TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo

Transcrição

1 Registro: ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº , da Comarca de, em que é apelante KARINA WANESSA FIDELIS DA SILVA, é apelado MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO. ACORDAM, em 16ª Câmara de Direito Criminal do Tribunal de Justiça de, proferir a seguinte decisão: "Nos termos do artigo 383 do Código de Processo Penal, deram parcial provimento ao recurso para desclassificar a imputação para o crime previsto no artigo 304, caput, c.c. artigo 301, 1º, na forma do artigo 71, todos do Código Penal e condenar KARINA WANESSA FIDELIS DA SILVA à pena de 03 meses e 15 dias de detenção, em regime aberto, substituída a pena corporal por uma restritiva de direitos, consistente em multa, equivalente a 10 dias-multa, no valor unitário mínimo. V.U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores LEME GARCIA (Presidente sem voto), NEWTON NEVES E OTÁVIO DE ALMEIDA TOLEDO., 11 de abril de OSNI PEREIRA RELATOR Assinatura Eletrônica

2 Apelação nº Apelante: Karina Wanessa Fidelis da Silva Apelado: Ministério Público do Estado de Comarca: Voto nº 4877 Apelação Art. 304, c.c. o art. 297, caput, ambos do CP - Falsificação e uso de atestado médico falso para justificar falta ao trabalho Atestado em nome de Hospital Municipal - Pleito de desclassificação para o art. 298 do CP Conduta específica prevista no art. 304, caput, c.c. 301, 1º, na forma do art. 71, do CP Tipo específico em que é irrelevante tratar-se de documento público ou particular Desclassificação operada nos termos do art. 383 do CPP Aplicação de pena mínima (03 meses de detenção), observados os mesmos critérios da r. sentença, acrescida de 1/6 em face da continuidade delitiva, substituindo-se a pena corporal por uma restritiva de direitos Recurso parcialmente provido. Ao relatório da sentença de fls. 149/151, acrescenta-se que KARINA WANESSA FIDELIS DA SILVA foi condenada como incursa no artigo 304, c.c. art. 297, na forma do artigo 71 (duas vezes), do Código Penal, às penas de 02 anos e 04 meses de reclusão, em regime aberto, e pagamento de 11 dias-multa, no piso legal, substituída a pena corporal por duas restritivas de direitos, consistentes em prestação de serviços à comunidade e pena pecuniária de 10 dias-multa, no piso legal. Apela a condenada. Pleiteia a desclassificação para o artigo 298 do Código Penal, aduzindo tratar-se de documento particular e não público. Em assim sendo, pede seja declarada a nulidade da r. sentença, porquanto a nova classificação jurídica possibilitaria o rito da Lei nº 9.099/95. Alternativamente, pede seja aplicada apenas uma pena pecuniária (fls. 161/169). Contrariado o recurso, manifestou-se a douta Apelação nº Voto nº

3 Procuradoria Geral de Justiça pelo desprovimento do apelo. É o relatório. Segundo a denúncia, nos dias 23/07/2010 e 28/07/2010, a ré fez uso de documentos falsos (dois atestados médicos) com o fim de prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante, porquanto se valeu de referidos atestados falsos para faltar ao trabalho. Ocorre que os responsáveis pela clínica onde a ré trabalhava (empresa Easy Implant ) desconfiados da origem dos atestados, diligenciaram junto ao Hospital Antonio Giglio, oportunidade em que constataram que a assinatura do médico mencionado nos atestados eram falsas, assim como seu carimbo. Procede em parte o reclamo. A materialidade do delito é certa, estando os atestados médicos falsos acostados aos autos (fls. 105/106), tendo a ré confessado ter comprado referidos atestados de terceira pessoa e que os apresentou em seu local de trabalho para justificar faltas e afastamentos. A confissão da ré veio corroborada pelas demais provas produzidas, tendo o médico, cujo nome consta de referidos atestados, negado tê-los emitido, acrescentando, ademais, que a grafia de seu nome estava errada. Ao contrário do afirmado pela Defesa, não é o caso de desclassificação para o artigo 298 do Código Penal, porquanto se trata de documento público, vez que os atestados médicos apresentados pela ré estão em nome do Hospital Municipal Antonio Giglio, de Osasco, configurando-se, pois, falsificação e uso de documento público falso. Apelação nº Voto nº

4 Apenas para registro, ainda que se cogitasse de desclassificação para o artigo 298 do Código Penal, não se haveria falar em anulação da r. sentença para aplicação do rito da Lei nº 9.099/95, aplicáveis a crimes de menor potencial ofensivo, cuja pena máxima prevista não seja superior a 02 anos, o que não seria o caso dos autos, vez que o delito do artigo 298 do Código Penal prevê pena máxima de 05 anos. Todavia, tendo a falsificação incidido sobre atestado médico, e não sobre documento público comum, a conduta está a incidir, in casu, em ilícito penal específico, que afasta a incidência do tipo geral. Cuida-se da conduta prevista no art. 301, 1, do Código Penal, crime que pode ser praticado por qualquer pessoa, diferentemente do tipo previsto no caput que, por abranger a falsidade ideológica, somente pode ser praticado pelo funcionário público em razão de seu ofício. Nesse sentido, desta Colenda Câmara: USO DE DOCUMENTO FALSO. Conduta específica capitulada como crime autônomo. Uso de atestado médico falso para justificar falta ao trabalho. Correção quanto à capitulação do fato. Conduta que remete às penas do art. 301, 1º, do CP. Recurso parcialmente provido para esse fim. (TJSP 16ª Câmara Criminal Apelação n Rel. Des. Newton Neves j. 05/04/2016). Falsificação de documento público. Recurso pleiteando a absolvição por insuficiência probatória. Impossibilidade. Materialidade e autoria comprovadas. Depoimento da testemunha de acusação. Suficiência para a procedência da ação penal. Uso de receituário Apelação nº Voto nº

5 médico falsificado. Conduta específica capitulada como crime autônomo. Art. 301, 1, do CP. Falsidade material de atestado. Crime comum quanto ao sujeito. Correção quanto à capitulação do fato. Apelo parcialmente provido para este fim. (TJSP 16ª Câmara Criminal - Apelação n , Rel. Des. Otávio de Almeida Toledo, j. 24/09/2013). De se anotar que o delito específico acima referido não faz distinção se o atestado médico falso é público ou particular. Assim, a ré incorreu no crime do artigo 304, caput, c.c. artigo 301, 1º, do Código Penal, haja vista ter feito uso de atestados médicos falsificados, com a finalidade de provar fato que a habilitaria a obter vantagem (ausência do trabalho). Portanto, nos termos do artigo 383 do Código de Processo Penal, de rigor a desclassificação da conduta da apelante para o delito previsto no artigo 304, caput, c.c. artigo 301, 1º, na forma do artigo 71, duas vezes, do Código Penal. Na aplicação das penas, levando em conta os critérios utilizados na r. sentença, a pena-base para cada delito é fixada no mínimo legal, em 03 meses de detenção. Ausentes agravantes e atenuantes, bem como causas de aumento ou diminuição, acresço 1/6 à pena em face da forma continuada, resultando a pena final em 03 meses e 15 dias de detenção. Fica mantido o regime inicial aberto. A pena corporal ora é substituída por uma pena restritiva de direitos, consistente no pagamento de multa equivalente a 10 dias-multa, no valor unitário mínimo, nos termos do artigo 44, 2º e 49, do Código Penal. Em face do exposto, nos termos do artigo 383 do Código de Processo Penal, dá-se parcial provimento ao recurso para Apelação nº Voto nº

6 desclassificar a imputação para o crime previsto no artigo 304, caput, c.c. artigo 301, 1º, na forma do artigo 71, todos do Código Penal e condenar KARINA WANESSA FIDELIS DA SILVA à pena de 03 meses e 15 dias de detenção, em regime aberto, substituída a pena corporal por uma restritiva de direitos, consistente em multa, equivalente a 10 dias-multa, no valor unitário mínimo. OSNI PEREIRA RELATOR Apelação nº Voto nº