PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA. DIREITO DE AÇÃO. PRESTAÇÃO DA TUTELA JURISDICIONAL

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1 EDIÇÃO DE 28 A 30 DE ABRIL DE 2009 EDIÇÃO ESPECIAL DE PRESCRIÇÃO, DECADÊNCIA E PRECLUSÃO. Nesta edição do INFORMATIVO RKL é abordada importante matéria de direito: PRESCRIÇÃO, DECADÊNCIA E PRECLUSÃO.Temas importantes do cotidiano forense, que passamos aos nossos leitores pelas orientações do Dr. Rénan Kfuri Lopes.Faça o download, arquive e leia depois com calma.vale a pena conferir! "Tem gente que não é pobre por gosto, mas porque nasceu sem fins lucrativos" (R.Manso Neto). PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA. DIREITO DE AÇÃO. PRESTAÇÃO DA TUTELA JURISDICIONAL Tendo em vista que o direito de ação é o direito de ver assegurada a prestação da tutela jurisdicional pelo Estado, este direito se torna efetivo no momento da satisfação de uma pretensão posta em juízo pelo autor e é também, neste momento, que o processo cumpre com a prestação da jurisdição proporcionando a pacificação social. Entretanto, este direito de ação, autônomo e abstrato, não assegura o direito material controvertido, mas sim o poder de invocar a prestação jurisdicional do Estado. Todo processo tem seu objeto, que é a pretensão trazida pelo demandante ao juiz, em busca de satisfação. Essa pretensão, caracterizada como expressão de uma aspiração ou desejo e acompanhada do pedido de um ato jurisdicional que a satisfaça, constituirá o alvo central das atividades de todos os sujeitos processuais e, particularmente, do provimento que o juiz emitirá ao fim. É em relação a ela que a jurisdição se exerce e a tutela jurisdicional deve ser outorgada àquele que tiver razão. PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA. SEGURANÇA JURÍDICA A idéia de segurança jurídica e previsibilidade das regras que regulam as relações entre os cidadãos é uma aspiração do Direito, principalmente quando se constata o fato de que o decurso do tempo, apesar de constituir um evento natural, tem efeitos sobre as relações jurídicas, no que tange à sua continuidade ou dissolução. Já Caio Mário da Silva Pereira dizia que o tempo domina o homem na vida biológica, na vida privada, na vida social e nas relações civis. Atua nos seus direitos (Instituições de Direito Civil, v. 1, Página 1 de 8

2 19ª ed., Rio de Janeiro: Forense, 1998, p. 432). PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA. NATUREZA MATERIAL A prescrição e a decadência são institutos jurídicos que têm por finalidade dar segurança às relações jurídicas, impedindo que a incerteza sobre a existência dos direitos gere intranqüilidade na sociedade e nos indivíduos. O elemento comum a ambos os institutos, além do bem da segurança jurídica, é o tempo, cujo transcurso sepulta direitos e pretensões, ainda que justas, mas não veiculadas oportunamente. A prescrição e decadência são institutos de direito material. PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA. DISTINÇÃO CLÁSSICA A prescrição apresenta-se como uma exceção disponibilizada ao devedor, por meio da qual o decurso do prazo e a oportuna alegação serve para obstaculizar a pretensão. É uma forma de defesa eficaz escudada pelo tempo. Na decadência ocorre a extinção de um direito potestativo, que não mais poderá ser exercido, pelo fato de não ter sido reivindicado pela vontade do próprio titular durante o tempo determinado em lei ou convenção. Resulta na extinção do direito material e, por consequência imediata, da própria pretensão e da ação de direito material. Os principais pontos que distinguem a decadência da prescrição podem ser alinhavados nestes termos: (a) o direito caduca e a pretensão prescreve; (b) a decadência supõe um direito em potência, a prescrição requer um direito já exercido pelo titular, mas que tenha sofrido uma obstaculização, dando origem à violação daquele; (c) pelo Código Consumerista admite-se a suspensão e interrupção dos prazos apenas para a prescrição, negando-as à decadência. PRECLUSÃO. CONCEITO. NATUREZA PROCESSUAL É a inércia na prática de ato no curso do processo, tendo em vista que, sendo o processo movimento para frente (pro - para a frente; cedere - ir), não se admite voltar a discutir questões cujo momento apropriado para serem discutidas já passou. A preclusão é instituto de direito processual. "Como não existe nada mais precioso que o tempo, também não existe maior generosidade que o perdermos ajudando aos outros" (Marcel Jouhandeau). PRESCRIÇÃO. O TEMPO NO DIREITO. FINALIDADE O titular do direito lesionado possui em mãos a faculdade de movimentar a máquina judiciária a fim de Página 2 de 8

3 recompor seus interesses. Contudo, a situação de tutela de pretensão não se perpetua no tempo, mas com ele se degenera, ou seja, existe prazo para seu exercício sob pena de incidir a prescrição, que surge como instituto cujo propósito é o de consolidar as relações interpessoais de cunho jurídico. O fenômeno prescritivo ocorre quando há perda da exigência da pretensão. Ou noutros termos, o que se perde com a prescrição é o direito subjetivo de deduzir a pretensão em juízo, uma vez que a prescrição atinge a ação e não o direito. Em miúdos, a finalidade do instituto da prescrição prevenir litígios, evitar que os litígios se prolonguem indefinidamente e restabelecer entre as partes desentendidas a harmonia que jamais deveria deixar de existir. PRESCRIÇÃO. MATÉRIA DE DEFESA A prescrição ataca a pretensão que o titular do direito material possui de socorrer-se no judiciário ao buscar a tutela necessária à realização de seu direito material. Assim, mesmo que exista em tese o direito, desaparece para seu titular a possibilidade de alcançar a chancela do Estado-juiz necessária a compelir o sujeito passivo ao adimplemento da obrigação, encerrando o brocardo dormientibus non sucurit jus. PRESCRIÇÃO. EFEITO PRÁTICO A prescrição é uma forma legal que objetiva evitar relações jurídicas perpétuas, que podem obrigar, sem limitação temporal, outros sujeitos, à mercê do titular. O exercício de um direito não pode ficar pendente indefinidamente, mas sim efetivado dentro de determinado prazo e, uma vez isto não ocorrendo, perderá o titular a prerrogativa de fazer valer seus direitos. PRESCRIÇÃO. ORDEM PÚBLICA. REQUISITOS BÁSICOS Ao se falar sobre prescrição, por ser matéria de ordem pública, indispensável ter conhecimento 03 (três) requisitos básicos: (a) a renúncia da prescrição só pode ser efetuada após decorrido todo seu prazo e se não houver prejuízo de terceiros; (b) as prescrições eventualmente imprescritíveis devem ser declaradas por lei; (c) seus prazos são peremptórios. PRESCRIÇÃO. REQUISITOS SECUNDÁRIOS Requisitos seqüentes da prescrição, também inarredáveis de incidência residem nos seguintes aspectos: (a) a violação de um direito subjetivo; (b) o surgimento da pretensão do titular do direito agredido - a ser exercida por uma ação adequada; (c) o escoamento do prazo prescricional sem causa suspensiva, interruptiva ou impeditiva de seu curso; e, a inércia no curso temporal do titular da ação. Página 3 de 8

4 PRESCRIÇÃO EXTINTIVA A prescrição extintiva ou liberatória tem por objeto as ações, estendendo-se, por isso, a sua aplicação a todos os departamentos do direito civil e comercial; tem como condições elementares, a inércia e o tempo; e é seu efeito extinguir as ações. É aquela que fulmina o direito, pelo não exercício tempestivo da ação que o assegurava, quando violado. PRESCRIÇÃO AQUISITIVA Há, de certo modo, uma particularidade invertida nos efeitos do instituto da prescrição quando se trata de usucapião. Aqui a prescrição tem natureza ativa, pois emerge o direito de aquisição pela inércia no tempo, gerando daí um direito real. A prescrição aquisitiva, ou usucapião (CC, arts a 1.243), tem por objeto a propriedade, circunscrevendo-se ao direito das coisas, na esfera restritamente civil, sem projeção ao comercial; tem como condições elementares, a posse e o tempo, acompanhadas de justo título e boa-fé, quando ordinária e é seu efeito a aquisição do domínio. PRESCRIÇÃO AQUISITIVA. PRAZOS Quanto à prescrição aquisitiva via usucapião, considerando a posse ininterrupta e sem oposição: 15 anos, ausência de justo título e boa-fé (CC, art ); 10 anos, existência de justo título e boa-fé (CC, art ); 05 anos, existência de justo título e boa-fé, com aquisição onerosa do imóvel, em que o registro foi posteriormente cancelado (CC, art , parágrafo único); 5 anos, imóvel rural de até 50 hectares com produtividade, mas sem justo título ou boa fé (CC, art ); 5 anos, imóvel urbano de até 250 m2 para moradia, quando não disponha de outro imóvel, sem justo título ou boa-fé (CC, art ). "Quando uma alegria lhe inundar não prometa nada a ninguém e nos momentos de tristeza, não responda s" (Cristiano Coutinho). PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA. PRAZOS Os prazos prescricionais se bifurcam em ramos: ordinários (prazos gerais estabelecidos nos arts. 189, 205 (prazo de 10 anos nos demais casos em que a lei não estabelece prazo menor) e 206 do Código Civil (especiais com prazos estabelecidos casuisticamente). Existem ainda as ações imprescritíveis, aquelas que, por natureza, não se submetem a prazos para serem propostas ou exercidas, denominam-se ações imprescritíveis. Os demais prazos estabelecidos no Código Civil têm natureza decadencial, inclusive o do artigo que trata do direito potestativo de contestar paternidade. Página 4 de 8

5 PRESCRIÇÃO. DECRETAÇÃO DE OFÍCIO Com a revogação do art. 194 do CC e alteração do 5º do art. 219 do CPC pela Lei nº /06, permitiu-se a decretação da prescrição de ofício pelo juiz. PRESCRIÇÃO. EFEITO NO PLANO EXTRAJUDICIAL A prescrição gera efeito extrajudicial no direito patrimonial nas ações relativas à cobrança de direitos ou de prestação pessoal ou real. PRESCRIÇÃO. SUSPENSÃO DO PRAZO Os prazos prescricionais podem ser suspensos. Nesse caso, a prescrição não corre ou, se iniciada, volta a fluir pelo período restante, quando afastada a causa que o suspendia. São causas de suspensão da prescrição elencados pelo Código Civil: art. 197, I- Permanência do casamento em relação aos cônjuges; art. 197, II- Permanência do pátrio poder em relação aos filhos; art. 197, III- Permanência da tutela ou curatela em relação aos tutelados e curatelados; art. 198, I-Incapacidade; art. 198, II- Ausência em serviço público no exterior; art. 198, III- Serviço às Forças Armadas em tempo de guerra; art. 199, I -Pendência de condição suspensiva; art. 199, II- Não vencimento do prazo; art. 199, III- Pendência de ação de evicção; art Inexistência de Sentença Criminal definitiva. PRESCRIÇÃO. INTERRUPÇÃO DO PRAZO Na interrupção o prazo prescricional recomeça a correr, pelo seu prazo integral, uma vez superada a circunstância que a interrompeu anteriormente. São causas de interrupção da prescrição relacionadas no Código Civil: art. 202, I- Despacho do juiz ordenando a citação para responder a ação; art.202, II- Protesto judicial; art.202, III- Protesto cambial; art.202, IV- Apresentação do Título de Crédito perante juízo falimentar ou inventariante; art.202, V- Qualquer ato judicial que constitua em mora o devedor; art.202, VI- Qualquer ato que importe reconhecimento do direito pelo devedor. DECADÊNCIA. SUSPENSÃO E INTERRUPÇÃO Na decadência não há dispositivos no Código Civil prevendo sua suspensão ou interrupção. Expressa exceção a essa regra geral de que os prazos decadenciais não sofrem qualquer tipo de paralisação, encontra-se no artigo 26, 2º, do Código de Defesa do Consumidor (Lei nº 8.078/90), segundo o qual a reclamação comprovadamente formulada pelo consumidor perante o fornecedor de produtos e serviços até a resposta negativa correspondente, bem como a instauração de inquérito civil, até o seu Página 5 de 8

6 encerramento, obstam a decadência. Merece ainda destaque a questão da não-fluição do prazo decadencial contra incapazes, a qual, devido à concessão feita no artigo 207 do Código Civil, se apresenta como primeira exceção legal à interrupção do prazo decadencial. O intuito da referida norma foi proteger os absolutamente incapazes, do escoamento do tempo, por negligência de quem os representa. Ora, a doutrina tem enfatizado a pertinente equiparação dos prazos prescricionais e decadenciais no que tange aos incapazes (CC, arts. 195 e 198, I, e 208), sob o argumento de que se não flui o prazo prescricional para os incapazes com muito maior razão também não deve fluir o prazo decadencial. PRESCRIÇÃO. REDUÇÃO PELO CC DE O Código Civil de 2.002, comparativamente ao de 1916, veio a contribuir para a segurança jurídica, na medida em que reduziu os prazos prescricionais das ações pessoais (que era de 20 anos) e das ações reais (que era de 10 anos entre presentes e 15 anos entre ausentes), nos termos do artigo 177 do CC de 1916, a par de ampliar o prazo exíguo (de 10 dias a 6 meses) que havia para determinadas pretensões, contados em dias ou meses (CC, artigo 178, 1º a 5º). "Por favor, quando falar faça com que suas palavras sejam melhores que o seu silêncio" (Azevedo Diniz II). PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA NO DIREITO TRIBUTÁRIO No campo tributário, a decadência é a perda do direito ao lançamento do crédito tributário, por parte do Fisco, se não o fez no prazo de 5 anos da data de constituição definitiva do crédito tributário, isto é, da ocorrência do fato gerador do tributo (CTN, artigo 150, 4o, 173 e 174 do CTN). E a prescrição, que se refere à cobrança judicial do tributo, também possui o mesmo prazo qüinqüenal, contado da data em que findou o prazo para o contribuinte fazer o recolhimento do tributo. DECADÊNCIA NO DIREITO DO CONSUMIDOR No campo dos direitos do consumidor, a Lei 8.078/90 estabelece os prazos decadenciais, contados da data da entrega do produto ou do término da execução do serviço ex vi art. 26, 1º do CDC. As hipóteses de dano causado por defeito de produto ou de serviço são tratadas no art. 27 da Lei Consumerista. É questão que merece destaque, no âmbito do Direito do Consumidor, a exceção expressa à regra geral da impossibilidade de se interromper o prazo decadencial que se encontra no artigo 26, 2º, da Lei nº 8.078/90. Página 6 de 8

7 PRESCRIÇÃO NO DIREITO PENAL No campo penal, a prescrição é a principal forma de extinção da punibilidade e opera tanto em relação ao direito do Estado de punir o criminoso (CP, artigo 109), quanto do direito de executar a pena imposta em sentença condenatória (CP, artigo 110). A diferença básica entre a prescrição da ação e da execução, no campo penal, é a de que o réu, prescrita a ação penal, continua primário, enquanto que operada a prescrição apenas da execução, perde o réu condenado a primariedade (CP, artigo 64). Esses prazos dizem respeito tanto à ação (CP, artigo 109), quanto à execução, uma vez que o Estado terá, para executar a pena, o mesmo prazo que teve para deflagrar o processo penal, conforme o crime (CP, artigo 110). E os prazos são contados a partir da consumação do crime (CP, artigo 111, I), da cessação da atividade criminosa, nos casos de tentativa ou de crime permanente (CP, artigo 111, II) ou do trânsito em julgado da decisão condenatória (CP, artigo 110). PRESCRIÇÃO NO DIREITO ADMINISTRATIVO Enquanto a prescrição, no campo civil, diz respeito à perda do direito de ação, a denominada prescrição administrativa refere-se à perda do prazo para interposição de recurso administrativo contra ato praticado pela Administração ou desta para adotar medidas frente a servidores ou particulares no âmbito não judicial. Trata-se de preclusão operada em sede de processo administrativo. No campo administrativo, os prazos prescricionais seguem os parâmetros traçados pela Lei n /91), contados, para o requerente, da data da publicação do ato impugnado, de sua ciência pelo interessado, quando não publicado (artigo 110, parágrafo único) ou quando se tornou conhecido da administração, em relação à ação que possa ter contra seu servidor as circunstâncias do artigo 142, 1º. PRESCRIÇÃO NO DIREITO PREVIDENCIÁRIO Os prazos prescricionais relativos às questões previdenciárias constituem objeto de intensa controvérsia na doutrina jurídica brasileira. Há normas específicas tratando da questão da prescrição e decadência no âmbito do Direito Previdenciário: artigos 45 e 46 da Lei nº 8.212/91 e artigo 103 da Lei nº 8.213/91. PRESCRIÇÃO NO DIREITO DO TRABALHO Na seara trabalhista, o artigo 7º, XXIX, da Constituição Federal (com a redação dada pela Emenda Constitucional nº 28, de ) e o artigo 11, I, da CLT (com a redação dada pela Lei nº 9.658, de ) estabelece a regra geral de prescrição para todas as reclamações visando a obter a tutela jurisdicional de direitos laborais: 5 anos contados da lesão ao direito, tendo o trabalhador o limite de 2 anos após a extinção do contrato para postular seus haveres.o TST já tem jurisprudência pacificada no sentido de que a prescrição quinquenal abrange os 5 anos anteriores ao ajuizamento da reclamatória e não os 5 anos anteriores à data da extinção do contrato (Súmula nº 308, I). Página 7 de 8

8 "Os ventos que às vezes tiram algo que amamos, são os mesmos que trazem algo que aprendemos amar... por isso, não devemos chorar pelo que nos foi tirado e sim, aprender a amar o que nos foi dado, pois tudo aquilo que é realmente nosso, nunca se vai prá sempre" (Bob Marley). Página 8 de 8