PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO ACÓRDÃO

Transcrição

1 ACÓRDÃO Registro: Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº , da Comarca de Salto, em que é apelante MARIA BEATRIZ CINTRA DE MOURA, é apelado MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO. ACORDAM, em 16ª Câmara de Direito Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores GUILHERME DE SOUZA NUCCI (Presidente), LEME GARCIA E BORGES PEREIRA. São Paulo, 11 de agosto de Guilherme de Souza Nucci RELATOR Assinatura Eletrônica

2 Apelação criminal nº Comarca: Salto Apelante: Maria Beatriz Cintra de Moura Apelado: Ministério Público VOTO Nº Apelação. Homicídio culposo e lesões corporais na direção de veículo automotor. Absolvição. Impossibilidade. Versão acusatória confirmada pela vítima sobrevivente, por transeunte que a tudo presenciou e pela perícia técnica. Condenação mantida. Penas corretamente dosadas. Pena-base posta no mínimo legal. Elevação em 1/6 pelo concurso formal. Fixação do regime inicial aberto e penas alternativas. Apelo improvido. Pela sentença de fls. 332/338, proferida em 10/06/2014 pela MM. Juíza de Direito, Dra. Renata Cristina Rosa da Costa Silva, da 3ª Vara Judicial da Comarca de Salto, MARIA CRISTINA CINTRA DE MOURA foi condenada às penas de 2 anos e 4 meses de detenção, em regime inicial aberto, e suspensão do direito de dirigir veículo automotor pelo período de 6 meses e 20 dias, dando-a como incursa no art. 302, caput, e art. 303, caput, ambos do Código de Trânsito Brasileiro, na forma do art. 70 do Código Penal. A privativa de liberdade foi substituída por duas restritivas de direitos, consistentes em prestação de serviços à comunidade e prestação pecuniária de cinco salários mínimos em favor da vítima. Irresignada, a defensoria da ré maneja o Apelação nº

3 presente recurso de apelação, alegando fragilidade probatória (fls. 342/348). O Ministério Público se bateu pelo acerto do decisum (fls. 359/361) e a Procuradoria Geral de Justiça opinou pelo improvimento do apelo (fls. 366/367). É o relatório. A materialidade é comprovada pelo exame necroscópico de fls. 09/10 e exame de corpo de delito de fl. 20. Segundo consta, em 12/05/10 a apelante conduzia seu veículo pela via pública, ocasião em que não respeitou o sinal de parada existente na via pela qual trafegava, invadindo a preferencial da via transversal e interceptando a trajetória da motocicleta conduzida pela vítima Enoque, tendo por garupa a ofendida Renata. A motocicleta colidiu com a lateral esquerda do automóvel da ré, sendo as vítimas projetadas ao chão. Enoque sofreu traumatismo crânio-encefálico, vindo a falecer. Renato sofreu apenas lesões leves, consistentes em escoriações. A apelante, nas duas oportunidades nas quais foi ouvida, informou que antes de atravessar a Av. Getúlio Vargas, parou e apenas observou a motocicleta a grande distância, motivo pelo qual seguiu à frente. Após atravessar a primeira metade da avenida, parou no canteiro central, aguardando a oportunidade para atravessar a segunda metade. Porém, enquanto estava parada foi surpreendida com um Apelação nº

4 choque em seu automóvel. A ofendida Renata narrou os fatos de forma diversa. Afirmou estar na garupa da motocicleta de seu genitor, transitando pela Av. Getúlio Vargas, ocasião na qual o automóvel da apelante, de inopino, interceptou a trajetória da motocicleta, não havendo tempo para frear ou desviar. Quando do abalroamento, o veículo da acusada ainda não estava no canteiro central. Disse encontrar-se a motocicleta em velocidade compatível com o local. O transeunte Luiz Carlos Martins, testemunha imparcial, a tudo presenciou. Afirmou que a apelante encontrava-se parada antes do cruzamento, atrás de um caminhão. Porém, ao invés de aguardar sua vez para atravessar a avenida, ultrapassou o caminhão pela direita, adentrando a avenida e interceptando a motocicleta. Acrescentou encontrar-se o motociclo em velocidade adequada ao local. As testemunhas arroladas pela defesa não presenciaram o ocorrido, tendo chegado ao local após o ocorrido, quando o veículo da apelante já havia se movimentado para o canteiro central. O policial Marcelo França disse que, considerando o local dos fatos logo após o acidente, levando-se em conta a localização dos corpos das vítimas, é possível concluir ter sido a apelante a responsável por interromper o trajetória da motocicleta. Ademais, a versão apresentada pela ofendida Renata e pelo transeunte Luiz Carlos é confirmada pelo Apelação nº

5 desenho esquemático de fls. 97/98, elaborado pelo núcleo de perícias criminalísticas. Desta feita, não se há falar em fragilidade probatória, devendo ser mantida a condenação. As penas também não comportam reparos. Favoráveis as circunstâncias judiciais, a básica foi posta no patamar mínimo. Na segunda fase, inexistem circunstâncias agravantes ou atenuantes. Por fim, na terceira fase, reconhecido o concurso formal, a pena do homicídio culposo foi exasperada em 1/6, alcançando 2 anos e 4 meses de reclusão. No mais, foi fixado o regime inicial aberto e substituída a privativa de liberdade por duas restritivas de direitos, consistentes em prestação de serviços à comunidade e prestação pecuniária de cinco salários mínimos em favor da vítima, tudo a desmerecer reparos. Ante o exposto, pelo meu voto, nego provimento ao apelo defensivo, mantendo-se, na íntegra, a r. sentença atacada. GUILHERME DE SOUZA NUCCI Relator Apelação nº