TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo

Transcrição

1 ACÓRDÃO Registro: Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº , da Comarca de São Bernardo do Campo, em que é apelante LUCIANO DIAS DE OLIVEIRA (JUSTIÇA GRATUITA), é apelado PRISCILA MOREIRA. ACORDAM, em 2ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de, proferir a seguinte decisão: "Deram provimento em parte ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores JOSÉ CARLOS FERREIRA ALVES (Presidente) e JOSÉ JOAQUIM DOS SANTOS., 6 de março de MARCUS VINICIUS RIOS GONÇALVES RELATOR Assinatura Eletrônica

2 Apelação nº Apelante: Luciano Dias de Oliveira Apelado: Priscila Moreira Comarca: São Bernardo do Campo Voto nº 0717 AÇÃO DE REPARAÇÃO DE DANOS Dano moral Ofensas dirigidas ao autor pela ré, em rede social Alegação de que o autor não quitava o convênio médico do filho, o que o impedia de submeter-se aos exames médicos Comprovação de que o autor pagava a pensão alimentícia ao filho, no valor acordado, e que a ré o devolvia Utilização de expressão ofensiva Dano moral configurado Valor da indenização que deve trazer alguma compensação à vítima, sem constituir fonte de enriquecimento ilícito Recurso parcialmente provido. Trata-se de apelação contra a r. sentença de fls. 100/102, cujo relatório se adota, que julgou improcedentes os pedidos, condenando o autor ao pagamento das custas e despesas do processo, bem como honorários advocatícios de R$ 800,00, observada a gratuidade da justiça. O autor ajuizou a ação alegando que manteve um relacionamento amoroso com a ré, do qual resultou o nascimento de um filho, em Depois da separação do casal, ficou acordado, em ação de alimentos, que ele pagaria ao filho pensão mensal de meio salário mínimo. Em cumprimento ao determinado, ele passou a depositar em conta da ré a importância de R$ 311,00, tal como acordado. No entanto, ela devolvia o valor depositado, lançando-o em outra conta corrente do autor, que ele não utilizava com frequência. Posteriormente, ele publicou em rede social, que o autor havia deixado de pagar o convênio médico da criança, impedindoa de realizar os exames necessários para uma eventual cirurgia, e que ele não era um pai, mas um satanás. A postagem gerou inúmeros comentários, e trouxe dano moral para o autor, que passou publicamente por descumpridor de suas obrigações Apelação nº Voto nº

3 para com o filho, o que lhe prejudicou a imagem. Diante disso, requereu o autor a exclusão do comentário, e a condenação da ré ao pagamento de indenização por dano moral. Irresignado com a sentença de improcedência, o autor apelou (fls. 107/119), reiterando os termos da inicial, e acrescentando que embora a ré tivesse o direito de desabafar, não tinha o de o ofender, depois de ter devolvido os valores por ele pagos, em cumprimento da obrigação fixada por sentença, o que prejudicou sua honra e imagem sua honra e imagem. O recurso foi recebido e processado, tendo a autora apresentado contrarrazões (fls. 124/128). É o relatório. A sentença foi proferida na vigência do CPC/1973, devendo observar-se no processamento do recurso, as regras atinentes à legislação então vigente, conforme os enunciados 02 e 07 do Superior Tribunal de Justiça, e de acordo com o que foi decidido no Recurso Especial no SP, Rel. Min. Luiz Felipe Salomão. Ficou comprovado, por documentos, que o autor vinha fazendo o pagamento da pensão alimentícia devida ao filho, conforme acordada na ação de alimentos. A ré não nega o fato, nem a devolução desses valores. Alega que os devolvia, porque havia um contrato verbal, pelo qual o autor havia assumido a responsabilidade pelo pagamento do convênio médico da criança. No entanto, o valor da mensalidade do convênio é de R$ 75,37 (fls. 61), e a ré não devolvia apenas esse valor, mas a integralidade dos depósitos feitos pelo autor, prejudicando, com isso, os interesses da criança, beneficiária dos valores. Ainda que tivesse mesmo ocorrido o acordo verbal mencionado pela ré, para que o autor pagasse o convênio Apelação nº Voto nº

4 o que não está demonstrado, já que o autor continuou pagando integralmente a pensão bastaria que ela restituísse apenas o valor da mensalidade, e não a integralidade do valor recebido, comunicando-o para que ele fizesse o pagamento do convênio. Mas a ré restituiu todo o valor recebido, e fez a publicação ofensiva na rede social, como se o autor não cumprisse a obrigação que havia assumido judicialmente. A publicação é ofensiva, pois atribuiu ao autor a qualidade de pai descumpridor de suas obrigações, capaz de deixar o filho privado da possibilidade de realizar exames médicos necessários à sua saúde. A publicação ainda acrescenta que tal conduta mostra que o autor não é pai, mas um Satanás. Ainda que se possa qualificar como desabafo a publicação, ela foi feita em rede social, com ampla divulgação, bastando examinar-se a reação que provocou nos que acrescentaram seus comentários, todos reputando o autor um pai irresponsável e sem valor (fls. 35 e s.). Em síntese, o autor cumpriu o que foi acordado em juízo. A ré restituiu integralmente o valor recebido em nome da criança, e atacou o autor, como se ele não o tivesse feito. É o que basta para mostrar que ficou caracterizado o dano moral. Porém, o valor postulado na inicial, de 20 salários mínimos, afigura-se excessivo, uma vez que a indenização não pode constituir fonte de enriquecimento sem causa. É preciso ainda levar em consideração as circunstâncias em que o dano ocorreu, e o comportamento das partes. A ré, logo que soube da propositura da ação, retirou voluntariamente a publicação, reconhecendo o erro e atribuindo-o a um desabafo. Embora isso não afaste o dano moral, deve ser considerado para a fixação da indenização, que deve também levar em conta as condições econômicas de ambas as partes. O valor deve ser fixado com razoabilidade. Assim, fixo o valor da indenização em R$ 7.000,00, valor que trará alguma compensação à vítima, sem constituir fonte de enriquecimento sem causa. O valor deve ser corrigido desde a publicação da sentença (Súmula 362 do C. STJ), e acrescido de juros de mora de 1% Apelação nº Voto nº

5 ao mês desde a publicação ofensiva. Isto posto, DÁ-SE PARCIAL PROVIMENTO ao recurso, nos termos da fundamentação acima. MARCUS VINICIUS RIOS GONÇALVES Relator Apelação nº Voto nº