A C Ó R D Ã O. ACORDA, em Turma, a Segunda Câmara Cível do Tribunal de Alçada do Estado de Minas Gerais DAR PROVIMENTO À APELAÇÃO E CASSAR A SENTENÇA.

Transcrição

1 EMENTA: INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA MANIFESTAÇÃO DO JUÍZO. - Tratando-se de relação de consumo decorrente de contrato bancário celebrado com instituição financeira, a hipossuficiência do correntista é patente, devendo ser aplicada a inversão do ônus da prova prevista no artigo 6º, VIII, da Lei A inversão do ônus da prova deve preceder o julgamento do feito, de forma que a dilação probatória seja procedida da forma mais ampla possível, assegurando o amplo exercício do direito de defesa. - Recurso provido para cassar a sentença hostilizada. A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível Nº , da Comarca de, sendo Apelante (s): ESPÓLIO DE ISAAC GUELMAN e Apelado (a) (os) (as): BANCO ITAÚ S/A, ACORDA, em Turma, a Segunda Câmara Cível do Tribunal de Alçada do Estado de Minas Gerais DAR PROVIMENTO À APELAÇÃO E CASSAR A SENTENÇA. Presidiu o julgamento o Juiz EDGARD PENNA AMORIM (Vogal) e dele participaram os Juízes ALBERTO ALUÍZIO PACHECO DE ANDRADE (Relator) e PEREIRA DA SILVA (Revisor). Belo Horizonte, 11 de março de JUIZ ALBERTO ALUÍZIO PACHECO DE ANDRADE Relator JUIZ PEREIRA DA SILVA Revisor

2 -2- V O T O S O SR. JUIZ ALBERTO ALUÍZIO PACHECO DE ANDRADE: Presentes os pressupostos objetivos e subjetivos de admissibilidade, conheço do recurso. É patente o entendimento deste Tribunal de que as relações estabelecidas entre as instituições bancárias e seus clientes regem-se pelas regras especiais que norteiam as relações consumeristas. Este o entendimento que já mantive quando do julgamento do Agravo de Instrumento nº É cediço que a instituições bancárias são centralizadoras de todos os documentos emitidos em decorrência da relação negocial mantida com seus clientes. O acesso a esta documentação é restrito aos prepostos do apelado. Sendo o cerne da ação principal a ocorrência, ao menos em tese, de operação bancária falha, da qual advém uma série de danos ao apelante, além de abusividade de cláusulas contratuais, outra solução não se apresenta senão a de se impor às instituições financeiras a inversão do ônus da prova, como forma de propiciar ao consumidor, no caso o titular da conta, melhor acesso à justiça e à defesa de seus direito. Este foi o objetivo do legislador pátrio ao promulgar o artigo 6º, VIII, da Lei nº 8.078/90. Sob esta ótica, é o entendimento desta Corte, espelhado nos Acórdão de n o s e ,

3 -3- que tiveram como Relatores, os Juízes Vanessa Verdolim e Dárcio Lopardi Mendes, respectivamente, segundo os quais: INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA HIPOSSUFICIÊNCIA CONCEITO DIFICULDADE NA PRODUÇÃO DE PROVAS CONFIGURAÇÃO DECLARAÇÃO DA INVERSÃO REABERTURA DE PRAZO PARA ESPECIFICAÇÃO DE PROVAS RAZOABILIDADE. A hipossuficiência não se caracteriza apenas na parte econômica ou financeira, mas também na dificuldade evidente em produzir provas, como ocorre quando elas se encontram nas mãos da parte contrária. Revela-se adequada, de bom senso e justa, a decisão que, ao declarar a inversão do ônus da prova em favor do autor, reabre o prazo para especificação de provas, de modo a evitar surpresa para o réu, que passa a ter o ônus da prova de forma clara e expressa. CDC - APLICABILIDADE A ENTIDADES FINANCEIRAS - INVERSÃO DO ÔNUS PROBATÓRIO EM FAVOR DO CONSUMIDOR. - As atividades desempenhadas pelas instituições bancárias, quer como prestadoras de serviços típicos a seus clientes (arrecadação, tarifas públicas, etc.), quer na concessão de mútuos e financiamentos, inserem-se no conceito amplo de fornecedor, para todos os efeitos do - Nada CDC. impede que o juiz, na decisão saneadora, determine a inversão do ônus probatório a favor do consumidor. Ao invés de agravo, tal alerta somente beneficia o

4 -4- demandado, posto que poderá evitar-lhe surpresas quando da valoração da prova. A parte não pode ser penalizada pela omissão do julgador em determinar a inversão do ônus da prova ou em aplicar as regras da legislação consumerista, ainda mais quanto lhe foi aplicado o ônus do artigo 333 do CPC. Desta forma dou provimento ao presente recurso, anulando a decisão proferida, de forma a inverter o ônus da prova, nos termos do artigo 6º, VIII, da Lei nº 9.078/90 retome-se a fase instrutória, devendo o apelado diligenciar, de forma a desconstituir as pretensões e alegações da inicial. Custas, pelo apelado. O SR. JUIZ PEREIRA DA SILVA: Ponho-me de acordo, parcialmente, com o entendimento esposado pelo douto Juiz Relator, já que imperiosa se mostra a cassação da sentença, em face do flagrante cerceamento do direito de defesa do Reqdo., ora Apelante, na medida em que o Juiz a quo deixou de apreciar a questão relativa à inversão do ônus da prova, expressamente requerida pelo Apelante nos embargos apresentados. Entretanto, tenho que a sentença deve ser cassada para possibilitar que o Julgador de Primeira Instância decida acerca da pretendida inversão do ônus da prova, antes do julgamento do feito, para que não seja alegado, futuramente, novo cerceamento, valendo lembrar que, também, o pedido relativo à concessão dos benefícios da Justiça Gratuita não foi ainda apreciado.

5 -5- Feitas estas considerações, ponho-me parcialmente de acordo com o douto Juiz Relator e dou provimento ao recurso para cassar a sentença hostilizada e determinar que o douto Juiz a quo aprecie a questão relativa à inversão do ônus da prova, com reabertura da instrução probatória, bem como as julgue o pedido de concessão dos benefícios da justiça gratuita. O SR. JUIZ EDGARD PENNA AMORIM: De acordo com o Juiz Revisor. O SR. JUIZ ALBERTO ALUÍZIO PACHECO DE ANDRADE: Sr. Presidente, pela ordem. Acolho o posicionamento do Sr. Juiz Revisor. RSM