CÂMARA DE COORDENAÇÃO E REVISÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO

Tamanho: px

Começar a partir da página:

Download "CÂMARA DE COORDENAÇÃO E REVISÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO"

Liliana Fialho Miranda
7 Há anos
Visualizações:

1 FEITO PGT/CCR/PP/Nº 6093/2013 DO Origem: PRT 3ª Região Interessado(s) 1: GRTE/JUIZ DE FORA/MG Interessado(s) 2: Hidroazul Indústria e Comercio Ltda.; 2) Sindicato dos Trabalhadores nas Industrias Químicas da Cataguases. Interessado(s) 3: Ministério Público do Trabalho Assunto(s): Liberdade e Organização Sindical Procurador oficiante: José Reis Santos Carvalho DISCRIMINAÇÃO GESTANTE Cláusula de Acordo Coletivo de Trabalho em desconformidade com Súmula do C. Tribunal Superior do Trabalho e com recente alteração legislativa. Necessidade de adequação do instrumento coletivo aos ditames legais. Pela não homologação da promoção de arquivamento sub examine. RELATÓRIO Trata-se de procedimento administrativo instaurado com gênese em representação encaminhada pelo Chefe do Setor de Relações do Trabalho da GRTE/JF AFT José Tadeu de Medeiros Lima, noticiando irregularidades em cláusula de acordo coletivo de trabalho 1

2 firmado pelo Sindicato dos Trabalhadores nas Industrias Químicas de Cataguases e a Empresa Hidroazul Indústria e Comercio Ltda. Vaticina a referida cláusula, verbis (fl. 10): Clausula Décima Oitava Gestante Garantia de Emprego Parágrafo segundo: presume-se como renúncia à garantia, a não comunicação ao empregador do estado gravídico, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas após a confirmação daquele. Em sede de apreciação prévia (fls. 08 verso e anverso), o i. Procurador oficiante designou audiência administrativa a ser realizada na Regional de origem, determinando a intimação dos denunciados para comparecimento. Antes da realização da aludida audiência, a empresa investigada juntou ao feito petição (fls. 24/40) informando que a cláusula tida como ilegal já teria sido adequada, não remanescendo qualquer ilicitude no acordo coletivo firmado com o sindicato. Ao contínuo, o i. Procurador oficiante promoveu o arquivamento do procedimento (fls. 43/44), nos seguintes termos: Trata-se de procedimento preparatório de inquérito civil, instaurado em virtude de ofício enviado pela Gerência 2

3 Regional do Trabalho e Emprego em Juiz de Fora, que noticiou possível prática de violação a direitos trabalhistas, notadamente, à luz do objeto em investigação nestes autos, em razão da análise da cláusula décima oitava do Acordo Coletivo de Trabalho firmado entre os investigados. Por meio da apreciação prévia de fls. 19, determinou-se a conversão para Procedimento Prévio Investigatório e a intimação dos investigados a comparecer em audiência nesta Procuradoria. Em fls. 24, a empresa investigada, Hidroazul Indústria e Comércio Ltda. informou que foi devidamente excluído o Parágrafo Segundo da Cláusula décima Oitava do acordo Coletivo principal nº / através do Termo Aditivo registrado junto ao Ministério do Trabalho e Emprego em 17/08/2012, conforme documento de fls. 40. Após a alteração, o dispositivo passou a ter a seguinte redação: assegura-se à empregada gestante a garantia de emprego desde a confirmação da gravidez, mediante atestado médico idôneo, até 05 (cinco) meses após o parto. Paragrafo primeiro: ressalvadas as hipóteses de cometimento de falta grave e de término de contrato a prazo. Assim, sanadas as irregularidades após deflagrada a presente investigação, há de se concluir que o presente inquérito cumpriu sua finalidade, mesmo porque a nova redação do pacto coletivo encontra-se em sintonia com a novel jurisprudência do TST Súmula 244 -, estando autorizado seu arquivamento, sem prejuízo, por óbvio, de instauração de nova investigação, caso fatos supervenientes a justifique. autos a esta Relatora (fl. 50). Por distribuição deste feito na CCR/MPT, vieram os 3

4 É o relatório. VOTO-FUNDAMENTAÇÃO Data maxima venia dos argumentos expedidos pelo digno colega oficiante neste feito, entende-se não caiba, por ora, a cessação da tarefa persecutória ao encargo do Ministério Público do Trabalho. Compulsando o feito, verifica-se que tem como cerne a investigação de ilegalidade constante em cláusula de acordo coletivo de trabalho firmado entre o Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Químicas da Cataguases e a empresa Hidroazul Indústria e Comércio. Assim, de acordo com a representação encaminhada pelo Ministério do Trabalho e Emprego, a cláusula décima oitava do Acordo Coletivo de Trabalho 2011/2012 (fls. 05/14) firmado entre os denunciados, estava eivada de ilegalidade, já que previa a renúncia à garantia conferida às empregadas gestantes quando não comunicado o estado gravídico ao empregador no prazo de 48 (quarenta e oito) horas. 4

5 Com o objetivo de adequarem-se aos ditames legais, os denunciados firmaram termo aditivo ao referido Acordo Coletivo, retificando a cláusula em tela, a qual passou a ter a seguinte redação: Clausula Décima oitava Gestante Garantia de Emprego Assegura-se à empregada gestante a garantia de emprego desde a confirmação da gravidez, mediante atestado médico idôneo, até cinco (05) meses após o parto. Parágrafo primeiro: ressalvadas as hipóteses de cometimento de falta grave e de término de contrato a prazo. Grifos nossos. Ora, salvo melhor juízo, em que pese o intuito dos investigados em retificar o instrumento coletivo com vistas a sua total conformidade legal, analisando-se a mencionada cláusula retificada, depreende-se que esta ainda se encontra eivada de ilegalidade, mais especificamente em seu novel parágrafo primeiro. É sabido que a estabilidade provisória de emprego garantida à empregada gestante encontra respaldo nos ditames da Súmula nº244 do C. Tribunal Superior do Trabalho. Entretanto, há de se observar que o verbete sumular foi recentemente alterado, com vistas a garantir, do forma isonômica, à trabalhadora contratada por tempo determinado a garantia de emprego. Neste diapasão, vaticina a jurisprudência consolidada do Tribunal Superior do Trabalho, verbis: 5

6 Súmula nº 244 do TST - GESTANTE. ESTABILIDADE PROVISÓRIA (redação do item III alterada na sessão do Tribunal Pleno realizada em ) - Res. 185/2012, DEJT divulgado em 25, 26 e I - O desconhecimento do estado gravídico pelo empregador não afasta o direito ao pagamento da indenização decorrente da estabilidade (art. 10, II, "b" do ADCT). II - A garantia de emprego à gestante só autoriza a reintegração se esta se der durante o período de estabilidade. Do contrário, a garantia restringe-se aos salários e demais direitos correspondentes ao período de estabilidade. III - A empregada gestante tem direito à estabilidade provisória prevista no art. 10, inciso II, alínea b, do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, mesmo na hipótese de admissão mediante contrato por tempo determinado grifos nossos. Sendo assim, em rápida leitura ao item III da referida súmula, depreende-se, de forma bastante clarificada, que a cláusula décima oitava do instrumento coletivo em apreço ainda reside em ilegalidade, já que exclui da garantia de emprego aquelas trabalhadoras contratadas por prazo determinado. Saliente-se, por oportuno, terem os autos permanecido em Secretaria no âmbito da PRT 3ª Região por quase 02 meses, somente sendo redistribuídos em novembro de 2012 (fl. 42), quando já expirado integralmente o prazo de vigência do acordo coletivo de trabalho neste procedimento investigado (fls. 05/14 e 40), já que vigorante no período de 1º de setembro de 2011 a 31 de agosto de Ademais, não há no feito notícia de realização de novo acordo ou convenção, de maneira que, inexistindo realização de novel negociação coletiva entre os denunciados, permanecem válidas as cláusulas 6

7 havidas no instrumento antigo, consoante recente alteração da Súmula nº277 do C. Tribunal Superior do Trabalho, verbis: CONVENÇÃO COLETIVA DE TRABALHO OU ACORDO COLETIVO DE TRABALHO. EFICÁCIA. ULTRATIVIDADE (redação alterada na sessão do Tribunal Pleno realizada em ) - Res. 185/2012, DEJT divulgado em 25, 26 e As cláusulas normativas dos acordos coletivos ou convenções coletivas integram os contratos individuais de trabalho e somente poderão ser modificados ou suprimidas mediante negociação coletiva de trabalho. Ressalte-se, ainda, que a apresentação pela denunciada Hidroazul Indústria e Comércio Ltda. de termo aditivo de acordo coletivo de trabalho firmado com o Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Químicas de Cataguazes somente em 23 de agosto de 2012 (fl. 24 e 40), s.m.j, demonstra tentativa ardilosa desta em motivar o encerramento do expediente, já que o referido acordo teria sua vigência encerrada em 31/08/2012, sem que houvesse nos autos qualquer informação de outro instrumento que lhe sucedesse ou de sua prorrogação. Isto posto, tendo em conta que o d. Procurador oficiante promoveu o encerramento do presente procedimento somente em março de 2013, quando já vigentes as novas redações das Súmulas 244 e 277 do C. Tribunal Superior do Trabalho, persistindo no feito irregularidades que merecem a atenção deste Ministério Público do Trabalho, impõe-se a não homologação da promoção de arquivamento sub examine. 7

8 CONCLUSÃO Pelo exposto, voto no sentido de NÃO HOMOLOGAR o arquivamento proposto pelo Exmo. Procurador do Trabalho, Dr. José Reis Santos Carvalho, às fls. 43/44 do presente expediente administrativo. Deixo, no entanto, de aplicar o inciso II, do 4º, do art. 10 da Resolução CSMPT nº69/07, devendo a designação atender às práticas da Regional. processamento. Retornem os autos à origem para regular Brasília, 24 de maio de VERA REGINA DELLA POZZA REIS Subprocuradora-Geral do Trabalho Coordenadora da CCR Relatora ffpam 8

Documentos relacionados

CÂMARA DE COORDENAÇÃO E REVISÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO

CÂMARA DE COORDENAÇÃO E REVISÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO Origem: PRT 3ª Região Interessado(s) 1: Anônimo Interessado(s) 2: Contax S.A. (TNL Contax) Interessado(s) 3: Ministério Público do Trabalho Assunto(s): - Temas Gerais