CÂMARA DE COORDENAÇÃO E REVISÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO

Transcrição

1 DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO Origem: PRT 3ª Região Interessado(s) 1: Anônimo Interessado(s) 2: Contax S.A. (TNL Contax) Interessado(s) 3: Ministério Público do Trabalho Assunto(s): - Temas Gerais Procurador oficiante: Victório Álvaro Coutinho Rettori ATESTADO MÉDICO. Ausência de diligências suficientes que autorizem o encerramento das investigações. Pela não homologação da promoção de arquivamento sub examine. RELATÓRIO Trata-se de procedimento administrativo instaurado com gênese em denuncia anônima em face da empresa Contax S.A (TNL Contax), noticiando que a investigada somente recebe atestado médico provenientes de médicos conveniados ou do Sistema Único de Saúde (SUS). litteris: Denúncia com o seguinte conteúdo (fl. 03), ipsis 1

2 O denunciante declara que a empresa denunciada somente recebe Atestado Médico desde que eles sejam de médicos conveniados ou do SUS (Sistema único de Saúde), sendo que no caso de atestado de médico particular, a denunciada procede o desconto como dias não trabalhados, aplicando aos trabalhadores sanções disciplinares assim como: permanecer em casa por 2 dias ou mais dependendo da quantidade de dias do atestado médico apresentado e, anotação na ficha pessoal do trabalhador, como ausência do trabalho. O i. Procurador oficiante promoveu o arquivamento deste expediente administrativo, conforme peça de fl. 033, nos seguintes termos, verbis: Este procedimento versa sobre denúncia que aponta que o representado recusa-se a receber atestados médicos, e não ser que sejam provenientes de médicos conveniados ou do SUS, sendo que, caso o atestado médico apresentado seja particular, o empregador procede a desconto como dias não trabalhados, aplicando aos trabalhadores sanções disciplinares como permanecer em casa por 2 dias ou mais, dependendo da quantidade de dias do atestado médico apresentado e anotação na ficha pessoal do trabalhador como ausência do trabalho. Convolado o feito em inquérito civil, o inquirido foi intimado para se manifestar sobre a denúncia, apresentando extensa resposta em que detalha os critérios para aceitação de atestados médicos apresentados por seus empregados e afirma que segue as normas prescritas pelo ordenamento jurídico mais precisamente a Lei 605/49, o Decreto /49 e a Resolução CFM 1.851/2008. Diante da negativa dos fatos denunciados pelo inquirido, o aprofundamento das investigações, pela própria natureza das irregularidades denunciadas, dependeria do denunciante indicar casos concretos da prática dos ilícitos denunciados para permitir a devida apuração dos fatos. Isto, contudo, não é possível, já que o denunciante é anônimo, o que impede que lhe seja dirigida requisição para fornecimento de maiores informações. 2

3 autos a esta Relatora (fl. 40). Assim, data máxima vênia, não há como dar seguimento às investigações, dada a inépcia da denúncia. Desse modo, atento ao Precedente nº 18 do Conselho Superior do Ministério Público do Trabalho, não há outra alternativa senão promover o arquivamento do feito. Em face do exposto, promovo o arquivamento do inquérito civil. Por distribuição deste feito na CCR/MPT, vieram os É o relatório. VOTO-FUNDAMENTAÇÃO Data venia dos argumentos expedidos pelo digno colega oficiante neste feito, entendo não caiba, por ora, a cessação da tarefa persecutória ao encargo do Ministério Público do Trabalho, no respeitante a não aceitação de atestados médicos que não sejam provenientes de médicos conveniados ou do Sistema Único de Saúde (SUS). Analisando detidamente a decisão de encerramento deste expediente, verifica-se que o i. Órgão Ministerial oficiante arquivou o feito sob o argumento de que a denúncia apresentada à fl. 03 seria inepta e ainda que, diante do anonimato da denúncia, não seria possível a busca de maiores informações acerca do quanto denunciado. 3

4 Ora, concessa maxima venia, a peça de ingresso constante à fl. 03 não está eivada de qualquer inépcia, tampouco desprovida de informações relevantes à atenção do Ministério Público do Trabalho. Dessa forma, diante dos elementos de informação que compõem o feito, torna-se possível a plena identificação da empresa denunciada (Contax S/A), de seu atual endereço (Rua do Pampas, 484, Bairro: Prado, Belo Horizonte-MG), bem como do ilícito trabalhista supostamente praticado (aceitação de atestado médico somente proveniente de médicos conveniados ou do Sistema Único de Saúde (SUS)). Indubitável, portanto, a viabilidade do prosseguimento da persecução investigatória ministerial, não merecendo acolhimento o arquivamento do feito em razão de suposta inépcia da denúncia. Ademais, conforme se verifica dos autos, a própria empresa investigada já foi chamada ao feito (fls. 14/31), não se desincumbindo de comprovar a regularidade de sua conduta. A negativa de irregularidade às fls. 14/18 e a apresentação de documentação imprestável ao fim objetivado por este procedimento - apenas o contrato social - não se mostram capazes de sustentar o encerramento das investigações e o arquivamento do expediente. O CAGED em anexo expressa considerável quadro de trabalhadores da denunciada, o que, a princípio, respalda a continuidade das investigações por parte deste Parquet laboral, no particular. 4

5 Entendo, pois, que possível e necessária à efetivação da fase instrutória da persecução ao encargo do MPT, o que pode ser realizado mediante ação fiscalizatória ao encargo da DRT local, prova testemunhal, etc., para aferição quanto aos estritos temos do objeto deste processado. Logo, o encerramento deste procedimento, ao menos neste momento, revela-se precipitado, sendo conveniente que se prossiga à devida complementação investigatória para somente então decidir sobre o seu arquivamento e posterior homologação. CONCLUSÃO Pelo exposto, voto no sentido de NÃO HOMOLOGAR a promoção de arquivamento sub examine, determinando o retorno dos autos à origem para as providências pertinentes e necessárias. Deixo, no entanto, de aplicar o inciso II, do 4º, do art. 10 da Resolução CSMPT nº69/07, devendo a designação atender às práticas da Regional. Brasília, 03 de dezembro de VERA REGINA DELLA POZZA REIS Subprocuradora-Geral do Trabalho Coordenadora da CCR - Relatora sgs 5