PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO ACÓRDÃO

Transcrição

1 ACÓRDÃO Registro: Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº , da Comarca de São Paulo, em que é apelante SEBASTIÃO LISBOA DOS SANTOS, é apelado MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO. ACORDAM, em 16ª Câmara de Direito Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores LEME GARCIA (Presidente) e NEWTON NEVES. São Paulo, 6 de dezembro de Guilherme de Souza Nucci RELATOR Assinatura Eletrônica

2 Apelação Criminal nº Comarca: São Paulo Apelante: SEBASTIÃO LISBOA DOS SANTOS Defensora Pública: Mariana Ferreira Cavalcente VOTO Nº Apelação. Homicídio duplamente qualificado. Sentença condenatória. Pleito defensivo de novo julgamento pelo Tribunal do Júri por ser a decisão manifestamente contrária à prova dos autos no tocante às qualificadoras. Conselho de sentença que optou por uma das possíveis teses que lhe foram apresentadas. Condenação mantida. Pena bem dosada. Recurso improvido. Trata-se de recurso de apelação interposto pela douta defesa de SEBASTIÃO LISBOA DOS SANTOS, contra sentença de primeiro grau (fls. 465/466), prolatada em 17 de setembro de 2014, pelo MM. Juiz de Direito, Dr. Paulo Henrique Simardi Pagliuso, da 3ª Vara do Tribunal do Júri da Comarca de São Paulo, que, conforme decisão dos jurados, condenou o apelante, às penas de 14 anos, de reclusão, Apelação nº

3 em regime inicial fechando, declarando-o como incurso no art. 121, 2º, incisos II e IV, do Código Penal. Irresignada, a defesa interpôs o presente recurso, pleiteando, em síntese, que a decisão dos jurados foi manifestamente contrária à prova dos autos no que tange as qualificadoras e, portanto, seja submetido a novo julgamento perante o Tribunal do Júri. Em suas contrarrazões, o Ministério Público bateu-se pela manutenção do decisum. A douta Procuradoria Geral de Justiça, em seu parecer, endossou as contrarrazões ministeriais, opinando pelo improvimento ao apelo. É o relatório. Devidamente processado, o recurso não comporta provimento, merecendo ser mantida a r. decisão atacada. Consoante descreve a denúncia, no dia 22 de abril de 1994, SEBASTIÃO LISBOA DOS SANTOS, com manifesto animus necandi por motivo fútil e mediante recurso que dificultou a defesa da vítima, matou José Alves Pereira, mediante disparo de arma de fogo, consoante disposto no laudo de exame necroscópico de fls. 34/37. Submetido a júri, o conselho de sentença, por maioria, condenou o acusado. Inicialmente, em que pesem os argumentos trazidos na apelação, a condenação merece subsistir, porquanto a decisão se coaduna com as provas Apelação nº

4 coligidas nos autos, sendo a tese acusatória corroborada pelas testemunhas ouvidas. A testemunha Antoniel, proprietário do bar onde ocorreram os fatos, em juízo, disse que algumas pessoas estavam jogando palitinho valendo cervejas, e só escutou Sebastião falando que se a vítima desse um passo para frente iria atirar. Viu o acusado com a arma na mão, mas não percebeu a origem da discussão. Acredita que não estavam embriagados, pois só haviam tomado de 8 a 10 cervejas. Em plenário, disse que pouco se lembra dos fatos, por conta do tempo, porém afirmou que, na data, o apelante estava bebendo. A testemunha Severino, em juízo, relatou que, no dia dos fatos, Sebastião, a vítima e outras pessoas estavam no bar jogando palitinho, de modo que quem perdesse deveria pagar um copo de cerveja. A discussão iniciou-se quando o acusado perdeu o jogo e não aceitou. Declarou que tinha ido ao banheiro e quando voltou viu Sebastião apontando a arma para vítima. A testemunha Abraão, em juízo, ratificou os termos da denúncia. Em plenário, disse que não se lembra dos fatos, tendo em vista terem acontecido há muitos anos. Lembra apenas que Sebastião, na ocasião, estava bebendo. Acredita que, junto aos amigos, tomaram umas 9 cervejas. O acusado não compareceu em plenário e foi decretada sua revelia. Em que pese sua ausência, durante a fase de pronúncia confessou ter realizado o disparo e, apesar de Apelação nº

5 alegar legítima defesa, sua tese não se confirmou e as provas colhidas durante a instrução probatória demonstraram, de forma inconteste, a autoria e a materialidade. As qualificadoras também encontram respaldo na prova colhida, porquanto o disparo foi proferido de surpresa no meio de um jogo entre amigos e o motivo seria por ter perdido uma partida de palitinho, configurando evidente futilidade. Ressalta-se apenas ser possível a determinação de novo julgamento quando a decisão tomada pelo Conselho de Sentença afrontar de forma nítida e cristalina o conjunto probatório contido nos autos. Assim, se os jurados optam por uma das plausíveis interpretações que se possa dar às provas colhidas, não há que se falar em novo julgamento, porquanto, in casu, o entendimento acolhido pelo Conselho de Sentença encontra suporte fático-probatório. Temos, portanto, não ter o Júri decidido de forma contrária às provas dos autos, mas sim optado por uma das teses que lhe foram apresentadas, respondendo afirmativamente para condenar o acusado. A condenação, portanto, está em perfeita harmonia com as provas produzidas. Nesse sentido vimos entendendo: Em suma, não cabe a anulação do julgamento, quando os jurados optam por uma das correntes de interpretação da Apelação nº

6 prova possíveis de surgir. Não se trata de decisão 'manifestamente' contrária à prova, mas se situa no campo da interpretação da prova, o que é bem diferente. Consideramos que a cautela, na anulação das decisões do júri, deve ser redobrada, para não transformar o tribunal togado na real instancia de julgamento dos crimes dolosos contra a vida. 1 A fixação da pena também não comporta reparo. A pena-base foi mantida no piso legal de 12 anos de reclusão. Na segunda fase, presente a agravante do art. 61, II, c, corretamente foi aumentada a pena em 1/6, chegando a 14 anos de reclusão. Ausentes, na terceira fase, causas de aumento ou diminuição, tornou-se a pena definitiva. Diante do quantum de pena estabelecida, mantenho o regime inicial fechado, de acordo com art. 33, 2º, alínea a, do Código Penal. Ante o exposto, pelo meu voto, nego provimento ao apelo interposto pela douta defesa, mantendose, in totum, a r. decisão, por seus próprios e jurídicos fundamentos. 1 NUCCI, Guilherme de Souza. Tribunal do Júri, 5ª Ed., Forense, p Apelação nº

7 GUILHERME DE SOUZA NUCCI Relator Apelação nº