PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO ACÓRDÃO

Transcrição

1 ACÓRDÃO Registro: Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº , da Comarca de Viradouro, em que é apelante CARLOS ITAMINO JUNIOR, é apelado MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO. ACORDAM, em 16ª Câmara de Direito Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Deram provimento ao apelo defensivo interposto por CARLOS ITAMINO JÚNIOR, para absolvê-lo do crime de falsificação de documento, com fulcro no art. 386, VII, do Código de Processo Penal. v.u.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores GUILHERME DE SOUZA NUCCI (Presidente), LEME GARCIA E NEWTON NEVES. São Paulo, 26 de janeiro de Guilherme de Souza Nucci RELATOR Assinatura Eletrônica

2 Apelação nº Comarca: Viradouro Apelantes: CARLOS ITAMINO JÚNIOR Advogada: Ignerz Vassalo VOTO Nº Apelação. Uso de falso documento. Pedido de absolvição por ausência de provas, especialmente no tocante ao prejuízo ocasionado. Viabilidade. Documento sequer periciado. Materialidade não demonstrada. Ofensa ao art. 158 do Código de Processo Penal. Falsidade não comprovada. Provido. Trata-se de recurso de apelação interposto por CARLOS ITAMINO JÚNIOR contra sentença de primeiro grau (fls. 195/198), prolatada em 30 de janeiro p.p., pelo MM. Juiz de Direito, Dr. Hélio Alberto de Oliveira Serra e Navarro, da Vara Criminal da Comarca de Viradouro, que o condenou às penas de 1 ano, 1 mês e 10 dias de reclusão, em regime aberto, e pagamento de 10 dias-multa, no piso legal, declarando-o como incurso no art. 304, combinado como o art. 297, ambos do Código Penal. Irresignado, interpôs recurso de apelação pleiteando, em resumo, absolvição ante a atipicidade da Apelação nº

3 conduta, decorrente do reconhecimento de insignificância. Em suas contrarrazões, o Ministério Público bateu-se pelo acerto do decisum, reiterando manifestação anterior, consoante art. 2º, caput do Ato nº. 536/2008-PGJ-CGMP. A douta Procuradoria Geral de Justiça, em seu parecer, endossou as razões defensivas, opinando pelo provimento ao apelo, tendo em vista a ausência de exame para apurar a falsidade do documento. É o relatório. Consoante os ponderáveis fundamentos bem lançados no parecer da d. Procuradoria Geral de Justiça, o apelo comporta provimento, merecendo reforma a r. decisão atacada. Segundo descreve a denúncia, em 26 de fevereiro de 2012, almejando celebrar contrato de locação com a vítima Carlos César Lemes da Silva, o apelante teria falsificado a assinatura de Paulo Camilo Guiselini, na qualidade de fiador do negócio pactuado, o qual teria se negado a prestar fiança. De plano, oportuno observar que o crime de falsificação tem como objeto o documento, ao qual se imputa ausência de veracidade, seja ela material ou formal, exigindo, para sua comprovação, a realização de competente perícia, capaz de comprovar, de forma induvidosa, a aludida adulteração, conforme determinação expressa contida no art. 158 do Código de Processo Penal, in litteris: Quando a infração deixar vestígios, será Apelação nº

4 indispensável o exame de corpo de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado. Contudo, in casu, consoante bem salientou a d. Procuradoria em seu parecer, (fl.228) o documento particular falsificado está nos autos e nunca foi encaminhado à necessária perícia. Conforme se denota, para a caracterização da falsificação de documento, é imprescindível a elaboração de perícia, com o fito de se apurar eventual inautenticidade. Em comentário ao referido tipo penal, assim vimos lecionando: Exame de corpo de delito: é necessário, pois é infração que deixa vestígios (art. 158, CPP) 1. Nem se olvide que a prova testemunhal coligida é incapaz de suprir a ausência de perícia, porquanto a confirmação da contrafação depende de análise técnica, mediante exame acurado, elaborado por expert nesse tipo de constatação. Sobre tal aspecto, tem sido nosso posicionamento: Em determinados crimes, que exigem prova técnica específica e, por vezes, complexa, não há viabilidade em se considerar formada a materialidade pela simples inquirição de testemunhas. É o que ocorre em grande 1 NUCCI, Guilherme de Souza, Código Penal Comentado, Forense, 14ª Ed., nota 35 do art. 297 Apelação nº

5 parte dos casos de falsidade documental. Como poderia uma testemunha afirmar ter visto o documento e ser ele falso? Ela é leiga e não examinou satisfatoriamente o que viu. Caso desapareça o objeto material do delito, tornando impossível a perícia, deve-se considerar insubsistente a prova da sua existência 2. Em semelhante prisma, segue o entendimento firmado por este E. Tribunal, in verbis: Falsificação, uso de documento público e adulteração de sinal identificador de veículo - Crimes que deixam vestígios - Perícia - Necessidade - Exegese do art. 158, do Código de Processo Penal - Ausência de prova da materialidade - Absolvição decretada - Recurso provido em parte. (Apelação , rel. Alexandre Almeida, 4ª Câm. Criminal, ,.v.u - grifamos) Falsificação de documento público - Absolvição Possibilidade Ausência de 2 NUCCI, Guilherme de Souza, Código de Processo Penal Comentado, Forense, 13ª ed., nota 39ªart Apelação nº

6 prova da materialidade Documento não periciado Inteligência do artigo 158 do CPP Circunstância que se soma a fortes indícios de ineficácia absoluta da falsidade e, por consequência, da ausência de potencial lesivo do documento apontado como falso - Recurso provido. (Apelação , rel. Alberto Mariz de Oliveira, 16ª Câm. Criminal, ,.v.u - grifamos) Apelação - Falsificação de documento público - Assinatura em folha de cheque - Absolvição - Recurso ministerial - Condenação - Improcedência - Materialidade c autoria não comprovadas - Não realização do exame pericial grafotécnico para aferir a falsidade da assinatura - Mera juntada da cártula de cheque aos autos insuficiente para demonstrar a materialidade - Cheque não compensado pela instituição bancária, não por divergência de assinatura, mas por bloqueio - Acusada ouvida nas duas fases da persecução penal, sem que houvesse o pedido para realização da Apelação nº

7 perícia - Prova oral insuficiente para demonstrar a materialidade e a autoria - Fundamental, no caso a realização do exame grafotécnico para constatar a ocorrência da falsidade e, em caso positivo, se foi a acusada que lançou mão da falsificação Inteligência do art. 158, do CPP - Sentença mantida Recurso improvido ".(Apelação , rel. Salles Abreu, 4ª Câm. Criminal, ,.v.u - grifamos) De tal sorte, ante a total ausência de comprovação da materialidade delitiva, de rigor a absolvição do apelante. Ante o exposto, pelo meu voto, dou provimento ao apelo defensivo interposto por CARLOS ITAMINO JÚNIOR, para absolvê-lo do crime de falsificação de documento, com fulcro no art. 386, VII, do Código de Processo Penal. GUILHERME DE SOUZA NUCCI Relator Apelação nº