CÂMARA DE COORDENAÇÃO E REVISÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO

Transcrição

1 DO Origem: PRT 2ª Região Interessado(s) 1: Sigiloso Interessado(s) 2: EBCT Interessado(s) 3: Ministério Público do Trabalho Assunto(s): Trabalho na Administração Pública Temas Gerais Procurador oficiante: Juliana Queluz Venturine Massarente RECURSO ADMINISTRATIVO ASSÉDIO MORAL RECUSA DE ATESTADO. Investigação Repetida. Aplicação do Precedente nº 04 da CCR/MPT e do art. 5º, alínea b e 5º da Resolução CSMPT nº 69/2007. Pelo CONHECIMENTO e NÃO PROVIMENTO DO RECURSO ADMINISTRTIVO e pela HOMOLOGAÇÃO da proposta de arquivamento. RELATÓRIO Trata-se de procedimento administrativo instaurado com gênese em denúncia sigilosa registrada no Disque Direitos Humanos, formulada em face da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos EBCT (Diretoria Regional dos Correios em São Paulo), relatando a prática reiterada de assédio moral contra a pessoa do denunciante, concernente em 1

2 perseguições, recusa na concessão de férias, cancelamento do acesso a pastas compartilhadas de trabalho, cancelamento do acesso à internet e à intranet, humilhações, monitoramento e isolamento excessivos e recusa de atestados. A i. Procuradora oficiante arquivou o presente expediente, fls. 49/52, sob as seguintes alegações, in verbis: RELATÓRIO DE ARQUIVAMENTO FUNDAMENTO: Precedente 16 do C. CSMPT. Trata-se de procedimento preparatório autuado com objeto: desconsideração de atestado médico, em razão de denúncia sigilosa que noticiava retaliação e monitoramento de um determinado empregado sigiloso em virtude de denúncias por ele exteriorizadas aos órgãos fiscalizadores. Afirma, o denunciante, que o caso é típico de assédio moral e descreve acontecimentos supostamente caracterizados como perseguição no meio ambiente de trabalho como: recusa de concessão de férias, ociosidade, cancelamento de acesso às pastas compartilhadas de trabalho, cancelamento de acesso a internet e intranet, isolamento excessivo e motivo de chacota e gozação no ambiente de trabalho, pelos colegas e com a conivência dos gestores, não aceitação de atestado médico nos devidos trâmites legais, gerando, portanto, desconto em folha salarial, excesso de monitoramento e exposição de sua vida particular. Foi determinada, às fls. 04, a distribuição deste procedimento com prioridade, motivo pelo qual foi distribuído provisoriamente à banca n 136, em razão de afastamento em virtude de férias desta Procuradora do 2

3 Trabalho (banca n 122), cuja banca estava preventa para atuar nesta investigação, por pertinência temática junto à Rep n (com indeferimento homologado pela C. CCR, após ter sido negado provimento a recurso administrativo interposto, conforme cópia do voto juntada - fls. 48). Ora, da análise detalhada da denúncia, verifica-se que este procedimento foi autuado com objeto desconsideração de atestado médico, por ter sido uma das formas de perseguição citadas pelo denunciante, supostamente praticada contra a vítima citada na denúncia. Assim, a não aceitação de atestado médico está inserida dentro de um contexto mais amplo, que é a suposta perseguição sofrida pela vítima, exteriorizada, conforme alegado, por meio de diversos atos, sendo um deles a recusa de atestado médico. Porém, a mesma denúncia que deu origem a esta Representação ensejou, também, a autuação da Rep n , que tem como um dos temas Assédio Moral, conforme se verifica de fls. 09. Ora, estando o objeto deste procedimento, conforme narrativa do próprio denunciante, incluído no objeto da Rep n , uma vez que o denunciante afirma que o caso é típico de assédio moral e descreve casos de perseguição no meio ambiente de trabalho, citando, como exemplo, a recusa de atestado médico (objeto deste Procedimento Preparatório), entendo aplicável ao caso o Precedente n. 16 do C. CSMPT, a seguir transcrito: "INVESTIGAÇÃO REPETIDA. Mantém-se o arquivamento do procedimento investigatório quando contra a mesma empresa jâ existe outro procedimento em curso investigando as mesmas irregularidades" Ressalte-se, por oportuno que, conforme cópia do Relatório de Arquivamento da Rep n , juntada na Pasta Espelho Sigilosa destes autos (fls. 587/590), a Exma. Sra. Procuradora do Trabalho oficiante nos autos da referida Representação a arquivou por entender que os fatos descritos na denúncia denotam eventual violação a direito individual e não lesão a interesses difusos ou coletivos referentes a direitos sociais indisponíveis ligados às relações de trabalho, que justifiquem a intervenção do Parquet. 3

4 Além disso, no relatório de arquivamento frisou que "Não obstante, em que pese do narrado exsurgir a conotação de direito individual, esta Procuradoria já investiga outras denúncias de assédio moral praticado pelo mesm denunciado, razão pela qual este relatório passará a compor o acervo arquivamentos de casos individuais que justificarão proposição de adequação de conduta a título coletivo". A observação citada acima, feita pela Exma. Sra. Procuradora do Trabalho oficiante nos autos da Rep n corrobora a aplicação, ao caso aqui tratado, do Precedente n. 16 do C. CSMPT, por existir, em face do mesmo investigado, procedimento em curso investigando as mesmas irregularidades, como o IC , em curso perante a banca n 115, de titularidade da Exma. Sra. Procuradora do Trabalho oficiante nos autos da Rep n , ativo, com tema: Assédio Moral (fls. 620 da Pasta Espelho). Assim, promovo o arquivamento deste Procedimento Preparatório (PP n /0). Por cautela, desentranhar o CD com a relação dos empregados afastados, juntado às fls. 41, e juntá-lo na Pasta Espelho sigilosa, uma vez que pode conter dados protegidos por sigilo médico. No que concerne à petição protocolada às fls. 585/586 da Pasta Espelho Sigilosa destes autos, considerando que esta Procuradora do Trabalho não possui atribuição para decidir sobre cessão de servidor, encaminhar cópia à Exma. Sra. Procuradora-Chefe desta Procuradoria Regional. Além disso, como houve menção à intimação n /PRT2, expedida nos autos da Rep n , encaminhar cópia da petição à Exma. Sra. Procuradora do Trabalho oficiante nos autos da referida representação. Solicitar às Exmas. Sras. Procuradoras destinatárias que, por cautela, resguardem o sigilo dos dados da pessoa que firmou a petição. Encaminhar cópia de fls. 591/618 à Exma. Sra. Procuradora do Trabalho oficiante nos autos da Rep n , para ciência, solicitando que seja resguardado o sigilo dos dados da pessoa que firmou a petição e dos documentos encaminhados. 4

5 Encaminhar cópia deste relatório de arquivamento à Exma. Sra. Procuradora do Trabalho oficiante nos autos da Rep n e do IC n ~ , para ciência. Após intimação acerca do arquivamento do procedimento, o denunciante interpôs recurso administrativo, conforme fls. 682/786 da Pasta Espelho. Em despacho fls. 58/61, a d. Procuradora oficiante, em sede de reconsideração manteve a proposta arquvatória, deixando de notificar a EBCT para que fosse mantido o sigilo do recorrente, nos seguintes termos: Recebo o recurso administrativo apresentado tempestivamente por denunciante sigiloso a fls. 682/786 da Pasta Espelho Sigilosa. Com relação ao alegado no recurso administrativo, são necessários alguns esclarecimentos. Inicialmente, ressalte-se que os desmembramentos das denúncias nesta Procuradoria Regional do Trabalho são feitos de acordo com critérios adotados por esta Procuradoria Regional do Trabalho e com base nas regras de prevenção previstas na Resolução n 86/2009 do C. CSMPT. O denunciante argumenta ter sido prejudicado por Secretaria de Banca, fazendo menção a despacho de fls. 43 dos autos principais, em que a Excelentíssima Senhora Procuradora do Trabalho oficiante à época, em substituição a esta Procuradora do Trabalho, determina a reiteração de notificação ao denunciante sigiloso. Ocorre que a reiteração de notificação não ocorreu pois, quando do cumprimento do despacho, o denunciante sigiloso já havia realizado o protocolo de documentos, como atesta a certidão eletrônica 5

6 de 02 de julho de 2013: "Certifico que não expedi a intimação para o denunciante pois o mesmo já realizou o protocolo dos documentos solicitados." Mais uma vez, vale frisar, que não foi reiterada a intimação como determinava o despacho de fls. 43, pois não havia mais razões para tanto. Observe-se que a data do despacho é anterior à própria juntada dos documentos pelo denunciante sigiloso. O recorrente também alega supostos prejuízos causados pelo Setor de Protocolo desta Procuradoria Regional do Trabalho da 2* Região, indicando que, documentos anexos às petições teriam sido supostamente perdidos Em que pese o termo de conclusão de 02 de setembro de 2013 anotar que "os documentos anexos mencionados na petição mencionada não foram entregues ao Setor de Protocolo desta Procuradoria", a referência é ã petição de fls. 585/586 da Pasta Espelho Sigilosa, protocolada em 29 de agosto de Não tem, portanto, ligação com os documentos juntados pelo protocolo de 28 de junho de 2013, de fls. 12/584. Nesse sentido, os documentos que o denunciante alega terem sido "perdidos" pelo Setor de Protocolo parecem constar dos autos, nas mais de 400 folhas de documentos, constantes da pasta espelho sigilosa. Em outro tópico, o recorrente aponta supostos prejuízos verificados também no Setor de Atendimento. Alega que não teve a oportunidade de ter vistas dos autos, pois o setor sempre respondia que os autos estavam conclusos com a Procuradora. De fato, o tempo em que o processo permaneceu na conclusão desta Procuradora deveu-se, inclusive, ao fato de haver grande volume de documentos juntados, o que demandou uma análise detalhada de todo o encartado. Argumenta o denunciante, ainda, que não foi notificado para depor no PP 13 96/2013, quando acredita que seria "o momento certo e oportuno para sanar todas as inconformidades desse procedimento". Contudo, necessário esclarecer que quem preside o Procedimento de Investigação é o Procurador 6

7 oficiante. No caso dos autos, esta Procuradora do Trabalho entendeu não ser o caso de oitiva do denunciante sigiloso, inclusive, em razão de tratar-se, o caso dos autos, de investigação repetida em relação à Rep 1393/2013 e ao IC n e o prosseguimento desta investigação invadiria a atribuição do Procurador do Trabalho oficiante nos autos do IC n , prevento para investigar a matéria aqui denunciada em face do investigado. Quanto aos "fatos novos", mencionados tanto a fls. 687/786 como os constantes de fls. 630/680, todas da Pasta Espelho Sigilosa, deverá, a Secretaria, encaminhar cópia à Excelentíssima Senhora Procuradora do Trabalho Dra. Denise Lapolla de Paula Aguiar Andrade, oficiante nos autos do IC , para ciência, solicitando que resguarde o sigilo documentos encaminhados, com vistas a preservar a identidade pessoa que firmou as petições. Prestados os esclarecimentos necessários, quanto ao mérito do recurso, mantenho o arquivamento, por seus próprios fundamentos. Oportuno frisar que o próprio denunciante sigiloso, às fls. 683 da Pasta Espelho Sigilosa afirma "Não entendo para que desmembrar a denúncia se o investigado era o mesmo (...) e o assunto em pauta, ASSÉDIO MORAL". Deixo de intimar a investigada para contrarrazoar o recurso administrativo interposto, pois acesso desta às razões do recurso revelarão a identidade do denunciante sigiloso. Desentranhar da Pasta Espelho Sigilosa o documento de fls. 625 (antiga fl. 41 dos autos principais), constituindo pasta espelho sigilosa própria, da qual o denunciante sigiloso não pode ter vistas, uma vez que tal documento pode conter dados protegidos por sigilo médico relacionados a outros empregados do denunciado. Considerando que, em razão de haver documentos juntados pela denunciada que poderiam conter dados protegidos por sigilo médico, conforme mencionado acima, o denunciante sigiloso não teve acesso à Pasta Espelho Sigilosa. Assim, após a criação da Pasta Espelho Sigilosa com o documento de fls. 625, na forma determinada acima, da qual o denunciante sigiloso não poderá ter vista, intimar o denunciante sigiloso (adotando todas as cautelas 7

8 autos a esta Relatora (fl. 64). necessárias a fim de que o sigilo de seus dados seja resguardado) com cópia deste despacho para que, querendo, tenha vista dos autos - inclusive da Pasta Espelho Sigilosa formada com documentos por ele juntados (exceto da Pasta Espelho formada com documentos juntados pela empresa), no prazo improrrogável de 48 (quarenta e oito) horas do recebimento da intimação.(...). Por distribuição deste feito na CCR/MPT, vieram os É o relatório. VOTO-FUNDAMENTAÇÃO O Recurso Administrativo apresentado pelo denunciante apresenta-se hábil e tempestivo (fls. 627-v e 682), que merece conhecimento. No entanto não deve ser provido pelos fundamentos, a seguir, adotados. Compulsando os autos, verifica-se que o i. Órgão Ministerial oficiante procedeu ao encerramento do presente expediente, sob o argumento de se tratar, o feito, de flagrante investigação repetida e de questão, meramente, individual. 8

9 Não obstante valer-se, a d. Procuradora oficiante, Dra.Juliana Queluz Venturine Massarente, em seu arquivamento, dos argumentos da Exma. Procuradora Regional do Trabalho, que atua na Rep em mesma unidade do MPT, no sentido de que os fatos narrados na denúncia traduzem violações a direitos individuais e disponíveis, o que afastaria por oportuno a atuação do Ministério Público do Trabalho, verificase que o mérito do encerramento repousa, preponderantemente, na existência de investigações ativas sobre o mesmo tema Assédio Moral contra a mesma empresa ora denunciada. Impõe ressaltar, que a referida Rep (autuado na Procuradoria Geral do Trabalho com o nº 17268/2013) já passou pelo crivo desta Câmara de Coordenação e Revisão, tendo seu arquivamento homologado na 212ª Sessão em 26/11/2013 Dezembro de 2007, assim determina: O art. 5º, alínea b e 5º da Resolução nº 69 de 12 de Art. 5º O membro do Ministério Público do Trabalho, no prazo máximo de trinta dias, indeferirá o pedido de instauração de inquérito civil, em decisão fundamentada, da qual se dará ciência pessoal, por via postal ou correio eletrônico, ao representante e ao representado, nos casos de: 9

10 (...) b) o fato denunciado ter sido ou estiver sendo objeto de investigação ou de ação civil pública; (...) 5º No caso de o arquivamento ter ocorrido por já existir investigação ou ação em curso, a denúncia deverá ser juntada aos autos do procedimento pré-existente, para ciência do membro do Ministério Público do Trabalho com atribuição originária para o caso. Ademais, a prória Câmara de Coordenação e Revisão já firmou entendimento (Precedente nº 04 do CCR/MPT) no sentido de acostar ao procedimento mais antigo, contra a mesma empresa e de idêntica matéria, denúncia, flagrantemente repetitiva, in verbis: Precedente nº 04/CCR 185ª Reunião Ordinária (29/03/11 e 01/04/11) PROMOÇÃO DE ARQUIVAMENTO EM PROCEDIMENTO E/OU INQUÉRITO CIVIL FUNDAMENTADA EM INVESTIGAÇÃO REPETIDA. Na esteira da Orientação nº 7/CCR e por aplicação analógica do artigo 5º, 5º, da Resolução nº 69/07, o Relator, verificando tratar-se de promoção de 10

11 arquivamento em procedimento preparatório e/ou inquérito civil fundamentada em investigação repetida, devolverá os autos ao órgão oficiante para que os remeta à PRT e/ou Procurador responsável pela investigação em curso, com a respectiva comunicação aos interessados. Portanto, não se faz necessário, nos presentes autos, o prosseguimento da atividade persecutória ao encargo do MPT, tendo em conta a pré-existência de procedimentos administrativos com os mesmos objetos denunciados e o caráter individual da denúncia sem repercussões metaindividuais. Considerando os dispositivos institucionais citados e as circunstâncias apresentadas no expediente, ora em exame, não há como dar provimento ao recurso interposto. CONCLUSÃO Pelo exposto, VOTO no sentido de CONHECER e NÂO PROVER o recurso administrativo sub examine, e de HOMOLOGAR a proposta de arquivamento do expediente às fls. 49/52, subscrito pela Exma. Procuradora do Trabalho, Dra. Juliana 11

12 Queluz Venturine Massarente,, determinando o retorno dos autos à origem para as providências de praxe. Cientifiquem-se os interessados e a Chefia da Procuradoria Regional do Trabalho de origem. Brasília, 24 de fevereiro de VERA REGINA DELLA POZZA REIS Subprocuradora Geral do Trabalho Coordenadora da CCR - Relatora mjql 12