexistência de dano moral pleiteado pela autora, não merece reforma a sentença reexaminanda. É cediço que, provado o evento, o dano moral se impõe. Por tais razões, improvejo o recurso. Custas pela recorrente. É como voto. Fl. 5 de 6

6 ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos os autos em epígrafe, a QUARTA CÂMARA CÍVEL do Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso, sob a Presidência do DES. BENEDITO PEREIRA DO NASCIMENTO, por meio da Turma Julgadora, composta pelo DES. BENEDITO PEREIRA DO NASCIMENTO (Relator), DES. JOSÉ SILVÉRIO GOMES (1º Vogal) e DRA. MARILSEN ANDRADE ADÁRIO (2ª Vogal), proferiu a seguinte decisão: POR UNANIMIDADE, REJEITARAM A PRELIMINAR. NO MÉRITO IMPROVERAM O RECURSO, UNANIMEMENTE. Cuiabá, 14 de março de DESEMBARGADOR BENEDITO PEREIRA DO NASCIMENTO - PRESIDENTE DA QUARTA CÂMARA CÍVEL E RELATOR GEACOR Fl. 6 de 6