CÂMARA DE COORDENAÇÃO E REVISÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO

Transcrição

1 FEITO PGT/CCR/ICP/Nº 6244/2013 DO Origem: PRT 2ª Região Interessado(s) 1: Conselho Regional de Técnicos em Radiologia da 5ª Região São Paulo Interessado(s) 2: Fleury S/A Laboratório de Análises Clínicas Fleury Interessado(s) 3: Ministério Público do Trabalho Assunto(s): Consulta Observação: Modificação do TAC nº 436/2010. Procuradora consulente: Juliana Queluz Venturini Massarente ALTERAÇÃO DE CLÁUSULA DE TERMO DE COMPROMISSO DE AJUSTAMENTO DE CONDUTA. Atendimento das exigências do art. 14-A da Resolução CSMPT nº 69/2007, introduzido pela Resolução CSMPT nº 100/2011. Diante do que dispõe o 2º, do artigo 74, da Consolidação das Leis do Trabalho e a atual jurisprudência do c. Tribunal Superior do Trabalho, homologa-se a alteração sub examine. RELATÓRIO Trata-se de encaminhamento realizado pela Exma. Procuradora do Trabalho, Dra. Juliana Queluz Venturini Massarente, lotada na Procuradoria Regional do Trabalho da 2ª Região/SP, relativo à alteração 1

2 da Cláusula 1.1 do Termo de Compromisso de Ajustamento de Conduta nº 436/2010, firmado entre a empresa Fleury S/A e Ministério Público do Trabalho (PRT 2ª Região), ante a inserção do disposto no parágrafo 2º, do artigo 74, da Consolidação das Leis do Trabalho, por solicitação da empresa compromissária. A i. Procuradora oficiante determinou o envio dos autos à Câmara de Coordenação de Revisão do Ministério Público do Trabalho sob os seguintes argumentos, verbis: Nos autos do IC n 1986/2001, foi firmado, em 18 de maio de 2010, às fls. 910/913, o Termo de Compromisso de Ajustamento de Conduta n 436/2010, com as seguintes obrigações: 1. Obrigações de fazer e não fazer 1.1 Anotar, em registro mecânico, manual ou sistema eletrônico, os horários de entrada, saída e períodos de repouso efetivamente praticados, em todos os seus estabelecimentos com mais de 10 (dez) empregados, observando as instruções expedidas pelo Ministério do Trabalho e Emprego, especialmente as da Portaria n , de 21/8/2009 e outras que a substituam, abstendo-se de orientar os trabalhadores, ou de qualquer modo induzi-los, a registrar jornada diversa da que efetivamente for laborada. Prazo para cumprimento: 01/10/ Garantir a todos os trabalhadores que prestam serviços nas áreas de exposição à radiação a observância da jornada semanal de 24 horas, conforme estabelecido pelo art. 14 da Lei n /85. Prazo para cumprimento: imediato. 1.3 Não prorrogar a duração normal do trabalho além do limite de duas horas diárias estabelecido pelo art. 59 da CLT, sem justificativa legal. Prazo para cumprimento: imediato. 1.4 Dar ciência aos trabalhadores do presente Termo de Compromisso de Ajustamento de Conduta, afixando e mantendo cópia deste em todos os seus estabelecimentos, em local de fácil acesso, a partir de 24/05/2010, por tempo indeterminado. 2

3 Com vistas a verificar o cumprimento do TCAC firmado, foi determinada a expedição de Cartas Precatórias para as PRT's e PTM's com atribuição para os locais onde a investigada possui estabelecimentos, solicitando a expedição de ofícios à Fiscalização do Trabalho. Além disso, foram oficiadas as GRTE's competentes desta capital solicitando fiscalização para verificar o cumprimento do TCAC firmado. Em virtude do resultado de fiscalizações realizadas, restou demonstrado o descumprimento do Termo de Compromisso de Ajustamento de Conduta firmado. O valor da multa pelo descumprimento do TCAC firmado, atualizado até 30 de outubro de 2012, era de ,12 (quatrocentos e quarenta e quatro mil, noventa e sete reais e doze centados). Tendo em vista que algumas das irregularidades constatadas não estavam abrangidas pelas cláusulas do Termo de Compromisso de Ajustamento de Conduta firmado, foram autuados procedimentos autônomos, conforme certidão de fls. 30 do IC n O IC n 3660/2012 prosseguiu com os objetos: Documentos de Apresentação Obrigatória pelo Empregador; Intervalo Intrajornada e Intervalo Interjornada. Assim, esta Procuradora do Trabalho, considerando que é direito do trabalhador a redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança, nos termos do artigo 7 o, XXII, da Constituição da República; considerando que a empresa demonstrou real interesse em cumprir os termos do compromisso firmado em 18 de maio de 2010 (TCAC n 436/2010), tendo adotado medidas voltadas a esse fim, conforme pode ser verificado do resultado das fiscalizações realizadas e considerando que o cumprimento, pela empresa, da legislação trabalhista, de modo a reduzir os riscos inerentes ao trabalho, atende ao interesse público; propôs a assinatura de aditamento ao Termo de Compromisso de Ajustamento de Conduta n , com a redução do valor da multa apurada pelo descumprimento do Termo de Ajustamento de Conduta n 436/2010 no prazo estabelecido, para R$ ,00 (cento e noventa mil reais), a ser revertido ao FAT, desde que a empresa concordasse em assumir novas obrigações, em virtude de irregularidades constatadas pela fiscalização do trabalho, uma vez que essa disposição em assumir novas obrigações seria também levada em consideração para a redução do valor da multa apurado. 3

4 Foram feitas diversas audiências (fls. 1288; 1304; 1306 e 1319/1320 dos autos do IC n ). Na última audiência ocorrida, a empresa concordou em assinar o aditamento, desde que houvesse a inserção do disposto no parágrafo 2 o do artigo 74 da CLT, que dispõe: Art. 74 (...) 2 o - Para os estabelecimentos de mais de dez trabalhadores será obrigatória a anotação da hora de entrada e de saída, em registro manual, mecânico ou eletrônico, conforme instruções a serem expedidas pelo Ministério do Trabalho, devendo haver pré-assinalação do período de repouso. (Redação dada pela Lei nº 7.855, de )(...)" Todavia, considerando que a inserção do disposto no parágrafo 2 o do artigo 74 da CLT poderá, eventualmente, caracterizar alteração da cláusula 1.1 do TCAC n 436/2010, firmado, em 18 de maio de 2010, abaixo transcrita (trecho negritado), quando os intervalos forem pré-assinalados, entendo que os autos deverão ser submetidos á análise da C. CCR do MPT, nos termos do artigo 14-A da Resolução n 69/2007 do C. CSMPT. "1.1. Anotar, em registro mecânico, manual ou sistema eletrônico, os horários de entrada, saída e períodos de repouso efetivamente praticados, em todos os seus estabelecimentos com mais de 10 (dez) empregados, observando as instruções expedidas pelo Ministério do Trabalho e Emprego, especialmente as da Portaria n , de 21/8/2009 e outras que a substituam, abstendo-se de orientar os trabalhadores, ou de qualquer modo induzi-los, a registrar jornada diversa da que efetivamente for laborada. Prazo para cumprimento: 01/10/2010." (negritei). Assim, primeiramente, em cumprimento ao disposto no parágrafo 3 o do artigo 14-A da Resolução n 69/2007 do C. CSMPT, encaminhar cópia das minutas ora juntadas aos autos do IC n e deste despacho à investigada, a fim de que, no prazo de 5 (cinco) dias, apresente manifestação expressa se concorda em assinar os Termos de Compromisso de Ajustamento de Conduta nos exatos termos ora propostos. Caso haja concordância expressa da empresa, nos termos do parágrafo 1 o do art. 14-A da Resolução n 69/2007, do C. CSMPT, encaminhar os autos destes procedimentos para ciência da Exma. Sra. Procuradora do Trabalho oficiante à época e signatária do TCAC n 436/2010. Após, encaminhar os autos destes procedimentos à C. 4

5 Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério Público do Trabalho (14-A da Resolução n 69/2007, do C. CSMPT). (destaques próprios) Às fls. 1071/1074, descansa o Termo de Ajustamento de Conduta nº 436/2010, no qual a empresa Fleury SA se compromete, em síntese, verbis: 1. Obrigações de fazer e não fazer 1.1. Anotar, em registro mecânico, manual ou sistema eletrônico, os horários de entrada, saída e períodos de repouso efetivamente praticados, em todos os seus estabelecimentos com mais de 10 (dez) empregados, observando as instruções expedidas pelo Ministério do Trabalho e Emprego, especialmente as da Portaria n , de 21/8/2009 e outras que a substituam, abstendo-se de orientar os trabalhadores, ou de qualquer modo induzi-los, a registrar jornada diversa da que efetivamente for laborada. Prazo para cumprimento: 01/10/ Garantir a todos os trabalhadores que prestam serviços nas áreas de exposição à radiação a observância da jornada semanal de 24 horas, conforme estabelecido pelo art. 14 da Lei n /85. Prazo para cumprimento: imediato Não prorrogar a duração normal do trabalho amém do limite de duas horas diárias estabelecido pelo art. 59 da CLT, sem justificativa legal. Prazo para cumprimento: imediato Dar ciência aos trabalhadores do presente Termo de Compromisso de Ajustamento de Conduta, afixando e mantendo cópia deste em todos os seus estabelecimentos, em local de fácil acesso, a partir de 24/05/2010, por tempo indeterminado. (destaques próprios) Às fls a 1347, consta a minuta aditiva ao já referido TCAC nº 436/2010, com a seguinte nova redação conferida à cláusula 1.1 acima transcrita, ad litteram: 5

6 II.1 - Anotar, em registro mecânico, manual ou sistema eletrônico, os horários de entrada, saída e períodos de repouso efetivamente praticados, em todos os seus estabelecimentos com mais de 10 (dez) empregados, observando as instruções expedidas pelo Ministério do Trabalho e Emprego, especialmente as da Portaria n , de 21/8/2009 e outras que a substituam, abstendo-se de orientar os trabalhadores, ou de qualquer modo induzi-los, a registrar jornada diversa da que efetivamente for laborada. II.1.1 Poderá haver pré-assinalação do período de repouso, conforme previsto no parágrafo 2º do artigo 74 da CLT. Prazo para cumprimento: imediato. (destaquei o item II.1.1) Ás fls a 1352, consta minuta de TCAC proposto nos autos do Inquérito Civil nº /4, onde a empresa Fleury SA se compromete a assumir novas obrigações, além das constantes no Termo de Compromisso de Ajustamento de Conduta nº 436/2010. Eis as obrigações: Cláusula 1ª: Passar a conceder aos empregados o período mínimo de onze horas consecutivas para descanso, entre duas jornadas de trabalho, em conformidade com o disposto no artigo 66, da CLT Prazo para cumprimento: imediato Cláusula 2ª: Passar a conceder, regularmente, intervalo intrajornada a seus empregados, na forma do disposto no caput do artigo 71 e respectivos parágrafos, da CLT. Prazo para cumprimento: 90 (noventa) dias Cláusula 3ª: Passar a manter, nos locais de trabalho, os documentos sujeitos à inspeção, somente se admitindo, por exceção, a critério da autoridade competente, sejam tais documentos apresentados em dia e hora previamente fixados pelo agente fiscal, passando a atender ao disposto no 4º, do art. 630, da CLT. Prazo para cumprimento: imediato 6

7 Cláusula 4ª: Passar a prestar, ao agente da inspeção, os esclarecimentos necessários ao desempenho de suas atribuições legais e passar a exibir-lhe, quando exigidos, quaisquer documentos que digam respeito ao fiel cumprimento das normas de proteção ao trabalho, passando a atender ao comando do 3º, do art. 630, da CLT. Prazo para cumprimento: imediato (grifos originais) Instada a manifestar-se, a empresa Fleury SA expressou o seguinte (fl. 1354), ipsis litteris: A Empresa manifesta que concorda com a assinatura dos Termos de Ajustamento de Conduta anexos ao despacho de 04/03/2013, desde que seja autorizada a inclusão da cláusula que permitirá a pré assinalação do período de repouso dos empregados, conforme previsão do parágrafo 2º do artigo 74 da CLT. (destaque próprio) Encaminhados os autos à Procuradora do Trabalho signatária do Termo de Ajustamento de Conduta nº 436/2010, Dra. Maria Beatriz A. Brandt, para os fins do 1º, do art. 14-A, da Resolução CSMPT nº 69/2007, introduzido pela Resolução CSMPT nº 100/2011, esta acusou ciência, sem manifestar qualquer oposição à alteração em comento (fl. 1355). esta Relatora. Por distribuição deste feito na CCR/MPT, vieram os autos a É o relatório. 7

8 ADMISSIBILIDADE Atendido o quanto preceituado no art. 14-A da Resolução CSMPT nº 69/2007, introduzido pela Resolução CSMPT nº 100/2011, recebo o presente encaminhamento relativo à modificação de cláusula constante de Termo de Compromisso de Ajustamento de Conduta. VOTO-FUNDAMENTAÇÃO Evidencia-se dos autos que a i. Procuradora proponente da alteração de cláusula de TCAC, ora em exame, submeteu a questão à ciência e consideração da i. Procuradora do Trabalho firmatária do Termo de Compromisso de Ajustamento de Conduta nº 436/2010, o qual se propõe aditar, que se manifestou à fl. 1355, sem oposição de qualquer divergência ou impugnação à modificação em tela. A i. Procuradora do Trabalho, Dra. Juliana Queluz Venturini Massarente, submeteu ao crivo da Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério Público do Trabalho proposta de aditamento do TCAC nº 436/2010, consubstanciada na inserção, em sua Cláusula 1.1, da possibilidade da empresa compromissária pré-assinalar o período de repouso de seus empregados. Considerou relevante, para tanto, o fato da empresa ter demonstrado interesse em cumprir o já referido TCAC nº 8

9 436/2010, o que, segundo a i. colega proponente, pode ser verificado pelas recentes fiscalizações do MTE mencionadas às fls. 1278/1285, bem como a atitude da empresa no respeito à legislação trabalhista, de modo a reduzir os riscos inerentes ao trabalho. Embora o já referido TCAC nº 436/2010 esteja tecnicamente bem redigido, inexiste óbice ao seu aditamento, nos termos propostos pelo i. Membro oficiante, Dra. Juliana Queluz Venturini Massarante. Trabalho, verbis: Assim dispõe o artigo 74, 2º, da Consolidação das Leis do Art O horário do trabalho constará de quadro, organizado conforme modelo expedido pelo Ministro do Trabalho, Indústria e Comercio, e afixado em lugar bem visível. Esse quadro será discriminativo no caso de não ser o horário único para todos os empregados de uma mesma seção ou turma. 1º - omissis 2º - Para os estabelecimentos de mais de dez trabalhadores será obrigatória a anotação da hora de entrada e de saída, em registro manual, mecânico ou eletrônico, conforme instruções a serem expedidas pelo Ministério do Trabalho, devendo haver préassinalação do período de repouso. (Redação dada pela Lei nº 7.855, de ) A solicitação da empresa, como condicionante à assinatura dos termos de fls. 1342/1347 e 1348/1352 ( desde que seja autorizada a 9

10 inclusão da cláusula que permitirá a pré assinalação do período de repouso dos empregados,... fl. 1354), encontra amparo legal, na medida em que o 2º, do artigo 74, Consolidado, autoriza a pré-assinalação, pelo empregador, do período de repouso. De outro giro, a inserção do disposto no 2º, do art. 74, da CLT, na Cláusula 1.1 do TCAC nº 436/2010, não implica em prejuízo das obrigações anteriormente assumidas naquele ajuste, porquanto o aditamento se revela como uma medida de adequação aos termos da Consolidação das Leis do Trabalho. Ademais, a jurisprudência do colendo Tribunal Superior do Trabalho caminha no sentido da obrigatoriedade de o empregador préassinalar o interregno referente ao intervalo intrajornada, verbis: RECURSO DE REVISTA OBREIRO. 1. INTERVALO INTRAJORNADA. PRÉ-ASSINALAÇÃO. ÔNUS DA PROVA. A jurisprudência desta Corte Superior segue no sentido de que o art. 74, 2, da CLT apenas prevê a obrigatoriedade de o empregador préassinalar o interregno referente ao intervalo intrajornada, o que não implica dizer que a ausência do registro diário, por si só, teria o condão de transferir para o empregador o ônus de comprovar a concessão do referido intervalo. 2. ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA. ORIENTAÇÕES JURISPRUDENCIAIS NOS 269 E 304 DA SBDI-1 DO TST. Consoante o disposto na Orientação Jurisprudencial n 269 da SBDI-1 do TST, o benefício da justiça gratuita pode ser requerido em qualquer tempo ou grau de jurisdição, desde que, na fase recursal, seja o requerimento formulado no prazo alusivo ao recurso. Por outro lado, a jurisprudência pacificada desta 10

11 Corte Superior, consubstanciada na Orientação Jurisprudencial n 304 da SBDI-1, é no sentido de que, atendidos os requisitos da Lei n 5.584/70 (art. 14, 2º), para a concessão da assistência judiciária, basta a simples afirmação do declarante ou de seu advogado para se considerar configurada a sua situação econômica. Na hipótese vertente, o Regional indeferiu o pedido de assistência judiciária gratuita, em face da ausência de assistência sindical, ofendendo, assim, a diretriz do art. 5, LXXIV, da CF, segundo o qual o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos. Nesse contexto, a decisão proferida pelo Tribunal a quo merece reforma, no sentido de deferir aos autores o benefício da assistência judiciária gratuita. Recurso de revista obreiro parcialmente conhecido e parcialmente provido. B) RECURSO DE REVISTA PATRONAL. DESCONTOS FISCAIS E PREVIDENCIÁRIOS. SÚMULA N 368, II e III, DO TST. Os descontos fiscais devem incidir sobre o valor total da condenação, referente às parcelas tributáveis, calculado ao final, e, quanto aos previdenciários, a contribuição do empregado deve ser calculada mês a mês, aplicando-se as alíquotas previstas no art. 198 do Decreto n 3.048/99, observado o limite máximo do salário de contribuição, na forma da Súmula n 368, II e III, desta Corte Superior. Recurso de revista patronal parcialmente conhecido e provido. (RR , Relatora Ministra: Dora Maria da Costa, Data de Julgamento: 19/05/2010, 8ª Turma, Data de Publicação: 21/05/2010) AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA. HORAS EXTRAS. INTERVALO INTRAJORNADA. PRÉ- ASSINALAÇÃO. ÔNUS DA PROVA. Demonstrada a divergência jurisprudencial nos moldes da alínea a do artigo 896 da Consolidação das Leis do Trabalho, dá-se provimento ao agravo de instrumento a fim de determinar o processamento do recurso de revista. RECURSO DE REVISTA. HORAS EXTRAS. DIFERENÇAS. COMPENSAÇÃO DE JORNADA. COMPENSAÇÃO DE VALORES PAGOS. 1. Tendo o Tribunal Regional relatado a matéria concernente à compensação de jornada, mas eximido-se de apreciá-la, torna-se impossível vislumbrar contrariedade à Súmula n.º 85, III, desta Corte superior. 2. Relativamente à compensação de valores, não se divisa afronta ao artigo 884 do Código Civil, que determina a devolução do que foi indevidamente recebido, a fim de evitar o enriquecimento sem causa, porquanto a controvérsia em apreço 11

12 (compensação de valores) possui regulação própria na legislação trabalhista, que, todavia, não foi invocada pelo reclamado. Recurso de revista não conhecido. HORAS EXTRAS. INTERVALO INTRAJORNADA. PRÉ-ASSINALAÇÃO. ÔNUS DA PROVA. 1. O artigo 333, I, do Código de Processo Civil estatui que é do autor o ônus da prova quanto aos fatos constitutivos do seu direito. O inciso II do mesmo dispositivo, por seu turno, estabelece que ao réu cabe a demonstração dos fatos impeditivos, extintivos ou modificativos do direito do autor. 2. Por outro lado, o artigo 74, 2º, da Consolidação das Leis do Trabalho prevê que, nos estabelecimentos com mais de dez empregados, é obrigatória a anotação do horário de entrada e saída dos empregados, devendo haver a pré-assinalação do período destinado a alimentação e repouso. 3. No caso dos autos, foram exibidos pelo empregador cartões de ponto em que constam pré-assinalados os intervalos intrajornada, não havendo prova de que não retratada com fidelidade a efetiva jornada de labor. Não se pode cogitar em inversão do ônus da prova quando a parte a quem a lei atribui o ônus de provar determinado fato desincumbe-se de tal encargo. Precedentes da Corte. Recurso de revista conhecido e provido. (RR , Relator Ministro: Lelio Bentes Corrêa, Data de Julgamento: 08/10/2008, 1ª Turma, Data de Publicação: 31/10/2008) Salienta-se, ademais, que a empresa signatária, além de ratificar as obrigações de fazer e de não fazer anteriormente ajustadas perante o Parquet laboral (TCAC nº 436/2010), estará assumindo novos compromissos, com a assinatura de novo Termo de Compromisso de Ajustamento de Conduta nos autos do IC nº /4 (apensado a este feito), cuja minuta se apresenta às fls. 1348/1352, cabendo aqui destacar as relativas à concessão dos intervalos intra e interjornada. Ad cautelam, com vistas a uma melhor compreensão da alteração proposta, bem como das novas obrigações assumidas pela 12

13 empresa Fleury SA, ora compromissária, seguem em anexo a este voto duas tabelas comparativas (a primeira confrontando o TCAC nº 436/2010 com sua proposta de aditamento e a segundo cotejando o mesmo TCAC 436/2010 com o novel compromisso a ser firmado pela empresa em que constante distintas obrigações). Diante do quadro apresentado, entende-se que a alteração sub studio se compatibiliza com o ordenamento jurídico vigente, fazendo jus ao beneplácito deste Órgão revisor. CONCLUSÃO Pelo exposto, voto no sentido de HOMOLOGAR a alteração da Cláusula 1.1 do Termo de Compromisso de Ajustamento de Conduta nº 436/2010, pela inserção do disposto no parágrafo 2º, do artigo 74, da CLT, proposta pela Exma. Procuradora do Trabalho, Dra. Juliana Queluz Venturini Massarente, às fls. 1339/1341 do presente feito. Determino a juntada de cópia deste voto nos autos do Inquérito Civil nº /4, apensado a este procedimento administrativo. 13

14 processamento. Retorne o feito à origem para regular Brasília, 07 de junho de SGS VERA REGINA DELLA POZZA REIS Subprocuradora-Geral do Trabalho Coordenadora da CCR Relatora 14