TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO DÉCIMA SEXTA CÂMARA CÍVEL

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1 TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO DÉCIMA SEXTA CÂMARA CÍVEL Agravo de Instrumento nº Agravante: EDUARDO DE JESUS CARDOSO Agravado: BANCO MERCANTIL DO BRASIL S/A BMB, BANCO DAYCOVAL e BANCO MATONI Relator: DES. CARLOS JOSÉ MARTINS GOMES Ementa: Agravo de Instrumento. Ação objetivando a limitação de descontos que estariam sendo perpetrados pelos réus no contracheque do autor, para fins de pagamento de parcelas de empréstimos contraídos, em 30% do valor de seus vencimentos. Pleito de antecipação de tutela que se coaduna com os princípios da dignidade da pessoa humana, da função social do contrato, bem como as diretrizes do Código de Defesa do Consumidor, e, ainda, analogicamente, ao disposto nas Leis nº /2003 (artigo 2º, 2º, inciso I), nº 8112/1990 (artigo 45) e Decreto 6386/08 (artigos 8º e 9º), que tratam de empréstimos consignados concedidos aos aposentados, pensionistas e servidores do poder executivo. Enunciados nºs 200 e 295 da Súmula da Jurisprudência desta Corte. Indeferimento da tutela antecipada, porque... se tratando de militar da Aeronáutica somente é vedado receber quantia inferior a trinta por cento da sua remuneração ou proventos, ou seja, a tutela antecipada foi indeferida porque, no caso do militar, pode ser comprometida até 70% da remuneração do mesmo, nos termos do que, a contrario sensu, dispõe o artigo 14, 1º, 2º e 3º, da citada Medida Provisória. Contudo, a aplicação do percentual de comprometimento de até 70% da remuneração do militar, com base na referida Medida Provisória, vem sendo mitigado pela jurisprudência, tendo em vista a aplicação da regra mais favorável ao consumidor, prestigiando-se ainda os princípios da dignidade da pessoa humana, da reserva do mínimo existencial e da razoabilidade, levando-se ainda em conta a natureza alimentar dos vencimentos. Deste modo, tem sido considerado que somente pode-se atingir o limite de 70% de descontos estipulados para o militar no caso dos 40% restantes forem para o pagamento de pensão alimentícia, educação, aluguel de casa ou aquisição de imóvel. Isto porque a Medida Provisória mencionada

2 deve ser interpretada em conjunto com o disposto no artigo 21 da Lei 1.046/1950, o qual dispõe que a soma das consignações não excederá de 30% (trinta por cento) do vencimento, remuneração, salário, provento, subsídio, pensão, montepio, meio-sôldo, e gratificação adicional por tempo de serviço. Contudo, em que pese o entendimento acima expendido, in casu, não se encontram presentes os requisitos legais para o deferimento da tutela antecipada. Isto porque já se passaram 02 (dois anos) desde o ajuizamento da ação, o que evidencia que a planilha elaborada pelo recorrente naquela época não reflete mais a realidade dos descontos, sendo certo que o prazo para o pagamento de todas as parcelas dos empréstimos impugnados, segundo o contracheque que também instruiu a exordial da ação proposta e que serviu de base para a confecção da planilha, já se expirou. Recurso a que se nega seguimento. D E C I S ÃO Trata-se de agravo de instrumento contra decisão proferida pelo Juízo de Direito da 44ª Vara Cível da Comarca da Capital-RJ, nos autos de ação de obrigação de fazer ajuizada pelo agravante e face dos agravados, que indeferiu o pedido de tutela antecipada para limitar em 30% a soma dos descontos que vêm sendo perpetrados pelos réus diretamente em seu contracheque por conta de empréstimos consignados contraídos, pois, no entendimento do Juízo a quo... se tratando de militar da Aeronáutica somente é vedado receber quantia inferior a trinta por cento da sua remuneração ou proventos. A irresignação recursal sustenta, em suma, que se encontram presentes os requisitos legais para o deferimento da tutela antecipada, tendo em vista que os réus estão efetivando descontos em seu contracheque para o pagamento de parcelas empréstimos contraídos, cuja soma das parcelas ultrapassa o limite de 30% de seus vencimentos líquidos, o que afronta os princípios da razoabilidade, proporcionalidade e dignidade da pessoa humana. É o relatório. Passo a decidir.

3 De fato, o entendimento jurisprudencial é no sentido de que, em casos como o dos autos em apreço, deve-se buscar a equidade, as ideias de solidariedade, bem como as teorias humanizadoras do direito, como solução para compensação do desequilíbrio contratual, decorrente de lesão, imprevisão, abuso de direito e enriquecimento sem causa, evitando-se assim que os fracos sejam espoliados pelos fortes, assim como assegurando os interesses sociais sobre os individuais. Assim, o entendimento jurisprudencial predominante é no sentido de que o somatório dos descontos efetivados nos contracheques de trabalhadores de um modo geral, aposentados, pensionistas e servidores públicos, para o pagamento de parcelas de dívidas, não pode ultrapassar o limite de 30%, sendo aplicado nessas hipóteses, analogicamente, as Leis nº /2003 (artigo 2º, 2º, inciso I), nº 8112/1990 (artigo 45) e Decreto 6386/08 (artigos 8º e 9º). Cabe ainda ressaltar que se aplicam in casu as disposições da legislação consumerista, a qual dispõe que é vedado ao fornecedor de produtos e serviços exigir do consumidor vantagem manifestamente excessiva", bem como que são nulas de pleno direito as cláusulas contratuais que estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé objetiva (CDC arts. 39, V, e 51, IV). Neste sentido, inclusive, corrobora com a decisão de antecipação de tutela o entendimento consolidado nos Enunciados 200 e 295 da Jurisprudência desta Corte, verbis: "A retenção de valores em conta corrente oriunda de empréstimo bancário ou de utilização de cartão de crédito não pode ultrapassar o percentual de 30% do salário do correntista." "Na hipótese de superendividamento decorrente de empréstimos obtidos de instituições financeiras diversas, a totalidade dos descontos incidentes em conta corrente não poderá ser superior a 30% do salário do devedor." In casu, o Juízo a quo indeferiu o pleito de tutela antecipada porque... se tratando de militar da Aeronáutica somente é vedado receber quantia inferior a trinta por cento da sua remuneração ou proventos, ou seja, a tutela antecipada foi indeferida porque, no caso do militar, pode ser comprometida até 70% da remuneração do mesmo, nos termos do que, a contrario sensu, dispõe o artigo 14, 1º, 2º e 3º, da citada Medida Provisória.

4 Contudo, a aplicação do percentual de comprometimento de até 70% da remuneração do militar, com base na referida Medida Provisória, vem sendo mitigado pela jurisprudência, tendo em vista a aplicação da regra mais favorável ao consumidor, prestigiando-se ainda os princípios da dignidade da pessoa humana, da reserva do mínimo existencial e da razoabilidade, levando-se ainda em conta a natureza alimentar dos vencimentos. Deste modo, tem sido considerado que somente pode-se atingir o limite de 70% de descontos estipulados para o militar no caso dos 40% restantes forem para o pagamento de pensão alimentícia, educação, aluguel de casa ou aquisição de imóvel. Isto porque a Medida Provisória mencionada deve ser interpretada em conjunto com o disposto no artigo 21 da Lei 1.046/1950, o qual dispõe que a soma das consignações não excederá de 30% (trinta por cento) do vencimento, remuneração, salário, provento, subsídio, pensão, montepio, meio-sôldo, e gratificação adicional por tempo de serviço. Neste sentido, a jurisprudência desta Corte, verbis: AGRAVO DE INSTRUMENTO. DECISÃO QUE INDEFERIU A ANTECIPAÇÃO DE TUTELA PLEITEADA PELO ORA AGRAVANTE, MILITAR DAS FORÇAS ARMADAS, PARA LIMITAÇÃO DOS DESCONTOS DOS CONTRATOS DE MÚTUO CELEBRADOS COM OS ORA AGRAVADOS A 30% DOS SEUS VENCIMENTOS. INCOMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL SUSCITADA DE OFÍCIO POR ESTE RELATOR, TRATANDO-SE DE MATÉRIA DE ORDEM PÚBLICA, COM DECLÍNIO DA COMPETÊNCIA PARA A JUSTIÇA FEDERAL, CONFORME ATUAL ENTENDIMENTO DO STJ SOBRE O TEMA. RELATOR QUE RESTOU VENCIDO NESTE PONTO. MEDIDA PROVISÓRIA Nº / NORMA QUE DIZ RESPEITO À TOTALIDADE DE DESCONTOS EFETUADOS A QUALQUER TÍTULO NA FOLHA DE PAGAMENTO DO MILITAR, NÃO CONFLITANDO COM A JURISPRUDÊNCIA DOMINANTE NESTE E. TJ/RJ QUE LIMITA A 30% DA REMUNERAÇÃO OS DESCONTOS REFERENTES A EMPRÉSTIMOS. APLICAÇÃO DA REGRA MAIS FAVORÁVEL AO CONSUMIDOR. PRESTÍGIO AOS PRINCÍPIOS DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA, DA RESERVA DO MÍNIMO EXISTÊNCIAL E DA RAZOABILIDADE TENDO EM VISTA A NATUREZA ALIMENTAR DOS VENCIMENTOS DO SERVIDOR. JURISPRUDÊNCIA PACÍFICA DESTA CORTE E DO STJ. MEDIDA QUE VISA EVITAR O SUPERENDIVIDAMENTO E GARANTIR A ORDEM

5 ECONÔMICA E SOCIAL, VALORES CONSTITUCIONALMENTE CONSAGRADOS. CONCESSÃO DA TUTELA ANTECIPADA PRETENDIDA PELO AGRAVANTE. Agravo de instrumento nº , DES. FERNANDO CERQUEIRA - Julgamento: 25/04/ DECIMA QUINTA CAMARA CIVEL). AGRAVO DE INSTRUMENTO. TUTELA ANTECIPADA. DESCONTO EM FOLHA DE PAGAMENTO. EMPRÉSTIMO CONSIGNADO. MILITAR DAS FORÇAS ARMADAS. REQUERIMENTO DE ANTECIPAÇÃO DE TUTELA, PARA LIMITAR EM 30% OS DESCONTOS NA FOLHA DE PAGAMENTO DO AUTOR. O LIMITE DE 70% DOS DESCONTOS, PREVISTO NO 3º DO ARTIGO 14 DA MEDIDA PROVISÓRIA N.º 2.215/10, DEVE SER INTERPRETADO EM CONJUNTO COM O DISPOSTO NO ARTIGO 21 DA LEI 1.046/50. OS DESCONTOS EFETUADOS PARA PAGAMENTOS DE EMPRÉSTIMOS DEVE SE LIMITAR A 30% DOS VENCIMENTOS DO MILITAR, SOMENTE PODENDO CHEGAR A 70%, SE OS 40% RESTANTES FOREM PARA PAGAMENTO DE PRESTAÇÃO ALIMENTÍCIA, EDUCAÇÃO, ALUGUEL DE CASA OU AQUISIÇÃO DE IMÓVEL. RECURSO QUE SE DÁ PROVIMENTO, NOS TERMOS DO ARTIGO 557, 1 A DO CPC. (Agravo de instrumento nº , DES. GUARACI DE CAMPOS VIANNA - Julgamento: 17/04/ DECIMA NONA CAMARA CIVEL). 1. Agravo de Instrumento. 2. Deferimento de antecipação de tutela, para limitar em 30% os descontos na folha de pagamento do autor, militar das forças armadas. 3. O limite de 70% dos descontos, previsto no 3º do Art. 14 da Medida Provisória N.º 2.215/01, deve ser interpretado em conjunto com o disposto no Artigo 21 da Lei n.º 1.046/ Os descontos efetuados para pagamentos de empréstimos devem obedecer ao limite de 30% dos vencimentos do militar, somente podendo chegar a 70% se os 40% restantes forem para pagamento de prestação alimentícia, educação, aluguel de casa ou aquisição de imóvel. 5. Incidência da Súmula n.º 59 deste Tribunal. 6. Recurso manifestamente improcedente, ao qual se nega seguimento, na forma do Art.557 do C.P.C. (Agravo de instrumento nº , DES. MARIO DOS SANTOS PAULO - Julgamento: 30/04/ QUARTA CAMARA CIVEL).

6 Contudo, em que pese o entendimento acima expendido, não se encontram presentes os requisitos legais para o deferimento da tutela antecipada. Isto porque já se passaram 02 (dois anos) desde o ajuizamento da ação, o que evidencia que a planilha elaborada pelo recorrente naquela época não reflete mais a realidade dos descontos, cabendo ressaltar que o prazo para o pagamento de todas as parcelas dos empréstimos impugnados, segundo o contracheque apresentado (fl. 14 do feito principal) e que serviu de base para a confecção da planilha, já se expirou. Diante do acima expendido, nego seguimento ao recurso, nos termos do disposto no artigo 557, caput, do Código de Processo Civil. Rio de Janeiro, 19 de fevereiro de CARLOS JOSÉ MARTINS GOMES Desembargador Relator