Poder Judiciário do Estado do Rio de Janeiro Décima Sexta Câmara Cível

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1 Poder Judiciário do Estado do Rio de Janeiro Décima Sexta Câmara Cível APELAÇÃO Nº / (F) APELANTE: AUGUSTO CÉZAR CAMPOS DA SILVA APELADO: ESTADO DO RIO DE JANEIRO RELATOR: DES. LINDOLPHO MORAIS MARINHO CIVIL, PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO POR SUPOSTO ERRO JUDICIÁRIO. ABSOLVIÇÃO EM SENTENÇA PENAL. PRETENSÃO REPARATÓRIA. AFASTAMENTO. AUSÊNCIA DE PROVA DE QUE TIVESSE O JUIZ AGIDO COM DOLO OU FRAUDE OU QUE TIVESSE SE OMITIDO NA ADOÇÃO DE MEDIDA. IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO. ACERTO DO JULGADO. Quando se envereda no campo da responsabilidade civil por ato judicial, causador em tese, de danos ao jurisdicionados, a responsabilização se dará com fundamento na Constituição da República, no seu artigo 5º, LXXV, assim redigido: O Estado indenizará o condenado por erro judiciário, assim como o que ficar preso além do tempo fixado na sentença. Reiterados precedentes jurisprudenciais têm firmado o entendimento de que o Estado só é responsável pelos erros ou pelas injustiças decorrentes de atos judiciais típicos, quando praticados de má-fé ou nas hipóteses expressamente previstas em lei, cuja prova deve ser produzida pela vítima do suposto erro (art. 333, I, do Código de Processo Civil). Como deixou registrado o julgador de primeiro grau (arquivo 387/394), não ficou caracterizado erro judiciário a ensejar reparação por danos morais. Isso porque, o Autor foi preso preventivamente, por decisão do Juízo da 28a Vara Criminal da Capital/RJ, nos autos do processo n , processado e absolvido em primeiro grau por não ter concorrido para a prática do delito imputado na denúncia (art. 386, IV CPP), de modo que todo o tramite judicial transcorreu nos termos e nos limites da lei penal e processual penal em vigor. Recurso não provido. Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº / , em que é apelante AUGUSTO CÉZAR CAMPOS DA SILVA e apelado ESTADO DO RIO DE JANEIRO.

2 Apelação nº / acórdão - fls. 2 A C O R D A M os Desembargadores que compõem a Décima Sexta Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, por unanimidade de votos, em negar provimento ao recurso, nos termos do voto do Relator. Rio de Janeiro, 5 de julho de DES. LINDOLPHO MORAIS MARINHO Relator

3 Apelação nº / acórdão - fls. 3 I RELATÓRIO O de fls. II VOTO A sentença deu ao litígio adequada composição. Com efeito. Regra geral, a marca distintiva da responsabilidade administrativa é a desnecessidade de o lesado pela conduta do Poder Público provar a existência da culpa do agente ou do serviço, bastando a identificação do fato administrativo, dano e nexo causal (art. 37, 6º, da Constituição da República). No entanto, quando se envereda no campo da responsabilidade civil por ato judicial, causador em tese, de danos ao jurisdicionados, a responsabilização se dará também com fundamento na Constituição da República, mas no seu artigo 5º, LXXV, assim redigido: O Estado indenizará o condenado por erro judiciário, assim como o que ficar preso além do tempo fixado na sentença. A responsabilidade do Estado, em casos tais, somente se desenhará quando presentes as hipóteses do art. 133 do Código de Processo Civil (atual artigo 143), ou seja, quando o Juiz, no exercício de suas funções, proceder com dolo ou fraude (I), ou recusar, omitir ou retardar, sem justo motivo, providência que deva ordenar de ofício, ou a requerimento da parte (II), adotando o diploma processual civil, neste último caso, a Teoria da Falta do Serviço (faute de service). Assim, à luz da mencionada teoria, apenas se responsabiliza o ente público quando a correlação entre o dano e a falha

4 Apelação nº / acórdão - fls. 4 no funcionamento do serviço é direta e imediata. Em síntese, torna-se imprescindível a comprovação de que o dano emanou da inação culposa do agente público que, podendo e devendo agir, violou a obrigação de impedir a consumação do resultado. Reiterados precedentes jurisprudenciais têm firmado o entendimento de que o Estado só é responsável pelos erros ou pelas injustiças decorrentes de atos judiciais típicos, quando praticados de máfé ou nas hipóteses expressamente previstas em lei, cuja prova deve ser produzida pela vítima do suposto erro (art. 373, I, do Código de Processo Civil). Confira: ATO JUDICIAL TÍPICO. RESPONSABILIDADE CIVIL SUBJETIVA DO ESTADO. NECESSÁRIA DEMONSTRAÇÃO DE DOLO OU FRAUDE. INOCORRÊNCIA. DANO MORAL NÃO CONFIGURADO. SENTENÇA MANTIDA. 1. [...] 3. Reiterados precedentes jurisprudenciais têm firmado o entendimento de que o Estado só é responsável pelos erros ou pelas injustiças decorrentes de atos judiciais típicos, quando praticados de má fé ou nas hipóteses expressamente previstas em lei. 4. A hipótese dos autos é de responsabilidade subjetiva. Necessária, portanto, a comprovação de dolo ou fraude por parte do magistrado, segundo determina o art. 133, I do CPC.5. Não provada a existência de dolo ou fraude, em decisão judicial, não há que se falar em obrigação de indenizar por parte do Estado.6. Desprovimento do recurso. Versão para impressão (TJ/RJ, APELAÇÃO - 1ª Ementa, DES. LETÍCIA SARDAS - Julgamento: 26/08/ VIGÉSIMA CÂMARA CÍVEL).

5 Apelação nº / acórdão - fls. 5 PRISÃO PREVENTIVA. ERRO JUDICIÁRIO. INEXISTÊNCIA. DEVER DE INDENIZAR. IMPROCEDENTE. 1. Contrariamente ao que ocorre no tocante aos atos administrativos, em que a responsabilidade civil do Estado é Objetiva, nos termos do art. 37, 6º, da CRFB, quando o ato reputado ilegal é ato judicial típico, a responsabilidade é subjetiva. 2- Não provada a existência de dolo ou fraude em decisão judicial, não há de se falar em obrigação de indenizar por parte do Estado. (TJ/RJ, ( ) - APELAÇÃO - 1ª Ementa, DES. MILTON FERNANDES DE SOUZA - Julgamento: 16/06/ QUINTA CÂMARA CÍVEL). Na hipótese vertente, conquanto o autor, ora apelante esteja tentado atribuir responsabilidade ao Estado do Rio de Janeiro pelos atos praticados durante a instrução processual penal, em especial a prisão preventiva contra si decretada, o fato é que não logrou o mesmo demonstrar tivesse o Juiz agido com dolo ou fraude ou então se omitido na adoção de uma providência, sendo certo que se reserva a obrigatoriedade reparatória apenas para os casos de condutas omissivas comprovadamente culposas. Como deixou registrado o julgador de primeiro grau (arquivo 387/394), não ficou caracterizado erro judiciário a ensejar reparação por danos morais. Isso porque, o Autor foi preso preventivamente, por decisão do Juízo da 28a Vara Criminal da Capital/RJ, nos autos do processo n , processado e absolvido em primeiro grau por não ter concorrido para a prática do delito imputado na denúncia (art. 386, IV CPP), de modo que

6 Apelação nº / acórdão - fls. 6 todo o tramite judicial transcorreu nos termos e nos limites da lei penal e processual penal em vigor. A prisão preventiva do autor, ora apelante, foi proferida com a observância de todo o devido processo legal, estando a mesma devidamente fundamentada, não se podendo concluir que o simples fato de ter sido o demandante absolvido quando da prolação da sentença, não pudesse ter sido mantido acautelado no curso das investigações. Em outros termos: o só fato de ter o autor respondido a processo criminal e de ter sido preso preventivamente não pode gerar responsabilidade ao Estado, sob pena de se inviabilizar a máquina judiciária. Evidente que se não restou estabelecida a responsabilidade civil do Estado, não há que se falar em pretensão reparatória, estando correta a sentença de improcedência do pedido. provido. Em vista destas considerações, o recurso não merece ser É como voto. Rio de Janeiro, 5 de julho de DES. LINDOLPHO MORAIS MARINHO Relator