PROCURADORIA-GERAL DO TRABALHO CÂMARA DE COORDENAÇÃO E REVISÃO PROCESSO PGT/CCR/ICP/ 19430/2013

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1 Origem: PRT 18ª Região Rio Verde/GO Membro Oficiante: Tiago Ranieri de Oliveira Interessado 1: AEROTEX AVIAÇÃO AGRÍCULA LTDA Assunto: Meio Ambiente de Trabalho EMENTA: PULVERIZAÇÃO DE AGROTÓXICOS SOBRE ESCOLA. PRECÁRIA INSTRUÇÃO TÉCNICA DOS TRABALHADORES. NECESSIDADE DE PROSSEGUIMENTO DA PERSECUÇÃO MINISTERIAL A FIM DE MELHOR ESCLARECER O ALCANCE DAS DENÚNCIAS. Havendo nos autos identificação dos fatos lesivos, bem assim considerando a gravidade destes, entendo precoce o arquivamento dos autos. Os elementos constantes neste procedimento são bastantes a autorizar o aprofundamento das diligências investigatórias com vistas à apuração dos fatos denunciados. Arquivamento não homologado. I RELATÓRIO O Procurador do Trabalho Tiago Ranieri de Oliveira promoveu o arquivamento do Inquérito Civil nº /9, instaurado a partir de notícia de fato veiculada nos meios de comunicação, bem como por denúncia do Procurador Regional do Trabalho, Pedro Luiz Gonçalves Serafim da Silva, na qualidade de Coordenador do Fórum Nacional de Combate aos Agrotóxicos. Relata a denúncia fl. 28: Com os cumprimentos de estilo, na qualidade de Coordenador do Fórum Nacional de Combate aos Impactos dos Agrotóxicos, encaminho à V. Excelência, para os fins que entender, cópia de notícias veiculadas pela mídia sobre intoxicação de pessoas e contaminação do meio 1

2 ambiente por agrotóxico, no Assentamento Pontal dos Buritis, às margens da GO-174, em Rio Verde, no sudoeste de Goiás, resultante de pulverização aérea praticada por avião da empresa Aerotex, no dia 03 de maio de Outrossim, ressalto que a prática da pulverização aérea de agrotóxicos no Brasil carece de uma regulamentação adequada e por isso vem se constituindo em fator de elevado risco para a saúde do trabalhador, das pessoas em geral e para o meio ambiente, inclusive porque não tem recebido dos órgãos de controle a atenção e tratamento que ecoem nas disposições contidas nos artigos 225, caput, 1º e incisos III e V, 3º, e art. 196 da Constituição Federal; da Lei nº 6.938/81, Lei nº 7.802/1989 e Decreto nº 4.074/02. Por tais motivos, o Fórum Nacional vem registrar sua preocupação ante o ocorrido, ao tempo em que se coloca à disposição dessa instituição no que se fizer necessário, principalmente na articulação que desenvolve no cenário nacional em defesa da ordem jurídica, da saúde do trabalhador, do cidadão e do meio ambiente ante os impactos dos agrotóxicos. (fl. 28) Inquérito Civil asseverando que: O douto Órgão oficiante fundamentou o arquivamento do Da análise de todo o arcabouço documental que compõe o presente Inquérito Civil, conclui-se que o fato gerador da investigação remete-se a área cível, criminal e ambiental, pelo que se apuram danos ao meio ambiente e à saúde de terceiros, os quais já estão sendo averiguados pelo Ministério Público Federal, conforme relatório do Inquérito Policial colacionado aos autos. Tampouco houve indicação, nos autos do presente Inquérito Civil, de que os empregados vinculados à investigada tenham sido vítimas de 2

3 irregularidades trabalhistas, o que torna este Parquet convicto de que não se faz necessária a continuação deste procedimento investigatório. Portanto, diante dos documentos juntados, inexiste qualquer fundamento para propositura de ação civil pública. Assim, promovo o arquivamento deste inquérito civil, conforme disposto no Art. 10 da resolução 69/2007 do CSMPT. (fl. 475) Os autos foram sorteados e distribuídos a este Relator (fl. 480). É o breve relatório. II FUNDAMENTAÇÃO Com a devida vênia, não comungo com o entendimento esposado pelo Membro oficiante, haja vista tratar-se de fato de ampla repercussão social, envolvendo circunstâncias que, além de provocar impactos ambientais negativos, colocam em perigo a saúde de trabalhadores, sendo necessária a realização de diligências aprofundadas para a determinação exata das circunstâncias caracterizadoras do fato noticiado. Primeiramente, a fim de ultrapassar um possível afastamento da competência do Ministério Público do Trabalho por se tratar de investigação relacionada à pulverização aérea sobre escola, com possíveis danos ao meio ambiente e à saúde de terceiros, cogente observar que, além dos temas relacionados às esferas cível, criminal e ambiental, temos na denuncia a descrição de danos ao meio ambiente de trabalho, no que se refere à pulverização de veneno sobre local de trabalho dos funcionários da escola, bem como possíveis irregularidades na instrução técnica oferecida pela denunciada aos seus empregados. 3

4 Portanto, tendo em vista a relação da notícia de fato com a atuação institucional do MPT, deste é a competência para apurar os danos aos trabalhadores e ao ambiente de trabalho. Em relação ao treinamento dos funcionários da empresa denunciada, ao se perlustrar os autos, percebe-se que foram precariamente instruídos, já que pela análise dos documentos juntados pela investigada só constam palestras, não tendo sido apresentado certificados de treinamento. Destarte, todos os cursos ministrados aos funcionários foram de 3h (três horas), sendo que nenhum deles trata do manuseio de agrotóxicos. Ressalto, em idêntica acepção, o relatório de análise documental daquela PRT, corroborando as indicações acima: 4. A cópia do livro de registro dos empregados encontra-se às fls Ressalte-se que consta um empregado ocupante da função de analista administrativo (fl. 126), cargo não listado no PPRA. São 3 (três) o número de empregados ocupantes da função de piloto agrícola(fls. 106, 108 e 111), dentre os indicados no livro de registro, o que demonstra que a denunciada não juntou cópia do livro de registro de todos os empregados, tendo em vista que foi informado pela empresa em audiência no dia (fls ) a existência de 9 (nove) pilotos, bem como consta a assinatura de 9 (nove) pilotos em curso de treinamento (fls ). 5. Os certificados constantes às fls , comprovam a participação dos empregados em curso de prevenção de acidentes de trabalho, primeiros socorros, legislação e prevenção e combate a incêndios. Não há certificados que comprovem o treinamento dos empregados ocupantes da função de técnico agrícola ou auxiliar de serviços agrícolas no manuseio de agrotóxicos. Constam também ordens de serviços com 4

5 normas de segurança para prevenção de acidentes e declarações de recebimento de EPI s. Os empregados receberam os equipamentos previstos no PPRA, mas nos recibos de entrega não consta a devolução dos EPI s e substituição por novos equipamentos. (Fls. 455) Da citada análise documental, infere-se a possibilidade de ocorrência de irregularidades, ou omissões, referentes ao treinamento técnico dos funcionários da empresa denunciada, motivo que enseja apurações mais concretas a serem realizadas por aquela PRT. Importante lembrar que é preceito previsto na NR-31 do MTE, a garantia da segurança e saúde dos trabalhadores, cabendo ao empregador garantir adequadas condições de trabalho, realizar avaliações de riscos à segurança e saúde de seus empregados, adotando medidas de prevenção e proteção com vistas à adequação do ambiente de trabalho às normas de segurança, bem como assegurar que os trabalhadores sejam devidamente instruídos em matéria de segurança e saúde, sendo orientados e supervisionados para que as atividades realizadas sejam seguras (NR-31, item ). Noutra esteira, aparentemente não se buscou traçar um panorama geral dos danos referentes aos temas trabalhistas sobrevindos com o fato noticiado, de modo que, a meu ver, as investigações foram insuficientes. Desta feita, necessária uma maior diligência investigatória, para se apurar a qualidade dos treinamentos e instruções fornecidas aos trabalhadores da empresa denunciada, bem como outras irregularidades referentes a inobservâncias das normas de segurança que porventura venham ocorrendo. Ainda, imprescindível uma análise pormenorizada dos danos ao ambiente de trabalho dos funcionários da escola, 5

6 determinando-se o alcance dos fatos narrados na denuncia, para posterior responsabilização dos envolvidos. III CONCLUSÃO Pelo exposto, voto pela não homologação da promoção de arquivamento e, por consequência, determino o retorno dos autos à PRT de origem para as providências cabíveis. Brasília, em 05 de fevereiro de OTAVIO BRITO LOPES Membro da CCR - Relator 6