PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO ACÓRDÃO

Transcrição

1 ACÓRDÃO Registro: Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº , da Comarca de Peruíbe, em que são apelantes TOMAZ LINO DOS SANTOS JUNIOR e JOSE HENRIQUE NOGUEIRA DOS SANTOS, é apelado MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO. ACORDAM, em 16ª Câmara de Direito Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Deram provimento em parte ao recurso, nos termos do v. acórdão. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores GUILHERME DE SOUZA NUCCI (Presidente), LEME GARCIA E OSNI PEREIRA. São Paulo, 23 de fevereiro de Guilherme de Souza Nucci RELATOR Assinatura Eletrônica

2 Apelação nº Comarca: Peruíbe Apelantes: Tomaz Lino dos Santos Junior e José Henrique Nogueira dos Santos Advogados: Davi Teles Marçal e Everton Meyer VOTO Nº Tráfico de entorpecente. Réus flagrados promovendo o tráfico no local. Quantidade de 16 porções de cocaína, pesando 22,52 gramas, e 4 porções de crack, com peso de 1,58 gramas. Campana policial. Depoimentos firmes e coerentes dos policiais militares. Intenção negocial comprovada. Condenação mantida. Penas dosadas nos mínimos legais. Redutor aplicado à razão de dois terços. Regime fechado afastado. Reforma para o regime aberto e substituição da pena privativa de liberdade. Parcial provimento. O MM. Juiz a quo, Dr. Wilson Julio Zanluqui, da 1ª Vara Criminal da Comarca de Peruíbe, em sentença datada de 01/09/2014 (fl. 179), julgou procedente a ação penal para condenar Tomaz Lino dos Santos Junior e José Henrique Nogueira dos Santos como incursos no artigo 33, caput, c.c. o artigo 40, inciso III, ambos da Lei /06, às penas de 1 ano e 8 meses de reclusão e 166 dias-multa, em regime inicial fechado. Irresignadas, as defesas apresentaram recurso de apelação, arguindo, precipuamente, a carência de provas para a condenação. Alternativamente, pleiteiam a fixação Apelação nº

3 de regime mais favorável e a substituição da pena privativa. Contrarrazoado os recursos, o órgão acusatório bateu-se pelo acerto do decisum; a Procuradoria Geral de Justiça opinou, em seu parecer, pelo improvimento das apelações. É o relatório. Segundo consta da exordial acusatória, na data de 28 de setembro de 2012, por volta de 18h30, nas imediações de campo de futebol, os denunciados mantinham em depósito, para fins de tráfico, 16 porções de cocaína, pesando 22,52 gramas, e 4 porções de crack, com peso de 1,58 gramas. O policial civil Reinaldo Braga de Oliveira, inquirido em sede judicial, relatou ser o local conhecido como ponto de venda de drogas, motivo pelo qual estacionou a viatura em local distante e iniciou a incursão a pé. Após algum tempo de campana, conseguiu observar a dinâmica dos acusados, constatando que o réu Tomaz era o responsável por entregar as drogas aos usuários, abaixava-se próximo a uma mureta da quadra de futebol, onde escondia os entorpecentes, e o réu José Henrique incumbido de receber o dinheiro. No mesmo sentido, as declarações do policial civil José Braz da Silva Sobrinho. A testemunha de defesa Gislene Aparecida da Silva Cassiano, em sede judicial, disse conhecer o réu José Henrique. Relatou que não sabia da prática de tráfico de drogas no local, mesmo morando há mais de vinte anos na região. Apelação nº

4 Interrogados, os réus negaram os fatos, alegando terem os policiais forjado o flagrante. Declararam que no momento da abordagem estavam jogando futebol. Acerca da confissão apresentada em sede extrajudicial, responderam que assinaram o documento sem ao menos terem lido. Inequívocas a autoria e a materialidade do crime de tráfico ilícito de entorpecentes. As negativas apresentadas pelos recorrentes são elementos isolados nos autos, inexistindo qualquer outra prova a sustentar as alegações por ele formuladas. A posse dos entorpecentes, assim como a intenção negocial comprovaram-se a partir dos depoimentos firmes e coerentes proferidos pelos policiais militares, dos quais não há porque se duvidar, sendo a abordagem precedida de campana, oportunidade em que foi possível traçar a conduta de cada corréu. Destarte, mantenho a condenação nos moldes estabelecidos pelo decisum a quo. As penas-base foram determinadas nos mínimos legais, em atenção ao artigo 59, do Código Penal. Ausentes agravantes e atenuantes, o redutor foi corretamente reconhecido e aplicado à fração de dois terços, resultando as penas, em definitivo, no montante de 1 ano e 8 meses de reclusão e 166 dias-multa. Há de se ressaltar o equívoco constante do decisum, o qual, apesar de ter reconhecido a causa de Apelação nº

5 aumento constante do artigo 40, inciso III, da Lei de Drogas, deixou de considerá-la na dosagem da pena. Em atenção à proibição da reformatio in pejus, mantém-se as reprimendas inalteradas. O regime fechado foi indevidamente estabelecido, comportando ser reformado para o aberto, tendo em vista as circunstâncias favoráveis e a reduzida quantidade de droga. No caso em apreço, presentes estão os requisitos do art. 44 do Código Penal, porquanto são os apelantes primários, com bons antecedentes, não se cuidando de crime praticado com violência ou grave ameaça e, inclusive, sendo diminuta a quantidade de droga, reflexo da reduzida penalidade aplicada, ante o reconhecimento da minoração prevista no 4º do referido tipo penal, em seu grau máximo. A culpabilidade, a conduta social e a personalidade permitiram, assim, in casu, a manutenção da penabase no mínimo legal e a aplicação do redutor em grau máximo, restando a concessão de pena alternativa suficiente à reprovação e prevenção do crime. Destarte, substituo a pena privativa de liberdade por duas restritivas de direito, consistentes na prestação de serviços à comunidade, a ser arbitrada pelo juízo das execuções criminais, e prestação pecuniária, fixada em 1 salário mínimo, destinada a entidade social. Ante o exposto, pelo meu voto, dou parcial provimento aos recursos defensivos, para fixar em favor Apelação nº

6 de TOMAZ LINO DOS SANTOS JUNIOR E JOSÉ HENRIQUE NOGUEIRA DOS SANTOS o regime aberto, bem como substituir a pena privativa de liberdade por restritivas de direitos, consistentes em prestação de serviços à comunidade - a ser especificada pelo juízo das execuções - e prestação pecuniária, fixada em um salário mínimo, destinada a entidade social, mantendo-se, no mais, a r. sentença, por seus próprios e jurídicos fundamentos. Expeçam-se, caso necessário, os alvarás de soltura clausulados. GUILHERME DE SOUZA NUCCI Relator Apelação nº