PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO ACÓRDÃO

Transcrição

1 ACÓRDÃO Registro: Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº , da Comarca de Novo Horizonte, em que é apelante ADÃO RODRIGUES MONTE, é apelado MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO. ACORDAM, em 16ª Câmara de Direito Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores GUILHERME DE SOUZA NUCCI (Presidente), OSNI PEREIRA E NEWTON NEVES. São Paulo, 12 de maio de Guilherme de Souza Nucci RELATOR Assinatura Eletrônica

2 Apelação nº Comarca: Novo Horizonte Apelante: Adão Rodrigues Monte Apelado: Ministério Público VOTO Nº Apelação. Pesca de espécie ameaçada de extinção. Absolvição. Impossibilidade. Confissão parcial do réu corroborada por testemunhas. Materialidade comprovada pelo Auto de Infração Ambiental e Termo de Apreensão. Havendo a pesca por acidente de espécie ameaça, deve o espécime ser devolvido às águas. Condenação mantida. Pena-base fixada no mínimo legal. Atenuante da confissão. Incidência da súmula 231 do STJ. Ausência de causas de aumento ou diminuição. Regime aberto corretamente fixado. Substituição por prestação pecuniária de cinco salário mínimos. Manutenção. Réu aposentado da polícia militar e pescador profissional. Apelo improvido. Pela sentença de fls. 50/53, proferida em 29/04/2014 pelo MM. Juiz de Direito, Dr. Eduardo Calvert, da 1ª Vara Judicial da Comarca de Novo Horizonte, ADÃO RODRIGUES MONTE foi condenado à pena de 1 ano de detenção, em regime inicial aberto, dando-o como incurso no art. 34, parágrafo único, I, da Lei 9.605/98. A privativa de liberdade foi substituída por uma restritiva de direitos, consistente em prestação pecuniária de cinco salários mínimos, destinados a entidade assistencial. Apelação nº

3 Irresignada, a defensoria do réu maneja recurso de apelação, alegando insuficiência probatória (fls. 60/61). O Ministério Público se bateu pelo acerto do decisum (fls. 66/71) e a Procuradoria Geral de Justiça opinou pelo improvimento ao apelo (fls. 78/81). É o relatório. Segundo consta, em 19/04/11 policiais militares ambientais realizavam patrulhamento pelas águas da represa de Promissão com o intuito de evitar ilícitos ambientais. Nesta ocasião surpreenderam o apelante realizando pesca com redes, verificando haver o acusado capturado dois espécimes da espécie nativa conhecida como pacu caranha, com peso total de 5 Kg, que se encontra ameaçada de extinção. Nas duas oportunidades nas quais foi ouvido, o apelante afirmou que, ao puxar a rede, vários espécimes de pacu caranha foi trazidos, porém, conhecendo tratar-se de espécie protegida, os devolveu à água. Entretanto, afirmou haver separado para si apenas um exemplar, o qual já se encontrava morto, razão pela qual, para não poluir o rio, optou por reserva-lo para sua alimentação. Afirmou ser pescador profissional e policial militar aposentado, conhecendo as normas relativas à proteção da fauna fluvial. A versão defensiva é desmentida já pelo Auto de Infração Ambiental e pelo Termo de Apreensão, os quais apontam a existência de dois espécimes da espécie paca Apelação nº

4 caranha. Outrossim, o policial militar ambiental Edilson confirmou a apreensão de dois espécimes, estando ambos escondidos pelo réu. A testemunha Aristeu, também pescador profissional, não presenciou o ocorrido. Afirmou jamais haver pescado, por acidente, um pacu caranha, contudo, explicou que o procedimento regular nesta situação seria devolvê-lo ao rio. Do conjunto probatório coligido não se há falar em fragilidade probatória. Como se verifica, a materialidade foi comprovada pelo Auto de Infração e pelo Termo de Apreensão, bem como pela confissão do réu e pelo policial ambiental. O próprio apelante admitiu ter conhecimento quanto às normas, afirmando conhecer a ilicitude de se pescar um pacu caranha. O fato de pretender o apelante alimentarse é de todo irrelevante, posto que o procedimento regular seria a devolução do espécime ao rio. Outrossim, também o fato de estar um dos espécimes morto é desimportante, posto ter havido a apreensão de dois espécimes. A condenação, destarte, deve ser mantida. As penas também não comportam reparos. Favoráveis as circunstâncias judiciais, a básica foi posta do patamar mínimo, qual seja, 1 ano de Apelação nº

5 detenção. Na segunda fase, embora presente a atenuante da confissão, estando a reprimenda no piso legal, assim deverá ser mantida, nos termos da súmula 231 do Superior Tribunal de Justiça. Na terceira fase, ausentes causas de aumento ou diminuição, as penas tornam-se definitivas em 1 ano de detenção. No mais, foi fixado o regime inicial aberto e substituída a privativa de liberdade por uma restritiva de direitos. Neste ponto, anoto que a fixação da prestação pecuniária em cinco salários mínimos é compatível com a situação econômica do réu, o qual, além de receber proventos de aposentadoria relativa à atividade militar, exercer atualmente a profissão de pescador profissional. Ante o exposto, pelo meu voto, nego provimento ao apelo defensivo, mantendo-se, na íntegra, a r. sentença atacada. GUILHERME DE SOUZA NUCCI Relator Apelação nº