TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MINAS GERAIS EMENTA: CAUTELAR. EMPRÉSTIMO BANCÁRIO. PARCELAS. DESCONTO. CONTA CORRENTE. RAZOABILIDADE.

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1 EMENTA: CAUTELAR. EMPRÉSTIMO BANCÁRIO. PARCELAS. DESCONTO. CONTA CORRENTE. RAZOABILIDADE. - Não obstante a legalidade da cláusula que prevê a cobrança do pagamento por meio de desconto na conta corrente da agravada, mister se faz a limitação do débito ao percentual de 30% da remuneração ali depositada, sob pena de se inviabilizar a sua sobrevivência, o que atentaria contra o princípio da dignidade da pessoa humana. A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos estes autos de AGRAVO DE INSTRUMENTO N (EM CONEXÃO COM O AGRAVO DE INSTRUMENTO N ), da Comarca de JUIZ DE FORA, sendo Agravante (s): BANCO ITAÚ S.A. e Agravado (a) (os) (as): TATIANE GONÇALVES DE MORAES, ACORDA, em Turma, a Décima Quarta Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais NEGAR PROVIMENTO. Presidiu o julgamento o Desembargador DÁRCIO LOPARDI MENDES (1º Vogal) e dele participaram os Desembargadores RENATO MARTINS JACOB (Relator) e VALDEZ LEITE MACHADO (2º Vogal).

2 -2- O voto proferido pelo Desembargador Relator foi acompanhado na íntegra pelos demais componentes da Turma Julgadora. Belo Horizonte, 19 de maio de DESEMBARGADOR RENATO MARTINS JACOB Relator

3 -3- V O T O DESEMBARGADOR RENATO MARTINS JACOB: Trata-se de agravo de instrumento interposto por BANCO ITAÚ S.A. em face da respeitável decisão de fls. 22 TJ, proferida pela douta Juíza de Direito em plantão da 9ª Vara Cível da Comarca de Juiz de Fora/MG, nos autos de ação cautelar inomidada c/c pedido liminar proposta por TATIANE GONÇALVES DE MOARES. Consiste o inconformismo no fato de ter a digna Julgadora a quo deferido parcialmente a liminar pleiteada, determinando que o agravante proceda o desconto na conta corrente da agravada, em decorrência do contrato de renegociação de débito, não excedente a 30% dos vencimentos percebidos pela correntista mensalmente, determinando, ainda, a não inclusão do nome da agravada nos órgãos de proteção ao crédito, sob pena de multa diária de R$ 200,00 em caso de descumprimento. Alega, para tanto, que a apelada possui conta corrente e não conta salário, sendo inteiramente regular o procedimento do Banco Itaú ao debitar a parcela do empréstimo em conta corrente, até porque, a agravada, ao contrair o empréstimo, teve plena ciência de que o pagamento das parcelas seria realizado através de débito em contra corrente, devidamente autorizado por ela. Acrescenta, ainda, uma vez inadimplente a agravada, a exigibilidade do crédito é inquestionável, razão pela qual

4 -4- deve valer o seu direito de cobrá-lo imediatamente da forma contratada. Aponta a regularidade do contrato livremente pactuado, que prevê os descontos em conta corrente vinculada a recebimento de salários, pugnando, ainda pela revogação da liminar concedida. O processamento do recurso foi admitido às fls. 30/32- TJ, tendo sido indeferido o efeito suspensivo. Contraminuta apresentada às fls. 36/39, na qual a agravada pleiteia o improvimento do recurso, sem agüir preliminares. Conheço do recurso, eis que presentes os pressupostos processuais. Colhe-se dos autos que a agravada firmou com o agravante um contrato de empréstimo, ficando estabelecido que as parcelas seriam descontadas em sua conta-corrente. Entendendo-se prejudicada com as taxas praticadas pelo recorrente, a agravada ajuizou contra ele uma cautelar inominada, requerendo, liminarmente, que fosse declarada a impossibilidade de serem descontadas as parcelas contratadas em sua conta-corrente. A liminar foi parcialmente deferida, motivando o manejo do presente recurso, requerendo o agravante que os descontos fossem realizados na totalidade do montante avençado pelas partes. Sem razão, contudo, o recorrente.

5 -5- Ora, pelos documentos acostados às fls. 15/20 dos autos em apenso, é fácil notar que os descontos efetuados na conta da recorrida alcançam importe relevante de seu salário. Assim, correta a decisão da ilustre Juíza de Direito ao limitar tais descontos, porquanto há evidente risco de dano irreparável para a agravada, que ficaria comprometida em seu sustento se as parcelas continuassem a serem descontadas no importe convencionado. Em casos semelhantes, o Superior Tribunal de Justiça já se pronunciou: Deve ser mantida a decisão que proibiu o agravante de efetuar descontos automáticos que ultrapassem 30% dos rendimentos creditados pelo empregador da agravada, por tratar-se de verba de natureza alimentar, sendo sua única fonte de sobrevivência (AI nº , 4ª CC, rel. Juiz Paulo Cezar Dias, j. 28/05/2003). - Lícito é ao juiz, em sede de cautelar, verificando a presença cumulativa do fumus boni iuris e do periculum in mora, conceder medida liminar determinando a sustação de determinado ato. - Como no caso específico dos autos, a documentação acostada ao processo demonstra que os empréstimos contratados pela autora atingem quase 55% de seu salário, não obstante a legalidade da cláusula que prevê a cobrança do pagamento por meio de desconto na conta corrente da requerente, mister se faz a limitação do débito ao

6 -6- percentual de 30% da remuneração ali depositada, sob pena de se inviabilizar a sobrevivência da mesma, o que atentaria contra o princípio da dignidade da pessoa humana (AI nº , 5ª CC, rel. Juiz Mariné da Cunha, j. 04/03/2004). Ademais, ainda que a recorrida tenha permitido fossem realizados descontos superiores a 30% (trinta por cento) de seu salário, essa autorização pode ser revista pelo Judiciário, para garantir o equilíbrio da relação jurídica estabelecida entre as partes litigantes. Logo, estando a liminar calcada nos pressupostos periculum in mora e fumus boni iuris, deve ser mantida a r. decisão proferida nos autos da ação cautelar inominada. recurso. Mercê de tais considerações, nego provimento ao Custas recursais pelo agravante. DESEMBARGADOR RENATO MARTINS JACOB ac/