CÂMARA DE COORDENAÇÃO E REVISÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO

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1 CÂMARA DE COORDENAÇÃO E REVISÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO Origem: PRT 4ª Região Interessado(s) 1: Suscitante: Dr. Viktor Byruchko Junior PRT 4ª Região (sede) Interessado(s) 2: Suscitado: Dr. Evandro Paulo Brizzi PRT 4ª Região (PTM de Santa Maria) Interessado(s) 3: Ministério Público do Trabalho Assunto(s): Observação: Conflito de Atribuição Conflito negativo de atribuições entre PRT 4ª Região (sede) e PRT 4ª Região (PTM de Santa Maria) CONFLITO NEGATIVO DE ATRIBUIÇÃO. Dirimição da controvérsia pelo emprego da nova redação da Orientação Jurisprudencial nº 130 da SBDI-II do Colendo Tribunal Superior do Trabalho (sessão do Tribunal Pleno ocorrida no dia 14 de setembro de 2012). Atribuição de agir do Ministério Público do Trabalho fixada na Procuradoria do Trabalho no Município de Santa Maria (PRT 4ª Região). RELATÓRIO Trata-se de conflito negativo de atribuições, oriundo da Procuradoria Regional do Trabalho da 4ª Região, e suscitado pelo ilustre Procurador do Trabalho, Dr. Viktor Byruchko Junior, contra o digno Procurador do Trabalho, Dr. Evandro Paulo Brizzi, lotado na PTM Santa Maria/RS, de onde, inicialmente, deslocou o presente feito à PRT 4ª Região (Sede) à atuação do ora suscitante. 1

2 Adoto, como parte integrante deste voto, o relatório por mim lançado às fls. 80/82 (anverso e verso) do presente feito. Após decisão unânime da Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério Público do Trabalho no sentido de converter o julgamento em diligência (fl. 85), os autos retornaram à Procuradoria do Trabalho no Município de Santa Maria/RS para as providências cabíveis e necessárias, nos termos do voto desta Relatora, cuja fundamentação está assim expressada, ad litteram: Compulsando o feito, verifica-se que o i. Órgão Ministerial suscitado, fundamenta a ocorrência de dano regional e, consequente, atribuição da sede da PRT 4ª Região para atuação no presente procedimento, com supedâneo na existência fiscalizações empreendidas em canteiros de obras da empresa CAPA Engenharia S.A, localizados na cidade de Porto Alegre, em que constatada a existência de irregularidades referentes à saúde e segurança do trabalho e lavrados diversos autos de infração. Nesse sentido, junta vasta documentação (fls. 37/67), inclusive com extratos do Sistema Federal de Inspeção do Trabalho (SFIT), utilizado pelo Órgão Fiscalizador (SRTE/RS). Por outro lado, o d. Órgão suscitante afirma não existir qualquer relação entre as irregularidades encontradas no âmbito da PTM de Santa Maria e aquelas havidas nos canteiros de obras de abrangência da sede da PRT 4ª Região, razão pela qual deveriam as investigações ser conduzidas no âmbito daquela PTM. Aduz que tal conclusão foi obtida a partir de um cotejo das ementas contidas nos autos de infração lavrados em Santa Maria com aquelas relacionadas nos documentos (histórico de fiscalizações) obtidos junto à gerência da SRTE/RS em Santa Maria (doc. 05), supervenientemente juntados pelo nobre colega suscitado. 2

3 Ocorre, todavia não ter restado suficientemente esclarecido no procedimento quais as matérias às quais relacionados os autos de infração lavrados em face da empresa CAPA Engenharia S.A na cidade de Porto Alegre. Com efeito, da leitura dos extratos do SFIT trazidos ao expediente pelo d. Órgão suscitado, depreendese, tão somente, a menção a diversos conjuntos de números, provavelmente referentes às ações fiscais empreendidas pela SRTE/RS. Nesse sentido, apesar de esclarecido pelo i. Procurador suscitado a significação do número 5 (ocorrência de embargos), utilizado à frente de outros conjuntos numéricos, consoante fl. 58, não há qualquer legenda ou explicação quanto aos demais códigos utilizados 2, 4 e 7. Dessa forma, resta impossibilitada a esta Relatora a realização do mesmo manejo empreendido pelo i. Órgão suscitante, em análise comparativa das ementas dos autos de infrações lavrados no âmbito da PTM de Santa Maria e dos extratos do SFIT constantes às fls. 58/64. Sendo assim, tendo em vista que à análise do presente conflito de atribuições é necessário o esclarecimento de todas as questões pertinentes a matéria em exame, impõe-se a conversão do julgamento em diligência a fim de que o d. Órgão suscitado esclareça a que se referem os códigos utilizados ( 2, 4 e 7 ) à frente dos conjuntos numéricos constantes nos extratos do SFIT às fls. 58 e 64, bem como o que estão a indicar referidos grupos numéricos. Já em tramitação na PTM de Santa Maria (PRT 4ª Região), foi o feito concluso à i. Procuradora do Trabalho, Dra. Bruna Iensen Desconzi, que despachou no seguinte sentido (fl. 89): Compulsando o respeitável voto de lavra da Excelentíssima Senhora Subprocuradora Geral do Trabalho, Dra. Vera Regina Delia Pozza Reis, verifico que houve a conversão do julgamento do conflito negativo de atribuições em diligência, a fim de que sejam prestados esclarecimentos 3

4 quanto aos códigos utilizados nos documentos de fls. 57/64. Destarte, determino seja expedido ofício à SRTE, solicitando que sejam informados os significados dos códigos constantes dos referidos documentos, a saber, os de números "2", "4" e "7". Para tanto, encaminhem-se cópias dos documentos supracitados - frente e verso. Além disso, solicite-se cópia dos autos de infração cujos números se encontram nos documentos de fls. 58, 61 e 64. Ressalte-se que deverá a SRTE, se possível, responder no prazo máximo de quinze dias, haja vista a necessidade de serem esclarecidas as dúvidas suscitadas pela insigne Subprocuradora Geral do Trabalho. Voltem conclusos com a resposta ou com o decurso do prazo supra. Em atenção ao quanto acima despachado, a Superintendência Regional do Trabalho e Emprego no Rio Grande do Sul apresentou as informações e documentos de fls. 93/95 e 100/161. certidão à fl Autos reencaminhados a esta Relatora, conforme É o relatório. ADMISSIBILIDADE Atendido o quanto preceituado no parágrafo 1º, do art. 3º, da Resolução CSMPT nº 69/2007, com redação dada pela Resolução CSMPT nº 99/2011, recebo, com esteio no inciso VI do artigo 103 da LC 75/93, o presente conflito negativo de atribuições. 4

5 VOTO-FUNDAMENTAÇÃO O i. Órgão Ministerial suscitado, fundamenta a ocorrência de dano regional e, consequente, atribuição da sede da PRT 4ª Região para atuação no presente procedimento, com supedâneo na existência fiscalizações empreendidas em canteiros de obras da empresa CAPA Engenharia S.A, localizados na cidade de Porto Alegre, em que constatada a existência de irregularidades referentes à saúde e segurança do trabalho e lavrados diversos autos de infração. Nos autos do PP /7, instaurado em face da empresa Capa Engenharia S/A, para apurar denúncia de irregularidades quanto à concessão de intervalo intrajornada e distribuição de EPI s, e sob a condução do ora suscitado (PTM de Santa Maria/RS), foi solicitada ação fiscal na denunciada, sendo lavrados os seguintes autos de infração, verbis: a) Auto de Infração nº (fl. 03) Data: Ementa: Manter instalações sanitárias sem ventilação e/ou iluminação adequadas. b) Auto de Infração nº (fl. 04) Data: Ementa: Deixar de disponibilizar água quente nos chuveiros. c) Auto de Infração nº (fl. 05) Data:

6 Ementa: Deixar de dotar os vestiários de armários individuais com fechadura ou dispositivo com cadeado. d) Auto de Infração nº (fl. 06) Data: Ementa: Deixar de dotar o local para refeições de depósito com tampa para detritos. e) Auto de Infração nº (fl. 07) Data: Ementa: Deixar de fornecer água potável, filtrada e fresca no local para refeições, por meio de bebedouro de jato inclinado ou outro dispositivo equivalente ou permitir o uso de copos coletivos para consumo de água potável no local para refeições dotar os vestiários de armários individuais com fechadura ou dispositivo com cadeado. f) Auto de Infração nº (fl. 146) Data: Ementa: Deixar de disponibilizar material para a limpeza, enxugo ou secagem das mãos no lavatório ou permitir o uso de toalhas coletivas no lavatório. g) Auto de Infração nº (fl. 144) Data: Ementa: Prorrogar a jornada normal de trabalho, além do limite legal de 2 (duas) horas diárias, sem qualquer justificativa legal. Em razão da deliberação CCR/MPT de fl. 85, que decidiu pela conversão do julgamento deste feito em diligência, nos termos do voto condutor de fls. 80/84 (anverso e verso), e do quanto determinado no r. despacho à fl. 89, a Superintendência Regional do Trabalho no Rio Grande do Sul encaminhou à Procuradoria do Trabalho no Município de 6

7 Santa Maria/RS cópia dos autos de infração lavrados contra a Capa Engenharia S/A. Dentre os autos remetidos, destacam-se os adstritos à cidade de Porto Alegre: a) Auto de Infração nº (fl. 104) Data: Ementa: Deixar de usar madeira de boa qualidade na construção de escadas, rampas e passarelas. b) Auto de Infração nº (fl. 105) Data: Ementa: Deixar de acompanhar o cumprimento das medidas de segurança e saúde no trabalho pelos contratados que atuam em seu canteiro. c) Auto de Infração nº (fl. 106) Data: Ementa: Não adotar as providências necessárias para acompanhar o cumprimento pelas empresas contratadas que atuem em seu estabelecimento das medidas de segurança e saúde no trabalho. d) Auto de Infração nº (fl. 107) Data: Ementa: Falta de implementação de PCMAT (Programa de Condições e Meio Ambiente do Trabalho) na indústria da construção. e) Auto de Infração nº (fl. 108) Data: Ementa: Deixar de fazer constar no PCMAT o projeto de execução das proteções coletivas em conformidade com as etapas da execução da obra. f) Auto de Infração nº (fl. 109) Data: Ementa: Não deixar de sistema de guarda-pó e rodapé em andaime. 7

8 g) Auto de Infração nº (fl. 112) Data: Ementa: É obrigatória, na periferia da edificação, a instalação de proteção contra queda de trabalhadores e projeção de materiais a partir do início dos serviços necessários à concretagem da primeira laje. h) Auto de Infração nº (fl. 115) Data: Ementa: É obrigatória a instalação de proteção coletiva onde houver risco de queda de trabalhadores. i) Auto de Infração nº (fl. 118) Data: Ementa: As mangueiras devem possuir mecanismos contra o retrocesso das chamas na saída do cilindro e chegada do maçarico. j) Auto de Infração nº (fl. 140) Data: Ementa: O acesso aos andaimes deve ser feito de maneira segura. k) Auto de Infração nº (fl. 141) Data: Ementa: As mangueiras devem possuir mecanismos contra o retrocesso das chamas da saída do cilindro e chegada do maçarico. f) Auto de Infração nº (fl. 142) Data: Ementa: Os andaimes suspensos devem ser convenientemente fixados à edificação na posição de trabalho. g) Auto de Infração nº (fl. 121) Data: Ementa: Prorrogar a jornada normal de trabalho, além do limite legal de 2 (duas) horas diárias, sem qualquer justificativa legal. 8

9 Conforme se observa, a empresa Capa Engenharia S/A foi autuada pela fiscalização do Ministério do Trabalho e Emprego, nas cidades de Santa Maria/RS e Porto Alegre/RS, por descumprimento das normas de saúde e segurança no trabalho (Área Temática 1 - Grupo do Temário Unificado do Ministério Público do Trabalho, instituído pela Resolução CSMPT nº 76/2008) e por excesso de jornada (Área Temática 9 - Grupo Subgrupo da lista temática anexa à já referida Resolução CSMPT nº 76/2008), o que configura a existência de dano regional. Registra-se que ao tempo em que suscitado o presente conflito negativo de atribuição aplicável à dirimição da contenda a redação primeva da Orientação Jurisprudencial nº 130 da SBDI-II do colendo Tribunal Superior do Trabalho 1, combinada como o entendimento que ressai dos arts. 2º da Lei nº 7.347/85 2 e 93, II, da Lei nº 8.078/90 3, residindo a atribuição para conduzir o presente feito na jurisdição da Procuradoria Regional do Trabalho da 4ª Região (Sede), na pessoa do Dr. Viktor Byruchko Junior, ora suscitante. 1 AÇÃO CIVIL PÚBLICA. COMPETÊNCIA TERRITORIAL. EXTENSÃO DO DANO CAUSADO OU A SER REPARADO. APLICAÇÃO ANALÓGICA DO ART. 93 DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. DJ Para a fixação da competência territorial em sede de ação civil pública, cumpre tomar em contra a extensão do dano causado ou a ser reparado, pautando-se pela incidência analógica do art. 93 do Código de Defesa do Consumidor. Assim, se a extensão do dano a ser reparado limitar-se ao âmbito regional, a competência é de uma das Varas do Trabalho da Capital do Estado; se for de âmbito supra-regional ou nacional, o foro é o do Distrito Federal. 2 Art. 2º As ações previstas nesta Lei serão propostas no foro do local onde ocorrer o dano, cujo juízo terá competência funcional para processar e julgar a causa. 3 Art. 93. Ressalvada a competência da Justiça Federal, é competente para a causa a justiça local: (...) II - no foro da Capital do Estado ou no do Distrito Federal, para os danos de âmbito nacional ou regional, aplicando-se as regras do Código de Processo Civil aos casos de competência concorrente. 9

10 Todavia, a tramitação do presente procedimento administrativo alcançou a vigência da OJ nº 130 da SBDI-II do C. TST, em sua nova redação, cujo teor é o seguinte: AÇÃO CIVIL PÚBLICA. COMPETÊNCIA. LOCAL DO DANO. LEI Nº 7.347/1985, ART. 2º. CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR, ART. 93 (redação alterada na sessão do Tribunal Pleno realizada em ) Res. 186/2012, DEJT divulgado em 25, 26 e I A competência para a Ação Civil Pública fixa-se pela extensão do dano. II Em caso de dano de abrangência regional, que atinja cidades sujeitas à jurisdição de mais de uma Vara do Trabalho, a competência será de qualquer das varas das localidades atingidas, ainda que vinculadas a Tribunais Regionais do Trabalho distintos. III Em caso de dano de abrangência suprarregional ou nacional, há competência concorrente para a Ação Civil Pública das Varas do Trabalho das sedes dos Tribunais Regionais do Trabalho. IV Estará prevento o juízo a que a primeira ação houver sido distribuída. Portanto, aplicando-se ao caso concreto a nova redação da referida Orientação Jurisprudencial, especificamente seus incisos II e IV, este último de forma analógica, tem-se que a investigação deve se dar na Procuradoria do Trabalho no Município de Santa Maria/RS (PRT 4ª Região), local onde se iniciou a ação persecutória do Ministério Público do Trabalho, e, porventura, ajuizada ação civil pública, de acordo com o verbete em comento, restará competente uma das Varas do Trabalho instaladas na circunscrição judiciária de Santa Maria/RS, cuja sentença terá efeito erga omnes. 10

11 Salienta-se, por oportuno, que este verbete (OJ 130), em sua redação atual, é uma grande conquista para a atuação do Ministério Público do Trabalho em favor da coletividade dos trabalhadores e da sociedade em geral, facilitando o acesso e uma decisão justa e adequada nas ações civis públicas. O critério consagrado na mudança do verbete melhora a tramitação dessas ações. O juiz que a julgará, em geral, por atuar no local do dano, conhece a realidade da empresa, já julgou ações individuais e tem melhores condições de instruir e julgar a lide, com notáveis benefícios à proteção coletiva dos trabalhadores. Assim, a atribuição para conduzir o presente feito reside, a priori, na jurisdição da Procuradoria do Trabalho no Município de Santa Maria/RS (PRT 4ª Região), na pessoa do Exmo. Procurador do Trabalho Evandro Paulo Brizzi. CONCLUSÃO Pelo exposto, CONHEÇO do presente conflito negativo de atribuições submetido a esta Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério Público do Trabalho, com base no art. 103, inc. VI, da Lei Complementar nº 75/93 e, VOTO no sentido de que a atribuição para conduzir o presente feito reside, a priori, na jurisdição 11

12 da Procuradoria do Trabalho no Município de Santa Maria/RS (PRT 4ª Região), cabendo ser encaminhado o presente feito ao d. Procurador do Trabalho, Dr. Evandro Paulo Brizzi, ora suscitado. Cientifiquem-se os Exmos. Srs. Procuradores do Trabalho suscitante e suscitado e igualmente a Chefia da Procuradoria Regional do Trabalho da 4ª Região. Brasília, 30 de novembro de VERA REGINA DELLA POZZA REIS Subprocuradora Geral do Trabalho Coordenadora da CCR - Relatora 12