PROCURADORIA-GERAL DO TRABALHO CÂMARA DE COORDENAÇÃO E REVISÃO

Transcrição

1 Origem: PRT da 13ª REGIÃO- João Pessoa/PB Órgão Oficiante: Dra. Maria Edilene Lins Felizardo Interessado 01: Dr. Márcio Roberto de Freitas Evangelista Interessado 02: Polimassa Argamassas Ltda. Assuntos: Temas Gerais ; EMENTA: MOTORISTA DE CAMINHÃO. EXCESSO DE JORNADA OPERAÇÃO JORNADA LEGAL MPT/DPRF. NECESSIDADE DE MAIOR APURAÇÃO. Tendo em vista que a irregularidade, objeto da denúncia, pode, em tese atingir a higidez física e mental do trabalhador e afeta, consequentemente, a segurança do trabalho, pois o excesso de jornada pode gerar efeitos danosos à saúde do trabalhador, entendo precoce o arquivamento do feito baseado exclusivamente em manifestação unilateral da empresa investigada. Observo ainda, que os fatos dizem respeito ao excesso de jornada de trabalho de motorista de caminhão, e que o MPT tem realizado a Operação Jornada Legal em parceria com o Departamento de Polícia Rodoviária Federal, visando exigir o cumprimento da Lei de 30 de abril de Portanto é necessário o aprofundamento da investigação. Recurso conhecido e provido. Promoção de arquivamento não homologada. 1

2 I RELATÓRIO Trata-se de recurso administrativo (fls. 163/165) interposto pelo ilustre Procurador Regional do Trabalho Márcio Roberto de Freitas Evangelista, contra a promoção de arquivamento do procedimento preparatório nº /6 (fls.155/158). O eminente Órgão oficiante ponderou ser desnecessária a continuidade da atuação do Ministério Público do Trabalho, considerando que a documentação apresentada em audiência administrativa pela empresa Polimassa Argamassas Ltda. atesta a regularidade da conduta da inviestigada quanto aos fatos narrados na denúncia (extrapolação do limite diário de 10 horas da jornada de trabalho). O órgão oficiante acrescentou, ainda, que a existência de condenações judiciais sofridas (por extrapolação de jornada de trabalho) pela empresa denunciada são fatos isolados, revelando cunho estritamente patrimonial. Noutro giro, sustenta o recorrente que há interesse público na defesa da saúde e segurança dos trabalhadores envolvidos, devido à acentuada gravidade objetiva que se faz presente na extrapolação permanente da jornada de trabalho. Destaca, ainda, que o arquivamento proposto pela Procuradora oficiante é manifestamente precoce, além de expor a necessidade de realização de inspeção in loco e inquirição dos obreiros supostamente afetados para o melhor convencimento. Em manifestação de fls. 167/172, a Procuradora do Trabalho Maria Edilene Lins Felizardo manteve seu entendimento e a consequente promoção de arquivamento. 2

3 É o breve relatório. II ADMISSIBILIDADE O recurso administrativo foi interposto dentro do prazo previsto no 3º, artigo 5º, da Resolução CSMPT nº 69/2007. Portanto, dele conheço. III VOTO Com a vênia devida à eminente colega oficiante, entendo prematuro o encerramento da apuração. Constata-se, do exame dos presentes autos, que a ilustre Procuradora neles oficiante procedeu ao arquivamento do expediente, conforme respectiva promoção à fl. 155/158, com supedâneo, tão somente, em manifestação unilateral da própria investigada e em documentação por ela própria oferecida. Assim, a simples declaração da própria denunciada no presente procedimento e a apresentação de documentação unilateral da empresa não constitui, data máxima vênia, fundamento válido para o arquivamento do procedimento investigatório. Nesse sentido, considero precoce o encerramento da investigação, na medida em que, não existem nos autos elementos mínimos de convicção que possam atestar a presença ou não da lesão de cunho transindividual. Penso que somente após o esgotamento das diligências investigatórias, com a produção de outras provas, é que o MPT poderá firmar, com base num juízo de conveniência e oportunidade, a sua convicção acerca da existência de fundamentos para o ajuizamento de ação coletiva ou para o arquivamento do 3

4 inquérito civil. Essa é inteligência do art., 9º da LACP, que entendo aplicável à espécie, verbis: Art. 9º Se o órgão do Ministério Público, esgotadas todas as diligências, se convencer da inexistência de fundamento para a propositura da ação civil, promoverá o arquivamento dos autos do inquérito civil ou das peças informativas, fazendo-o fundamentadamente. Sem dúvida que a irregularidade, objeto da denúncia, pode, em tese atingir a higidez física e mental do trabalhador e afeta, consequentemente, a segurança do trabalho, pois como dito em linhas transatas o excesso de jornada pode gerar efeitos danosos à saúde do trabalhador. Tais dúvidas somente poderão ser superadas com a coleta mínima de elementos de fato. Observo ainda que os fatos dizem respeito ao excesso de jornada de motorista de caminhão e que o MPT tem realizado a Operação Jornada Legal em parceria com o Departamento de Polícia Rodoviária Federal, visando exigir o cumprimento da Lei de 30 de abril de Vê-se Portanto, que a matéria nitidamente extrapola o viés patrimonial, estendendo seus limites à proteção da saúde dos trabalhadores Logo, com reiterada vênia, parece-me prematuro o arquivamento do feito, devendo ser instaurado o inquérito para uma coleta mínima de elementos fáticos no sentido de aferir-se as circunstâncias acima mencionadas, especialmente a submissão da empresa ao regime da Lei /2012. Provejo, pois, o recurso e, consequentemente, deixo de homologar a promoção de arquivamento. 4

5 IV - CONCLUSÃO À vista do exposto, conheço o recurso administrativo e, no mérito, voto pelo seu provimento, deixando de homologar a promoção de arquivamento e determinando o retorno dos autos, para as providê3ncia cabíveis, nos termos da fundamentação. Brasília, em 19 de novembro de Fábio Leal Cardoso Membro da CCR - Relator 5