PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO ACÓRDÃO

Transcrição

1 ACÓRDÃO Registro: Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº , da Comarca de São Paulo, em que é apelante MAURO DA SILVA FERREIRA, é apelado MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO. ACORDAM, em 16ª Câmara de Direito Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Deram provimento ao recurso, nos termos do v. acórdão. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores GUILHERME DE SOUZA NUCCI (Presidente), LEME GARCIA E NEWTON NEVES. São Paulo, 21 de julho de Guilherme de Souza Nucci RELATOR Assinatura Eletrônica

2 Apelação nº Comarca: São Paulo Apelante: MAURO DA SILVA FERREIRA Apelado: Ministério Público VOTO Nº Apelação. Estelionato. Condenação. Pleito defensivo, preliminar, de nulidade da sentença por cerceamento de defesa. No mérito, requer a absolvição por insuficiência probatória e, subsidiariamente, fixação da pena-base no mínimo legal, afastamento da reincidência, reconhecimento da tentativa, fixação de regime inicial aberto e, substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos. Juízo que concedeu prazo para juntada de documentos, pela defesa. Documentos protocolados dentro do prazo, porém juntados aos autos somente após a prolação da sentença. Nulidade configurada. Cerceamento de defesa e ofensa ao contraditório. Recurso provido. Trata-se de recurso de apelação interposto pela douta defesa de MAURO DA SILVA FERREIRA, contra sentença de primeiro grau (fls. 251/258), prolatada em 6 de outubro de 2014, pela MM. Juíza de Direito, Dra. Luciana Ferrari Nardi Arruda, da 31ª Vara Criminal da comarca de São Paulo, que condenou o apelante às penas de 1 ano, 7 meses e 18 dias, de reclusão, em regime inicial semiaberto, e ao pagamento de 26 dias-multa, no menor valor unitário, declarandoo como incurso no art. 171, caput, por duas vezes, na forma do art. 71, ambos do Código Penal. Irresignada, a defesa interpôs o presente Apelação nº

3 recurso de apelação (fls. 270/274v), objetivando, preliminarmente, nulidade da sentença por cerceamento de defesa. No mérito, requer a absolvição por insuficiência probatória e, subsidiariamente, fixação da pena-base no mínimo legal, afastamento da reincidência, reconhecimento da tentativa, fixação de regime inicial aberto e substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos. Em suas contrarrazões (fls. 278/281), o Ministério Público bateu-se pela manutenção do decisum. A douta Procuradoria Geral de Justiça, em seu parecer (fls. 285/294), opinou pelo desprovimento do recurso. É o relatório. Devidamente processado, o recurso comporta provimento. Consoante descreve a denúncia, no dia 9 de dezembro de 2008, na Rua João Rodrigues Chaves, nº 145, cidade de São Paulo, o apelante obteve, para si, vantagem ilícita consistente em 1 impressora Epson, modelo R-290 e 1 cartucho para impressora, avaliados em R$ 638,90, em prejuízo da empresa Kalunga Comércio Indústria Gráfica Ltda. Consta, ainda, que no dia seguinte, no mesmo local acima citado, o apelante obteve, para si, vantagem ilícita consistente em 1 cartucho da marca HP, 2 roteadores wireless, 2 pilhas recarregáveis e 2 DVDs graváveis, da marca Emtec, avaliados em R$ 649,50, em prejuízo da mesma empresa. Apelação nº

4 Segundo consta, o acusado, valendo-se dos dados pessoais de Marcos Antônio Antoniassi e do cartão de crédito, bandeira Mastercard, número , de titularidade daquele, efetuou as compras dos produtos acima descritos pelo site nos dias 9 e 10 de dezembro de 2008, recebendo em sua residência tais mercadorias. Assim agindo, induziu a empresa Kalunga em erro, utilizando-se de meio fraudulento, consistente na utilização de dados pessoais e cartão de crédito em nome de terceira pessoa. Ocorre que, Marcos Antônio Antoniassi recebeu telefonema de uma empresa sediada no estado do Rio de Janeiro, que pretendia confirmar a realização de uma compra efetuada pela internet. Marcos estranhou a ligação e entrou em contato com a empresa de cartão de crédito, verificando que seu nome e dados bancários foram utilizados indevidamente. Diante disso, lavrou boletim de ocorrência. Policiais militares, em diligência, foram ao endereço fornecido pelo acusado para entrega das mercadorias e lá encontraram todos os bens obtidos de forma fraudulenta. Tatiane, companheira de Mauro, confirmou que aqueles bens eram de uso do acusado. Conforme bem exposto pela defesa, em 12/08/2014, o juízo a quo concedeu dez dias para juntada de documentos pela defesa. A petição de juntada foi protocolada em 18/08/2014, portanto dentro do prazo concedido. No entanto, por algum lapso, tais documentos só foram juntados aos autos em 29/08/2014, após a Apelação nº

5 prolação da sentença. Resta evidente a ofensa ao contraditório e ampla defesa, porquanto deixaram de ser apreciados os documentos juntados dentro do prazo, sendo de rigor a anulação da r. sentença. Ante o exposto, pelo meu voto, dou provimento ao apelo interposto pela douta defesa e reconheço a nulidade da decisão, para que outra seja proferida. GUILHERME DE SOUZA NUCCI Relator Apelação nº