AVALIAÇÃO MICROBIOLÓGICA DE HORTALIÇAS COMERCIALIZADAS EM FEIRA ORGÂNICA SITUADA NO AGRESTE PARAIBANO

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1 AVALIAÇÃO MICROBIOLÓGICA DE HORTALIÇAS COMERCIALIZADAS EM FEIRA ORGÂNICA SITUADA NO AGRESTE PARAIBANO Z. Maia Neta 1, M.S. Moraes 1, R.S. Silva 1, M.G.C. Santos 1, R. C. Araújo 2 1- Programa de Pós-Graduação em Tecnologia Agroalimentar Universidade Federal da Paraíba CEP: Bananeiras PB Brasil, Telefone: (88) (zeliamaia.alimentos@outlook.com); (suiane-2009@hotmail.com); (regivania.saraiva@gmail.br) (gracaclementino@hotmail.com); 2- Departamento de Agricultura - Universidade Federal da Paraíba CEP: Bananeiras PB Brasil, (arinuar@hotmail.com) RESUMO As hortaliças de cultivo orgânico vêm ganhando espaço nos hábitos alimentares da população em nível mundial, principalmente por não conterem substâncias tóxicas, utilizadas durante o processo de produção e por fornecerem nutrientes essenciais à saúde dos consumidores. Assim, objetivou-se com a presente pesquisa determinar a qualidade microbiológica de hortaliças provenientes de uma feira livre orgânica do Agreste paraibano. Foi avaliada a qualidade microbiológica de amostras de couve folha, alface, pimentão, cenoura e chuchu por meio da pesquisa de coliformes a 45 ºC e Salmonella sp., análises exigidas pela legislação. Os resultados evidenciam que todas as hortaliças pesquisadas se encontravam com índices de contaminação microbiológica superiores aos recomendados pela RDC nº 12 da Anvisa, demonstrando que houve falhas nas condições higiênico-sanitárias no processo de produção e/ou comercialização, colocando a saúde do consumidor em risco. ABSTRACT The organic cultivation of vegetables are gaining space in the eating habits of the population worldwide, mainly because they contain toxic substances used during the production process and provide essential nutrients to the health of consumers. Thus, the aim of the present research is to determine the microbiological quality of vegetables from a organic free fair in Agreste Paraibano. The microbiological quality of cabbage leaf, lettuce, peppers, carrots and chayote samples was evaluated through coliforms research at 45 C and Salmonella sp., which are tests required by law. The results showed that all studied vegetables were with microbiological contamination levels above those recommended by RDC No. 12 of Anvisa, showing that there were shortcomings in sanitary conditions in the production process and / or marketing, putting the consumer's health at risk. PALAVRAS-CHAVE: contaminação microbiana; agroecologia; nutrientes essenciais; adubação orgânica. KEYWORDS: microbial contamination; agroecology; essential nutrients; organic fertilizer. 1. INTRODUÇÃO

2 Nos últimos anos, o consumo de alimentos orgânicos cresceu em torno de 20%, impulsionado principalmente, pelos apelos de maior valor nutricional, menor teor de contaminantes e pela busca por hábitos de vida mais saudáveis procurados pela população (Scialabba, 2005; Fao, 2011). Um dos alimentos de maior relevância e de maior consumo atrelados aos alimentos orgânicos são as hortaliças, as quais vêm sendo difundidas cada vez mais na mesa dos consumidores. As hortaliças são de grande importância para a dieta da população. São ricas em vitaminas e sais minerais, considerados nutrientes essenciais para o bom funcionamento do organismo humano, auxiliando na prevenção de doenças (Barbosa, 2014). Dentre as hortaliças consumidas pela população, destacam-se as folhosas, alface (Lactuca sativa L.) e couve folha (Brassica oleracea). De acordo com Fernandes et al., (2002), a alface apresenta baixo valor calórico e é utilizada em diversas dietas. Segundo Santana et al., (2006), seu cultivo vem sendo praticado na forma tradicional, hidropônica e orgânica, condições que influenciam a qualidade dessa hortaliça. A couve é uma hortaliça arbustiva anual, que produz folhas que podem ser consumidas tanto cruas, em salada, como cozidas (Barbosa, 2014). Outras hortaliças, além das folhosas, apresentam-se de forma expressiva no mercado mundial, tais como a cenoura (Daucus carota), o chuchu (Sechium edule Swartz.) e o pimentão (Capsicum annumm Mill.). A cenoura é um alimento de boa qualidade apresentando teores consideráveis de vitaminas A (1.100 μg 100 g -1 ), B1 e B2 (60 e 50 μg 100 g -1, respectivamente) e sais minerais, com ênfase para potássio, cálcio e fósforo (Luengo et al., 2000), o que tem estimulado uma grande aceitação na dieta dos consumidores. O chuchu é fonte de vitaminas, sais minerais e aminoácidos livres, de bom valor energético e excelente qualidade de fibras, é recomendado particularmente para pessoas que estão sob dietas e que precisam de um alimento de boa digestão (Embrapa, 1994). O pimentão está entre as dez hortaliças mais importantes cultivadas no Brasil (Blat- Marchizeli et al., 2003), possuindo elevado teor de vitamina C, além da vitamina A, B1 e B2, 10% de proteínas e minerais como Ca, Fe e P e possui baixo teor calórico (Filgueira, 2003). Todos os alimentos devem ser produzidos adotando-se práticas que garantam aos consumidores produtos seguros para o seu consumo. Essa questão deve seguir tanto para o sistema orgânico, como para o convencional. Porém, algumas questões têm surgido a respeito da probabilidade de um aumento do risco de contaminação microbiológica e parasitária nos alimentos produzidos no sistema orgânico, principalmente devido ao tipo de adubação, onde se utilizam estercos provenientes de animais (Arbos et al., 2010), considerado fonte de patógenos, oferecendo riscos à saúde daqueles que os consomem (Maffei, 2012). Alimentos contaminados por patógenos podem provocar diarreias, anemias, obstrução intestinal, hemorragias e morte. Após a colheita, as hortaliças podem ser contaminadas por manuseio, por equipamentos e utensílios, por instalações com condições higiênico sanitárias inadequadas, pela água durante sua lavagem e pelo meio de transporte (Pilon, 2007; Cenci, 2011;). É de grande importância que as hortaliças consumidas sejam de procedência confiável; a fim de evitar danos à saúde, vê-se também a necessidade de se fazer uma boa higienização dos mesmos, antes do consumo, para reduzir a carga microbiana, visto que hortaliças são consumidas geralmente in natura. Diante do exposto, objetivou-se com a presente pesquisa, avaliar a qualidade microbiológica de hortaliças (couve folha, cenoura, alface, pimentão e chuchu) comercializadas em uma feira orgânica do Agreste paraibano. 2. MATERIAL E MÉTODOS

3 As hortaliças couve folha, alface, pimentão, cenoura e chuchu foram coletadas em uma feira livre agroecológica localizada em um município do agreste paraibano, no período da manhã. As mesmas foram acondicionadas em sacolas plásticas e em seguida, transportadas para o Laboratório de Fisiologia Pós-Colheita, do Centro de Ciências Humanas, Sociais e Agrárias (CCHSA) da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), campus III. No Laboratório foi realizada uma seleção das hortaliças quanto à coloração das folhas e danos mecânicos. Em seguida, as hortaliças foram submetidos à sanitização com cloro a 200 ppm/10 minutos e secas ao ar livre. Para as hortaliças consumidas in natura, os parâmetros exigidos pela legislação RDC nº 12 de 2001 (Brasil, 2001) para o controle da qualidade microbiológica são: coliformes a 45 ºC e Salmonella sp/25 g. As análises seguiram as normas descritas pela APHA (2001), realizadas em triplicata. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO As contaminações das hortaliças podem ser oriundas principalmente da utilização de águas contaminadas para a irrigação, bem como a utilização do solo contaminado devido à utilização de adubos orgânicos provenientes dos dejetos de animais que não passaram pelo processo de compostagem. A legislação brasileira por meio da RDC nº 12, de 2 de janeiro de 2001, estabelece limites microbiológicos para coliformes a 45 ºC de até 1x10 2 NMP.g -1 e ausência de Salmonella sp. em hortaliças in natura (Brasil, 2001). Para as variáveis coliformes a 45 ºC e Salmonella sp., expostos na Tabela 1, os resultados obtidos estão em desacordo com os padrões estabelecido pela legislação brasileira, demonstrando que as amostras analisadas não estão aptas para o consumo humano. A presença destes micro-organismos significa que não houve uma boa manipulação dos mesmos, podendo ter sido contaminado durante a sua produção e/ou após colhidos, por meio de manuseio inadequado. Tabela 1 Resultados obtidos das análises microbiológicas das hortaliças comercializadas em uma feira livre orgânica no Agreste paraibano. Variáveis Hortaliças Coliformes a 45 ºC NMP.g -1 * Salmonella sp. Alface Cenoura Couve Chuchu Pimentão Padrão permitido (Brasil, 2001) 1,0x10 2 Ausente em 25 g *NMP/mL (Número Mais Provável por gramas). Arbos et al., (2010), avaliando a qualidade de cenoura e da alface orgânica observaram a presença de 24% e 40% para coliformes a 45 ºC e 25% e 20% para Salmonela sp. respectivamente. Santana et al., (2006), avaliando a qualidade de alfaces orgânicas comercializadas nos principais supermercados da cidade de Salvador - BA, observaram que 100% das amostras analisadas estavam contaminadas com coliformes a 45 ºC, contaminação provinda da produção ou manejo inadequado das hortaliças. Barbosa et al., (2013), analisando a alface (Lactuca sativa Var. crespa) de diferentes pontos

4 de comércio da cidade de João Pessoa-PB, observaram que as amostras estavam contaminadas por coliformes a 45 ºC. Teixeira et al., (2013), avaliaram a qualidade de alfaces comercializadas na cidade de Juazeiro do Norte CE e observaram que não houve a presença de Salmonella sp. em nenhuma das amostras analisadas, diferindo dos resultados obtidos nesta pesquisa, que obteve 100% de contaminação por Salmonela sp.. Estudando a qualidade pós-colheita de pimentões produzidos em sistema orgânico, Leme (2012), obteve resultados satisfatórios, não constatando a presença de Salmonella sp. em nenhuma das amostras analisadas e a contagem de coliformes a 45 ºC manteve-se abaixo do limite máximo permitido pela legislação vigente, estando aptos para o consumo humano. Estudando a avaliação microbiológica de frutas e hortaliças frescas, servidas em restaurantes self-service, Palú et al., (2002), observaram que 80% das amostras de hortaliças analisadas encontravam-se fora dos padrões microbiológicos. Resultados para outros tipos de hortaliças pesquisados não foram encontrados na literatura. 4. CONCLUSÕES Todas as hortaliças apresentaram índices elevados de micro-organismos patogênicos, demonstrando que houve falhas no processo de produção e/ou comercialização nas condições higiênico-sanitárias, colocando a saúde do consumidor em risco. Faz-se necessário um trabalho de orientação e conscientização dos feirantes sobre os riscos dessas contaminações e as práticas que devem ser adotadas para minimizá-las. 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS American Public Health Association (APHA). (2001). Compendium of the methods for the microbiological examination of foods. (4.th.). Washington. Arbos, K. A., Freitas, R. J. S., Stertz, S. C., Carvalho, L.A. (2010). Segurança alimentar de hortaliças orgânicas: aspectos sanitários e nutricionais. Revista Ciência e Tecnologia de Alimentos, 30 (1), Barbosa, R. P., Brito, H. C., Lemos, E. M. A., Vasconcelos, O. O., Alves, G. S. (2013). Análise microbiológica de alface (Lactuca sativa Var. crispa) de diferentes pontos de comércio da cidade de João Pessoa-PB. Revista verde de agroecologia e desenvolvimento sustentável, 8 (3), Barbosa, T. A. (2014). Avaliação da qualidade microbiológica de couves minimamente processada comercializada nos supermercados de Brasília. (Monografia). Universidade de Brasília, Ceilândia. Blat-Marchizeli, S. F. B., Yañez, L. D. T., Costa, C. P. P. (2003). Pimentão: Deu oídio. Revista Cultivar Hortaliças e Frutas, 21 (4), Brasil, Ministério da Saúde Resolução RDC nº 12, de 02 de janeiro de Regulamento Técnico sobre padrões microbiológicos para alimentos. Diário Oficial da União.

5 Cenci, S. A. (2011). Processamento mínimo de frutas e hortaliças: tecnologia, qualidade e sistemas de embalagem. Seattle: Embrapa. Disponível em Embrapa - Serviço de produção de informação. (1994). A cultura do chuchu. Seattle: Embrapa. Disponível em Embrapa. (1994). A cultura do chuchu. Coleção plantar chuchu. Brasília DF. Food and Agriculture Organization of the united nations - FAO. (2011). Roma. Seattle: FAO. Disponível em htpp:// Fernandes, A. A., Martinez, H. E. P., Pereira, P. R. G., Fonseca, M. C. M. (2002). Produtividade, acúmulo de nitrato e estado nutricional de cultivares de alface, em hidropônia, em função de fontes de nutrientes. Revista Horticultura Brasileira, 20 (2), Filgueira, F. A. R. (2003). Solanáceas: agrotecnologia moderna na produção de tomate, batata, pimentão, pimenta, berinjela e jiló. Viçosa-MG: UFV. Freitas, A. A., Kwiatkowski, A., Nunes, S. C., Simonelli, S. M, Sangioni, L. A. (2004). Avaliação parasitológica de alfaces (Lactuca sativa) comercializadas em feiras livres e supermercados do município de Campo Mourão, Estado do Paraná. Revista Acta Scientiarum. Biological Sciences, 26 (4), Leme, S. C. (2012). Qualidade pós-colheita de pimentões produzidos em sistema orgânico. (Tese de Doutorado). Universidade Federal de Lavras, Lavras- MG. Luengo, R. F. A., Parmagnani, R. M., Parente, M. R., Lima, M. F. B. (2000). Tabela de composição nutricional das hortaliças. Seattle: Embrapa Hortaliças. Disponível em Maffei, D. F. (2012). Qualidade higiênico-sanitária de hortaliças produzidas pelos sistemas de cultivo orgânico e convencional, comercializadas na cidade de Araraquara-SP. (Dissertação de Mestrado). Universidade Estadual Paulista, Araraquara. Palú, A. P., Tibana, A., Teixeira, L. M., Miguel, M. A. L., Pyrrho, A. S., Lopes, H. R. (2002). Avaliação microbiológica de frutas e hortaliças frescas, servidas em restaurantes sef-service privados, da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Revista Higiene Alimentar, 16 (100), Pilon, L. (2007). Manual de Processamento Mínimo de Frutas e Hortaliças. Seattle: Embrapa. Disponível em Santana, L. R. R., Carvalho, R. D. S., Leite, C. C., Alcântara, L. M., Oliveira, T. W. S., Rodrigues, B. M. (2006). Qualidade física, microbiológica e parasitológica de alfaces (Lactuca sativa) de diferentes sistemas de cultivo. Revista Ciência e Tecnologia de Alimentos, 26 (2), Scialabba, N. E. (2005). Global Trends in Organic Agriculture Markets and Countries Demand for FAO Assistance. Seattle: Institute for Food and Agricultural Standards, Michigan State University. Disponível em

6 Teixeira, L. E. B., Santos, J. E. F., Moreira, I. S., Sousa, F. C. Nunes, J. S. (2013). Qualidade microbiológica de frutas e hortaliças comercializadas na cidade de Juazeiro do Norte CE. Revista verde de agroecologia e desenvolvimento sustentável, 8 (3),