PROCURADORIA GERAL DO TRABALHO

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1 PROCESSO PGT/CCR/ICP/N. 9052/2011 PROCURADORA OFICIANTE: DRA. ADVANE DE SOUZA MOREIRA INTERESSADO 1: MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMRPEGO SUPERINTENDÊNCIA REGIONAL DO TRABALHO E EMPREGO INTERESSADO 2:SPA ENGENHARIA INDÚSTRIA E COMÉRCIO LTDA. ASSUNTOS: COORDINFÂNCIA INQUÉRITO CIVIL. APRENDIZAGEM. CÁLCULO DO NÚMERO DE APRENDIZES A SEREM CONTRATADOS. FUNÇÕES QUE DEMANDAM APRENDIZAGEM. A Classificação Brasileira de Ocupações é referência para as funções a serem computadas para o cumprimento do artigo 429 da Consolidação das Leis do Trabalho. Todavia, o programa de aprendizagem levará em consideração o conjunto das atividades desenvolvidas pela empresa, uma vez ultrapassado o conceito de aprendizagem por ofício. Para fins da aprendizagem, os padrões a serem utilizados são aqueles dispostos no art. 428 do mesmo diploma legal. I RELATÓRIO O Órgão oficiante arquivou o presente inquérito civil por entender que a empresa investigada se encontra regular quanto à sua obrigação legal de contratar (fl. 747) aprendizes, na forma prevista no art. 429 da CLT. Disse correto o

2 cálculo realizado às fls. 535/601, ressaltando, no entanto, que seu entendimento a respeito não se alinha com o entendimento esposado pelo Ministério do Trabalho e Emprego. Para tanto, expôs os argumentos de fls. 742/748. É, em síntese, o relatório. II VOTO O presente inquérito se originou de representação encaminhada pela Superintendência Regional do Trabalho, à vista da constatação pela fiscalização de que a empresa investigada não cumpre o disposto no art. 429 da CLT, o que resultou na sua autuação (fl. 08). Após tratativas efetivadas com a empresa, esta demonstrou a contratação de aprendizes em número suficiente ao cumprimento do que ficou estabelecido na ata de audiência de fl. 522/523, que discrimina parâmetros para o cálculo da cota do referido dispositivo consolidado. Este o critério acordado: será refeito o cálculo da cota legal mínima de aprendizes a que a inquirida se encontra obrigada, incluindo-se nelas todas as funções que demandem cursos de profissionalização de 200 horas ou mais, ficando esclarecido que quando a CBO informa que a função demanda curso de profissionalização de até 200 horas, tal função não será incluída na base de cálculo; não serão incluídas as funções que demandam formação de nível técnico ou superior, nem os cargos de confiança (art. 62 da CLT). Inicialmente, entendo necessário que se esclareça que a aprendizagem, como prevista pela Lei nº /2000, que modificou a redação dos artigos consolidados que tratam do instituto da aprendizagem, deixou para trás a aprendizagem por ofício anteriormente contemplada. O art. 428 da CLT, com a nova

3 redação, traçou os parâmetros do contrato de aprendizagem, evidenciando a sua complexidade e amplitude, eis que não mais reduzida a um ofício. Referido dispositivo explicita que o programa de aprendizagem deve assegurar ao aprendiz formação técnico-profissional metódica, compatível com o seu desenvolvimento físico, moral e psicológico, e que esta formação técnico-profissional caracteriza-se por atividades teóricas e práticas, metodicamente organizadas em tarefas de complexidade progressiva desenvolvida no ambiente de trabalho. A sua vez, o art. 429, ao dispor sobre o cálculo do número de aprendizes a serem contratados pelas empresas, disse que esse cálculo se fará com base nos trabalhadores existentes em cada estabelecimento, cujas funções demandem formação profissional. A disposição não permite qualquer vinculação individual dessas funções com a aprendizagem a ser ministrada, isto é, o programa de aprendizagem não se limitará a determinada função, mas, antes, irá contemplar a diversidade da empresa, proporcionando ao aprendiz um conhecimento amplo da sua estrutura, funcionamento, para que, assim, possa obter uma formação profissional que o habilitará a trabalhar em qualquer empresa similar. É claro que as funções mais complexas poderão compor um programa de aprendizagem que sempre informará sobre a empresa em que estão inseridas, assim como o setor da economia a que se vincula. A referência feita no citado art. 429 serve apenas para o cálculo do número de contratações a serem efetivadas, não vinculando o programa de aprendizagem a uma ou outra atividade. Nesse contexto, deve ser interpretado o art. 10 do Decreto nº 5.598/2005. A menção por ele feita à Classificação Brasileira de Ocupações CBO serve de orientação quanto às funções que demandam aprendizagem, mas o número de horas da formação profissional de cada uma

4 das funções nela discriminada não deve ser visto como o conteúdo do programa de aprendizagem, porque não é isso que diz a Lei, nem o Decreto em questão, nem a própria CBO. O programa de aprendizagem, nos termos dispostos no art. 428 da CLT, como antes mencionado, é mais amplo e complexo. Entendo, portanto, que não há como traçar um limite mínimo a partir da CBO para o cômputo das funções que demandam aprendizagem quando o dispositivo consolidado não faz essa distinção, nem mesmo o Decreto regulamentador da contratação de aprendizes, que somente exclui do cálculo as funções que demandam, para o seu exercício, habilitação profissional de nível técnico ou superior, ou, ainda, as funções que estejam caracterizadas como cargos de direção, de gerência ou de confiança, nos termos do inciso II e do parágrafo único do art. 62 e do 2º do art. 224 da CLT. Assim, ainda que louvável a preocupação do Órgão oficiante no sentido de a aprendizagem não vir a precarizar o emprego do adolescente ou do jovem, não cumprindo os propósitos inerentes à formação profissional de que cogita a Carta Magna e a Consolidação das Leis do Trabalho, não é certamente o parâmetro de cálculo da cota de aprendizes adotado no presente que a impedirá. O que a impedirá é, certamente, o programa de aprendizagem com o conteúdo traçado pelo citado art. 428 da CLT. O entendimento esposado, na verdade, implica na diminuição do número de adolescentes e/ou jovens a serem contratados, o que resulta em seu prejuízo. Com essas observações, e louvando o trabalho desenvolvido pela Procuradora que atuou na presente investigação, não homologo a promoção de arquivamento, em face do que dispõe o art. 429 da CLT.

5 III CONCLUSÃO Nessas condições, não homologo a promoção de arquivamento do presente inquérito civil, deixando de designar membro específico para atuação (inciso II, art. 10, da Resolução nº 69/2007), em respeito à autonomia organizacional da Regional. Brasília, 12 de setembro de Eliane Araque dos Santos Relatora

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